O POETA E O CAIS – Berilo de Castro
O POETA E O CAIS –
O poeta e escritor Nei Leandro de Castro,
sempre que volta a Natal, nas suas boas vindas da cidade do Rio de
Janeiro, se une aos seus velhos e inesquecíveis amigos, com os quais
procura revisitar e reviver aqueles lugares que jamais
esquecera quando da sua permanência na cidade dos Reis Magos. A memória
exige e reclama.
O início de sua peregrinação se dá pela rua
Professor Zuza, casa de número 254, uma de suas primeiras paradas,
quando deixou a sua cidade berço: Caicó. Lembra com sorrisos das
embustices exageradas dos seus personagens inesquecíveis:
Galego Assis, de Pedro Bala, do primo Itamar; da mercearia de seu
Matias, com suas gostosas e irresistíveis cocadas.
Volta no tempo e se deslumbra com o rio
Potengi; recorda das travessias de barco para a praia da Redinha;
revive os seus momentos da infância feliz, quando ia pescar nos navios
velhos, nos quebra-mares do outro lado do rio; das
incursões nos desconhecidos braços d’água da Gamboa do Jaguaribe.
Relembra a caça aos caranguejos nas marés altas, quando eles deixam suas
locas e ficam de bobeira na superfície do manquezal. Volta ao Mercado
da Redinha para saborear a iguaria famosa e inigualável:
ginga com tapioca, acompanhada de uma geladinha, no bar de Dalila, em
papos infindáveis com o fraterno amigo, Castilho.
Nessas suas andanças, revisita o centenário
Estádio Juvenal Lamartine, onde como jovem atleta atuou no time juvenil
do América FC, treinado por Lelé Galvão e Lu. Dizia: estou recarregando a
bateria e enchendo a alma de boas e inesquecíveis
recordações.
Em um desses felizes reencontros se vê na
localidade da Ponta do Morcego, Praia do Meio, no bar Cais 43, recanto
deslumbrante de boêmios, de paisagem indescritível do mar com a cidade. O
poeta, entre um drinque e outro, na solidão
da noite, tendo como testemunha a sua fiel e enamorada parceira – a lua
–, escreveu em um guardanapo de papel o poema SAUDADE DE PEDRA:
Nesta saudade de pedra
Eu, exilado de mim
Plantei solidão, colhi dálias, lírios e
jasmins
Sobre as águas vinha a lua
Lá das bandas da Redinha
Deu-lhe as flores,
Perguntei se ela queria ser minha
Em silêncio ela se foi
Nua, bela, branca, em paz
Só me restou mais um drinque
À beira do caos do cais.
O poema ficou exposto no mural daquela casa
noturna, admirado, documentado e declamado pelos seus frequentadores
boêmios. Um deles, Vicente Neto, um poeta musical bissexto. Cantor
amador, amante da boa música. De uma voz encantadora.
Ao ler e reler o poema, ficou encantado e lhe veio de imediato a
inspiração de musicá-lo. Colocou melodia e a sua admirável voz
transformando o poema “Saudade de pedra”, em uma belíssima Canção.
Composição: Saudade de pedra (do poema de Nei Leandro de Castro) – Música/Intérprete: Vicente Neto – 2010
Berilo de Castro – Médico e Escritor
Nenhum comentário:
Postar um comentário