MACAÍBA EM ALVOROÇO
Valério Mesquita*
O juiz Cícero Martins
de Macêdo Filho é meu amigo desde os anos setenta, quando residiu em Macaíba. Apreciador
de “causos” do folclore local e colecionador também, pedi-lhe que me enviasse
alguns do seu arquivo confidencial. Aí vão quatro deles, prá começo de
conversa. Com a palavra Dr. Macêdo.
01) Um amigo da
juventude e da boemia de então, cujo nome não vou declinar por razões pessoais,
estava perdidamente apaixonado por uma bela moça, evangélica, recatada e pura,
para quem desejava fazer uma serenata. Programada a serenata, chamou a mim e
outros colegas, e tivemos a idéia de chamar para cantar e tocar o nosso amigo
Luiz Marcos Damasceno, o popular Mosquito, excelente cantor e violonista. Duas
da manhã e várias garrafas depois, chegamos à casa da jovem, no centro da
cidade. No mais absoluto silêncio, nosso amigo pediu baixinho para Mosquito
cantar uma canção de amor. Violão em punho, o vozeirão de Mosquito soou na
madrugada os seguintes versos: “Boneca de trapo/ Pedaços da vida/ Que vive
perdida/ No mundo a vagar.” A serenata terminou ali mesmo.
02) Meu amigo de fé e
irmão camarada, Romeu Augusto, era uma figura extraordinária. Adorava fazer “presepadas”.
Íamos a tudo quanto era festa e forró. Certa feita, fomos a uma festa em Ielmo Marinho. Baile
rolando, Romeu tira uma garota para dançar. Música lenta, o “mago” começa a
apertar a menina. Aperta, aperta, e de repente ela empurra Romeu e sai do
salão. Quando olhei estava ele de braços abertos, todo lânguido, dizendo:
“Chegue minha filha, chegue, eu tava quase gozando!”
03) Francisco Paulino
da Silva, o popular Xixico, era uma das figuras mais espetaculares que conheci.
Amigo de todas as horas, sempre foi um leal (e bota leal nisso!) eleitor da
família Mesquita. Na década de 70, estava em São Paulo , onde
trabalhava e para onde tinha transferido o seu título de eleitor. Era dia de
eleição e nosso amigo, triste por estar longe de Macaíba e não poder votar na
família amiga, resolveu não ir às urnas e foi passear pelas ruas de São Paulo.
Foi quando encontrou no chão um santinho de propaganda de um candidato cujo
nome era “Professor Mesquita”. Não teve dúvida. Votou no cara só pelo nome
Mesquita. Guardando o santinho da propaganda. Isso é que era lealdade!.
04) José Alcides Lucena
era uma figura impagável. Morava na rua Teodomiro Garcia, quase no centro da
cidade. Notório contador de piadas e portador de hemorróidas crônicas, certa
vez me contou o seguinte: Estava com uma crise aguda. De madrugada, sem
conseguir dormir com as dores e o incômodo na região anal, procurou em casa um
remédio que costumava usar. Não tinha. Foi no armário do banheiro e encontrou
um pote de Iodex, remédio usado para contusões e que arde profundamente. Não
teve dúvida: pegou um punhado e aplicou na região já esfoliada. Curioso,
perguntei: “Zé, e aí, passou?” E ele: “Rapaz, passar passou, mas só depois que
cheguei na Lagoa das Pedras, da carreira que dei!” A Lagoa das Pedras ficava a uns
cinco quilômetros da casa do grande Zé de Alcides, como o chamávamos.
(*) Escritor.
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