17/12/2019



O parlamento e seus desvios


Tomislav R. Femenick – Jornalista – Do IHGRN

Eu sempre tive muito respeito pelo parlamento. Isso por duas vertentes. Primeiro por herança familiar. O meu primo Vicente da Mota Neto foi deputado federal em duas legislaturas (1946 e 1950) e deputado estadual também por dois mandatos, além de prefeito em Mossoró. Seu irmão, Francisco Mota, foi vereador por várias legislaturas consecutivas e também prefeito. Isso para não falar do meu bisavô, o Cel. Vicente da Mota, que foi intendente do Município, e de seus filhos Francisco Vicente Cunha da Mota e Luiz Ferreira Cunha da Mota, o Padre Mota, o primeiro, intendente e prefeito e o segundo, também prefeito da cidade.
Depois há a minha formação humanística, iniciada em casa e aprendida com os ensinamentos do meu padrasto Xavier Vieira, ex-seminarista jesuíta (quase padre), advogado, poliglota e funcionário do Banco do Brasil, numa época em que isso diferenciava quem ostentava essa condição. Foi ele que me levou a conhecer os filósofos gregos, os pensadores do iluminismo, principalmente Descartes, Francis Bacon, John Locke, Rousseau e Spinoza. As ideias eram amplas e as apreendi esparsamente. No entanto, delas retive o conceito básico do sentido da democracia: a organização política da sociedade que reconhece o direito de cada cidadão de participar da gestão dos assuntos públicos. Aprendi, ainda, que a prática desse entendimento se dá através dos parlamentos municipais, estaduais e federal.
Teoricamente, no Brasil também é assim. Está lá na Constituição Federal: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos”. O problema é a prática. Um povo que elege seus representantes Tiririca, Agnaldo Timóteo, Romário e outros que tais, que ameaça eleger Luciano Huck, Datena e outros quejandos e já elegeu o rinoceronte Cacareco, espera o que do seu parlamento?
Todavia o problema é bem maior. Os nossos vereadores, deputados estaduais, deputados federais e senadores são “experts” em criar vantagens para si mesmos. Regalias impensáveis em quaisquer órgãos que se respeitem. São verbas de gabinetes, auxilio disso e daquilo, tratamento médico-odontológico para suas senhorias e familiares, sem teto de gasto. Recentemente o deputado Marco Feliciano gastou R$ 157 mil com dentista e nós é que pagamos a conta. Quando presidente do senado, Renan Calheiros fez um implante capilar e tentou espetar em nosso bolso as despesas com o serviço de estéticas e de transporte em avião da FAB.
Mas são as verbas de gabinete que correm soltas e sem fiscalização. Faz tempo que eu e muita gente só recebemos aqueles cartões de Natal e de parabéns pelo aniversário de antigamente, pelo correio enviados por deputado e senador. Sabem porquê? Eles têm verba para gastar com os serviços dos Correios. Nada sai de suas contas. As verbas de ressarcimento com o uso de gasolina não são conferidas por ninguém; basta apresentar as Notas Fiscais. Dizem que há Excelências cujos gastos anuais com combustível davam para ir à lua e voltar, mais de uma vez.
 Acha pouco? Então vamos falar das viagens ao exterior, ditas a serviço. Elas acontecem o ano tudo. Levam nossos representantes a todos os cantos do planeta. Do topo do mundo a lugares exóticos. No entanto as viagens preferidas são aquelas que incluem cidades do chamado circuito Elizabeth Arden: Roma, Paris, Londres e New York. Dizendo que vão a congressos, seminários e comissão de estudos, deputados e senadores mal aparecem nesses certames. Preferem passear, conhecer ou rever lugares famosos, frequentar os melhores restaurantes, assistir o cancan do Moulin Rouge, os musicais da Broadway, visitar o Museu do Louvre, ir ver o Papa na praça do Vaticano, andar nos ônibus de dois andares e fazer compra na Harrods de Londres. Isso tudo fazendo selfies que depois serão entregues às respectivas assessorias, para as divulgar no Face, no Twitter e no Instagram.

Tudo às custas de nós, os trouxas, os otários que os elegemos.

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