A RESSURREIÇÃO DO GALO
Valério Mesquita*
Mesquita.valeri@gmail.com
Desde a bíblia quando
Pedro negou três vezes o Cristo que o galo é símbolo, é sinal, é canto. Galo
também é passarinho de campina, é peixe: galo do alto, galo do mar, enfim, é
pastorador de noites indormidas e anunciador de auroras.
Em Natal ele identifica
a cidade, no folclore, nos folguedos populares e do alto da Igreja Santo
Antônio desperta e chama o povo a oração. Além de tudo isso, durante quinze
anos em Natal o “Galo” foi um jornal de cultura. O seu canto alto e sonoro
ultrapassou os limites do Rio Grande do Norte para levar a mensagem da nossa
literatura aos quadrantes do país. Tornou-se conhecido e respeitado. Hoje,
chove perguntas no terreiro potiguar: cadê o “Galo”? Por que emudeceu?
O jornal foi criado e mantido
ao longo do tempo pela Fundação José Augusto, à época de Woden Madruga no governo
Geraldo Melo. Politicamente isso não tem nada a ver. Na verdade, criou-se um
informativo cultural mensal, apolítico, vibrante, que divulgava a poesia, a
prosa, as idéias e correntes de pensamento dos autores norte-rio-grandenses sem
“igrejinhas”, “chiqueiros”, preconceitos ou elitismo. O “Galo” não era um
jornal de governo e muito menos de partidos. Era um veículo independente
nascido para ficar, para vencer, porque a cultura continua a ser a única
atividade humana que haverá de permanecer quando tudo o mais passar. A cultura
não tem preferências políticas ou eleitorais. O “Galo” foi o intérprete honesto
e seguro da intelectualidade estadual e editado a custo praticamente zero, já
que estávamos na estação ululista e matemática dos zeros.
No momento em que o meu
amigo e escritor Crispiniano Neto assumiu o comando da Fundação José Augusto,
ouso pedir que ressuscite o “Galo”.
Mesmo que outros planos editorias integrem o seu voo reinaugural na FJA, faça ressurgir o “Galo” como se fosse
o primo canto, com a sua marca registrada, com o seu selo, o seu timbre oestano
de menino forte, labareda da chama votiva de Mossoró. O voo desse jornal não é
de um galináceo. É de condor, sobranceiro, por cima das serras de Martins,
Patu, do Alto ao médio Oeste e sobre as dunas do litoral, porque a sua penugem
é tecida das cores do arco-íris das cabeças pensantes do Rio Grande do Norte. O
meu aceno é honesto, sincero e não tem o condão de interferir nos propósitos e
projetos do novo dirigente da política cultural do Rio Grande do Norte.
É apenas, a reflexão de
um calejado escriba, ex-presidente da FJA, que pertenceu ao Conselho de Cultura
e integra a Academia Norte-Rio-Grandense de Letras e o Instituto Histórico do
Rio Grande do Norte. Faço o meu apelo com o objetivo de contribuir. É uma
sugestão, apenas. E acredito que se ouvisse o Conselho de Cultura, a Academia e
os intelectuais do Estado o “Galo” cantará tão livre e libertário o quanto
cantou e lutou o seu partido na noite negra do regime autoritário.
(*) Escritor
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