Augusto Coelho Leal,
sócio efetivo do IHGRN
Sem dúvida nenhuma os antigos
carnavais eram diferentes nos carnavais atuais. Havia carnaval nas ruas,
avenidas e nos clubes. Hoje aqui em Natal, pouco se houve falar, e pouco se tem
para oferecer. Carnaval nos clubes não existe, nas ruas poucos heróicos
cidadãos procuram revitalizar. mas...
Os blocos
formados de jovens desfilavam pelas ruas, em cima de alegorias construídas nas
carrocerias de caminhões ou em carrocerias puxadas por tratores agrícolas,
visitavam residências familiares previamente avisadas. Estas visitas tinham o
nome de assaltos, onde o dono da casa recebia os blocos que por lá cantavam e
dançavam as belas músicas carnavalescas de letras memoráveis, lembradas até
hoje. Nestas ocasiões eram oferecidas comidas e bebidas a vontade.
Algumas
musicas ficaram em minha memória. “Zé
Corneteiro, casado com um peixão, levou sua mulher, pra mostrar ao batalhão, no
outro dia, por ordem do major, o Zé foi promovido, Corneteiro Mor.” Vejam
que corno naquela época era uma raridade, tão raro que era cantado. Hoje tem
mais corno por esses “Brasis” do que alistados no Bolsa Família. “Olha a Cabeleira do Zezé, será que ele é,
será que ele é? Será que ele é bossa nova, será que ele é Maomé, será que ele é
transviado? Mas isto eu não sei se ele é?” Reparem que ser “bicha” era
também uma “fruta” rara, cantada em versos e prosas, hoje? Deixa pra lá. Mas a
música que me lembro mais neste momento, devido o episódio da nossa Assembléia
Legislativa, que para mim abriu o baile de máscara mais cedo, é Máscara Negra,
que tem uma parte que diz: “Na mesma
mascara negra, que esconde o teu rosto, eu quero matar a saudade, vou beijar-te
agora, não me leve a mal, hoje é carnaval.” E haja carnaval, com a nossa
paciência, pobres mortais entregues a fúria de um bocado de feras brutas. A
música é bonita, mas o episódio para mim foi constrangedor, e nem por perto de
lá passei.
Mas,
voltemos aos antigos carnavais. Tinha o corso. Uma área de rua ou ruas
previamente estabelecida, isolada, com policiais – que beleza, tinha policia
nas ruas. Eu me lembro bem do corso na Avenida Deodoro. Certa vez, em um destes
carnavais Chico Araújo, conhecido como Chico Bola Preta, meu colega e amigo,
aprontou uma com Ivan da Confeitaria Atheneu. Estávamos na Confeitaria e Ivan
queria ir com a sua família para o corso na Avenida Deodoro. “Expulsou” todos
nós e fechou o seu estabelecimento. Era época da repressão. Antes de Ivan sair,
Chico tinha um batom vermelho e escreveu com letras garrafais na lateral da
Kombi – abaixo a ditadura. Ivan e o resto da família não viram, pois a porta do
motorista emperrou e todos só entravam pelo lado dos passageiros. Resultado,
quando Ivan passou a patrulha policial prendeu o pobre, e foi uma confusão
daquelas, mas ele era muito conhecido, explicou a “autoridade competente” e
essa mandou soltar Ivan.
Outra música
antiga, mas que está muito atual, e deve ser cantada por Lula, Dilma, e
orquestra é: “Ei você aí, me dá um
dinheiro aí, me dá um dinheiro aí.” Esta é muito real, pois quem conhece a
musica que fala em dinheiro e grande confusão, está vendo a grande confusão que
está dando, “o mar está mais para baiacu de que para sereia.” Ou seja, mais
para Graça Fostes do que para Graça Foster. Falando em mar, acho que a “lula”
vai ser prato indigesto neste carnaval.
É como
ninguém é de ferro – fora o homem, eu ainda canto “Eu queria ser uma abelha pra pousar na sua flor, haja amor, haja
amor.” É melhor sonhar do que cantar
haja roubo, haja corrupção, haja canalhice. Eu vou para Cotovelo, pois lá
fico longe dos “Zés” da vida. Lá escuto o profeta Pijuriu, tenho um bom papo
com Marco Emereciano, Rui Câmara, Nascimento, Múcio Nobre e outros, com boas
bebidas e bons tira gosto - ou é bota gosto? A casa de Dona Alzira que para
disfarçar ela diz também ser minha,
estar à disposição dos amigos. Mas com uma condição: avisem antes de chegarem,
ok?
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