14/03/2017

 
   
Marcelo Alves

 


Minhas livrarias em Nova York (I)

Estive em Nova York no final do ano passado. Coisa de uma semana, no mês de outubro, andando para cima e para baixo na ilha de Manhattan, o mais antigo, densamente povoado (para lá de um milhão e meio de habitantes ali apertados) e badalado dos cinco grandes “distritos” (ou “boroughs”, como eles chamam por lá) da cidade. Apesar de composta de outros quatro distritos (Bronx, Brooklyn, Queens e Staten Island), com uma população total estimada de cerca de nove milhões habitantes (e vinte milhões na sua região metropolitana), definitivamente Nova York é, para o turista, Manhattan. 

Mais uma vez fiz a minha peregrinação de turista com caneta, papel e celular na mão visitando, propositadamente, a partir de um estudo prévio, mas sem a ajuda de qualquer guia especializado (que procurei, mas estranhamente não achei), os comércios de livros da cidade (leia-se: da ilha Manhattan). E em Nova York são muitos os comércios de livros, embora não tanto como em Paris ou mesmo em Londres, ou, pelo menos, não no mesmo estilo de pequenas e antigas livrarias quase uma a cada esquina. Tudo em Nova York parecer ser (ou pretende ser) grande. 

E aqui vai o meu “roteiro livresco” de Nova York, misturado com umas dicas de turismo geral, uma vez que ninguém merece ir a “Big Apple” para ficar enfurnado apenas em sebos e livrarias. Para facilitar a nossa vida, organizei as coisas partindo do sul para o norte, de “downtown” para “uptown” ou, trocando em miúdos, de baixo para cima, levando em conta os já conhecidos mapas de Manhattan. 

Assim, a minha primeira sugestão de livraria fica no bairro/região de Tribeca, ao sul, em Downtown, perto da City Hall, do World Trade Center, de Wall Street e mesmo da Ponte do Brooklyn e do Seaport Historic District, atrações que valem muito a pena, todas elas, visitar. Chama-se “The Mysterious Bookshop” e fica no número 58 da Warren Street (usando o metrô, sugiro descer nas estações Chambers Street ou City Hall). Seu forte é a literatura policial ou detetivesca. Afirma-se uma das mais antigas livrarias especializadas do EUA, com mais de três décadas no mercado. Deve ser mesmo. Vendendo livros novos e usados, capas duras e livros de bolso, edições raras, ficção e ensaios, para quem gosta do gênero policial/detetivesco (o meu caso), é um verdadeiro achado. Para ser ter uma ideia, ali comprei três tesouros: “Murder Ink: the Mistery Reader’s Companion” (Workman Publishing, 1977), de Dilys Winn; “Novel Verdicts: a Guide to Courtroon Fiction” (The Scarecrow Press, 1999), de Jon L. Breen; e “The Detective as Historian: History and Art in Historical Crime Fiction” (Bowling Green State University Popular Press, 2000), editado por Ray B. Browne e Lawrence A. Kreiser Jr.. 

De quebra, bem pertinho, na mesma Warren Street, no número 97, tem-se uma loja da “Barnes & Noble”, gigante cadeia de livros, espalhada por todos os Estados Unidos da América, sobre a qual vou falar mais detidamente quando tratar das livrarias de Midtown (mas já adianto que há uma enorme “Barnes & Noble” por ali, bem na quinta avenida). Por enquanto, informo que a “Barnes & Noble” da Warren Street fica colada em uma “Bed, Bath & Beyond”, excelente loja de produtos de casa onde as mulheres podem ficar (se não estão interessadas em livros, evidentemente), enquanto se explora a(s) livraria(s). Mas sem cartões de crédito, claro. 

Já um pouco mais ao norte (mas ainda em Downtown), na região de Greenwich Village (que, girando em torno da Washington Square, é cheia de história e agradabilíssima para andar a pé), sugiro dar uma passada, embora rápida, na “New York University – NYU Bookstore”, que fica no número 726 da Broadway Avenue (metrô 8ª Street – NYU ou Astor Place). Digo rápida porque ela é direcionada apenas para cursos, apostilas e livros didáticos para os estudantes da NYU, além dos souvenires de estilo (moletons, camisetas, canetas, canecos etc.), o que, confesso, me decepcionou deveras. Mas pode ser que você se interesse por algo. 

Entretanto, ali bem pertinho, dei de cara com uma livraria/sebo que achei uma joia: a “Mercer Street Books and Records”, que fica no número 206 da tal Mercer Street (metrô Broadway-Lafayette Street ou Bleecker Street). É pequenina mas bem variada. Os preços são excelentes. Foi ali que eu comprei, por um dólar e algo, uma edição de 1960, da Bantam Books, da peça “O vento será a tua herança” (“Inherit the Wind”), de Jerome Lawrence (1915-2004) e Robert E. Lee (1918-1994), que inclusive já usei e citei por aqui. 

Por fim, antes de terminar este nosso primeiro dia de peregrinação pela livrarias de Nova York, já que a fome bateu, tenho duas sugestões de livrarias que misturam livros com comidas e bebidas. Tudo ainda muito próximo, na região de NoLita (North of Little Italy), que fica ao sul do East Village. Uma delas é a “McNally Jackson Books”, misto de livraria e bistrô muito interessante, que fica no número 52 da Prince Street (metrô Prince Street, Spring Street ou Broadway-Lafayette Street). Ótima livraria independente, com dois andares e um café. Foi um achado. Procurávamos uma tal “Delicatessen” (54 Prince Street). Achamos os dois. A outra é a “Housing Works Bookstore Café”, que fica no número 126 da Crosby Street (metrô Prince Street ou Broadway-Lafayette Street) e é até mais badalada que “McNally Jackson”. Na verdade, pelo que vi, a “Housing Works”, em Downtown, já virou até ponto turístico. 

Bom, por enquanto, dito isso, encerro apenas dizendo: leiam e comam bem. 

Marcelo Alves Dias de Souza
Procurador Regional da República
Doutor em Direito pelo King’s College London – KCL
Mestre em Direito pela PUC/SP

10/03/2017

 
   
Marcelo Alves

 

Idiomas e direito

Uma das coisas mais prazerosas para quem gosta de livros e de leitura é estudar novos idiomas. Eu pelo menos gosto bastante. E isso se torna ainda mais prazeroso se você mistura o estudo do novo idioma com uma temática que seja do seu interesse profissional ou pessoal. Talvez por isso seja hoje moda, mundo afora, nas principais escolas de idiomas da Europa e dos Estados Unidos da América, cursos como “inglês e turismo”, “francês e culinária”, “italiano e arte” e por aí vai. 

De minha parte, hoje, vou dar algumas dicas de livros que fomentam esse estudo interdisciplinar de idiomas, especificamente misturados com o direito, área do conhecimento que, acredito (dizem por aí), é a minha especialidade (se não por conhecimento profundo, pelo menos por “tempo de serviço”). 

E vou começar pela língua ou idioma que, afora o português, tenho maior familiaridade: o inglês. Para quem quer estudar inglês por intermédio do direito, recomendo logo um livro que adquiri já faz mais de 25 anos, quando ainda estudante na UFRN: “English for Law” (Macmillan Publishers, 1991), de autoria de Allison Riley. Voltado para o inglês e o direito britânicos, esse livro, em termos de conteúdo, estrutura e didática, é fantástico. De igual qualidade, talvez até um pouco mais profundo, é “English Law and Language: an Introduction for Student of English” (Cassell Publishers, 1992), de Frances Russell e Christine Locke, livro que também adquiri, lembro-me bem, ainda nos tempos de bacharelado. Excelente ainda é “English for Legal Studies”, também focado no direito britânico, mas curiosamente publicado na Itália (Zanichelli Editore, 1993), de Hugo Bowles e Peter Douglas. E encerro este grupo de livros vinculados ao direito britânico com “Legal English” (Routledge-Cavendish, 2009), de Rupert Haigh, obra que, pelo seu conteúdo aprofundado, voltado para a prática do direito, é também recomendado para aqueles cuja língua materna é o próprio inglês. 

Antes de tratar de outros idiomas, tenho uma sugestão para quem prefere focar no direito e no inglês dos EUA: “American Legal English: Using Language in Legal Contexts” (The University of Michigan Press, 2006), de Debra S. Lee, Charles Hall e Marsha Hurley, livro declaradamente vocacionado ao estudo acadêmico e profissional do inglês jurídico. No mais, ainda recomendo um livro/curso que pretende, passando ao largo do direito público interno e voltando-se para o direito privado, ensinar um inglês jurídico neutro ou internacional (não voltado nem para o direito inglês nem para o americano especificamente): “International Legal English: a Course for Classroom or Self-Study Use” (Cambridge University Press, 2006), de autoria de Amy Krois-Lindner e da equipe da TransLegal. Na verdade, este livro é antes de tudo direcionado para a realização/obtenção do denominado “International Legal English Certificate (ILEC)”, podendo, todavia, ser perfeitamente utilizado como um curso de inglês jurídico nos moldes dos outros acima citados. 

Para quem quer estudar espanhol junto com direito, também tenho algumas boas dicas. Começo com o excelente “De ley: Manual de español jurídico” (Sociedad General Española de Libreria – SGEL, 2012), de Carme Carbó Marro e Miguel Ángel Mora Sánchez, que vem com um CD-ROM que ajuda bastante no aprendizado. Também muito bom é “Lenguaje Jurídico” (Sociedad General Española de Libreria – SGEL, 1997), de Blanca Aguirre Beltran e Margarita Hernando de Larramendi, que faz parte da coleção “El Español por Profesiones” da SGEL. Excelente, bastante denso e abrangente, voltado também para o falante de espanhol como língua materna, é “El español jurídico” (Editorial Ariel, 2002), de Enrique Alcaraz Varó e Brian Hughes. Aliás, Enrique Alcaraz Varó é também autor de um denso “El inglés jurídico: textos y documentos” (Editorial Ariel, 2000), escrito em espanhol com o fim de ensinar o inglês jurídico da Ilha Britânica. Neste caso, o cidadão aprende – ou estuda, pelo menos – direito, inglês e espanhol de uma tacada só. 

Já para o estudo do francês jurídico tenho duas sugestões. Primeiramente, o excelente “Le français juridique” (Hachette, 2003), de Michel Soignet, que faz parte do esforço na renomada editora (Hachette) e da “Chambre de Commerce et d’Industrie de Paris” para fomentar o francês como língua estrangeira. Com o mesmo fim, também muito bom, temos “Le français du droit” (CLE International, 2001), de J.-L. Penfornis, que faz parte da coleção “Français langue étrangère” da editora CLE. Não coincidentemente, já que foi isso o que me levou a escrever este riscado, por esses dias estive lendo “Le français juridique” e, ajunto logo que, se não aprendi o suficiente, me diverti muitíssimo. 

Dando um ponto final às dicas de hoje, para o estudo do italiano e do direito, recomendo: “Una lingua in Pretura: il linguagio del diritto” (Universita per Stranieri di Siena – Bonacci Editore, 1996), cujo conteúdo é de autoria de Stefania Semplici, Laura Sprugnoli e Donatella Troncarelli, e que, excelente, é o único para o italiano que eu conheço. Desculpem: ou é ele ou nada. 

Bom, antes de terminar, uma observação. Embora cada um desses livros tenha suas características específicas, no geral todos eles guardam uma metodologia em comum. As suas unidades ou capítulos apresentam, passo a passo, o conteúdo da ciência do direito: as fontes do direito, a organização do Estado, a Constituição, o sistema judicial, o direito processual, o direito penal, a disciplina dos contratos e dos direitos reais e assim por diante. E com isso intercalado – ou mesmo misturado –, suave e agradavelmente, vêm as lições do idioma tratado, de vocabulário (geral e técnico), estrutura da língua, gramática, habilidades de leitura e compreensão etc., coisas que, normalmente estudadas nos cursos de línguas e nas gramáticas clássicas, não são tão fáceis e agradáveis de aprender. 

Por fim, antes que alguém me pergunte, registro que possuo todos esses livros que citei. Posso até emprestá-los. Mas por no máximo quinze minutos. 

Marcelo Alves Dias de Souza
Procurador Regional da República
Doutor em Direito (PhD in Law) pelo King’s College London – KCL
Mestre em Direito pela PUC/SP

H O J E



H O J E



ACADEMIA DE LETRAS JURÍDICAS DO RIO GRANDE DO NORTE
A L E J U R N

COMUNICAÇÃO                                            Natal, 03 de fevereiro de 2017

Estimado Confrade,

            Comunicamos que no próximo dia 10 do mês março próximo vindouro, no período de 9 às 17 horas estaremos recebendo os votos para a eleição do novo (a) acadêmico (a) para a cadeira nº 03 – Patrono ALVAMAR FURTADO DE MENDONÇA,  para a qual se inscreveram dois candidatos: FRANCISCO HONÓRIO DE MEDEIROS FILHO e ISABEL HELENA MARINHO.
Por oportuno, informamos que o voto poderá ser sufragado por correspondência, nos termos do Regimento Interno vigente, desde que entregue à Comissão Eleitoral dentro do prazo do processo de votação ou pelo processo eletrônico aos cuidados do Presidente da Comissão Eleitoral JURANDYR NAVARRO DA COSTA, através do endereço: alejurn2007@gmail.com


Qualquer dúvida poderá ser esclarecida através do telefone 3232-2890.

Respeitosamente

________________________________
LÚCIO TEIXEIRA DOS SANTOS

Presidente da ALEJURN

09/03/2017

BAR GATO PRETO E PENSÃO DA ESPERANÇA

Valério Mesquita*
Mesquita.valerio@gmail.com

01) Na chamada "Cinco Bocas", território humano e sentimental de Macaíba, não existe mais o bar "Gato Preto", que tem suas origens nos primórdios da "civilização". Foram mais de cem anos de história viva, de pastores da terra, das nuvens, das estrelas, queimando vigílias na província submersa. Chão sagrado de antepassados, povoado de rostos ocultos, de figuras pálidas por longas noites assombradas. Nele vislumbro os vultos inaugurais de Zé Solon, Alberto Silva, Chico Cajueiro, Lula Ramos, Jorge Chocalheiro, Zé Pelado, Manoel Sabino, Chico de Dulce, Banga, Sinval Duarte, Manoel Pixilinga, Jorge de Papo, Odilon Benício, entre tantos outros que desapareceram vítimas do tempo, esse astrólogo arbitrário. As “Cinco Bocas” ferinas, são cinco ruas que deságuam como um rio noturno na intimidade simples dos lençóis de minha terra. Rua do Cajueiro, rua do Benjamim, beco de seu Alfredo, beco do Mercado e rua da Cruz. Esse pedaço de chão no centro de Macaíba carrega a saga lírica, popular e mística de muitos obreiros que gastavam saliva diariamente no pórtico de suas entranhas, de suas calçadas. O "Gato Preto", sempre foi o antigo desterro de mim mesmo, da infância perdida mas petrificada no silêncio de suas paredes. Mas, o que importa é que por onde andei eu carreguei o seu andor. Mesmo deformado fisicamente, o seu espírito vive. Basta contemplá-lo e deixar-se envolver na sua atmosfera densa, no centro de Macaíba. Era um bar, com todos os seus habitantes. Figuras opacas, empíricas, etílicas. Todos reduzidos a humanidade comum. Todos crentes de que a verdade e a vida nunca estão num único sonho mas em muitos. Era o nosso “Grande Ponto” que tombou e morreu como o de Natal. Tanto ontem quanto hoje, caracterizou-se como um cenário profuso e difuso, tecido de conversas banais, de palavras soltas, malandras, boatos, chafurdos soprados pelo errante vento da esquina. Tudo coisas fugidias: prateleiras, garrafas solitárias e eternas, sinucas, bilhares. Todos os seus notívagos caminheiros são incertos, dispersos e derradeiros. Aí de nós se não fosse o mistério do nome, do 13, do “Gato Preto”. Por que “Gato Preto”? Não sei. As coisas misteriosas são fascinantes.
02) Na primavera política do início dos anos sessenta no Rio Grande do Norte, pontificava na província submersa de Macaíba, a imbatível Pensão da Esperança. Nasceu no fragor das lutas eleitorais e foi a nau catarineta do aluizismo. Nela singrava o mar encapelado da política macaibense, a capitã de longo curso e minha prima Graziela Mesquita. Bacurau de cinco estrelas, Grazi era uma das dissidências dos Mesquita. Situada à rua de Nossa Senhora da Conceição, a Pensão da Esperança, era também o Porto Seguro das caravanas, das manifestações aluizistas e quem fosse arara jamais seria hóspede. Graziela solteirona invicta, mas parecia uma matrona romana. Andava nas pontas dos pés, como se fosse desabar de frente. Pesava-lhe muito o imenso busto-arbusto. Elétrica, vibrante, frenética e fanática, era simpática com todos os seguidores da causa. Nesses tempos trepidantes tivemos uma relação política difícil mas respeitosa. Isso influiu, para que, mas tarde, tornássemos correligionários, até a sua morte. A Pensão da Esperança era o termômetro político da cidade mas também o alvo possível das manifestações hostis do dinartismo radical. De quando em vez, ocorriam "atentados à bomba" no recinto, obra de alguns ativistas sorrateiros para perturbar o sossego de Graziela e testar o seu prestígio. Mas, nem era preciso. Como um raio, riscava à porta o delegado de polícia para as necessárias averiguações e prisão dos culpados. Grazi era intocável, um patrimônio tombado e vivo da cruzada da esperança. Outro enfoque político digno de nota, era a sua fiel ala-moça, treinada para cantar as canções de Aluízio. "Cigano feiticeiro, teu feitiço, ai meu Deus, eu faço tudo, tudo pelo governo seu e o eleitor o que deve fazer? É virar cigano e votar com você". Isso sem falar na canção principal que dizia que "Aluízio Alves veio do sertão, lá do Cabugi...". Assim se passou uma página folclórica, melódica, ingenuamente dramática e humana da vida política de Macaíba, que teve na Pensão da Esperança o oxigênio natural desse mundo frágil e encantado. O seu antigo endereço desapareceu com a sua proprietária, só restando a memória visual e auditiva da reconstituição dos gestos, das verdes bandeiras pandas ao vento, do ruído da multidão, da silhueta de Graziela, tudo como uma saudade suspensa no ar, mas renovada todas as vezes que passo pela calçada.

(*) Escritor.

08/03/2017

PARABÉNS


Dia Internacional da Mulher

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Dia Internacional da Mulher
Poster alemão de 1914 em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, conclama o direito ao voto feminino.

SEGUIDO POR:

África do Sul, Albânia Angola, Argélia, Argentina, Arménia, Azerbaijão, Bangladesh, Bélgica, Bielorrússia, Butão, Bósnia e Herzegovina, Brasil, Bulgária, Burkina Faso, Camboja, Camarões, Chile, China, Colômbia, Croácia, Cuba, Chipre, Equador, Eslováquia, Eslovénia, Espanha, Estónia, Dinamarca, Finlândia, Geórgia, Grécia, Holanda, Hungria, Ilha de Formosa, Índia, Itália, Islândia, Israel, Laos, Letónia, Lituânia, Cazaquistão, Kosovo, Quirguistão, Macedónia, Malta, México, Moldávia, Mongólia, Montenegro, Nepal, Noruega, Polónia, Portugal, Roménia, Rússia, Sérvia, Suécia, Síria, Tadjiquistão, Turquia, Turquemenistão, Ucrânia, Uzbequistão, Vietname, Zâmbia

DATA: 8 de Março

OBSERVAÇÕES: Relembra as lutas sociais, políticas e econômicas das mulheres.
O Dia Internacional da Mulher é celebrado em 8 de março. A ideia de criar o Dia da Mulher surgiu no final do Século XIX e início do século XX nos Estados Unidos[1] e na Europa, no contexto das lutas femininas por melhores condições de vida e trabalho, de direito de voto. Em 26 de agosto de 1910, durante a Segunda Conferência Internacional das Mulheres Socialistas em Copenhaga, a líder socialista alemã Clara Zetkin propôs a instituição de uma celebração anual das lutas por direitos das mulheres trabalhadoras.[2][3]
As celebrações do Dia Internacional da Mulher ocorreram a partir de 1909 em diferentes dias de fevereiro e março, a depender do país [1]. A primeira celebração se deu em 28 de fevereiro de 1909 nos Estados Unidos, seguida de manifestações e marchas em outros países europeus nos anos seguintes, usualmente durante a semana de comemorações da Comuna de Paris, ao final de março. As manifestações uniam o movimento socialista, que lutavam por igualdade de direitos econômicos, sociais e trabalhistas ao movimento sufragista, que lutava por igualdade de direitos políticos. Em 1910, durante uma conferência internacional das mulheres, que antecedeu a realização da reunião da Segunda Internacional Socialista de Copenhague, Dinamarca, foi estabelecido o Dia Internacional da Mulher, celebrado no ano seguinte no dia 19 de março por meio de numerosas manifestações em países como Alemanha, Áustria-Hungria, Dinamarca e Suíça[4].
Posteriormente, no início de 1917 na Rússia, ocorreram manifestações de trabalhadoras russas por melhores condições de vida e trabalho e contra a entrada da Rússia czarista na Primeira Guerra Mundial. Os protestos foram brutalmente reprimidos, precipitando o início da Revolução de 1917.[5][6] A data da principal manifestação, 8 de março de 1917 (23 de fevereiro pelo calendário juliano), foi instituída como Dia Internacional da Mulher entre o movimento internacional socialista.
Após 1945, a data tornou-se principalmente um feriado comemorado nos países do chamado bloco comunista. Em 1955, segundo as autoras francesas Liliane Kandel e Françoise Picq, surgiu o mito de que a data teria como origem a celebração da luta e da greve de mulheres trabalhadoras do setor têxtil em Nova York em 1857 que haviam sido duramente reprimidas pela polícia ou mortas em um incêndio criminoso na fábrica, segundo diferentes versões do mito. Não há indícios de que isso tenha ocorrido e segundo as autoras, a origem desta versão ocorreu entre feministas francesas que durante a Guerra Fria buscavam uma origem à comemoração que estivesse desvinculada da história da luta socialista [7] [8].
Na antiga União Soviética, durante o stalinismo, o Dia Internacional da Mulher tornou-se elemento de propaganda partidária. Também era amplamente celebrado nos países do bloco socialista na Europa Ocidental.
Nos países ocidentais, o Dia Internacional da Mulher foi comemorado no início do século, até a década de 1920, tendo sido esquecido por longo tempo e somente recuperado pelo movimento feminista na década de 1960. Na atualidade, a celebração do Dia Internacional da Mulher perdeu parcialmente o seu sentido original, adquirindo um caráter festivo e comercial. Nessa data, os empregadores, sem certamente pretender evocar o espírito das operárias grevistas do 8 de março de 1917,[8] costumam distribuir rosas vermelhas ou pequenos mimos entre suas empregadas.
Em 1975, foi designado pela ONU como o Ano Internacional da Mulher e, em dezembro de 1977, o Dia Internacional da Mulher foi adotado pelas Nações Unidas, para lembrar as conquistas sociais, políticas e econômicas das mulheres.[9]


Origem

Hipátia foi uma astrônoma romano-egípcia, coincidentemente assassinada no dia 8 de março de 415
A ideia de instituir o Dia Internacional da Mulher surge na virada do século XX, no contexto da Segunda Revolução Industrial e da Primeira Guerra Mundial, quando ocorre a incorporação da mão-de-obra feminina, em massa, na indústria.
O primeiro Dia Internacional da Mulher foi celebrado em 28 de fevereiro de 1909 nos Estados Unidos, por iniciativa do Partido Socialista da América, em memória do protesto das operárias da indústria do vestuário de Nova York contra as más condições de trabalho. [10]
Em 1910, ocorreu a primeira conferência internacional de mulheres, em Copenhaga, dirigida pela Internacional Socialista, quando foi aprovada proposta da socialista alemã Clara Zetkin, de instituição de um Dia Internacional da Mulher, embora nenhuma data tivesse sido especificada.[11][12]
Membros da Women's International League for Peace and Freedom, em Washington, D.C., 1922.
No ano seguinte, o Dia Internacional da Mulher foi celebrado a 19 de março, por mais de um milhão de pessoas, na Áustria, Dinamarca, Alemanha e Suíça.[4]
Poucos dias depois, a 25 de março de 1911, um incêndio na fábrica da Triangle Shirtwaist mataria 146 trabalhadores - a maioria costureiras. O número elevado de mortes foi atribuído às más condições de segurança do edifício. Este foi considerado como o pior incêndio da história de Nova Iorque, até 11 de setembro de 2001. Para Eva Blay, é provável que a morte das trabalhadoras da Triangle se tenha incorporado ao imaginário coletivo, de modo que esse episódio é com frequência desde a década de 1950 erroneamente considerado como a origem do Dia Internacional da Mulher.[13] [14]
Em 1915, Alexandra Kollontai organizou uma reunião em Christiania (atual Oslo), contra a guerra. Nesse mesmo ano, Clara Zetkin faz uma conferência sobre a mulher.
Na Rússia, as comemorações do Dia Internacional da Mulher foram o estopim da Revolução russa de 1917. Em 8 de março de 1917 (23 de fevereiro pelo calendário juliano), a greve das operárias da indústria têxtil contra a fome, contra o czar Nicolau II e contra a participação do país na Primeira Guerra Mundial precipitou os acontecimentos que resultaram na Revolução de Fevereiro. Leon Trotsky assim registrou o evento: “Em 23 de fevereiro (8 de março no calendário gregoriano) estavam planejadas ações revolucionárias. Pela manhã, a despeito das diretivas, as operárias têxteis deixaram o trabalho de várias fábricas e enviaram delegadas para solicitarem sustentação da greve. Todas saíram às ruas e a greve foi de massas. Mas não imaginávamos que este ‘dia das mulheres’ viria a inaugurar a revolução”. [8]
Berlim Oriental, Unter den Linden, (1951). Retratos de líderes da Internationalen Demokratischen Frauen-Föderation (IDFF), na 41ª edição do Dia Internacional da Mulher.
Após a Revolução de Outubro, a feminista bolchevique Alexandra Kollontai persuadiu Lenin para torná-lo um dia oficial que, durante o período soviético, permaneceu como celebração da "heroica mulher trabalhadora". No entanto, o feriado rapidamente perderia a vertente política e tornar-se-ia uma ocasião em que os homens manifestavam simpatia ou amor pelas mulheres - uma mistura das festas ocidentais do Dia das Mães e do Dia dos Namorados, com ofertas de prendas e flores, pelos homens às mulheres. O dia permanece como feriado oficial na Rússia, bem como na Bielorrússia, Macedónia, Moldávia e Ucrânia.
Protesto do grupo feminista FEMEN no Dia Internacional da Mulher.
Na Tchecoslováquia, quando o país integrava o Bloco Soviético (1948 - 1989), a celebração era apoiada pelo Partido Comunista. O MDŽ (Mezinárodní den žen, "Dia Internacional da Mulher" em checo) era então usado como instrumento de propaganda do partido, visando convencer as mulheres de que considerava as necessidades femininas ao formular políticas sociais. A celebração ritualística do partido no Dia Internacional da Mulher tornou-se estereotipada. A cada dia 8 de março, as mulheres ganhavam uma flor ou um presente do chefe. A data foi gradualmente ganhando um caráter de paródia e acabou sendo ridicularizada até mesmo no cinema e na televisão. Assim, o propósito original da celebração perdeu-se completamente. Após o colapso da União Soviética, o MDŽ foi rapidamente abandonado como mais um símbolo do antigo regime.
No Ocidente, o Dia Internacional da Mulher foi comemorado durante as décadas de 1910 e 1920. Posteriormente, a data caiu no esquecimento e só foi recuperada pelo movimento feminista, já na década de 1960, sendo, afinal, adotado pelas Nações Unidas, em 1977. A data mantém hoje relevância internacional, e a própria ONU continuava a dinamizá-la, como sucedeu em 2008, com o lançamento de uma campanha, “As Mulheres Fazem a Notícia”, destinada a chamar a atenção para a igualdade de gênero no tratamento de notícias na comunicação social mundial. [15]

Referências

  1. Ir para cima International Womens Day, 8th March. The University of Queensland, Australia.
  2. Ir para cima Díaz, René (29 de abril de 2007). «Diplô - Biblioteca: Copenhague, contracultura e repressão:». René Vásquez Díaz. Consultado em 8 de março de 2016 
  3. Ir para cima «Alexandra Kollontai 1920. International Womens' Day». Consultado em 8 de março de 2016 
  4. Ir para: a b Eva Alterman Blay (8 de março de 2010). «As mulheres faziam parte das "classes perigosas"». Carta Maior. Cartamaior.com.br 
  5. Ir para cima About International Women's Day (8 March) internationalwomensday.com
  6. Ir para cima International Womens Day, 8th March
  7. Ir para cima «ON THE SOCIALIST ORIGINS OF INTERNATIONAL WOMEN'S DAY» (PDF) 
  8. Ir para: a b c Conquistas na luta e no luto. Ao contrário do que ressalta o imaginário feminista, o 8 de março não surgiu a partir de um incêndio nos Estados Unidos, mas foi fruto do acúmulo de mobilizações no começo do século passado. Por Maíra Kubík Mano. História viva.
  9. Ir para cima «Sobre a adoção, pelas Nações Unidas, do dia 8 de março como o Dia Internacional da Mulher». Nações Unidas. Un.org 
  10. Ir para cima «History of International Women's Day». Nações Unidas. Un.org 
  11. Ir para cima «History of the Day». Nações Unidas. Un.org 
  12. Ir para cima A woman's place is in the revolution. Elizabeth Schulte conta a pouco conhecida história do Dia Internacional da Mulher. 8 de março de 2011.
  13. Ir para cima Cinderela M. F. Caldeira. «Dia Internacional da Mulher». Revista Espaço Aberto. Usp.br 
  14. Ir para cima «ON THE SOCIALIST ORIGINS OF INTERNATIONAL WOMEN'S DAY» (PDF) 
  15. Ir para cima Como Tudo Funciona