MACAÍBA: APELIDOS
Valério Mesquita*
01) Joaquim de Juvêncio foi
policial militar da reserva. E como tal serviu em quase toda a sua vida no destacamento
da Polícia de Macaíba, onde residiu. Como atleta de futebol era o ponta de
lança Quincas que corria feito bala pela esquerda. Atuou pelo Cruzeiro, Humaitá
e Rio Branco, sempre na mesma posição tática que lhe valeu o apelido de Sapo de
Rabo, porque quando corria empinava o bumbum. Joaquim foi o terror da garotada
que jogava “pelada” no “campo da prefeitura”. Naquele tempo, soldado usava
apito e, nos primeiros sopros, a turma colocava Joaquim no “quadrado” para não
tomar a bola. Mas, como soldado, Quincas nos legou um fato pitoresco quando,
nos idos de cinquenta, uma patrulha do Exército tomou de assalto a Delegacia de
Macaíba para liberar três recrutas e prendeu os PMs no jipão verde-oliva. Após
muita confusão e com a chegada do chefe político e deputado Alfredo Mesquita (o
delegado se escondera no quintal de Né Macena) para conferenciar com o capitão
e líder da operação, os soldados da polícia foram desembarcados logo do
caminhão. Mas os recrutas queriam levar um de refém para Natal. Com muito
esforço, na carroceria, Joaquim esgueirou-se, amedrontado, entre os soldados de
Caxias e indagou aflito: “E eu, Seu Mesquita?”. “Desça. O que é que você ainda
está fazendo aí?”.
02) Um personagem de
apelido misterioso e bastante popular em Macaíba foi o motorista Manoel “Dedo Melado”,
irmão de José Distinto, outra figura singular que já descrevi anteriormente.
Manoel pontificou em Macaíba nas décadas de 40, 50 e 60, até ir residir em Natal.
Mas o seu apelido até hoje é um mistério. Por que “Dedo Melado”? Que história
esquisita marcou um dos dedos da mão de Manoel e que material produziu o mau cheiro?
Ao que me consta, ele não se sentia incomodado por assim ser chamado. Talvez,
de tão repetido o apelido, tenha se resignado. E os personagens misteriosos são
fascinantes.
03) Outro apelido
interessante emoldurava o perfil de um velho soldado PM que conheci, alcunhado de
“Bico Doce”. Servia no povoado de Mangabeira. Os intérpretes da zoologia
macaibense, após exaustivas pesquisas, deduziram que “Bico Doce” gostava de um
“ganho extra”, daí o carinhoso epíteto. Um “cientista” mais ousado chegou a
descrever uma cena supostamente vivida por “Bico Doce” quando conduzia para o
xadrez um individuo: “”Teje” preso!”. “Pegue cinco”, disse-lhe o detido. “Tá
solto!”, respondeu o doce bico do soldado. Aí pegou a fama.
04) A
longevidade atlética e futebolística foi o traço dominante da vida desse
paraibano de Cuité, que chegou a Macaíba menino, em 1920. Funileiro, residente
à rua Rodolfo Maranhão, negociava os produtos do seu fabrico artesanal na feira
livre da cidade. Mas, o palco maior de sua vida foram os campos de futebol, nos
quais exerceu a sua arte indômita: o futebol. Praticou esportes além dos
sessenta anos, defendendo as camisas do Cruzeiro FC, Rio Branco, Olímpio FC e
Leão de Ouro (Igreja Nova), nos quais se inseriu como um dos fundadores. Diria
que Zé Caíco se constituiu na figura emblemática do futebol de Macaíba porque
atravessou gerações e viveu as grandes fases da evolução do próprio esporte.
Quando jovem era muito magro e possuía um “fôlego de peixe”. Como chegou a
Macaíba aos cinco anos de idade fugindo das águas que invadira Cuité (PB), na
cidade de Auta de Souza se fartou com as cheias do rio Jundiaí. E como atleta
nadador pulava de cima de um poste sobre a ponte para somente recuperar fôlego
no velho cais, distante a trezentos metros, levado pela correnteza. Daí o
apelido de Caíco, uma espécie comum de peixe.
(*) Escritor.
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