03/04/2014

UNI-RN



DALADIER CUNHA LIMA – (1)

Jurandyr Navarro

(Do Conselho Estadual de Cultura)

A grandeza de uma cidade é medida pela operosidade de seus habitantes. Às vezes, essa grandeza não é dimensionada pela riqueza puramente material, porém, levando em conta a elevação espiritual.

A nossa Natal foi engrandecida pela dedicação amorável do inesquecível Padre João Maria, médico das almas, aos filhos da pobreza. O seu exemplo foi seguido por outro médico, com o soerguimento da Maternidade “Mãe dos Pobres”, obra imortal de Januário Cicco, frondosa árvore que tem dado frutos abundantes, no transcorrer do tempo.

Por outro lado, a nossa Educação teve arquétipos admiráveis, atraídos por tão sublime missão engrandecedora da nossa cidadania, notáveis vultos, reverenciados por gerações de um passado glorioso.

Em dias da modernidade, outros devotados, por causa tão nobre despontaram  em nossa sociedade.

Um destes é Daladier Pessoa Cunha Lima! Sacerdote da Medicina, que na mocidade sacrifícios profissionais ofereceu ao seu altar, à altura da sua maturidade cronológica passou a dar prioridade à instrução pública e privada, focalizando a sua atividade primacial no ensino superior, inicialmente, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, a grande Escola, erguida em 1958, onde aprendera, e aperfeiçoara a sua inclinação pelo magistério, administração e liderança política.

Nela, fez o seu curso médico e a ela serviu, ocupando os cargos mais importantes da sua Direção hierárquica na administração universitária. Foi ele o único dos seus docentes, de que se tem notícia, ter exercido, sucessivamente, os cargos em comissão de Coordenador de Curso, Chefe de Departamento, Diretor de Centro, Pró-Reitor e Reitor.

Daladier Cunha Lima foi o primeiro Reitor Magnífico, da história da UFRN, eleito para o cargo, democraticamente, pelo sufrágio direto do alunado, funcionários e professores.

O seu mandato, à frente da nossa principal escola pública, foi um dos mais eficientes.

Ultimada tão importante investidura, não se quedou contemplativo. A inação não é companheira fiel das pessoas vocacionadas para o trabalho, seja ele físico ou intelectual. De imediato, criou as Escolas de idiomas, Yazigi, logo atraindo clientela interessada da classe jovem, curso que teve efeito multiplicador em suas salas de aula, diante do sucesso obtido e confiança nele depositada com inteligência e dedicação.

Em seguida, no seu afã de mais servir, à Educação, teve o grato ensejo de dirigir a FARN, Faculdade Natalense para o Desenvolvimento do Rio Grande do Norte. Após resultado positivo da gestão, outros cursos foram surgindo, resultando, anos depois com a criação do Centro Universitário do Rio Grande do Norte – UNI-RN.

Voltou, assim, a ser Reitor, dotado de nova experiência capacitadora a fim de enfrentar os desafios do progresso.

Tem sido ele um dos médicos educadores do torrão potiguar, filiado à escola de Januário Cicco – primeiro Diretor da primeira Faculdade criada no Estado, 1923, no governo Antônio José de Melo e Souza, Escola de Farmácia; - de Onofre Lopes, Reitor da primeira Universidade e de Luís Antônio dos Santos Lima, veterano docente do velho Atheneu, o primeiro educandário do Estado.

Repleta de dificuldades, a missão do educador e dos dirigentes desses templos sagrados do ensino. As sendas de ramalhetes cobertas são impróprias aos vencedores de árduas conquistas. “A coroa de louros somente cingiu frontes feridas”, proclamou Lacordaire, a voz oracular das catedrais góticas.

Autores religiosos bendizem as dificuldades por serem elas formadoras da elevação da inteligência, do caráter, da vontade, acrescentando-se  a sensibilidade. São elas, de certa forma, estimuladoras, por conduzirem à ação para, dessa forma, seus propósitos subirem o alto cume, e, dessa elevação espiritual, vislumbrar esplendoroso firmamento.

Sublimes os obstinados, porque colheram o triunfo através a luta perene, visando o bem da humanidade.

O perfil esboçado pelo trabalho de Daladier, é a imagem de paciente labuta num desempenho perseverante, transpondo seguidas etapas. Tem sido um labor abençoado, continuado e sereno, sem os atropelos do açodamento.

Grava a literatura francesa que Voltaire gastou seis dias, apenas, para compor a tragédia “Olímpia”. Concluída nesse exíguo espaço de tempo, enviou exemplar a um amigo, dizendo: “É obra de seis dias”! no que o amigo retrucou – “não devia descansar no sétimo”.

Daí, tirar-se a ilação conhecida de que a pressa é inimiga da perfeição.

A pressa é somente aconselhável, seguindo-se o pensamento de Boileau, que prevenia: - “Apressai-vos, lentamente.”

Sentenciou um provérbio chinês, que o tempo e a paciência transformam a folha da amoreira em seda, inferindo-se, ser a perseverança a chave do sucesso.

“Querer, trabalhar e esperar”, eis o trinômio basilar do êxito do médico Pasteur.

Tal instrumental redundou em sucesso o catecismo educacional de Daladier Cunha Lima.

É ele dotado de temperamento afável, de perfil social avesso às vaidades, por primar uma postura refinada pelo cotidiano ritual dos ensinamentos civilizatórios.

Além de educador, o personagem em tela é escritor, sendo autor de obras publicadas e outras inéditas, destacando-se o monumental livro “Noilde Ramalho – Uma História de Amor à Educação”. É acadêmico, pertencendo aos quadros da Academia de Medicina do Rio Grande do Norte, sendo, também, integrante de outras instituições culturais.

Pelo reconhecimento público ao seu labor dedicado ao magistério superior e o visualizado no espaço cultural, tem recebido homenagens corporificadas em comendas, medalhas e títulos.

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