22/11/2019



MEMÓRIA POPULAR II

Valério Mesquita*
Mesquita.valerio@gmail.com

01)  Em Assu, lá pelos anos setenta, Walter Leitão era o Prefeito Municipal. Na irreverência e na ironia era inexcedível. De uma feita, chegava a sua casa na cidade, quando encontrou um eleitor dormindo na poltrona da sala de visita. Não o despertou. Tomou banho, almoçou e ficou só de cuecas samba-canção. Quando o correligionário acordou e viu o Prefeito caminhando pela casa só de ceroula, exclamou: “Mas, seu Walter o senhor ta só de cueca?”. “Claro, é para você entender que a merda dessa casa é minha e não se permitir a fazer certas intimidades”.
02) O prefeito Walter Leitão atendia o povo na rua, em casa, na Prefeitura e em qualquer parte. Uma mulher a ele se dirigiu com certa arrogância para lhe reclamar um desconforto: “Prefeito, estou aqui com o pé da barriga doído porque comi macaxeira. O senhor não vai dar um jeito não?”. Walter Leitão, que não suportava malcriação, de bate pronto, respondeu com grossa irreverência: “E eu estou com a macaxeira doida de tanto comer pé de barriga”.
03) Tempo melhor da política foi o dos anos cinqüenta na fase áurea do PSD versus UDN. Aqui no Rio Grande do Norte a política era um pastoril animado e lírico. Na Assembléia Legislativa se engalfinhavam dois deputados da região agreste: o Coronel Zé Lúcio e o Deputado João Frederico, que tinha como logomarca de sua atuação parlamentar, a expressão: “É um só mas vale por dez”. Aí a turma imaginava tudo que queria para macular a frase ambivalente do combativo deputado. Mas, estava escrito que o Coronel Zé Lúcio não perdoava a invasão dos seus redutos pelo Dr. João Frederico que discursava bem, além de valente e obstinado. Numa sonolenta sessão vespertina da Assembléia, o Deputado José Lúcio resolve discursar (coisa rara), despertando a curiosidade geral, inclusive do presidente da Casa, Dr. José Augusto Varela. “Senhor Presidente”, iniciou o representante de Santo Antônio do Salto da Onça, já aos gritos. “Subi aqui para dizer que o Deputado João Frederico tá comendo a empregada dele!”. A campainha da mesa soou estridente, acionada pelo Dr. José Varela. “Deputado, V.Exa. está ferindo o decoro e o regimento da Assembléia”, censurou energicamente. “Mas, acontece, Zé Varela, que eu provo!”. Aí foi um Deus nos acuda! Colegas parlamentares desceram Zé Lúcio da tribuna e o levaram ao gabinete do Presidente para curar a sua febre repentina de defensor das minorias. João Frederico não deu ouvidos. E a sessão continuou sem mais alteração.
04) Era domingo e o sol convidava o natalense para o litoral. Nada como o mar e a brisa para reparar a fadiga da rotina semanal do trabalho. E dentro desse enfoque, surge o publicitário e Secretário de Ação Social Tertuliano Pinheiro, que recebeu um convite amistoso do seu colega Nelson Freire para visita e almoço no aprazível Condomínio Porto Brasil, entre Pirangi e Cotovelo. Visão panorâmica do oceano, conforto, fidalguia do anfitrião e whisky generoso marcaram os instantes felizes dos convidados. Almoço farto e conversa amena sob agradável fundo musical, que não deixou fora o repertório das músicas do deputado e compositor Nelson Freire, em parceria poética com o bardo novacruzense Diógenes da Cunha Lima. O sol esmaecia. O cair da tarde exigia aos circunstantes a revitalização dos folguedos para afastar a sonolência clássica do whisky e a exaustão dos papos, que já se tornavam repetitivos. Música ao vivo! Alguém gritou. Nelson, cadê o seu violão? Eram os pedidos oportunos de outros convidados, admiradores da voz e do toque de Nelson ao violão. Um nativo daquelas plagas (empregado ou eleitor) lembra ao deputado que na comunidade existe um músico tecladista. Alvoroço. Providências. Chega finalmente o musicista e seu equipamento, armado no amplo alpendre da casa. Nova rodada de bebidas é servida com gostosos petiscos. Havia ansiedade no ar, enquanto o artista armava o seu instrumento. Tertuliano Pinheiro observava o seu perfil e fazia para si mesmo uma análise não muito lisonjeira. Conversas rápidas, risos, cigarros acesos, olhares furtivos, todo um clima que sempre antecede uma apresentação artística em qualquer teatro ou casa de show. Após quase dez minutos afinando a pianola, o cantor arremeteu uma nota grave e sonora, como se tivesse iminente o inicio da apresentação. Todos olharam e silenciaram. Para a surpresa geral, a revelação musical de Pirangi sacou um discurso pegajoso e confuso: “É com muita alegria né, que estou aqui né, na casa de Nelson Gonçalves”. Aí o alpendre veio abaixo. Tertuliano, ao lado, desmaiou de tanto rir. “Tá bom, tá bom, toca, toca”, surgiram difusos apelos da galera sofrida. Após, o deslize nominal com o anfitrião, o pior ainda estava por acontecer. Aos tropeços, tanto a voz quanto a execução do artista eram sofríveis. A noite começava e com ela os sussurros abafados e expulsórios: “Muito bem, muito bem!!”. Mas o cantor das arábias continuava na dele porque se convencera que estava abafando.
(*) Escritor.

18/11/2019


15/11/2019





Proclamação da República

Graduada em História (UVA-RJ, 2014)
A Proclamação da República Brasileira aconteceu no dia 15 de novembro de 1889. Resultado de um levante político-militar que deu inicio à República Federativa Presidencialista. Fica marcada a figura de Marechal Deodoro da Fonseca como responsável pela efetiva proclamação e como primeiro Presidente da República brasileira em um governo provisório (1889-1891).
Marechal Deodoro da Fonseca foi herói na guerra do Paraguai (1864-1870), comandando um dos Batalhões de Brigada Expedicionária. Sempre contrário ao movimento republicano e defensor da Monarquia como deixa claro em cartas trocadas com seu sobrinho Clodoaldo da Fonseca em 1888 afirmando que apesar de todos os seus problemas a Monarquia continuava sendo o “único sustentáculo” do país, e a república sendo proclamada constituiria uma “verdadeira desgraça” por não estarem, os brasileiros, preparados para ela.
Proclamação da República, pintura de Benedito Calixto, 1893.

A crise no Império

O ultimo gabinete ministerial do Império, o “Gabinete Ouro Preto”, sob a chefia do Senador pelo Partido Liberal Visconde do Ouro Preto, assim que assume em junho de 1889 propõe um programa de governo com reformas profundas no centralismo do governo imperial. Pretendia dar feição mais representativa aos moldes de uma monarquia constitucional, contemplando aos republicanos com o fim da vitaliciedade do senado e adoção da liberdade de culto. Ouro Preto é acusado pela Câmara de estar dando inicio à República e se defende garantindo que seu programa inutilizaria a proposta da República. Recebe críticas de seus companheiros do Partido Liberal por não discutir o problema do Federalismo.
Os problemas no Império estavam em várias instâncias que davam base ao trono de Dom Pedro II:
  • A Igreja Católica: Descontentamento da Igreja Católica frente ao Padroado exercido por D. Pedro II que interferia em demasia nas decisões eclesiásticas.
  • O Exército: Descontentamento dos oficiais de baixo escalão do Exército Brasileiro pela determinação de D. Pedro II que os impedia de manifestar publicamente nos periódicos suas críticas à monarquia.
  • Os grandes proprietários: Após a Lei Áurea ascende entre os grandes fazendeiros um clamor pela República, conhecidos como Republicanos de 14 de maio, insatisfeitos pela decisão monárquica do fim da escravidão se voltam contra o regime. Os fazendeiros paulistas que já importavam mão de obra imigrante, também estão contrários à monarquia, pois buscam maior participação política e poder de decisão nas questões nacionais.
  • A classe média urbana: As classes urbanas em ascensão buscam maior participação política e encontram no sistema imperial um empecilho para alcançar maior liberdade de econômica e poder de decisão nas questões políticas.

A Proclamação da República

A República Federativa Brasileira nasce pelas mãos dos militares que se veriam a partir de então como os defensores da Pátria brasileira. A República foi proclamada por um monarquista. Deodoro da Fonseca assim como parte dos militares que participaram da movimentação pelas ruas do Rio de Janeiro no dia 15 de Novembro pretendiam derrubar apenas o gabinete do Visconde de Ouro Preto. No entanto, levado ao ato da proclamação, mesmo doente, Deodoro age por acreditar que haveria represália do governo monárquico com sua prisão e de Benjamin Constant, devido à insurgência dos militares.
A população das camadas sociais mais humildes observam atônitos os dias posteriores ao golpe republicano. A República não favorecia em nada aos mais pobres e também não contou com a participação desses na ação efetiva. O Império, principalmente após a abolição da escravidão tem entre essas camadas uma simpatia e mesmo uma gratidão pela libertação. Há então um empenho das classes ativamente participativas da República recém-fundada para apagar os vestígios da monarquia no Brasil, construir heróis republicanos e símbolos que garantissem que a sociedade brasileira se identificasse com o novo modelo Republicano Federalista.

A Maçonaria e o Positivismo

O Governo Republicano Provisório foi ocupado por Marechal Deodoro da Fonseca como Presidente, Marechal Floriano Peixoto como vice-presidente e como ministros: Benjamin Constant, Quintino Bocaiuva, Rui Barbosa, Campos Sales, Aristides Lobo, Demétrio Ribeiro e o Almirante Eduardo Wandenkolk, todos os presentes na nata gestora da República eram membros regulares da Maçonaria Brasileira. A Maçonaria e os maçons permanecem presentes entre as lideranças brasileiras desde a Independência, aliados aos ideais da filosofia Positivista, unem-se na formação do Estado Republicano, principalmente no que tange o Direito.
A filosofia Positivista de Auguste Comte esteve presente principalmente na construção dos símbolos da República. Desde a produção da Bandeira Republicana com sua frase que transborda a essência da filosofia Comteana “Ordem e Progresso”, ou no uso dos símbolos como um aparato religioso à religião republicana. Positivistas Ortodoxos como Miguel Lemos e Teixeira Mendes foram os principais ativistas, usando das alegorias femininas e o mito do herói para fortalecer entre toda a população a crença e o amor pela República. Esses Positivistas Ortodoxos acreditavam tão plenamente em sua missão política de fortalecimento da República que apesar de ridicularizados por seus opositores não esmorecem e seguem fortalecendo o imaginário republicano com seus símbolos, mitos e alegorias.
A nova organização brasileira pouco ou nada muda nas formas de controle social, nem mesmo há mudanças na pirâmide econômica, onde se agrupam na base o motor da economia, e onde estão presentes os extratos mais pobres da sociedade, constituída principalmente por ex-escravizados e seus descendentes. Já nas camadas mais altas dessa pirâmide econômica organizam-se oligarquias locais que assumem o poder da máquina pública gerenciando os projetos locais e nacionais sempre em prol do extrato social ao qual pertencem. Não há uma revolução, ou mesmo grandes mudanças com a Proclamação da República, o que há de imediato é a abertura da política aos homens enriquecidos, principalmente pela agricultura. Enquanto o poder da maquina pública no Império estava concentrado na figura do Imperador, que administrava de maneira centralizadora as decisões políticas, na República abre-se espaço de decisão para a classe enriquecida que carecia desse poder de decisão política.
Referências:
CARVALHO, José Murilo de. Os bestializados. O Rio de Janeiro e a República que não foi. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.
CARVALHO, José Murilo de. A Formação das Almas. O imaginário da República no Brasil. Paulo: Companhia das Letras, 2013.
LINHARES, Maria Yedda (ORG.). História Geral do Brasil. Rio de Janeiro: Elsevier, 2000.


MEMÓRIA POPULAR


Valério Mesquita*
Mesquita.valerio@gmail.com

01) Corria o ano de 1981. Avizinhava-se a campanha eleitoral para governador, travada entre Aluízio Alves e José Agripino. No bairro de Ponta Negra, o ex-deputado Patrício Junior mostrava a sua casa ao candidato da oposição para servir de escritório político. E os dois caminhavam pelos aposentos, acompanhados do ex-deputado Luís Antônio Vidal. Quando chegaram ao compartimento da biblioteca de Patrício, Luís Antõnio não se conteve: “Fico imaginando, meus Deus, que crimes esses livros cometeram para virem parar nessa biblioteca!”.
02) Câmara Cascudo, o mestre de todos nós, recebeu uma carta de um professor da Universidade Americana de Yale com uma indagação escalafobética: “Mestre, jacaré dorme de noite ou de dia?”. Reação de Cascudo: “Eu tenho cara de babá de jacaré? Tudo isso acontece em razão de minha laboriosa inutilidade”. Desabafa o mestre em cima da burrice do americano.
03) Certa vez, em Brasília, Avelino Matias, ex-prefeito de Brejinho, vulgo “Meu Pai”,  hospedou-se no Hotel Gávea com os prefeitos Dr. Estrela, de São Tomé, e Janilson Ferreira, de São José de Mipibu. Sentindo-se doente, não os acompanhou a uma audiência. Tendo um colega como hóspede do mesmo apartamento, Avelino foi consultado pelo Dr. Estrela, que mandou o office-boy comprar os medicamentos. Quando Janilson (muito ligado a “Meu Pai” e da mesma região) retornou, à noite, foi logo perguntando se ele estava melhor. Avelino fez um gesto triste e neutro de nem sim, nem não. “Tomou o remédio?”, indaga Janilson. “Não”, responde Avelino, “Só quando você der uma espiada”.
04) Uma dimensão digna de registro é a do simples, do bom, do despojado de malícia ou de esperteza. Assim é Manoel Ferreira de Lima, pequeno agricultor e proprietário que pontificou na política nos anos setenta e oitenta como vereador em Macaíba. Dele, até, já narrei alguns causos hilários. Nessa história que agora tomei conhecimento, ampliou-se o lado humano e ingênuo de Manoel, quando o seu impertigável fusquinha abalroou o automóvel de um vizinho, indo o caso parar na delegacia local. Manoel nunca aprendera a dirigir direito. A sua carteira era dos bons tempos de Gastão Mariz. Colidira a traseira do Corcel II do seu amigo e queria ter razão. O seu argumento era o mais frágil, pois não achava amparo na lei, no dicionário, nem na mecânica automobilística: “O problema, Seu Delegado”, disse Manoel Ferreira com aquele sotaque matuto de Campo Redondo, “é que ele não ligou as “lantejolas” do carro pra me dizer para onde ia!”.
05) No dia 1º de fevereiro de 1973, assumi a prefeitura de Macaíba com todas as honras de praxe. Retomava a corrente partida por três prefeitos anteriores que não eram naturais de Macaíba. Dia seguinte, vesti paletó e gravata e solenizei o primeiro expediente debaixo da expectativa geral dos funcionários e curiosos, que me espreitavam pela janela do gabinete do antigo prédio da prefeitura, construído em 1933, em frente à Igreja Matriz. Ao cabo de quinze minutos, assustei-me com o barulho estranho na porta de vai-e-vem (aquelas de bar de faroeste): Seu Antônio Lacerda, bronco, funcionário do açougue municipal, segurando uma lata de querosene, pedia-me uma providencia que contras-tava com o novo estilo cerimonialista em curso. Com voz arrastada e estridente, o velho servidor colocou a lata sobre o meu birô e queixou-se: “Dotô, faz mais de mês que eu peço para “sordar” a lata de lavar o açougue e nada. Só o senhor mermo!”. Fitei a lata, o funcionário e o meu terno e refleti o paradoxo. Nunca mais ali, vesti paletó.
06) De outra feita, preocupado com os recursos escassos do erário municipal, reclamei aos auxiliares e amigos das dificuldades de administrar uma prefeitura. Por outro lado, o povo não deixava de pedir tudo, como se ali fosse uma casa de assistência social. “Ando de carteira vazia por causa dos pedintes de plantão”, resumi. Nisso, a secretária abre a porta do gabinete e anuncia: “Prefeito, aqui fora tem um Eliseu que quer falar com o senhor”. “Valha-me Deus”, exclamei, “um cara com liseu no nome não tem futuro! É azar, mesmo. Mande entrar, para chorarmos juntos”.

11/11/2019













FACULDADE DE DIREITO DE NATAL
Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes, ex-aluno – Turma 1968*
Num tempo, longe, se concretizava o sonho de uma Faculdade de Direito em Natal – esforço de algumas figuras singulares, dentre as quais Onofre Lopes e Otto de Brito Guerra.
            No instante em que ocorre a passagem dos 70 anos do Curso de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) - criado no dia 15 de agosto 1949, como Faculdade de Direito de Natal, através da Lei Estadual nº 149, de 15 de agosto de 1949, sancionada pelo Governador José Augusto Varela, mas só efetivamente instalada e autorizada em 1954 com o decreto federal n.º 36.387, de 25 de outubro, é mais do que oportuno um registro e uma homenagem a tão significativa iniciativa.
            O primeiro vestibular ocorreu no ano de 1956 e o consequente início das atividades letivas utilizando uma das salas do Atheneu e conclusão da sua primeira turma na sede do bairro da Ribeira, ao lado do atual Teatro Estadual Alberto Maranhão, onde inicialmente foi o Grupo Escolar Augusto Severo - os ex-alunos que ali passaram,  tomaram a inciativa de fazer um registro, contando alguma coisa da sua trajetória heroica, em particular com uma publicação especial da Revista da ALEJURN.
        É importante ressaltar, que a ideia da criação de um primeiro curso jurídico no estado foi do professor Luís Soares de Araújo. O surgimento do curso foi um marco divisor na educação superior da cidade, pois a partir daquele momento, os estudantes não mais precisariam do sacrifício de deslocamento a outros estados.
           A relevância do curso de Direito para a UFRN e o Rio Grande do Norte é indiscutível. Prova disso é que os concluintes do curso ocuparam e ocupam cargos de destaque no cenário político e profissional do país, nas funções executivas, legislativas federal, estadual e municipal, na Magistratura regular e superior, no Ministério Público, Assessorias Jurídicas, Defensoria Pública, Polícia Civil, Advocacia pública e privada e Magistério superior. Além de ser um dos principais pontos de movimentação política e de luta estudantil dentro da Universidade e da sociedade potiguar. Os estudantes fazem parte ativa desse contexto, com assento nas comissões e movimentos institucionais e sociais.
            A primeira turma, 1959, com denominação de Turma Clóvis Bevilaqua, seu patrono e paraninfo Edgar Ferreira Barbosa, teve a seguinte a sua composição: Ivan Maciel de Andrade, Ana Maria Cascudo, Zélia Madruga, Genilde Urbano, Eider Furtado de Mendonça e Menezes, Luciano Nóbrega, Elmo Pignataro, Francisco Dantas Guedes, Othon Oliveira, Jaime Hipólito Dantas, Geraldo Isaias de Macedo, Reginaldo Teófilo da Silva, Ernani Alves da Silveira (1º Presidente do DAAC), Murilo Moreira Veras, Francisco de Assis Teixeira, Arnaldo Arsênio de Oliveira, Pedro Martins Mendes, Nice Menezes de Oliveira, Emilson Torres dos Santos Lima, Valdir da Silva Freire, Hebe Marinho Nogueira Fernandes, Jaime Galvão Revoredo, Pedro Cortez de Araújo Amorim, Arilda Tânia Cavalcanti Marinho, Antônio Emerenciano de A. Sobrinho, Nildo João Mathias Alff, Terezinha de Almeida Galvão, João Eudes Pessoa, Arthur Luiz de Araújo, Enélio Lima Petrovich, José Cabral Pereira, Cleóbulo Cortez Gomes, Geraldo Guedes Dantas, José Daniel Diniz, Antonio Francisco Correa, Irineu Martins de Lima, Francisco Berilo Pinheiro Wanderley e João Damasceno de Oliveira.
            Pensamos em marcar o fato com uma exposição das placas das diversas turmas ali concluídas. Mas tivemos o dissabor de constatar que a maioria está desaparecida, nenhuma do tempo da Faculdade, pelo que foi solicitado apoio do atual Reitor José Daniel Diniz de Melo, juntamente com a restauração do prédio da Ribeira, concebido em 1907 pelo arquiteto Herculano Ramos para funcionar o Grupo Escolar Augusto Severo, de quem recebi o apoio integral, fosse feita uma sindicância para encontra-las.
           Particularmente este articulista, com a ajuda do ex-aluno Juan de Assis Almeida, este já do atual Campus, recebemos autorização do Reitor, para localizar as placas de formatura, trabalho ainda não concluído face ao desconhecimento de onde elas estão guardadas, encontrando-se cerca de duas dúzias delas, bastante desgastadas, nenhuma do tempo da Faculdade da Ribeira, fato que vem causando transtornos à própria UFRN e aos dirigentes do Curso de Direito, daí a impossibilidade de realização de um evento específico, dado que nada foi localizado daquele tempo.
            Com o passar dos anos, a Faculdade fez-se respeitada e abrigou projetos e movimentos reconhecidos pela sociedade potiguar.
            Nos anos de chumbo foi referência para as soluções difíceis de um período de trevas, guardando fidelidade aos princípios sagrados do Estado Democrático de Direito.      
            Atingida a maioridade, viu-se forçada pela mocidade e foi obrigada a procurar maior espaço, outro chão e o encontrou. Contudo, não esperava que ficasse no esquecimento a velha Casa do Saber.
            Muitos embates jus-filosóficos, muitas participações nos certames esportivos e boa convivência nas reuniões sociais, traçaram a trajetória da nossa Faculdade, guardando-se total respeito aos adeptos das ideologias em disputa.
            Foi possível avaliar a possível viabilidade da restauração do prédio e do espírito da velha construção, não apenas como recomposição de um patrimônio histórico, mas com objetivo elogiável de dar continuidade ao atendimento aos necessitados, com uma central de assistência jurídica e social, como utilização do auditório para funcionamento de sessões de arte e de cinema, realização de cursos de pós-graduação, palestras e exposições, além da apresentação de memoriais contando a história do Grupo Escolar e da Faculdade e dos momentos marcantes da própria UFRN, afixando para a posteridade as placas de formaturas ou os nomes dos concluintes e o painel dos perseguidos durante o estado de exceção, como ficou decidido no relatório da Comissão da Verdade da UFRN.
            A restauração marcará a recuperação do bairro histórico da Ribeira, fazendo ressurgir a sua funcionalidade e restaurando um dos períodos mais importantes da vida política, cultural e social da Cidade de Natal.
            Esta iniciativa deve ser da nossa Universidade, com a colaboração da Ordem dos Advogados do Brasil, Seção do Rio Grande do Norte  e da ALEJURN, com o aplauso da população e o anseio maior de todos aqueles que viveram os tempos de ouro da cidade presépio, ponto fundamental no conflito da 2ª Grande Guerra e berço cultural do modernismo literário, da efervescência da economia local e das imorredouras sessões da Casa de Espetáculos concebida pelo Governo Alberto Maranhão, erguido no largo histórico do bairro dos Canguleiros, por muitos anos guarnecido pela vigilância de Luís da Câmara Cascudo ao que agora se agrega esta Augusta Casa Legislativa do Estado, quando reconhecendo o valor da Velha Casa  de Saber da Ribeira, realizou solenidade no dia 11 de novembro de 2019, com homenagem a alguns professores e ex-alunos indicados pelos Senhores Deputados, (eu, particularmente fui indicado pelo Deputado Coronel Azevedo) razão pela qual muito agradecemos a lembrança, mas lamentando alguns esquecimentos de Mestres daquele tempo, como Ivan Maciel de Andrade, Edgar Smith Filho, Meroveu Pacheco Dantas, Miquéias Antas de Gouveia, Hebe Marinho, José de Ribamar e outros.
            Temos a viva esperança de ter a oportunidade de voltar a conviver num clima que autenticamente permita a proclamação da liberdade, como dizia a placa colocada na entrada do prédio: “ATÉ QUE TUDO CESSE, NÓS NÃO CESSAREMOS”.
(*) MHV da OAB/RN, sócio do IHGRN, UBE-RN, IBDT, Rotary Clube Natal-Sul; Membro das Academias: ANRL, AML, ALEJURN, ACLA P.S.N. (honorário); Professor Emérito da UFRN e UnP e Prof. Honoris Causa da UnP.


Direito no Louvre
Já faz algum tempo, tratei aqui da presença do direito, em especial o direito criminal, nas artes decorativas (leia-se pintura, escultura, utensílios decorativos etc.). Lembrei haver uma “desproporção” quanto a essa presença, em prejuízo das primeiras, se comparadas as artes decorativas com as artes descritivas (o romance e o teatro, em especial). E reproduzi trecho de “Os criminosos na arte e na literatura” (Ricardo Lenz Editor, 2001), de Enrico Ferri (1856-1929), que, passando em revista o mundo artístico dos “tipos criminosos”, registra: “é sua maior frequência nas artes descritivas – literatura ou drama – do que nas artes decorativas – pintura e escultura”. Sendo que, “em cem quadros (e a proporção é ainda menor para as estátuas), não há mais do que um ou dois tendo um criminoso por assunto principal ou por figura de segundo plano; enquanto que, em cem dramas ou comédias (a proporção é ainda maior que a proporção para os romances), não há menos de noventa, cujo enredo não contenha um ou mais crimes”.
Todavia, curioso, fui pesquisar um pouco mais sobre o tema. Por acaso, descobri possuir um livro que, misturando direito e arte, trata precisamente do tema: “Scénes de crime au Louvre” (Éditions Le Passage, 2017), de Christos Markogiannakis. É um livro recentíssimo, pelo menos essa edição francesa que possuo, que se apresenta como “une enquête criminartistique” sobre o acervo do maior museu do mundo. E o autor de “Scénes de crime au Louvre” confirma a assertiva de Ferri, anotando: “nas artes narrativas, nove em cada dez obras, drama, romance ou comédia, contêm um ou mais crimes; nas artes visuais, a proporção é inversa: uma em cada dez pinturas – menos ainda nas esculturas – representa um crime, como tema principal ou secundário”.
Entretanto, se você quiser ver o direito nas artes visuais, lembra o autor de “Scénes de crime au Louvre”, “não há lugar melhor para ver essas representações do que o Museu do Louvre, o mais popular do mundo, que acolhe tantas civilizações, desde a Antiguidade até a primeira metade do século XIX”. Ali, em suas salas, posto sobre a tela, no mármore, no granito, no bronze, na madeira, na argila, você poderá enxergar “testemunhos de todos os tipos de crimes de sangue, crimes históricos, crimes reais ou fictícios, premeditados, praticados a sangue frio ou passionalmente. Esses assassinatos podem ser frutos de vingança ou uma decisão da Justiça, podem ter sido cometidos em períodos conturbados, em tempos de paz ou guerra, podem ser resultados de massacres ou de duelos. Qualquer que seja o contexto ou a época, as vítimas e os autores desses crimes também podem variar: homens, mulheres, deuses ou monstros”.
O livro faz um percurso cronológico pelo Louvre “criminal”, da Mesopotâmia de dois milênios antes de Cristo até a França do século XIX (época aproximada em que “termina” o acervo do Louvre). Eu mesmo já corri ele de cabo a rabo (refiro-me ao livro, claro, já que fazer isso no Louvre demandaria uma vida). Começando pelo “Code de Hammurabi” (cerca de 1772 a.C.). Passando por ânforas e vasos gregos finamente decorados com motivos “jurídicos” (século V e IV a.C.). Entretendo-me em óleos sobre tela de gente como Antoine Caron (“Les Massacres du triumvirat”, 1566), Jacques-Louis David (“Les Licteurs rapportent à Brutus les corps de ses fils”, 1789 e “Marat assassiné”, 1794), Pierre-Paul Prud'hon (“La Justice e la Vengeance divine poursuivant le Crime”, 1808), Jean-Auguste-Dominique Ingres (“Oedipe explique l'énigme du Spninx”, 1808), Paul Delaroche (“Les Enfants d'Edouard”, 1831) e por aí vai. Tudo interessantíssimo. Tudo belíssimo.
E se não posso comentar todas as obras apontadas em “Scénes de crime au Louvre”, um destaque deve ser dado, por tudo que significa para a história do direito, ao Código de Hamurábi. Como artefato arqueológico, ele chegou até nós em um monólito de pedra de diorito, achado por uma expedição francesa que, na virada dos anos 1901-1902, realizava escavações na Acrópole da cidade de Susa, no atual Irã. Essa “pedra”, mais que preciosa, está ali no Louvre, à disposição de juristas e curiosos de ocasião. Aliás, sobre esse célebre texto legal, eu até já escrevi aqui. É só conferir.
No mais, por uma questão bem pessoal, de gosto mesmo, vou dar aqui também destaque às obras de Jacques-Louis David (1748-1825), o principal representante do chamado Neoclassicismo, entusiasta da Revolução (a francesa, refiro-me) e pintor oficial do Império de Napoleão Bonaparte (1769-1821). “O Juramento dos Horácios” (1784), “A Morte de Sócrates” (1787), “As Sabinas” (1799) e “A coroação de Napoleão” (1805-1807) são apenas algumas das inúmeras maravilhas de David. “Scénes de crime au Louvre”, como já dito, comenta duas de suas telas, “Os litores trazendo a Brutus os corpos de seus filhos” e “A morte de Marat”. Uma trata da pena de morte; a outra, do assassinato político. Esta última é até a capa do livro. É bela. E historicamente importantíssima, a pintura em si e o evento retratado. Vale a pena mesmo admirá-la.
Bom, quem quiser misturar direito e arte – e puder, claro –, vá ao Louvre.
De minha parte, sem poder viajar agora, vou me ater aos livros. Os que já possuo. E um tal “Scénes de crime à Orsay” (outro badaladíssimo museu de Paris), do final de 2018, da mesma editora Le Passage e do mesmo Christos Markogiannakis. Já estou caçando ele na Internet.

Marcelo Alves Dias de Souza
Procurador Regional da República
Doutor em Direito (PhD in Law) pelo King’s College London – KCL
Mestre em Direito pela PUC/SP

07/11/2019

Uma história
do açúcar
Um rio, um vale, uma família, um engenho. Histórias de vida e do açúcar no vale do Ceará-Mirim/RN. 



Ensaio. Uma história do açúcar
In: Revista IHGRN 98, 2019, p.32-50 [ler]




Indice bibliográfico de autores e temas norterio-grandenses na revista do IHGB
In. Revista IHGRN 96, 2018, p.97-104 [ler]




Artigo. Jornalismo e literatura: a crônica de Rachel de Queiroz
In: Revista Letras Escreve. Macapá, v. 8, n. 1, 1º sem., 2018 [ler]




Crônica: jornalismo autobiográfico nos jornais da cidade do Natal (1950-1980)
In: Revista Temática. Ano XIV, n. 6. Junho /2018 [ler]




Ensaio.O cavalo no Rio Grande do Norte
In. Revista IHGRN 95, 2017, p.67-90 [ler]




Ensaio. Augusto Severo Neto. Inédito
In: Revista ANL, Revista da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, v. 52, 2017, p. 36-47 [ler]




Artigo. A faceta jornalística de Rachel de Queiroz: perspectivas biográficas
In: Revista Temática. Ano XIII, n. 07. Julho/2017 [ler]




Posfácio. Do jornalismo e da literatura
In: Jornalistas escritores do RN: entrevistas. Org. Socorro Veloso. Natal: Edufrn, 2017 [ler]




Ensaio. O cronista da cidade
In: Revista ANL, Revista da Academia de Letras do Rio Grande do Norte. Nº50, jan/março 2017, p.51-62 [ler]




Artigo. Rubem Braga, jornalista: o cronista repórter
In: Leituras do Jornalismo, v. 2, 2016, p. 85-98 [ler]




Ensaio. Zila Mamede e José Mindlin, breve relato da correspondência e de amizade.
In: Revista ANL, Revista da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, v. 46, 2016, p. 36-50 [ler]




Ensaio. Navarro por completo
In: Revista ANL, Revista da Academia de Letras do Rio Grande do Norte. Nº43, abri/junho 2015, p.39-53 [ler]




Ensaio. O maior da literatura menor
In: Revista ANL, Revista da Academia de Letras do Rio Grande do Norte. Nº41, out/dez 2014, p.29-43 [ler]