MACAÍBA:
CIDADE DOS MIGRANTES
Valério Mesquita*
Mesquita.valerio@gmail.com
Valério Mesquita*
Mesquita.valerio@gmail.com
Marcadamente, desde o século XIX, Macaíba, antes Coité, recebeu caudalosas
correntes migratórias de dois polos emissores do Nordeste: Paraíba e
Pernambuco. Tempos atrás, a TV Globo esteve em Macaíba e em Parnamirim a fim de
pesquisar e registrar esse fenômeno que ocorre na área metropolitana de Natal.
O fato de chegar a preocupar uma emissora desse porte ao ponto de incluir no
programa “JN no Ar” os dois municípios no nível de uma investigação social
reveste-se se singular importância: saber a razão e o porquê do que está
atraindo brasileiros de outras regiões para cá. A reportagem apurou que hoje,
nas “vizinhanças de Natal condomínios brotam mais rápido do que o mandacaru no sertão”.
Vê-se que a expansão imobiliária é um dos motivos para isso, somado a
estatística de que, nos arredores de Natal, quatro cidades recebem em média
vinte e oito novos moradores por dia. Investimentos públicos e privados têm
abastecido a locomotiva de aumento da população. Até a indústria petrolífera,
segundo a reportagem global, que gera trinta e sete mil empregos no estado,
muitos escolhem as proximidades da capital para residir, apesar do
engarrafamento do transito e a superpopulação da região metropolitana. Macaíba
– vocacionada há dois séculos para o comércio e a indústria – as ruas centrais
mais parecem um “mercado persa” ou uma Babilônia de transeuntes, automóveis e
motos. As residências que conheci em um passado recente, foram transformadas em
pontos de comércio, até nas calçadas, impondo-se aí a descaracterização física
de sessenta, cinquenta anos atrás.
Quando visito a minha terra eu não me revejo mais. O “capitalismo” emergente
transformou-a numa legião estrangeira. Ninguém conhece ninguém. São raras as
fisionomias e olhos que refletem a cidade que vivi. Daí me preocupar com a
preservação de sua memória histórica para que não venha perder a sua
identidade. Todavia, entendo que é o preço alto da proximidade das cidades com
a capital. Progresso desgovernado. Tudo começou, assinaladamente, com Fabrício
Gomes Pedroza, fundador da cidade de Macaíba, em 27 de outubro de 1877. Antes,
se chamava Coité (outra palmeira). Era o reduto da aristocracia rural fincada
pelo coronel Estevão Moura no Engenho do Ferreiro Torto. Ocorreu aí o choque
inevitável da atividade comercial chantada pelo pernambucano Fabrício no monte
dos Guarapes e o latifúndio rural dos Moura que abrangia São Gonçalo e Macaíba.
Comércio levou a melhor. Estava decretada a sua vocação econômica.
Daí para frente, todas famílias que escreveram a sua história na vida
municipal, os pioneiros vieram da Paraíba e de Pernambuco. Os Albuquerque
Maranhão, os Castriciano de Souza, os Freire, os Mesquita, os Tavares de Lyra,
os Chaves, os Garcia, os Maciel, os Alecrim, os Leiros, os Curcio, os Meira
Lima, os Andrade e por aí, centenas delas que ingressaram na lide comercial,
industrial, cultural, política e jurídica. Todos os macaibenses que se tornaram
ilustres depois provieram dessas origens migratórias patriarcais. No século XX,
da segunda metade em diante, dezenas de macaibenses originários dos citados
troncos hereditários, igualmente geraram filhos ilustres, principalmente, no
ramo do comércio. Até na política, Macaíba é um eldorado de correntes migratórias.
Quem souber, pode, de per si, declinar quantos prefeitos e vereadores oriundos
de outras plagas já comandaram o poder público local, o que reflete o caráter
volúvel e também migratório do seu eleitorado.
(*) Escritor.
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