13/06/2021
Napoleão Bonaparte e o Brasil (2)
Daladier Pessoa Cunha Lima
Reitor do UNI-RN
Napoleão Bonaparte levou os valores da Revolução Francesa ao longo
do extenso caminho de muitas conquistas. Assim, contribuiu para a
expansão do sentido moderno da política, próprio do século das Luzes. Por
outro lado, em algumas áreas, foi retrógrado, haja vista seu apoio à
escravidão. Em 1798, Ludwig van Beethoven, adepto das ideias da
Revolução Francesa, dedicou ao general francês a sua terceira sinfonia. Em
1804, ao saber da cena da autocoroação, Beethoven rasgou a dedicatória, e
a sua criação musical passou a se chamar sinfonia Heroica. Fobias e filias
continuam nas produções que detratam ou endeusam o mito Napoleão
Bonaparte.
Na crônica passada, com igual título, concluí que a vinda da família real
para o Brasil foi um fator importante para se preservar a unidade territorial do
país, bem assim para o progresso das ideias e das ações civilizatórias da
nação. O historiador Manuel de Oliveira Lima, que veio a Natal, em 1919, a
fim de paraninfar a primeira turma concluinte da Escola Doméstica, é citado
no livro 1808, do escritor Laurentino Gomes: “O Brasil nada mais era do que
uma unidade geográfica formada por províncias no fundo estranhas umas às
outras”. A população, no início do século XIX, girava em torno de três
milhões de pessoas, das quais um milhão eram escravos vindos da África.
Tudo leva a crer que havia uma decisão do governo português de manter o
Brasil atrasado, a fim de conservá-lo apenas como uma joia extrativista.
Mesmo assim, até 1.800, um total de 527 brasileiros se formou em Coimbra,
a maioria em Direito. Entre esses bacharéis estava José Bonifácio de
Andrade e Silva, o futuro Patriarca da Independência.
Com a vinda da família real, o Brasil passou da condição de colônia
para ser a sede de um reinado. A unidade territorial e política do país foi
mantida, pois o Brasil poderia ter se fragmentado em três ou mais países
distintos. Basta recordar que somente na região Nordeste, em menos de
trinta anos, três insurreições ocorreram: a Revolta dos Alfaiates, de 1798, a
Revolução Pernambucana, de 1817, e a Confederação do Equador, de 1824.
Para o historiador Oliveira Lima, o monarca D. João VI foi o verdadeiro
fundador da nacionalidade brasileira. As portas fechadas da colônia, durante
trezentos anos, de repente se abriram para o mundo. Surgiram escolas,
faculdades, criou-se uma moeda, bibliotecas, as artes acharam um lugar
seguro, jornal, editora, enfim, floresceu a base para o processo civilizatório
da nação. Um fato histórico vincula diretamente a vida de Napoleão
Bonaparte ao Brasil. No bojo da Revolução de 1817, houve um plano de
resgatar Bonaparte da ilha de Santa Helena, onde estava preso, e trazê-lo
para o Nordeste do Brasil, com apoio norte-americano, no intuito de
transformá-lo em líder da sedição. Esse plano ficou só no plano. Mas há um
vínculo concreto: Maria Luísa, segunda esposa de Napoleão, era irmã da
imperatriz Leopoldina, casada com D. Pedro I.
Texto publicado na Tribuna do Norte em 10/06/2021
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