foto tirada da internet, sem pertinência com o artigo
1911 – Um jogo de football em Natal
Elísio Augusto de Medeiros e Silva
Empresário,
escritor e membro da AEILIJ
elisio@mercomix.com.br
Quando
chegamos ao terreno quase plano, em Petrópolis, já encontramos uma pequena
multidão, inclusive senhoras da sociedade natalense, com seus vestidos largos,
chapéus e coloridas sombrinhas parisienses.
Nós
não fazíamos a menor noção do que era uma partida de football, esporte
recém-chegado ao Brasil, procedente da Europa. Vimos dois grandes retângulos
desenhados no chão, que nos apresentaram como sendo o campo de jogo. Eram mais
ou menos nivelados e de tamanhos aproximados.
Em
cada extremo do terreno havia uma enorme trava de madeira – duas peças em
paralelo e unidas por outra, pregada perpendicularmente.
As
duas equipes de jogadores já estavam no local – cada uma de um lado do tal
campo. Os jogadores vestiam calções apertados até os joelhos e usavam camisas
coloridas – cada grupo com sua cor, sendo um de azul e branco, e o outro de
vermelho.
Um
esférico foi colocado no centro do campo e, a partir do sinal, dado por um
homem que comandava tudo, deram início a partida. Ainda não entendíamos
absolutamente nada.
Os
jogadores de ambos os times corriam para cima da bola, e, aos pontapés,
tentavam fazer com que o esférico chegasse à trave adversária. Corriam
loucamente pelo campo, diante dos olhares entusiasmados dos espectadores, que,
atentos, não perdiam um só detalhe.
Logo
percebemos que as regras do jogo eram bastante simples. Só os dois homens que
se encontravam nas traves poderiam pegar a bola com as mãos – os outros apenas
podiam dar pontapés.
Vez
ou outra, algum deles ficava zangado, gritava, gesticulava e até empurrava. Às
vezes, o jogo parava e até alguns espectadores entravam no campo para
participar da discussão. Depois que a paz se restabelecia, o jogo recomeçava.
A
certa altura do jogo, a bola saiu do campo. Um dos espectadores pegou e
devolveu a bola. A partida foi imediatamente reiniciada.
A
multidão soltava um “aaah”! sempre que havia
um chute em direção a uma das traves. Apesar dos esforços dos homens que
ficavam de guarda nas traves, às vezes, a bola conseguia vencer essa defesa e
marcar um gol. O povo enlouquecia – gritava, pulava, abraçava-se. Quem não
gostava era o time que tinha sofrido o gol e caía num silêncio profundo. Os
seus torcedores adotavam o mesmo comportamento.
Em
determinado momento foi marcado uma espécie de penalidade contra um dos times,
o que levou os espectadores a entrarem no campo, e pedir explicações ao homem
que comandava o jogo. Pela intensidade das exclamações, logo percebemos que um
dos times era o favorito da maioria dos torcedores.
No
final da partida, a pequena multidão se dispersou, em meio a alegres
comentários. Pelo que notamos, o football viera mesmo para virar paixão entre
os natalenses.
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