PROFESSORA
ALBERTINA GUILHERME
Jurandyr Navarro
Do Conselho Estadual de Cultura
Evoco, nesta página, a passagem pelos saudosos corredores
do Atheneu Norte-Rio-Grandense, entre as décadas de 1940/50, quando funcionava
no antigo prédio, da chamada cidade alta, de nossa Capítal.
Nesse regresso ao passado revejo imagens dos mestres que
ensinaram com dedicação e inteligência, a gerações estudiosas, dentre os quais destaco,
em plano elevado, a docente Albertina Guilherme.
Por essa data, o velho educandário, o primeiro do ensino
público, detinha a exclusividade em possuir o curso colegial: clássico e
científico, preparatórios aos bancos universitários. E foi, por esses distantes
dias, o ingresso da professora em referência, lecionando Filosofia, ela a
primeira diplomada a ser lente na mencionada cadeira, desempenhando, a
contento, o magistério pela capacidade aferida na sala de aula.
Ciência abstrata por natureza, a filosofia, haurida em
berço grego, cultiva a retidão do juízo formulado. A lógica, por ela
direcionada, conduz o espirito humano à pesquisa da verdade e o silogismo, por
sua vez, induz à cultura da razão, revelando, uma espécie de ginástica mental,
o mistério do vazio imaginário.
No conceito aristotélico, segundo autores, a filosofia é
a mais elevada, a mais execelente, a mais divina, das ciências dedutivas, por
conceder princípios a todas elas.
Foi, a professora Bertha Guilherme, a primeira docente,
no nosso Estado, a ensinar essa complexa disciplina, à época somente ministrada
nos salões dos Seminários católicos, matéria auxiliar da Teologia e da
Teodicéia.
Discípulo seu que fui, ao lado de colegas inesquecíveis,
recordo método por ela utilizado para o melhor aprendizado, na forma de arguições intercaladas pela verbalização de debates, ensejando
aulas movimentadas e estimulantes, cujos resultados eram apresentados, via
trabalhos elaborados, mensalmente, independentes das conhecidas e obrigatórias
provas parciais trianuais.
A simpatia da sua personalidade a todos conquistava,
razão de ter sido escolhida Paraninfa, da turma de 1950, por aclamação.
Nessa personalidade marcante ostentava ideais elevados,
na sua dinâmica vida intelectual e social. Além do magistério, tinha ela
obrigações outras tais a religiosa, pertencente que era da “Juventude Feminina
Católica”, órgão de vanguarda moralista, dirigida pelo saudoso padre Luiz
Monte, à época consagrado intelectual, conhecido pelo binômio invejável de
santo e sábio e idealizador da Escola de Serviço Social, posteriormente, depois
de edificada, sob a criteriosa direção do seu irmão, então sacerdote Nivaldo
Monte.
A seu tempo, Eugênio Delacroix expressava: “Acalentamos
grandes ideais na juventude. Felizes daqueles que o conseguiram”.
A professora Bertha Guilherme pertencia a esse corpo de
escol! Desse proceder o seu ativo espírito alteou-se aos cimos estrelados
dessas aspirações sentimentais. A movimentada atividade exercitadas afastava a
lassidão, doença psicológica de almas desanimadas, destituídas de projetos
ambiciosos, por acalentarem vontade fraca, temerosas de enfrentarem a trilha
semeada de espinhos, no encalço dos almejados propósitos.
Ao contrário, a educadora em tela, direcionsava o seu
trabalho na razão de ordem temporal, qual pássaro madrugador, antecedendo o
clarão da aurora, antes do repicar do sino do campanário.
Era uma mulher de ação dotada de espírito operoso. Para
ela, toda vitória alcançada era prelúdio de outra seguida vitória.
Eloquente a sua participação intelectual, do seu tempo,
ao ponto de ser homenageada com a criação de uma Arcádia literária, intitulada
Academia de Letras “Bertha Guilherme”, tributo raro nos anais culturais da
nossa terra.
As elevadas concepções espirituais entoam a sinfonia do
bem, da verdade e do belo, incluindo a riqueza imagística da idealização
criadora.
Discipula de Platão, enxergava mais a realidade
subjetiva, do que a exibida no sentido objetivo, explicitando, em linguagem
filosófica, nas aulas magnas do saudoso Atheneu.
Pertencia a uma tradicional família natalense, amante dos
bons costumes, seus membros atuaram em ocupação de relevo na esfera
sócio-cultural. A irmã, Lourdes Guilherme, tinha formação superior em Música,
tendo sido Regente de Orquestras. O irmão, Joaquim, exerceu com competência a
função de cirurgião dentista e era admirável causer. O genitor, Theodorico,
líder católico, dirigiu, por largo espaço de tempo, “A Irmandade do Bom Senhor
dos Passos” e fora, também, adepto da Maçonaria, exercendo posição marcante,
tendo, com o passar do tempo, silenciosamente se afastado, em definitivo.
Bertha Guilherme muito ainda teria realizado, não fosse a
ação nefasta de uma doença insidiosa, responsável pela antecipação de anos de
sua proveitosa existência no início de sua maturidade.
O prematuro falecimento consternou, não somente o círculo
do seu relacionamento, mas, também, a sociedade em geral, que a tinha em alta
conta e conselheira das grandes causas sociais
Nenhum comentário:
Postar um comentário