15/07/2014

JF


 Siminéa e Tavelho

João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN, membro do IHGRN e do INRG

Até pouco tempo não tinha, nos meus arquivos, qualquer registro sobre membros da família Siminéa. Isso para mim era estranho, pois eles eram oriundos de Angicos. A professora Crisan Siminéa, nascida lá, era a mais próxima de meu pai, por ser colega dos Correios e Telégrafos. Vi muitas vezes, na minha infância, a viúva, D. Maria do Carmo, mãe de Crisan, caminhando pelas ruas de Natal.

Depois conheci, no Sebo Vermelho, José Helmut Cândido, que se dizia parente do capitão José da Penha. Abimael me apresentou Idelzuite, irmã de Helmut, e foi através dela que recebi informações sobre alguns ascendentes deles, aparecendo aí, também, um Siminéa. Segundo essas informações, Helmut era filho de José Cândido de Sousa e Maria Leopoldina de Sousa (nascida em Santana do Matos,  em 2 de julho de 1901). Neto por parte paterna de Francisco das Chagas Siminéa e Josefa Veneranda Alves de Sousa e materna de Manoel Aniceto Lopes e Ana Leopoldina Lopes.

A partir daí, fui fazer novas buscas nos arquivos que fotografei, onde primeiramente encontrei, em um livro de proclamas de Angicos, o que se segue: Quer casar o cidadão Francisco Pedro das Chagas Siminéa, solteiro, filho legítimo de Manoel Alexandre dos Santos Tavelho e de Antonia Francisca Pereira da Conceição, com 32 anos de idade, com D. Josefa Veneranda Alves de Souza, solteira, filha legítima de José Alexandre Alves de Sousa e D. Cândida Leopoldina de Souza, com 25 anos de idade, os contraentes são naturais e moradores nesta Freguesia de São José de Angicos. Aqueles que souberem algum dos impedimentos de que trata o artigo 7 do decreto nº 181 de 24 de janeiro de 1890, que possa anular este casamento, poderão exibi-lo neste cartório devidamente provado, e sob as penas da lei,  os com malícia não o impeçam. Cartório do Escrivão de Paz em audiência nesta Vila de Angicos, 7 de junho de 1892. Alexandre Vespaziano de Souza Pinheiro.

Esses dois nomes raros, Siminéa e Tavelho, não encontrei fora dessas famílias, nem, também, como santos ou localidades. Minha hipótese é de que seriam oriundos de apelidos. Na internet, um nome que é sugerido, quando colocamos a palavra Siminéa, é Chimenea (ou Chiminea), que é traduzido como lareira, chaminé, ou lugar de fogo. Como os membros dessa família são ruivos, é possível que Siminéa seja uma variação desse nome espanhol, que gerou esse apelido. 

Com a notícia sobre os pais de Francisco Pedro, fiz nova varredura, pois o nome Tavelho não tinha encontrado até então. Finalmente, acho o casamento deles. Eram Lopes Viegas e Pereira Pinto.

Aos dez dias do mês de junho de mil oitocentos e cinquenta e sete, às oito horas da manhã, nesta Vila de Angicos, em Oratório Particular, tendo precedido dispensa de sanguinidade, e das canônicas denunciações, confissão, e exame de doutrina cristã, em minha presença e das testemunhas João Felippe Teixeira de Souza, e José Vitaliano Teixeira de Souza, casados, e moradores nesta Freguesia, se uniram em matrimônio, por palavras de presente, e tiveram as bênçãos nupciais, os meus fregueses Manoel Alexandre dos Santos Tavelho, e Antonia Maria da Conceição, naturais e moradores nesta Freguesia, filhos legítimos: ele, de Alexandre Lopes Viegas de Azevedo, e Constância Maria do Espírito Santo; e ela de Gonçalo Pereira Pinto, e Maria Angélica da Conceição, falecida. Do que para constar faço este termo em que assino com as referidas testemunhas. Vigário Felis Alves de Souza.

Os nomes de Manoel Alexandre e de sua esposa Antonia Francisca sofreram alterações em alguns registros. Em dois outros registros de filhos, por exemplo, o nome do pai de Francisco Pedro das Chagas Siminéa era Manoel Alexandre de Azevedo Sousa. 

Alexandre Lopes Viegas de Azevedo, pai de Manoel Alexandre, era filho de Antonio Lopes Viegas e Francisca Pereira da Conceição e neto, por parte paterna, do tenente Antonio Lopes Viegas, fundador de Angicos, e de Anna Barbosa da Costa. Foi ele, em 1862, quem fez doação de uma sorte de terra ao “Glorioso Patriarca São José”, orago de Angicos. Alexandre casou, em 1824, com sua prima, Constância Maria do Nascimento, filha legítima de Antonio Martins dos Santos e Felippa Maria Duarte, esta última filha do tenente fundador.

O pai de Crisan, Francisco Siminéa Filho, era irmão de José Cândido de Sousa, pai de Helmut, ambos filhos de Francisco Pedro das Chagas Siminéa.

A primeira esposa de José Alexandre Alves de Sousa, Maria Leopoldina Josefa Carolina, era falecida em 1864. Josefa Veneranda nasceu por volta de 1867, e, portanto, era filha do segundo casamento dele, que foi com Cândida Leopoldina. Assim, Francisco Siminéa e José Cândido eram primos legítimos do capitão José da Penha.
José Cândido e Maria Leopoldina
CASOS DA NOSSA HISTÓRIA

Por: Gileno Guanabara, sócio do IHGRN

             São comuns casos que ocorrem em qualquer lugar e época, a par das sucessivas crises de outras naturezas, como ocorrentes na História do Brasil. Estão presentes no cotidiano, na formação parlamentar e se reflete no espírito gozador do povo. São fatos colhidos pelo jornalismo, pela literatura, anotados por escribas de época, os serventuários do dia a dia e registrados até nos anais do parlamento.
            - Nos idos de 1808, ao deixar Portugal, fugindo da invasão iminente das tropas napoleônicas, D. João VI trouxe uma comitiva numerosa, a qual comungava os preconceitos difundidos pela crônica lusitana, contrariamente às dificuldades da vida da fazenda chamada Brasil. O jornalista Hipólito da Costa, brasilianista e já defensor da independência, publicava em Londres o jornal Correio Brasiliense. Foi sincera a referência que fez, quando da transferência da família real e o séquito que a acompanhou: - São 10 ou 20 mil vadios e parasitas que vão fazer no Rio o mesmo que faziam em Lisboa, isto é, comer e beber à custa do Estado e nada fazer para o bem da Nação. E ainda depois vão alegar o serviço de terem deixado a pátria, a fim de servir ao soberano, como se seguissem por outro motivo que não fosse o de desfrutar...         
- Joaquim Nabuco se referia ao marquês de Olinda, atribuindo-lhe atitudes definitivas. Porém, dele assegurava não tinha flexibilidade para ceder... tinha em tudo ideias próprias, sentimentos, ou antes preconceitos, que ninguém podia modificar. Em razão da crise que se consumou com a ida dos Andradas para o exílio, em 1823, D. Pedro I convidou pessoalmente o marquês para ser primeiro ministro do Império: Preciso no ministério de um homem de sua qualidade, disse o monarca. De temperamento austero, sincero, o convidado, antes de se decidir, fez alusão ao clamor do povo pela clemência em favor de José Bonifácio e seus irmãos. O imperador, tomado de cólera acusou-o: Atrevido. Ao assaque o marquês retrucou: Então V. M. procure outro para ser ministro. O Imperador, sem controle, avançou em direção ao interlocutor e o derrubou no chão. Ao levantar-se, o marquês antecipou: - Agora caem os patriotas...Um dia cairá V. majestade. Anos depois, Araújo Lima foi o regente do Império, enquanto D. Pedro I fora destronado.
            - José Bonifácio foi o personagem principal da cena ocorrida no Paço de São Cristovão, quando a marquesa de Santos fez ao imperador o pedido de anistia em favor dos revoltosos de São Paulo e do Rio. D. Pedro I recepcionou a súplica da mulher amada e transmitiu ordens a serem compridas por José Bonifácio que, tomado de arroubos, se viu diminuído em seu prestígio. Bonifácio se altercou com o imperador, repudiou a presença e a influência da marquesa no palácio, a enfeitiçar a cabeça do soberano. Diante do palavrório impublicável usado pelas partes, o camareiro-mor de S. M. que a tudo assistiu ouviu de José Bonifácio:  - Meu amigo, não sou mais ministro, nem o serei jamais. Perdi o ministério, mas ganhei a minha liberdade. Para o Imperador mais vale o encanto de mulher bonita do que os meus conselhos.
            - Martim Francisco, ministro da Justiça no terceiro gabinete Zacarias, em 1867, em pronunciamento na Câmara, defendendo que a ideia da emancipação dos escravos existia desde 1823, discutida na imprensa e na tribuna parlamentar, foi interrompido pelo colega Cândido Torres Filho: Mas a ideia não foi estudada pelo governo, disse. Sem perder o vigor e a eloquência, o orador prosseguiu: Mas note o nobre deputado pelo Rio de Janeiro, que as questões se preparam não só quando são estudadas pelo governo, mas sobretudo quando são estudadas pelo povo, quando o são na tribuna e na imprensa... Por esses veículos de publicidade é que se demonstra a conveniência de ser aceita ou não uma ideia. E fulminou o aparte: As ideias se discutem no domínio da publicidade, e não somente nos recônditos dos gabinetes ministeriais.
- Francisco de Salles Torres Homem publicava, no ano de 1848, sob o pseudônimo de Timandro, o seu terrível livro Libello do povo, com ataques à monarquia, a D. Pedro II e a família Bragança. Anos depois, reconciliou-se com o monarca. Foi senador, ministro, conselheiro, visconde de Inhomirim. Da tribuna do Senado, no ano de 1871, Torres Homem, que tinha virado de casaca, passara a destacar os avanços dos conservadores, defendia o governo, contrapondo ao atraso dos liberais. Diante da eloquência com que o orador saudava os conservadores, Silveira da Motta, dominado pela verve satírica, interveio e o aparteou: Santo Deus. Dizer que é Timandro que está falando! Responde a si mesmo vinte anos depois!     
            - No ano de 1885, o barão de Cotegipe decidiu apresentar à Câmara o gabinete conservador de 20 de agosto. Maior não poderia ser o alvoroço da oposição, cujos apartes tentavam tumultuar o orador. Qualquer indefinição, em resposta, teria como consequência a queda do gabinete. Em aparte, um dos oposicionistas interpelou o barão, se aceitava ou não aprovar o projeto de abolição do elemento servil. Pelo fato da abolição estar sendo objeto de intensos debates nas ruas, Cotegipe percebeu o embaraço que sua resposta poderia causar. Desviando, mas sem fugir à resposta, sentenciou: Sou do tempo em que os exames se faziam tirando os pontos... Não sei responder pergunta de algibeira.

- Maciel Monteiro, um dos homens mais elegantes do seu tempo, conquistador irreparável, foi ministro dos Estrangeiros da Regência de Araújo Lima. Ao se deparar no Parlamento com uma mocinha de faces meigas, faceira e de beleza encantadora, Maciel não se conteve: Deixa beijar-te, meu bem. De súbito, a ofegante e ruborizada mocinha respondeu: Sim, mas... só se o senhor fizer, agora mesmo, o seu pedido em forma de versos. Maciel Monteiro, engoliu em seco e improvisou: Suspende, Analia divina, / Do teu recato o pudor. / Não beija o zéfiro à flor? / Não beija a aurora a bonina? // Quando o sol meigo se inclina / Não beija as ondas também? / Se ao terno pombo convém / Beijar a rola inocente, / Se a natureza consente. / Deixa beijar-te, meu bem. 

14/07/2014

LEI SECA



A Lei Seca dos Estados Unidos (1919-1933)

Elísio Augusto de Medeiros e Silva

Empresário, escritor e membro da AEILIJ
elisio@mercomix.com.br


Em 1917, quando começou a campanha pela proibição de beber, os Estados Unidos tinham mais de 200 mil saloons, locais onde se consumia basicamente o álcool.
O líder do movimento antiálcool foi William Anderson, sendo ajudado pela crise nacional em que se encontrava o País ao entrar na I Guerra Mundial, em abril daquele ano (1917). O esforço de guerra exigia uma certa dose de economia.
A liga, dirigida por Anderson, lançou o slogan: “Economize 11 milhões de pães de forma por dia”, numa alusão ao fim do álcool. Segundo eles, argumentavam que os soldados sóbrios estariam mais saudáveis e dispostos para a guerra.
Usando os sentimentos antigermânicos que afloravam entre a população, alegavam que as cervejarias alemães instaladas nos Estados Unidos atrasavam o desenvolvimento da indústria nacional.
 O Presidente Woodrow Wilson também fez a sua parte, mesmo involuntariamente e decretou que o governo passaria a controlar a produção de alimentos. Com isso, os grãos foram proibidos de serem utilizados para a destilação de bebidas. E também o Presidente tinha poderes para regular a produção de vinhos e cervejas durante o conflito.
Alguns líderes negros tinham enxergado a aprovação da 18ª Emenda – a que instituiu a Lei Seca – como uma possibilidade de reforço à autoridade das 14ª e 15ª Emendas. Essas emendas tinham sido publicadas após a Guerra Civil e haviam estendido os poderes civis e de voto aos negros. No modo de entender deles, se a Lei Seca fosse realmente cumprida, consequentemente, os direitos dos negros também seriam.
Por seu lado, os produtores de teatro achavam que o dinheiro economizado nas mesas de bar – ou seja, diversão -, seriam transformados em dinheiro a gastar com ingressos para as peças de teatro da Broadway.
Além disso, os fabricantes de chás, refrigerantes, sucos, sodas, sorvetes (...) achavam que, sem o álcool, mais dinheiro sobraria para ser gasto nos seus produtos.
A lei foi aprovada. As penalidades por sua violação seriam de, no mínimo, seis meses de prisão e multas aplicadas a partir de U$ 1 mil no caso de réus primários. As penas iam aumentando a cada descumprimento.
No primeiro ano foi criado o Bureau da Proibição, uma agência que controlava a execução da lei. Operava inicialmente com 1500 agentes e um número igual de funcionários administrativos. Isso fazia do Bureau o maior órgão federal não-militar, maior até que o FBI – Federal Bureau of Investigation.
Mas essa quantidade de fiscais era subornável – recebiam propinas dos donos de bar e traficantes de bebidas, para que os deixassem em paz.
Logo, muitos espertinhos perceberam que a lei proibia a produção, transporte e venda de álcool. Mas, não a sua posse. Então, muitos bares, os “speakeasies”, passaram a usar esse argumento para funcionar – mantinham as portas abertas, cobravam a entrada, e davam “de graça” a bebida aos frequentadores.
De 1916 a 1924, a cidade de Nova Iorque viu fechar 80% de seus bares, e 16.000 trabalhadores perderam seus empregos nesses estabelecimentos.
A proibição ao álcool trouxe outro motivo de preocupação: em vez de ordem causou violência. As ruas ficaram cheias de gângsteres, com seus carros pretos e metralhadoras, que controlavam o comércio ilegal de bebidas. Nas grandes cidades americanas – Nova Iorque, Detroit, Chicago, São Francisco, grupos rivais de gângsteres brigavam pelo controle do comércio ilegal de bebidas alcoólicas.
Um dos mais famosos foi Al Capone e sua gangue, um dos criminosos mais procurados daquele tempo. Al Capone inspirou diversos filmes: Inimigo Público (1931) e Scarface (1932). Em maio de 1932, Al Capone foi preso e trancafiado em Alcatraz, de onde uma fuga seria impossível.
A Lei Seca vigorou durante 14 anos, até o dia 5 de dezembro de 1933.


13/07/2014





TODOS CONVIDADOS - DIVULGUE - ESPALHE - COMPAREÇA

ESCRITOR E JORNALISTA FLÁVIO REZENDE 
LANÇA LIVRO NESTA TERÇA

   
​Militando em diversas áreas como jornalismo, ativismo social e literatura, 
Flávio Rezende
​apresenta nesta terça, 15 de julho, das 19 às 22h, na livraria Saraiva do Natal Shopping, seu mais novo produto literário:
 "Quero que este livro vire um filme"
​.
     Este é seu
24º livro,
​programado para ser apresentado na 
data em que comemora seus 53 anos de
​vida
.
​ 
  
     O livro narra o desejo de um escritor de que um livro de sua autoria vire um filme e a partir dai ele descreve como se fosse o roteiro de uma película, uma estória em Nova Iorque, no futuro, com os EUA dominados por radicais cristãos. Um crime na 5ª Avenida desencadeia uma reação mundial e a trama ganha vida neste cenário.
​     O livro vai ser vendido por R$ 35,00 e, após o lançamento continuará exposto nas livrarias Saraiva do Midway e Natal Shopping e algumas cigarreiras de Natal.

Para saber mais: Flávio Rezende - 9902-0092​

12/07/2014

JN




MONSENHOR
EXPEDITO MEDEIROS


Jurandyr Navarro
Procurador do Estado, aposentado, e Presidente
Honorário Vitalício do Instituto Histórico e Geográfico do RN

"Existe, no Rio Grande do Norte, um trabalho perfeito e notável de Desenvoívimento de Comunidade, na cidade de São Paulo do Potengi. Trabalho elogiado por órgão técnico da ONU e que conheço de perto, pois lá estive e fiquei maravilhado. Trata-se de um empreendimento do Mons, Expedito Medeiros, trabalho admirável, realizado sem alarde, em silêncio, anonimamente".

A observação acima, em outras palavras, é do laureado professor Luiz Carlos Mancini, uma das maiores autoridades no assunto, em cujo setor de atividades era representante do Brasil nas Nações Unidas. Menção feita por ocasião da aula inaugural, por ele ministrada aos alunos dos cur­sos populares do M.D.C., de nossa Capital.

Semelhante apresentação, expressada em público por uma inconteste autoridade na matéria, bastaria para consagrar em definitivo um nome.

Mesmo sendo jejuno no assunto, não desconhecia a ímpar realiza­ção do conhecido sacerdote, que consumiu a vida numa cidade afasta­da, e que só via uma coisa neste mundo: O pobre.

Visitei por várias vezes o "Movimento de Potengí", como denomi­nam os jornais europeus ao trabalho desse padre magricela e duro na queda!

Em todas as viagens empreedidas, notava a sua casa cheia de gente. Sempre cheia . Não para pedir esmolas: Todo indigente exibe na face a máscara da tristeza e do sofrimento. E o pessoal que lá se aglomerava trazia sempre um sorriso nos lábios a iluminar o rosto feliz.

Às vezes, pelo caminho de volta, ficava a meditar sobre o que ha­via observado. E fazia a mim a indagação: Como pode viver feliz aquela gente que vai à casa do Mons. Expedito, quando é notório que leva uma vida de padecimentos!? E concluía por um paradoxo! Por uma contradi­ção!

Mas não era. O padre dera vida espiritual intensa àquela gente hu­milde. A sua orientação aprumada criara uma nova mentalidade naque­le povo simples e bom, para enfrentar os rigores da vida árdua do campo: Bendizer ao seu Deus o que lhe dava, suportando a adversidade com hu­mildade e resignação.

É que Mons. Expedito realizou obra magnífica que não encontra similar na espécie. Tudo idealizado por ele e levado a efeito com paciência, sacrifício e muita luta.

Fez parte, também na linha de frente do Movimento de Natal, liderado por Dom Eugênio Sales, movimento social abridor de um leque imenso para as obras sociais da Igreja Católica.

Era ele um homem  de vasta visão em relaçao, também, à cultura. Na pesquisa que empreendi sobre a figura do Padre Luiz Monte, ele, seu contemporâneo, e o Cônego Jorge O’Grady, muito me incentivaram e me cederam material relativo à psicologia da Dor, no ângulo da arte e do sentimento, assim como em relação ao espiritismo, temas estudados por aquele sacerdote de saber múltiplo.

Tive a felicidade de assistir a algumas missas por ele celebradas, em São Paulo do Potengi. Logo na primeira delas, notei uma coisa estranha no recinto daquela Igreja surra­da pela erosão do tempo. É que vi muitos homens em volta do altar como se estivessem a proteger aquela magra figura de homem envolto em para­mentos litúrgicos, a oficiar o santo sacrifício.

Logo depois, outra surpresa agradável: Todos aqueles homens, rudes na aparência, a cantar com a simplicidade de meninos, e depois a comungar, como se estivéssemos no dia da Quinta-Feira Grande!

Foi lá que evidenciei ter sido o primeiro lugar onde a Sagrada Me­sa da Eucaristia havia mais homens do que mulheres!

Daí vi a minha pequenez. Como me tornei um pigmeu naquele ambiente! Eu só possuía uma migalha de Fé em cotejo com a daquela gente!

E não pude evitar chorar. Às vezes, o pranto dispensa o comple­mento das lágrimas. É o choro amargo que experimentou São Pedro, quando negou a Jesus.                                         

Não sei se foi de vergonha ou de emoção, diante daquele espetáculo comovente de contrição e de singeleza, de verdade e de fé.

11/07/2014

MENDICÂNCIA SOCIAL E CULTURAL
Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes, escritor

            Não podia ser mais lamentável, depois do desânimo pela acachapante derrota do Brasil para 
Alemanha = A Casa do Bem vai fechar as suas portas.
       Li no JH o desabafo de Flávio Rezende: "Nós não temos carência de fazer o bem. Temos carência financeira. Estou desistindo porque já me sinto fragilizado".
          Esse jovem jornalista, há muitos anos, deu-se ao trabalho meritório de ajudar a sua comunidade carente de Mãe Luíza e vinha mantendo esse seu ministério social às custas da ajuda da população, fazendo promoções, convocando intelectuais, desportistas e outras pessoas abnegadas para conseguir manter as diversas atividades desenvolvidas pela Casa do Bem. Fui um dos mais modestos colaboradores, mas não me omiti aos apelos do Amigo Flávio, dentro das minhas possibilidades.
        Contudo, esse gesto está a merecer uma meditação de todos - até quando vamos aceitar que a atividade social, como igualmente a de natureza cultural, continuem à mercê da mendicância!
         Tenho sofrido algo semelhante na minha atividade junto ao Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, onde vivemos, também, de verdadeira mendicância, formalizando apelos, pedindo ajudas constantes aos associados e às pessoas de boa vontade, pois esta nossa centenária Instituição pertence ao povo e à história do Rio Grande do Norte, como maior fonte documental dos últimos três séculos.
        No Instituto, além da falta de recursos, contamos com a inveja de algumas pessoas frustradas na vida, que veiculam notícias mentirosas e tendenciosas somente para diminuir os abnegados dirigentes, que ali trabalham sem remuneração e, muitas vezes, tirando de suas economias pessoais para não deixar perecer tão rico e importante acervo, sob o comando dedicado do Presidente Valério Alfredo Mesquita.
       Recentemente, uma colunista informou que "conhecido pesquisador" alertara o Ministério Público para fiscalizar os mais de 1 milhão de reais recebidos pelo Instituto em 2013. E penso eu, que qualidade de pesquisador é essa, a merecer credibilidade de uma jornalista, quando em verdade a única ajuda financeira pública recebida no ano passado pelo IHGRN, foi de R$ 5.000,00, da Prefeitura de Natal, a qual já foi feita a prestação de contas.
          Este ano, após desesperados apelos aos Parlamentares do Estado, conseguimos a liberação de R$ 200.000,00 do Governo do Estado, através da Fundação José Augusto, com o que estamos restaurando o prédio, comprando mobiliário e preparando o levantamento do acervo, unicamente para melhor servir aos pesquisadores e estudantes, observando o devido processo legal. 
         Todavia, não possuímos receita ordinária suficiente para o custeio da manutenção básica, temos que batalhar muito, registrando, por inteira justiça, a ajuda mais permanente das entidades Fecomércio e outras que compõem o complexo da Federação da Indústria.
          É preciso uma conscientização para a importância de se dar maior atenção a esses organismos que primam pela melhoria da qualidade de vida do povo, evitando a delinquência e pela cultura histórica do nosso Estado, sem o que perderemos a identidade. 
            Há momentos de desânimo, somente superada pela união dos nossos poucos colaboradores e pela admiração das pessoas que se valem do nosso acervo para realizar suas pesquisas e estudos e que nos presenteiam com exemplares de suas obras, dando continuidade à difusão das coisas importantes do nosso Rio Grande do Norte.
              Com muito sacrifício e com um amor ainda maior, estaremos em agosto, possivelmente, reabrindo a Casa da Memória para desenvolvermos uma programação marcante neste final de ano e dando posse a novos sócios, verdadeiras sementes para a continuidade do nosso desiderato.

10/07/2014


 A viagem de Leão Veloso, última parte


João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN, sócio do IHGRN e do INRG

Eis-me pisando sobre o solo de Mossoró (10 de agosto de 1861), lugar de minhas simpatias, e que incontestavelmente virá a ser um dos pontos mais importante da província pela vantajosa posição topográfica em que se acha.

Colocada em uma extensa e linda esplanada que se alonga até a barra, 7 léguas ao sul, a Vila de Mossoró contém um sofrível povoado, cujo número de edifícios talvez exceda de 120, e um comércio já bastante agitado até ali se observa.

O Reverendo Vigário Antonio Joaquim Rodrigues, que, como os habitantes de Apodi, jazia também em dúvida a respeito do dia certo em que o Exmo. Sr. Presidente deveria ali passar, foi quem, indo ao seu encontro já quase dentro da rua, ofereceu a sua casa para o nosso alojamento, tratando-nos com aquela afabilidade e franqueza que lhe são tão notáveis.

Conta Francisco Othílio, relator da viagem, que foi convidado para ir à casa de umas moças, que haviam também assistido à festa no Caicó, para ouvi-las tocar violão e flauta e cantar algumas modinhas, tendo se dirigido para lá em companhia do inspetor João Carlos, amigo da família. Aí faz o seguinte comentário: quem tem visitado a nossa capital onde a maior parte das moças é tão acanhada, e sem gosto para música, que juízo não fará dos mais lugares! Eu, porém nesta viagem fui testemunha do contrário, encontrando moças verdadeiras apreciadoras de música, e até de alguma instrução. 

Ás três horas da tarde (do dia 11) principiaram a chegar os cavalos para o nosso transporte, e às 5 horas já perdíamos de vista alguns edifícios da Vila de Mossoró, da qual me apartava com saudades. Neste trajeto teve S. Exc. de visitar um armazém que existe na distância de uma légua, pequeno receptáculo de diversos gêneros que são exportados daquela Vila em barcaças, as quais nas enchentes das marés chegam até ali; depois do que tomamos o caminho que devia levar-nos a Macáo, pernoitando-se na Fazenda Umari, duas léguas distante de Mossoró, onde chegamos favorecidos pelo astro da noite que já derramava um pequeno clarão. E assim às 3 horas da madrugada deixamos Umari, chegando-se ao lugar denominado Entrada, pequeno povoado da costa entre Macáo e Mossoró, às 10 horas.

Descansamos em casa de um homem, de nome João Filippe, o qual nos hospedou segundo a sua posição e circunstancias, suprindo algumas falhas, que todavia não eram para estranhar em um lugar como aquele falto de certos recursos, os seus modos afáveis.

Seriam pouco mais ou menos 3 horas da tarde, quando deixamos a Entrada, tocando às seis horas na Ponta do Mel, onde nos demoramos somente enquanto tomávamos uma fartada de peixe fresco, em casa do senhor Paulo Gomes da Costa, que já prevenido se achava de que por ali passaríamos; continuando depois a nossa marcha para Cacimbas de Vianna, fazenda do Major José Martins Ferreira, aonde chegamos às dez horas da noite.

Duas noites e um dia foi quanto nos demoramos em Cacimbas de Vianna, onde passamos muito bem, não só em razão do cavalheirismo com que fomos tratados pelo major José Martins Ferreira, mas também pelas comodidades que oferece aquele agradável sítio.

Ainda estávamos desfrutando o agradável sono da madrugada do dia 14 quando um homem nos bateu à porta anunciando que em um porto distante dali meia légua pequena se achava uma barcaça convenientemente tripulada para transportar-nos a Macáo, acrescentando mais que algumas pessoas que deviam acompanhar-nos se achavam a bordo da mesma barcaça.
Posta a bordo a nossa bagagem, embarcamos. Eram 7 horas quando fizemos de vela. Uma breve viagem de 2 a 3 horas, o mais tardar nos prometiam os homens da tripulação e o Sr. André de Miranda experimentados naquele trajeto, que compreende três légua marítimas.

Mal, porém, pensavam eles que daquela vez tinham de ver falhar todos os seus cálculos, pretendendo marcar uma viagem que fazíamos a mercê dos ventos. Com efeito, apenas a embarcação que nos conduzia principiou a demandar os mares da costa, vento contrário logo soprou e toca a bordejar; acontecendo por duas vezes que fomos tão fora, que quase perdíamos a terra de vista. 

Eram 2 horas da tarde, e nós tendo em frente a barra não a podíamos ganhar. Ainda àquela hora navegávamos com proa de mar quando caiu o vento nordeste, pelo qual tanto suspirávamos; virou-se então de bordo, e a barcaça cortando suavemente as águas levou-nos à Macáo, onde aportamos às 4 horas da tarde.

Algumas pessoas em cujo número estava o Sr. Deocleciano foram esperar-nos à praia, tomando S.Exc. a casa deste Sr. por quem fomos bem hospedados.

Conta Francisco Othílio, que por atraso do vapor Jaguaribe, só começaram a viagem de regresso para Natal às 9 horas dia 22 de agosto e, às 9 horas da noite já estavam em Pititinga.

Para encerrar, algumas observações: Foi em Cacimbas de Vianna, localizada, hoje, em Porto do Mangue, que nasceu minha avó, Maria Josefina Martins Ferreira. Batizada em Angicos, teve como padrinho o seu avô paterno, major José Martins Ferreira, um dos primeiros povoadores da Ilha de Macau, vindo da Ilha de Manoel Gonçalves. O major era trisavô paterno e materno do ex-governador Aluízio Alves e materno do deputado federal Aristófanes Fernandes.
Deocleciano, que hospedou o presidente, deveria ser o tenente-coronel, Deocleciano Ernesto de Albuquerque Mello, que foi administrador de rendas em Macau e agente da Companhia Pernambucana. Era pai do doutor Euclides Deocleciano de Albuquerque, que foi vice-presidente da nossa província.
José Martins Ferreira, meu trisavô, paterno