O casarão construído por Luís Cúrcio Marinho entre
1948-1949,
na Rua João Pessoa, centro de Macaíba e que,
foi repassado ao comerciante Cícero Luís e Silva,
começou a ser demolido hoje, dia 24 de junho de 2019.
Macaíba perde parte da sua memória histórica
arquitetônica para a especulação imobiliária.
MEMÓRIA DEMOLIDA
Por Carlos Roberto de Miranda Gomes, da AML
Para
as pessoas de mais idade, a demolição de uma obra tradicional representa um
golpe na memória, porque altera não apenas a geografia física do lugar, mas
igualmente a sentimental.
Senti
isso no sábado retrasado quando resolvi visitar a Galeria B-612, na tradicional
rua Dr. Barata, quase toda destruída pelo descaso, representando um oásis no
oceano do esquecimento dos anos famosos entre 1942 e 1945.
O
fato repetiu-se neste último sábado, quando atendi ao chamamento para uma
reunião da Academia Macaibense de Letras, outro oásis no pandemônio da desfiguração
da cidade das macaibeiras, que já destruíra a casa de Auta de Souza, ameaça o
Grupo que tem o seu nome e agora começa a demolir o casarão construído por Luís
Cúrio Marinho, que vi ser construído e compareci à inauguração, quando vivia os
melhores dias do começo da minha adolescência e gravei aquela construção de
cores vivas, aquela primeira da Rua João Pessoa, à esquerda logo que se
atravessava a ponte em direção ao centro.
Essa
casa fazia parte da minha vivência naquela terra hospitaleira, quando morei numa
velha construção na Rua Pedro Velho, defronte ao Major Andrade, perto dos
Maciel, dos Leiros, dos Fagundes e dos Marinho, do Cine Independência e do
antigo Pax, que ostentava um belíssimo quadro do balão de Augusto Severo, que
um dia alguém tocou fogo como coisa velha.
Na
minha antiga morada, desfigurada arquitetonicamente, ainda restam os dois
janelões no alto onde vislumbrava a rua e assistia à passagem de pessoas
feridas, carregadas em cadeiras, para o hospital que ficava bem perto, logo
depois da Igreja dos Crentes, prédios que ainda estão de pé, mas com destinação
diferente.
A
feira livre ainda funciona na mesma rua, mas também desfigurada, em menor
extensão, sem o encantamento dos vendedores/cantadores de cordéis e dos animais
de cargas que, na época do cio, desembestavam derramando os produtos que
levavam para a venda. Hoje só automotores. Mesmo assim comprei algumas bananas
prata, que me adoçaram a vida neste fim de semana.
Lembrei
do mercado velho, defronte do obelisco de Augusto Severo, com suas árvores que
davam sombras refrescantes, parada dos ônibus que traziam os jornais e os meus
gibis, da passagem dos “mixtos” tocando nas buzinas as músicas de Luiz Gonzaga,
senti falta da festa da padroeira com o pau de sebo e os cordões azul e
encarnado. Onde está Padre Chacon, de quem fui coroinha nas procissões. E o meu
Cruzeiro jogando no campo vizinho ao cemitério, que tinha algumas partidas
interrompidas quando a bola caía no campo santo e ninguém encontrava em tempo
dos últimos lampejos do sol (principalmente quando estava se saindo bem contra
algum time de fora e este pressionando para a virada).
Não é
mais a Macaíba do meu tempo, nem de outros mais próximos, que curti algumas
vezes na companhia da minha inesquecível Therezinha. Está mais adensada
fisicamente e mendicante das boas lembranças. De bom mesmo só o resultado da
reunião da nossa Academia.
Voltei
triste para o meu exílio de Natal e conversei com ela, contando tudo, inclusive
umas lembranças que comprei numa livraria religiosa da rua do Cruz (ou da
Cruz?) para marcar a passagem pela terra que me outorgou a cidadania honorária,
que muito me orgulha.
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