26/12/2019



Manoel de Barros – o poeta onírico


Escutando as coisas boas que ainda circulam nas redes de divulgação nacional, atento, me deparo com os comentários de filósofo, educador, palestrante, escritor e pensador Mário Sérgio Cortella (1954) sobre o poeta Manoel de Barros.
Afinal, quem foi e o que representou o poeta cuiabano  para a poesia brasileira no século XX?
                      
Manoel Wenceslau Leite de Barros (Manoel de Barros – 1916-2014) nasceu em Cuiabá/MT, no ano de 1916. Em 1937, debutou na poesia com o livro intitulado “Poemas Concebidos sem Pecados”. Em 1996, publicou a sua mais conhecida obra, o Livro sobre Nada. Em 1986, o poeta Carlos Drummont de Andrade o reconheceu como o maior poeta brasileiro vivo.
O filólogo Antonio Houaiss, assim se expressou sobre a poesia de Barros: “A poesia de Manoel Barros é de uma enorme racionalidade. Suas visões oníricas num primeiro instante logo se revelam muito reais, sem fugir a um substrato ético muito profundo. Tenho por sua obra a mais alta admiração e muito amor”.
Somente em 1980 seu trabalho foi valorizado nacionalmente, graças à divulgação e ao reconhecimento de suas obras pelo desenhista, humorista, dramaturgo, poeta, escritor e jornalista Millôr Fernandes, quando o poeta  passou a receber vários prêmios literários, como o Jabuti, em 1987, com “O Guardador de Águas”; seus livros passaram a ser    publicados e valorizados em outros países, como Portugal, Espanha e França.
       O poeta faleceu aos 97 anos, na cidade de Campo Grande/MS.
Transcrevo para o deleite dos leitores alguns pensamentos criativos das suas geniais poesias que navegam entre o sonho e a racionalidade.

·       Tudo que não invento é falso.

·        Há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira.

·       Tem mais presença em mim o que me falta.

·       Melhor jeito que achei pra me conhecer foi fazendo o contrário.

·       O meu amanhecer vai ser de noite.

·       Meu avesso é mais visível do que um poste.

·       Sábio é o que advinha.

·       Não saio de dentro de mim nem pra pescar.

·       Aonde eu não estou as palavras me acham.

·        Quero a palavra que sirva na boca dos passarinhos.

·        Melhor para chegar a nada é descobrir a verdade.

·       O artista é erro da natureza.

·       Beethoven foi um erro perfeito.

·       Por pudor sou impuro.

·       A minha diferença é sempre menos.

·       Não preciso do fim para chegar.

·       Do lugar onde estou já fui embora.

·       Uso a palavra para compor meus silêncios.

·       Tenho em mim um atrazo de nascença.

·       Meu quintal é maior do que o mundo.

·       Palavras que me aceitam como sou – eu não aceito.

·       Tenho “desapetite” para inventar coisas prestáveis.

·       Sobre o nada eu tenho profundidades.

·       A poesia está guardada nas palavras – é tudo que eu sei.

·       Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo das coisas).

·       Não posso mais saber quando amanheço ontem.

·       Meu órgão de morrer me predomina.

·       A minha independência tem algemas.

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