31/12/2014


F E L I Z    A N O    N O V O

VIVA 2015

TRABALHO
ESPERANÇA
REALIZAÇÕES

30/12/2014

Cândida da Natividade e Maria Christina


João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN, membro do IHGRN e do INRG

Recebi, por e-mail, um pedido do Dr. Geraldo Pereira, nos seguintes termos: meu caro João Felipe da Trindade, encontrei a sua bem organizada página na Internet, tratando de história e genealogia.  

Eu estou procurando um detalhe de meu bisavô, Vicente Ignácio Pereira, que foi médico no Ceará-Mirim; detalhe que francamente não tenho obtido sucesso em minhas buscas, navegando por blogs e ligando para amigos no RN. Sou filho de Nilo Pereira, historiador e escritor, nascido no verde vale do Ceará-Mirim. Vejo que você é meu colega duplo, porque professor como eu - aposentado da UFPE - e membro do Instituto Histórico. Eu encontrei por aqui no Recife, um trabalho de meu bisavô sobre cólera e sendo eu médico, como ele, achei por bem escrever sobre a publicação, aliás, com algumas antecipações dele. 

O claro em meu ensaio, que deve ser apresentado na Academia Pernambucana de Medicina e publicado na Revista do IAHGP, é o da doença de uma das filhas de Vicente, falecida aos 15 anos de idade e que fez o pai jurar, diante do esquife, que deixaria a medicina, como aconteceu. Não sei de que doença essa moça morreu e quando foi isso. Na sua página não existe nada sobre isso, mas pode ser que me ajude. Eu tinha por aqui o livro de Cascudo sobre o RN, mas não há jeito de encontrar. Pode ser que exista alguma referência sobre isso, pois o meu bisavô foi Vice-Presidente da Província e assumiu a Presidência por pouco tempo.

Com as informações passadas pelo Dr. Geraldo, fui vasculhar livros de óbitos de Ceará-Mirim, mas não encontrei nada. Mas, pela importância que teve na nossa Província, Dr. Vicente Ignácio, fui procurar nos velhos jornais, digitalizados pela Hemeroteca Nacional, alguma indicação sobre a filha falecida. No Correio do Natal, de 16 de novembro de 1878, cujo redator era João Carlos Wanderley, encontrei uma informação que transcrevo, em parte, para este artigo, a seguir.
Ela foi receber no céu a recompensa que o Altíssimo lhe tinha destinado, como galardão de suas reconhecidas virtudes.

Ao gélido sopro da morte, crestou-se para sempre uma das mais belas e esperançosas flores de Ceará-Mirim!

Como uma rosa que emurchece, ou como uma estrela que de súbito se oculta no ocaso, assim finou sua precoce existência, no infausto dia 8 corrente, pelas 5 horas da manhã, no Engenho Guaporé, do município de Ceará-Mirim, a Exma. Sra. D. Maria Christina Varella Pereira, muito digna e virtuosa filha do nosso prestimoso amigo o Sr. Dr. Vicente Ignácio Pereira.

Tais eram os predicados da ilustre finada, e tais os dotes que a recomendavam, que vacilamos em descrevê-los!

Na idade de 13 para 14 anos, quando se sentia estremecida e cercada dos afetos e carícias de seus pais, irmãos e parentes, uma hemorragia nasal veio roubar-lhe prematuramente a preciosa existência, e separá-la do mundo terreno para ir  na pátria celestial receber das mãos do Altíssimo a recompensa destinada à suas preclaras e reconhecidas virtudes.

Sim, a negra mão da morte não quis que aquela que tinha tantos e tão invejáveis predicados naturais, herança de seus dignos progenitores, permanecesse por mais tempo na terra!

Conhecendo de perto a mágoa que eflige neste momento o coração de seus pais, irmãos e parentes, causada por aquele infausto passamento, o qual veio sem dúvida abrir no seio da família da ilustre donzela uma lacuna impreenchível, e como prova de amizade e estima que lhe consagramos, viemos também por este meio na gélida porta do seu túmulo, no cemitério do Engenho  São Francisco, onde foi dado seu corpo à sepultura pelas 5 horas da tarde do mesmo dia, um ramo de roxas saudades, suplicando ao Altíssimo coloque sua alma na mansão dos anjos.

Foi o link dessa página do Correio do Natal, que passei para Dr. Geraldo, acreditando ser essa informação o detalhe que ele tanto procurava para completar o claro no seu trabalho.

Feita a apresentação, descobri, posteriormente, um registro de óbito na Freguesia de São José de Angicos, que me surpreendeu, pois a mesma doença levou a óbito, outra filha do Dr. Vicente Ignácio Pereira e de sua esposa, filha do barão de Ceará-Mirim.

Aos 13 de maio de 1885, faleceu Cândida da Natividade Varella Pereira, filha legítima do Dr. Vicente Ignácio Pereira e Izabel Augusta Varella Pereira, da Freguesia de Ceará-Mirim, livre, solteira, e brasileira, com 15 anos de idade, sem profissão, sendo a causa morte hemorragia nasal, e o lugar do óbito, no domicilio; o seu cadáver, por mim encomendado, foi sepultado no Cemitério Público desta Vila, em catacumba, no dia 14 do dito mês, e ano; do que mandei fazer este termo em que assino. O Vigário Felis Alves de Souza.

O Barão de Ceará-Mirim tinha uma fazenda em Angicos, denominada Santa Luzia. É possível que Cândida tenha ido para lá a fim de se tratar da sua doença, pois, para Angicos foram várias pessoas cuidar da saúde. Talvez, essa segunda morte na família é que tenha levado Dr. Vicente a decidir por abandonar a medicina.

Continuo conversando, via e-mail, com Dr. Geraldo Pereira, que ultimamente me passou mais a seguinte informação: Um fato, porém, importante é a frequente alusão em casa, por parte dele (Nilo Pereira), ao fato de ser descendente de uma família na qual havia uma doença hematológica, que ele, meu pai, dizia que era hemofilia, mas não era. Talvez isso justificasse os dois óbitos! É que falei com uma hematologista lá do Recife, por duas vezes, obtendo dela a informação de que pode ter sido uma discrasia sanguínea, seja de cunho celular propriamente, isto é, em termos de doença das plaquetas ou da coagulação mesmo.
Cândida da Natividade


29/12/2014

RIO POTENGI





HOJE, DIA 29, A ACADEMIA MACAIBENSE DE LETRAS REALIZARÁ SESSÃO ESPECIAL E SOLENE PARA OS ELOGIOS DOS PATRONOS DOS ACADÊMICOS IVONCISIO MEIRA MEDEIROS, SHEYLA RAMALHO E WELLINGTON LEIROS.
LOCAL: ACADEMIA NORTE-RIO-GRANDENSE DE LETRAS - RUA MIPIBU - NATAL - RN
HORÁRIO: 19 HORAS.

28/12/2014

APOLOGIA DA RIBEIRA


ADÁGIO PARA A RIBEIRA 

Ciro José Tavares


Alba atlântica no estuário renascida,

vieste nos fios de prata de nuvens marchetadas de vermelho

e serás, no fim da tarde, alba menstruada

espraiada pelo corpo sagrado do Rio Potengi.

Essa cor que assisto escorrer na indumentária

é o resto do sangue  aspirado da Ribeira,

de ruas assombradas na arquitetura arruinada,

de fantasmas emigrantes com receio da última visão.

Alba atlântica vieste tardinha para morrer crepuscular

sepultada no silêncio das margens e dos mangues,

sob o noturno adeus do sino da Igreja do Bom Jesus,

que nas dores a Ribeira enternece e abençoa

por seus anjos na hora das Ave Marias.  


            UMA FAMÍLIA CHAMADA RIBEIRA IV

                                   Ciro José Tavares




                        Os acontecimentos e histórias da Ribeira são muitos e um único livro não poderia contá-los. Por ter nascido na Rua do Comercio, atual Rua Chile, meu pai foi, ao mesmo tempo, personagem e testemunha de inúmeros fatos ocorridos. Formado em Medicina, no Rio de Janeiro, em 1926,recusou e resistiu a excelentes convites para permanecer na então Capital do país. Voltou à Natal e menino que conhecera a poesia das ruas estreitas e quietas, a solidariedade da gente habitando casas geminadas parecendo uma só família,não abandonou sua origem canguleira.Veio para morar na Rua Frei Miguelinho ,na mesma casa humilde de pouquíssimas alegrias e muitas tristezas, para estoicamente conviver com as lembranças do irmão, Cyro, devorado pela tuberculose aos 21 anos,  da irmã,Josefa,  vítima de brutal insuficiência respiratória em decorrência da asma alérgica. O consultório montou com a ajuda dos amigos. Dona Maria Farache, mãe dos amigos inseparáveis, Carlos, Antônio, Ernani e Adalberto, cedeu-lhe a sala principal de sua residência e o médico Otávio Gouveia Varela, que estava se afastando da clínica, os móveis e materiais da profissão que já não lhe seriam úteis. Algum tempo depois, quando fixou sua residência numa casa de dois pavimentos, alugada ao Dr. Januário Cicco, na Avenida Rio Branco, esquina com Juvino Barreto, passou a atender seus clientes na casa da Rua Frei Miguelinho e daí só saiu quando teve que assumir outros desafios profissionais.

            É necessário contar tudo isso para mostrar o espírito que perdurava na Ribeira e a valentia dos homens que nasceram, viveram e ali trabalharam.. Meu pai é apenas um exemplo, entre outros que destacaremos ao longo dessas. Linhas. O médico Onofre Lopes, fundador da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, vindo do interior para a Capital, num pronunciamento feito na Academia de Letras, da qual foi membro e Presidente revelou que ,também  mourejou no bairro, empregado no comércio, primeiro na Casa de Ferragem de Francisco R. Viana, na Rua Dr. Barata, e, depois, no armazém de estivas de M. Rocha, na Rua Chile.São poucos os que sabem disso. A Ribeira gerou homens de aço que a deixaram para fazer história. A Ribeira jamais irá esquecê-los, ainda que seja esquecida e abandonada.


                        UMA FAMÍLIA HAMADA RIBEIRA V
Ciro José Tavares

                        Escrevendo sobre sua pessoa na Ribeira, o Dr. Onofre Lopes deixa que suas palavras sejam permeadas por lembranças emocionantes.

“Eu procurava caminho na nebulosa, e, aos tropeços, meio ambição, meio confiança, todo esperança, vagueava pelas salas de aula noturna do Dr. João batista, do Mestre Ivo Filho, do professor João Tibúrcio depois, bem mais tarde, também nas bancas de exame do Ateneu. Ouvia falar das vitórias dos que estudavam, dos anéis vistosos de quem se formava, da importância social, da elegância no vestir daqueles que vinham das Faculdades. Era, também, o tempo em que outros estímulos me excitavam: pessoas humildes, puras e boas, habituais das “vendas” dos meus irmãos João e Pedro Lopes, onde eu vivia e sonhava, contavam com exagero os milagres da inteligência de Rui Barbosa, recitavam Fagundes Varela, Olavo Bilac, Álvares de Azevedo, Castro Alves. E, para maior motivação, via o Bacharel kerginaldo Cavalcanti, inteligente, bem trajado, de passos largos e resolutos, espargindo vitórias, fazendo discursos floridos de estrelas...”

Nas suas recordações aborda um episódio que se refere ao seu futuro colega e grande amigo: “Sei que, como adolescente ambicioso, fiquei cheio de inveja; Viram? Hoje houve um exame de Francês que assombrou! É só no que se fala!... Foi um estudante, José Tavares, que fez exame todo tempo falando em Francês! Cabra danado de inteligente!... Formidável, todo o exame em Francês!” Depois disso não mais ouviu falar do meu pai. Conheceram-se em 1933, quando formado em Medicina, também no Rio de Janeiro o Dr. Onofre regressou à Natal e tornaram-se amigos inseparáveis.

Lembra ainda os primeiros momentos e os nomes que pontificavam na Medicina do Rio Grande do norte, Varela Santiago, Otávio Varela, Ricardo Barreto, Ernesto Fonseca, e a figura central de Januário Cicco, que nascido em São José de Mipibu e formado na Bahia, adotou a Ribeira como sua segunda terra natal e se transformou num dos canguleiros mais ilustres. Juntos, Januário Cicco, Onofre Lopes, José Tavares, Luís Antonio Ernesto Fonseca, Otávio Varela e Aderbal de Figueiredo constituíam o corpo clínico do Hospital juvino Barreto depois chamado Miguel Couto e, finalmente, numa justíssima homenagem, Onofre Lopes.

A Ribeira precisa renascer para honrar a memória desses homens. A cidade e o Estado, por extensão, devem tudo à Ribeira, A Ribeira do tempo da cidade de pouco barulho, quase sem luz, ruas arenosas e noites encantadas Por doces serenatas.




           


           

27/12/2014

CRÔNICA DE EDUARDO GOSSON AO FILHO FAUSTO, FALECIDO HÁ TRÊS ANOS.



FAUSTO GOSSON: TRÊS NATAIS SEM VOCÊ
 Por Eduardo Gosson(*) 

 Meu querido: Já ouvi dizer que sou um pai chorão e inconformado. Repetindo JESUS, digo-lhes: -Vocês não sabem o que dizem! Só quem passa por essa experiência é que pode avaliar a extensão desta dor! o resto é miudeza de armarinho. Não sei porque DEUS autoriza alguém partir aos vinte e oito anos: quando a vida é bela e cheia de encantos.
 O grande escritor francês André Malrroux escreveu um livro - A CONDIÇÃO HUMANA - que nos fala da precariedade da vida. Não me venham com discursos de fariseus; é preciso expulsá-los do TEMPLO. São vendilhões que transformam tudo em mercadoria e não sabem a dor de um pai nesta Noite de Natal. Ó Jerusalém , os sinos dobram por ti!

 (*)Poeta.

26/12/2014

Marcelo Alves
Marcelo Alves


Os livros da Suprema Corte (II)

Na semana passada, como já tinha feito em outras oportunidades (vide sobretudo a crônica “Por detrás da Suprema Corte”), a título de informação e sugestão de leitura, listei alguns livros sobre a Suprema Corte dos Estados Unidos da América (a U.S. Supreme Court), muito provavelmente o mais afamado tribunal do planeta, deixando alguns poucos comentários acerca de cada um deles. Foram precisamente três livros, todos adquiridos na minha recente perambulação pelos EUA: (i) “The Supreme Court and the Constitution” (Dover Publications, 2002, publicação original de 1912), de Charles A. Bear; (ii) “Landmark Supreme Court Cases: The Most Influential Decisions of the Supreme Court of the United States” (Facts On File, 2004), organizado por Gary Hartman, Roy M. Mersky e Cindy L. Tate; e (iii) “Supreme Court Decisions” (Penguin Books, 2002), organizado por Jay M. Feinman e Richard Beeman. Todas essas obras, na falta de melhor palavra, eu as classifiquei, em razão de seus conteúdos, como livros “técnicos”.

Como prometido no domingo, hoje eu acrescento mais três livros a esse rol. Desta feita, entretanto, tratarei de livros bem mais suaves e, certamente, muito mais prazerosos de ler. Livros de direito (apenas de direito, refiro-me), que me perdoem os juristas, frequentemente, são muito “chatos” de ler.

Os livros de hoje tratam da história e dos bastidores da Suprema Corte, das personagens que ali passaram, suas amizades e inimizades, dos seus “grupinhos”, das polêmicas e das fofocas naturais de qualquer colegiado (e quem trabalha em um colegiado, como é o meu caso hoje, sabe muito bem do que eu estou falando). Portanto, da melhor parte da coisa, como eu já adiantei na semana passada.

O primeiro livro que eu recomendo é “Our Supreme Court: A History with 14 Activities” (Chicago Review Press, 2007), de Richard Panchyk. É um livro de quase 200 páginas em um formato não muito usual, mais largo do que alto. É dividido por temas (a fundação da corte, direitos civis, liberdade religiosa, liberdade de expressão, a justiça criminal etc.), privilegiando, além do texto e das altividades referidas no seu título, entrevistas, imagens e fotografias representativas da U.S. Supreme Court. De fato, um livro muito agradável de se ler. Curiosamente, compramos (digo compramos porque, se não fosse alertado, teria passado batido por ele) esse livro no complexo Disney, mais precisamente no pavilhão dos Estados Unidos no Epcot Center. Vai aí uma informação, quase uma resposta, para quem diz que “a Disney não é cultura”.

Outro livro que hoje sugiro é “A People's History of the Supreme Court: The Men and Women Whose Cases and Decisions Have Shaped Our Constitution” (Penguin Books, 2006), de Peter Irons, respeitado jurista e cientista político, especializado na Suprema Corte, com vários livros publicados sobre o tema. É um tijolão, com quase 600 páginas em letrinhas miúdas, muito embora, curiosamente, por ser feito em papel jornal e com capa mole, ele não pese muito. Diferentemente do livro anterior, ele é só texto. Muito texto. Evidentemente, não li o livro ainda. Mas, pelo que já vi folheando-o, a ideia é contar a “história” da U.S. Supreme Court (seus juízes e seus mais famosos jurisdicionados incluídos nesse “pacote”) desde os debates para a sua criação até os dias atuais, mostrando como tudo na sociedade americana têm sido profundamente (e de modo muitas vezes controverso) influenciado por suas decisões (sendo muitas dessas decisões comentadas no livro). Um livro para ser lido no recesso de fim de ano?

Por fim, vem o que eu considero a cereja do bolo dos livros que comprei sobre a Suprema Corte: “The Supreme Court: The Personalities and Rivalries that Difined America” (Holt Paperbacks, 2007), de Jeffrey Rosen. Talvez essa minha preferência se deva ao fato de ser o seu autor o que eles por lá chamam de “legal commentator” (“comentarista de assuntos jurídicos”), sendo por muitos considerado hoje o mais lido e influente dos EUA. Ele é uma espécie de profissional do direito (tendo se formado em Yale) e jornalista, com alguns livros publicados na zona que une essas duas áreas do Estado e da sociedade (um dia, se Deus permitir, ainda faço jornalismo). Talvez isso se deva ao simples fato de que gostei do livro, certamente menos denso que o anterior. Com menos de 300 páginas (em capa mole, papel bíblia e com uma porção de fotos), a arquitetura do livro é bastante direta: baseia-se em quatro “rivalidades” (ora de mentalidades ora pessoais). No que toca aos primórdios da U.S. Supreme Court, entre John Marshall e Thomas Jefferson. Quanto ao período seguinte à Guerra Civil, entre John Marshall Harlan e Oliver Wendell Holmes Jr. Já no século XX, basicamente do começo dos anos 1940 a fins dos anos 70, entre os ícones liberais Hugo Black e William O. Douglas. E, para um período mais próximo de nós, foca a “rivalidade” entre os conservadores William H. Rehnquist e Antonin Scalia. É um misto de direito, biografia (um gênero literário que aprecio bastante) e romance (falo aqui de paixões, intrigas, reviravoltas, momentos de suspense e clímax e uma certa dose de fantasia), mostrando mais uma vez o impacto das decisões da Suprema Corte, nesses mais de 200 anos de história, no todo da sociedade americana.

Bom, e para você, caro leitor, levando em consideração todos esses livros aqui referidos, qual seria a “sua” cereja do bolo? Não se preocupe. Se discordar de mim não ficarei nem um pouco chateado.

Marcelo Alves Dias de Souza
Procurador Regional da República
Doutor em Direito (PhD in Law) pelo King’s College London – KCL
Mestre em Direito pela PUC/SP

25/12/2014

Marcelo Alves
Marcelo Alves24 de dezembro de 2014 13:04
Os livros da Suprema Corte (I)

Faz uns dois meses, antes de viajar para os Estados Unidos da América, eu escrevi aqui sobre a Suprema Corte daquele país (a U.S. Supreme Court). Nessa crônica (intitulada “Em busca da Suprema Corte”), eu prometi, tão logo retornasse da viagem e a partir das experiências ali vividas, escrever novamente sobre o famoso tribunal.

Infelizmente, embora tenhamos passados uns vinte dias perambulando pelos EUA, não deu para ir a Washington D.C. e visitar fisicamente a U.S. Supreme Court. Estava um frio de lascar, e decidimos, já que chegamos ao país por Orlando/FL, fazer um grande giro apenas pelos estados do sul (Flórida, Geórgia, Carolina do Sul, Carolina do Norte, Tennessee, Mississippi, Louisiana e Alabama), que têm temperaturas reconhecidamente mais amenas que a da Capital Federal. Acho que acertamos. O sul dos EUA é belíssimo e cheio história (e não demora muito, eu conto tudinho - ou uma boa parte, melhor dizendo - dessa jornada para vocês).

Mas se não deu para ir a Washington D.C., pelo menos deu para comprar uma porção de livros sobre a U.S. Supreme Court. Um dos objetivos da minha viagem aos EUA era visitar suas enormes livrarias e, à semelhança do que fiz com “Minhas Livrarias em Londres I, II e III” e “Minhas Livrarias em Paris I, II e III”, contar a vocês minhas impressões sobre elas (as livrarias dos EUA). Farei isso já já, eu prometo. Talvez seja o assunto do nosso próximo papo aqui.

No que toca aos livros acerca da Suprema Corte do EUA, já havia aqui me referido e escrito sobre alguns deles (vide a crônica “Por detrás da Suprema Corte”), como, por exemplo: (i) “Supreme Conflict: The Inside Story of the Struggle for Control of the United States Supreme Court” (Penguin Books, 2007), de Jan Crawford Greenburg; (ii) “The Supreme Court” (Vintage Books, 2001), de William H. Rehnquist; (iii) e, sobretudo, “Por detrás da Suprema Corte” (nossa tradução para “The Brethren: Inside the Supreme Court”), de autoria de Bob Woodward e de Scott Armstrong (jornalistas do “The Washington Post”). Desse último, possuo uma edição da Saraiva, já traduzida para o nosso querido português, de 1985.

Pois, hoje e no artigo da semana que vem, a esse rol acrescento e recomendo, para os interessados na Suprema Corte dos EUA, meia duzia livros, deixando alguns poucos comentários acerca de cada um deles.

Começo pelos livros mais técnicos. E o primeiro deles é “The Supreme Court and the Constitution” (Dover Publications, 2002, publicação original de 1912), de Charles A. Beard, que aborda os anos iniciais da Corte e o nascimento e desenvolvimento do controle jurisdicional de constitucionalidade. Considerado um clássico, é um dos livros mais citados sobre essa temática (do “judicial review of legislation”), que, por sinal, é uma das mais caras para mim. Foi um achado. Comprei o dito cujo, novinho em folha, por apenas um dólar numa livraria de livros novos e usados chamada Book Cellar, que resta escondida numa pequena cidade do estado do Tennessee.

Ainda tratando de livros técnicos, o segundo livro que adquiri e recomendo é “Landmark Supreme Court Cases: The Most Influential Decisions of the Supreme Court of the United States” (Facts On File, 2004), organizado por Gary Hartman, Roy M. Mersky e Cindy L. Tate. Um “tijolão”. Quase 600 páginas. E não foi barato, já que, se não me engano, comprei na famosa Barnes & Noble, sem promoção alguma, pelo preço de capa. Mas valeu a pena. É uma seleção fantástica de casos paradigmáticos que são classificados por tema: direitos civis, devido processo legal, liberdade de imprensa, liberdade religiosa, liberdade de expressão, o exercício da jurisdição e por aí vai. Tenho certeza que, seja para escrever aqui ou em um trabalho de maior fôlego, terei a oportunidade - ou mesmo a necessidade - de consultá-lo.

Muito parecido com esse tijolão é outro livro que adquiri: “Supreme Court Decisions” (Penguin Books, 2002), organizado por Jay M. Feinman e Richard Beeman. É também uma seleção, bastante criteriosa, dividida por seis temas (governo, liberdade de expressão, liberdade de religião, direitos civis, direito à privacidade e Justiça civil e criminal), dos casos mais importantes da Suprema Corte, mas com apenas cerca de 150 páginas. Um “livrinho”, se considerado o seu tamanho. Mas é excelente. Pequenino e leve, estou com ele em minha sacola, o tempo todo, para leituras rápidas. E já ia me esquecendo: comprei o danado com 60% de desconto na Book Warehouse, uma excelente rede de livrarias de livros novos dos EUA, todos em promoção, que acaba de inaugurar uma loja na International Drive, em Orlando/FL.

Bom, sobre os demais livros - que tratam da história e dos bastidores da Corte, das personagens que ali passaram, suas amizades e inimizades, das polêmicas e das fofocas, da melhor parte, portanto - escrevei semana que vem.

Assim, vocês, curiosos, não me abandonam.

Marcelo Alves Dias de Souza
Procurador Regional da República
Doutor em Direito (PhD in Law) pelo King’s College London – KCL
Mestre em Direito pela PUC/SP

23/12/2014

CONFRATERNIZAÇÃO DO IHGRN, INRG E UBE-RN NO LARGO VICENTE DE LEMOS - IHGRN. NA TARDE-NOITE DE 22-12-2014, SOB UM  CÉU CHEIO DE ESTRELAS, MÚSICA, SORTEIO DE BRINDES, REENCONTROS E ALEGRIAS.



 



VALÉRIO MESQUITA PRESIDENTE DO IHGRN
ORMUZ SIMONETTI - VICE-PRESIDENTE 
VICENTE SEREJO, JURANDYR NAVARRO E PEDRO LINS
 
PEDRO, ODÚLIO, ORMUZ, ADILSON E ARMANDO

ASSIS CÂMARA, GEORGE, VALÉRIO E EDGARD


ODÚLIO, ADILSON E ARMANDO

 
GEIZA. COMPANHIA MARAVILHOSA
 OS EDUARDOS: GOSSON E CUNHA
 MOMENTOS SÓ DE MÚSICAS EXCELENTES, O CANTOR E PIANISTA HUMBERTO MUNIZ DANTAS, E A PARTICIPAÇÃO DOS SERESTEIROS    ORMUZ SIMONETTI, CARLOS GOMES E EDGARD RAMALHO. BUFFET DE GORETE. SORTEIOS DE MUITOS BRINDES;;
 
DR. CARLOS GOMES, RESPONSÁVEL PELO SORTEIO E SCILLA
 
MUHER SURPREENDENTE, CARISMÁTICA, AMIGA. ASSIM É GEIZA
GEÍZA E LÚCIA
ORMUZ, GEÍZA E LÚCIA HELENA

O COLAR DE THEREZINHA

GEIZA, CÉLIA E THEREZINHA

GRUPO DE FUNCIONÁRIOS DO IHGRN E FAMILIARES


FLAGRANTE DA FESTA (MANOEL RECEBE PRÊMIO)

LÚCIA HELENA E CLAUDIONOR BARBALHO
LÚCIA HELENA, CLAUDIONOR, VALÉRIO, EDUARDOS GOSSON E CUNHA
PIA, GEIZA FOI SORTEADA
CARLOS E SCILLA GABEL ENTREGANDO O PRÊMIO GANHO POR SOFIA
ÉRICA, ESPOSA DE GEORGE VERAS TAMBÉM FOI SORTEADA
E CÉLIA AMOU SEU BRINDE!
THEREZINHA E LÚCIA HELENA
                                      

ÉRICA E GEORGE VERAS

TOMISLAV, SUA ESPOSA E LÚCIA HELENA
CLAUDIONOR, THEREZINHA E EDUARDO CUNHA
 
AMOR DEMAIS!
OS POMBINHOS: CÉLIA E CLAUDIONOR

OUTRAS PRESENÇAS: ANTÔNIO LUIZ, ROBERTO LIMA DE SOUZA, GRACO AURÉLIO, JOANILSON DE PAULA RÊGO, PÚBLIO JOSÉ, VOLONTÉ E FRED GALVÃO.
_____________________________________________________________________
Textos: Lúcia Helena e Carlos Gomes. Créditos fotográficos: LH e Fred

21/12/2014


Estado, governo e partido
Tomislav R. Femenick – Contador, Mestre em Economia e membro do IHGRN.





Mesmo entre bacharéis, mestres e doutores, muitos há que não conseguem distinguir a sutil e ao mesmo tempo grande diferença entre “Estado” e “governo”, pois os nossos dirigentes – colonizadores e durante o Império e a República – nunca se interessaram por separar as duas coisas. Poucos formam a exceção, que somente serve para confirmar a regra.
            Quando estudante da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, eu tive a oportunidade de ter como professores dois grandes mestres. André Franco Montoro Filho, professor regular de economia, e seu pai André Franco Montoro, então governador do Estado de São Paulo e professor convidado – que chegava à PUC como um cidadão comum, sem acólitos e sem nenhum aparado de segurança. Chamaram mais a minha atenção as suas palestras sobre direito constitucional e ciência do direito.
            Foi nessas aulas que sedimentei conhecimento sobre o assunto. O “Estado” é o conjunto das instituições de caráter duradouro que controla e administra a nação, formado pelo executivo, legislativo, aparato judicial, ministérios, autarquias, empresas estatais, forças armadas, funcionalismo público etc. Nas democracias, o “governo” é eleito com o fim de dirigir o “Estado”, com alcance temporal limitado. Como em nosso país as funções de chefe de Estado e chefe de governo são exercidas por uma única pessoa, o presidente da República, a separação entre “Estado” e “governo” depende muito da personalidade do ocupante do cargo.
            Nestes doze anos de governantes petistas, “governo” e “Estado” têm sido tratados como se fossem uma mesma entidade e, mais preocupante ainda, como uma extensão do partido. Então o que se vê é o aparelhamento do Estado. Membros do PT e da “base aliada” são nomeados para todos os cargos, mesmo que não tenham as condições técnicas e os conhecimentos necessários. Essa situação atingiu empresas públicas e até tribunais. O resultado ai está: os apaniguandos do governo acham que o “Estado” é deles e isso atinge em cheio o andamento da economia do país.
            Ex-ministros, ocupantes de altos cargos no governo e nos partidos e dirigentes do Banco do Brasil, da Petrobras e de fornecedores dessas organizações estão denunciados, presos ou foragidos da justiça; verbas do BNDES são direcionadas para os grandes contribuintes dos partidos, mesmo que suas empresas sejam erguidas sobre quimeras (Elke Batistas é apenas um exemplo gritante); Comissões Parlamentar de Inquérito não se interessam pela verdade; os Correios são usados para distribuir panfletos partidários sem cobrar nada. Muito, muitos outros exemplos há.
            O impacto desse procedimento é gritantemente prejudicial às atividades econômicas. Os escassos recursos dos bancos públicos deixam de financiar a produção e o consumo, o que resultada no encolhimento do PIB e crescimento dos juros; o estado de incerteza jurídica afugenta os investidores externos; os empresários nacionais arquivam seus projetos de investimento na produção. No final, o emprego diminui.
            A presidente Dilma nos foi vendida como uma administradora séria, capaz, austera e racional. Na verdade a mãe do PAC se transformou na madrasta dos brasileiros. Mostrou-se como ela é realmente: sua seriedade é apenas grosseria com os comandados, sua capacidade gerencial se desmanchou nos escândalos que agora ela não pode dizer que não sabia, sua racionalidade foi para o brejo com o esbanjamento do dinheiro público em ações injustificável como os financiamentos dados a “hernanos” bolivarianos ou a ditadores africanos; sua austeridade se engaçou no não cumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal.
            Ainda há tempo para mudar o rumo do governo. Mas... Haverá interesse? Duvido.



20/12/2014

A primeira vinda a Natal

Elísio Augusto de Medeiros e Silva (in memoriam) 

Era a primeira vez que o menino vinha à Capital. Viajava em companhia do seu pai, e ficariam hospedados na casa do tio Clementino.
Na chegada, uma das coisas que mais o impressionou foram os bondes elétricos que circulavam em Natal. Na sua pequena Cidade Interiorana, os meios de transporte eram os animais de montaria e as carroças de tração animal. Até os automóveis somente apareciam ocasionalmente.
Ficou maravilhado com os bondes e o desejo de andar em um deles logo se manifestou. Qual seria a sensação?
Da porta da casa do seu tio, na Av. Junqueira Aires, ficava horas observando os bondes, conduzidos pelos motorneiros, vindos da Ribeira para a Cidade Alta, com alguns passageiros mais afoitos pendurados em seus estribos.
Notou que em cada um dos bondes havia uma luzinha, sempre acesa, na frente: roxa, vermelha, branca ou azul.
A casa também apresentava várias novidades aos seus olhos infantis – luz elétrica, água encanada e telefone.
Quando acendia uma lâmpada, ficava olhando, encantado, aquele bulbo de vidro, brilhando e clareando tudo ao redor. Nem parecia a lamparina de sua casa.
Foi na casa do tio que provou, pela primeira vez, a água gelada. De início, parecia que queimava a sua boca, mas logo se acostumou.
Numa tarde, foi levado a um passeio na Cidade Baixa, pelas ruas transversais à Dr. Barata, que mostrava inúmeras coisas que nunca imaginara existir. Antes, passou pela Estação Ferroviária, onde o trem resfolegava e soltava fumaça. Na rua, os homens de chapéu e ternos, e as senhoras muito bem-vestidas, passeavam pelas ruas, sem pressa.
– É o footing, disse-lhe tio Clementino.
Passou a tarde brincando na rua, atônito com tantas novidades.
No dia seguinte, pela manhã, seu tio levou-os até a Praia de Areia Preta. Foram de bonde até a Avenida Beira-Mar. Um passeio inesquecível!
Nunca iria esquecer o primeiro contato que teve com o mar. Era enorme e não pode conter o espanto, exclamando, com os olhos arregalados: Que açudão! Todos ao seu redor riram.
Naquele dia, provou pela primeira vez a água do mar. Como era salgada! Não entrou na água, limitou-se a cavar um poçinho, na areia branca da praia.
De volta à casa, conheceu cedinho da noite outras crianças, mais ou menos de sua idade, com as quais brincou na calçada até às 21:00 hs, hora de menino dormir.
No outro dia, pela manhã, todos desceram até o Rio Potengi, para admirar alguns vapores da Lloyde que estavam atracados, esperando suas cargas de algodão. Coincidentemente, assistiu à chegada de um hidroavião, procedente da Europa. Nunca vira nada igual.
À tarde, seu tio colocou na vitrola “Pana Trope” alguns discos de Carlos Gardel. “Fumando espero” e “Se acabaron los otários”, que eram os tangos de sua predileção, foram repetidos várias vezes. Às vezes, até ensaiava alguns passos desajeitados pela sala.

De volta a sua terra, levava registradas na memória as coisas fantásticas: bonde, geladeira, telefone, navio, hidroavião, cujas lembranças demorariam a se apagar.