O Fotógrafo Lambe-lambe
Elísio Augusto de Medeiros e Silva
Empresário,
escritor e membro da AEILIJ
elisio@mercomix.com.br
O
estranho chegou quase despercebido na cidade. Era o dia da feira local e de
muita movimentação. Não podia perder tempo. Procurou um local na pracinha perto
da igreja e tratou de arrumar o seu estranho equipamento, sem chamar muita
atenção. Prudência desnecessária, pois vocês sabem como é cidade pequena do
interior.
Encaixou
e prendeu bem firme, em cima de três ripas de pau pintado, uma caixa grande de
madeira envernizada. Depois, abriu uma janelinha na parte da frente, de onde
puxou um fole preto que parecia uma sanfona.
As
pessoas logo começaram a chegar, curiosas. Muitos pensavam que ele iria cantar,
mas da tal caixa não saía música nenhuma. Nem podia, era um lambe-lambe.
Depois
de posicionar o artefato, debruçou-se sobre a tal caixa e passou a mexer nela
com cuidado. Em seguida, desceu sobre a sua cabeça e as costas um pano preto,
velho e empoeirado.
A
essa altura, já estava rodeado de pessoas atentas, que se entreolhavam e
perguntavam: O que isso faz?... O que é isso?
Ele
apenas sorria e fazia sinais com a mão, pedindo para aguardarem um pouco. Logo
depois disse, em alto e bom tom: Sou Anacreto, o fotógrafo - e passou a
distribuir uns papeizinhos coloridos, com umas coisas impressas e algumas
figuras de pessoas bem arrumadas. Claro, tudo em preto e branco.
O
povo ficou encantado, e pediu para ele demonstrar o que fazia. Foi jogo rápido.
Mandou
umas pessoas se agruparem num dos canteiros da praça e pediu para fazerem pose
para bater um “instantâneo”. Mas avisou: não podem se mexer na hora. Foi um tal
de se ajeitar, pentear cabelo e bigode, ajeitar chapéu... todos queriam sair
bem e preparavam a pose.
Depois
de tudo em posição, o fotógrafo enfiou novamente a cabeça no pano preto, fez
sinal para que as pessoas não se mexessem e pediu para outras pessoas se
afastarem do local onde estavam os que iriam ser fotografados.
Não
se ouvia um barulho no lugar. De repente, um clarão forte saiu de um objeto que
o fotógrafo segurava na mão esquerda.
Todo
mundo ficou meio aturdido com o estampido e a claridade que se formou, seguida
de uma fumaça branca.
A
essa altura a praça já estava cheia, e os soldados do destacamento observavam
tudo da esquina do mercado. Uma pequena fila se formou, pois muitas pessoas
queriam tirar suas fotografias.
Depois
de uma rápida sessão, ele saiu com seu equipamento para a casa de Dona Janoca, em
busca de um quartinho escuro, no quintal, onde iria revelar as chapas batidas
na praça. Depois da revelação, ele emoldurava as estampas em cartolina cinza
com janelas de papel de seda, o que encantava os clientes que aguardavam
ansiosos.
Na
semana seguinte, alugou uma casa na rua principal, perto da igreja, e passou a
fazer seu trabalho com muito carinho. A partir daí estava presente em tudo que
era batizado, casamento, aniversário, primeira comunhão e festas de colégio.
E
garantia... suas fotos não amarelavam com o tempo. Não lhe faltava serviço
durante o ano todo.
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