COMO CRIAR UMA DIOCESE: FÉ E ASTÚCIA
Tomislav R. Femenick – Mestre em economia com extensão em sociologia. Do Instituto Histórico e Geográfico do RN
Tomislav R. Femenick – Mestre em economia com extensão em sociologia. Do Instituto Histórico e Geográfico do RN
O Monsenhor Luiz Ferreira Cunha da Mota, ou simplesmente Padre Mota,
foi prefeito de Mossoró por quase dez anos consecutivos e vigário geral
da diocese por mais de vinte e cinco anos. Ordenado em Roma – numa época
em que isso era raro – se destacou como sacerdote, educador, político e
administrador. Porém sua maior atuação foi como Vigário da Diocese de
Santa Luzia. O grande trabalho do Padre Mota foi a criação da Diocese
de Mossoró. Meses após tomar posse como vigário da Paróquia (em janeiro
de 1926), o Padre promoveu uma reunião, na sacristia da Capela do
Sagrado Coração de Jesus, com um número reduzido de pessoas. Além do
Cônego Ramalho, do Padre Mota e seu pai, o Cel. Vicente Ferreira da
Mota, apenas o comerciante e industrial Miguel Faustino do Monte. O
motivo da reunião: a criação da Diocese de Mossoró. Miguel Faustino
ficou encarregado de levantar o assunto junto à Arquidiocese de Natal, a
qual a Paróquia de Mossoró estava subordinada; o Cel. Mota junto às
autoridades, comerciantes e industriais da região; o Padre Mota e o
Cônego Ramalho, se encarregariam de arregimentar apoio entre os outros
elementos do clero. Entretanto tudo isso deveria ser tratado com
absoluto sigilo, para não melindrar as autoridades eclesiásticas da
capital. Se houvesse dúvidas quanto à capacidade de alguém guardar o
segredo, poder-se-ia recorrer ao sigilo confessional – os leigos pedindo
para se confessar; os Padres pedindo para confessar os leigos que
viessem a se integrar no movimento. Anos depois, o já Monsenhor Mota
reconheceu: “Foi um recurso maquiavélico, mas a causa era nobre e
divina”. O primeiro passo foi dado por Miguel Faustino junto ao
arcebispo de Natal, Dom Marcolino Dantas. Em uma conversa informal,
disse ao prelado que estaria disposto a fazer uma generosa contribuição,
quando fosse oportuno transformar a Paróquia de Mossoró em uma Diocese.
Essa contribuição visaria a formar a sua estrutura material, para que
ela pudesse funcionar sem os percalços e atropelos, próprios de uma nova
entidade dessa natureza. O Cel. Mota formou uma comissão ad hoc da qual
participaram Rodolfo Fernandes (que logo em seguida, teve que se
afastar por motivo de saúde), Jerônimo Rosado, Raimundo Juvino, Rafael
Fernandes Gurjão (futuro interventor do Estado, de 1935 a 1943) e
outros. Segundo o próprio Padre Mota, dos que foram citados, apenas
Raimundo Juvino teve que ser confessado, para guardar o segredo. O
trabalho dos sacerdotes Luiz Mota e Amâncio Ramalho foi trazer para a
ideia os clérigos que atuavam em outras paróquias da região. Alguns
reverendos pensavam que o movimento poderia se transformar em um
processo pela elevação do cônego ou do padre à condição de bispo. A
solução: tantas confissões quando necessárias foram. Muito embora
legítimo e de certo ponto até necessário, todo esse trabalho foi
realizado em segredo, visando fazer com que a iniciativa da organização
da nova Diocese partisse da Arquidiocese de Natal, a quem a Paróquia de
Mossoró estava subordinada. Foi uma luta difícil, mas que mereceu ser
batalhada. Havia muitos obstáculos a serem transpostos, que terminaram
por ser vencidos, pois aquelas pessoas que sonhavam com uma Diocese para
Mossoró eram soldados experimentados em outras batalhas. Os esforços de
Padre Mota, do cônego Amâncio Ramalho e de outras pessoas
(principalmente de Dom Marcolino Dantas), venceram as adversidades
econômicas e políticas e surtiram efeito. Apenas Jerônimo Rosado, que
faleceu no dia 25 de dezembro de 1930, não chegou a ver realizado aquele
sonho. No dia 14.09.1934, o Padre Mota recebeu um telegrama de Dom
Marcolino comunicando a criação da Diocese de Mossoró, através de uma
bula papal emitida por Pio XI, datada de 28 de julho. Segundo Monsenhor
Sales, “imediatamente, mandou repicar todos os sinos das igrejas da
cidade e soltas girândolas de foguetões como uma demonstração patente do
seu júbilo”. No dia 18 de novembro do mesmo ano, por deferência
especial de Dom Marcolino Dantas, o Padre Mota presidiu o ato inaugural
da nova diocese, pela qual tanto lutara. A reunião teve lugar na
Catedral de Santa Luzia. O próprio Padre Mota fez o assento do
acontecimento, no 4º Livro de Tombo da sua Igreja Matriz. Tribuna do
Norte. Natal, 27 jun. 2019.
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