BOM DIA JL – Berilo de Castro
BOM DIA JL –
Resido no bairro do Tirol há mais de
vinte anos. Posso me considerar um beneficiado pela boas condições de
infraestrutura que o bairro oferece e por ainda poder visualizar
saudosamente parte do centenário Estádio Juvenal Lamartine (JL),
lamentando profundamente a destruição brutal e sicária da sua fachada
original, o seu símbolo maior.
Local super privilegiado que me contenta
e me contempla no despertar das manhãs com um saudável bom dia para o
histórico Estádio Juvenal Lamartine, mais precisamente para o seu campo
de ação, berço e jardim dos meus primeiros passos na minha curta
trajetória futebolística.
Na década de 1950, ainda criança, fui
seu contumaz frequentador. Não perdia um só treino, nem que fosse do
Atlético, de João Machado. Os jogos oficiais eram assistidos, ora de
cima do Morro do Estrondo, saboreando as frutas silvestres, a mais
procurada (camboin ou cambuí) encontrada nas trilhas fechadas dos
matagais; ou, então, bem acomodado nos galhos das mangueiras do sítio
das freiras. Tinha o privilégio da entrada livre pela casa do soldado
Manoel, o ‘brabo’ e violento zelador do sítio, compadre do meu pai.
Saborear com o dinheiro da entrada (
quando conseguia), o cheiroso e super gostoso cachorro-quente,
acompanhado de suco multicolorido (de preferência nas essências vermelha
e branca) com raspas de gelo de barra. Momento insuperável e
inesquecível.
Lembro da carranca e da seriedade de seu
Gois, na gerência da catraca de entrada; de seu Báia,—o engraxador-mor
das bolas pesadas e marrons, reusadas com muita frequência nos jogos.
Presenciei muitos clássicos entre ABC
F.C. e o América F.C.; acompanhei a fase de ouro da equipe do Riachuelo,
quando cedeu a metade do seu elenco para compor a bela seleção do
Estado, no ano de 1959; Vi atuar e ficar deslumbrado com jogadores super
admiráveis, como o narigudo centroavante Delgado do ABC, oriundo do
futebol da Paraiba; Jorginho, o ídolo inconteste do time mais querido;
Saquinho, Juarez Canuto e Cocó, no início de carreia, Nei Andrade,
Mauro, dois grandes laterais esquerdos; Edmilson Piromba, Pancinha;
Pádua, elegante centro médio, Ivo, clássico meia esquerda, ambos do
Riachuelo; dos primeiros passos do jovem Marinho Chagas, da triunfal
chegada de Alberi no ABC; da bem armada seleção de 1959, com Pedrinho 40
no comando, campeã do Nordeste, nos embates fantásticos com a bela
seleção carioca, liderada por Pinga (Vasco) e Décio Esteves, do Bangu.
Presenciei a atuação dos dois maiores
jogadores de futebol do Brasil: Pelé, com uma exibição de gala diante do
ABC, e Garrincha, vestindo a camisa 7 do time Periquito, diante do
Sport do Recife, infelizmente muito longe do Mané do bons tempos, já na
sua trajetória final, derrotado pelo vício do álcool.
Não poderia esquecer do meu momento
maior e consagrador no JL; integrando a seleção de futebol do Estado no
ano de 1962; o bicampeonato pela equipe do Alecrim F.C. 1963/1964 e, em
1967, com o título da cidade vestindo a camisa do América F.C.,quando
encerrei minha breve passagem pelo futebol potiguar.
Obrigado, meu histórico e centenário JL.
Continuarei lhe contemplando. Bom dia!
Berilo de Castro – Médico e Escritor – berilodecastro@hotmail.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário