O JUNDIAÍ DE CHICO
CABRAL
Valério Mesquita*
O médico e pesquisador Olímpio Maciel passou-me às mãos um documento
precioso da década de 1920. Recebeu-o em 1988, de Apolônio Lima, já falecido.
Apolônio trabalhou com o meu avô e o meu pai numa loja de tecidos e
perfumaria que existiu à Rua João Pessoa, hoje Nair de Andrade Mesquita, no
centro de Macaíba. Autodidata, probo, solidário e amigo, Apolônio amou Macaíba como
poucos. Dele guardo um depoimento inesquecível, intitulado “Macaíba que
Conheci”, o qual encartei no livro “Macaíba de Seu Mesquita”. Considerava-o
como tio, face à fraternidade e à amizade com que a família distinguia a sua
lealdade e consideração. Gostava de retratar os fatos pitorescos e políticos do
Município e os relatava sempre que podia. Sobre o Jundiaí F.C., por exemplo,
cujo presidente era Francisco Cabral, ex-prefeito de São Paulo do Potengi e de
São Pedro, criado por ele.
Chico Cabral viveu muitos anos em Macaíba, trabalhando com Manoel
Mauricio Freire (Neco Freire), chefe político local da situação. O Jundiaí F.C.
excursiona aos municípios vizinhos como Monte Alegre, São José do Mipibu,
Caiada, Serra Caiada, Panelas, São Gonçalo, Igreja Nova e Campestre. Era o
timão de Macaíba. Mas Chico Cabral não deixava escapar nunca a sua verve, o seu
humor, em qualquer momento. Mandou o secretário do clube, Apolônio Lima, lavrar
uma portaria consignando, pro tempore, pseudônimos de todos os jogadores
integrantes do plantel. E começando por ele mesmo, intitulou-se Manda Chuva;
Manoel Pereira – Saia Veia; Apolônio Lima – Cabeçudo; Paulo Mesquita –
Vantajoso; Otacílio Alecrim – Galo Assado;
Paulo Marinho – Boca de Cu de Galinha; José Rosendo – Jaca Mole; Artur
Pessoa - Mestre Artur; Olimpio Pessoa – Chulé; Anízio Batista – Beete; Delfino
Batista – Vela Branca; Ambrosio Soares – Gafanhoto de Jurema; José Adolfo Dias
– Fudias; Getúlio Silva – Alicate; Joaquim Marinho – Xexeiro; Ranilson Almeida
– Trouxa Suja; Osacar Teixeira – Cavalo Selvagem; Antônio Lucas – Mijão; Quinho
Chaves – Mel de Furo; Manoel Alves – Bufante; João Chianca – Suvaqueira; Silvio
Medeiros – Trovoada; José Felix Mesquita – Bobeira e Virgilio Pinheiro –
Lalaia.
Todas essas pessoas jogavam futebol e faziam parte de elite social,
cultural e comercial de Macaíba, lá pela década de 1920. Foi um período áureo
da vida de Macaíba que os anos não trazem mais. Apolônio resgatou uma fase
esportiva, jocosa e histórica de mais de oitenta anos passados, a qual, graças
a Olímpio Maciel Neto, pesquisador e memorialista, o tempo não destruirá esse e
outros documentos guardados nos arquivos do Instituto Pró-Memória de Macaíba,
uma das melhores coisas que aconteceu na cidade, graças ao esforço pioneiro
dele, de Franklin Garcia, Arthur Mesquita Neto, entre outros abnegados.
(*) Escritor.