10/07/2014

N O T A S   E X I S T E N C I A I S

POR: GILENO GUANABARA, do IHGRN


     Tenho recebido manifestações de leitores acerca das matérias que público nas quartas-feiras no JH. Certo dia, uma delas revelou-se grata com a informação de que D. Pedro II fora favorável à abolição da escravatura, no Brasil. Os fatos da nossa historiografia são intencionalmente mal difundidos, com prejuízo da memória nacional.

      Com frequência encontramos em nossa História fatos e personagens que em nada são diferentes na História da Humanidade. Guardadas as proporções de tempo e de latitude, o mundo é uma aldeia, cujos habitantes interagem em torno de si e à distância, desenvoltos, às vezes com traumas, com aventuras e negócios. Se para uns a História não se repete, para outros a repetição é uma tragédia, só passível de ser remediada pela lógica da cultura acumulada. Acredito que as pessoas têm a clarividência instintiva para se rebelarem contra fórmulas arcaicas, repetidas e já superadas algures e alhures. Enquanto isso, a vida continua.

     A ciência econômica do século XVIII, pela intensificação dos estudos inovadores da economia, revelou um modus novo, segundo o qual a realidade se antepõe a práxis do meramente penso, logo existo. Assim, a ideia em si se submeteria à determinação prévia e natural das necessidades sentidas e satisfeitas através do trabalho, decorrência da carência que é motivadora e a razão de ser da sobrevivência da espécie humana. Tal dicotomia especulativa é também pragmática e não se esgota automaticamente, nem é excludente entre si.
            
       À determinada verdade um dos postulados se sobrepõe ao outro, cabendo à intervenção investigativa definir qual deles é temporal ou permanente. Brotam as teorias, ora contra, ora a favor de um dos conteúdos divergentes, independente das certezas ou incertezas que se revelem, ou que se esgotam no estágio vestibular.
            
     Ás vezes, semelhantemente a duas linhas paralelas vistas a partir de um mesmo ponto, casos ocorrem em que os conteúdos diferenciados, embora tenham a aparência divergente, quando postos ao rigor do exame, convergem e se revelam, ao final, como se uma unidade. Assim, não havendo propriamente uma exclusão, observa-se com facilidade a confusão de conceitos que eram só divergentes na aparência, pois se tratam de versões assemelhadas, servindo apenas de pretexto para confundir a realidade. 
          
Ocorrem mudanças significativas de definições ou de comportamentos, em face de novas especulações, de novas influências, ou de novos utensílios tecnológicos. O progresso que daí se verifica contribui para a revolução dos conceitos. É fatível que surjam experimentos novos, fórmulas experimentais diferenciadas, capazes de se insurgirem contra as verdades até então estabelecidas. Nada se descarta. Dá-se um acúmulo permanente de conhecimento, cujo acervo se torna um fato cultural a mais que se armazena e é disponibilizado em DNA futuro.
           
      Sem muito esforço, é possível admitir-se uma estreita ligação, mesmo que cartesiana, das conclusões a que chegou Adams Smith, acerca do valor e da acumulação capitalista, até chegar-se às formulações de Carl Marx; ou dos postulados filosóficos individualistas de Emmanuel Kant até as formulações sociológicas de Engels. A partir do século XVIII as concepções do pensamento aristotélico foram alvo de profundas reviravoltas, com repercussão na vida, na arte, na política e sua representatividade. A era dos governos despóticos, teatralizados no centralismo aristocrático, deu lugar aos embates parlamentares próprios da múltipla representação republicano/burguesa, no que se consolidou o ente nacional, consequência da Revolução Francesa. Portanto ciência, política, religião e economia andam juntas, a par de contradições inerentes.
            
        Eis a Era das Revoluções - 1789/1848, no dizer de Eric Hobsbawn, um período da História, de conflitos contundentes entre o modus econômico novo a se insurgir contra o velho modelo, com reflexo na ciência, na religião, na literatura, nas artes e na gerência da representação política. Mudanças que se deram não pelo triunfo da liberdade e igualdade em si, uma utopia, mas pela emergência do que se chamou “middle class”, a classe intermediária, e, por isso, a contradição, espremida entre, de um lado, a monarquia, a nobreza e a igreja; e, de outro, os camponeses, os artífices, os burgueses e os pequenos/burgueses. O idealismo, como fórmula que promoveu a ação produtiva, submeteu-se à produção para satisfazer o mercado, a “indústria capitalista”, a sociedade burguesa e liberal, mais precisamente com sede na Grã-Bretanha e França, Estados de onde o modus se consolidou e se disseminou pelo mundo.
      
      Portanto, a sociedade burguesa individualista destacou o aparecimento de forças sociais novas, sua estratificação, complexidade e necessidades. O nascimento do parque fabril de Lancashire, os princípios da revolução burguesa, as primeiras ferrovias e a publicação do Manifesto Comunista, foram o sintoma das verdadeiras contradições que o mundo pariu e assistiu a partir daquele momento. O mundo continuou a crescer.

     Afinal, agora torço para que os recursos infinitos da internet, a mídia e os eventos a que se propõem, não se destinem a alienar, como ocorreu a partir das fábricas ou das igrejas. Temo que, no vazio da ópera, a intolerância desnature a dialética da realidade: o trabalho, a solidariedade, a propriedade, a ética e as instituições políticas não sejam descaracterizados. O altar musicalizado dos hinos e letras grandiloquentes, em louvor de conquistas de menor significado, difundidos a cabo e a cores, podem contaminar o bom senso. A gravidade estará na difusão de contradições menores, que subutiliza o pensamento e subestima a inteligência. Adams Smith e Carl Marx sonharam diferentemente. Pode até o comitê dos negócios e o poder político reprimirem para não se falar em o ópio do povo. Mas a verdade nos espera na esquina mais próxima.

09/07/2014

001 a 110 - Coisas que não poderemos esquecer...

110. Da Pista de Patinação do Aero Club.
109. Do movimento da galeria do "Barão do Rio Branco".
108. Das compras na "Love Boutique".
107. Do 7 de Setembro, hoje UNP, na Rua Seridó.
106. Dos shows no Palácio dos Esportes.
105. Dos cursos de datilografia na lateral do Instituto Brasil ou no Senac.
104. Do Instituto Brasil na rua José Pinto.
103. Dos lanches nas Lojas 4400 onde ia andar de escada rolante logo que inaugurou.
102. Das madrugadas no "Passaport".
101. Do Caldo de Cana Orós na Rio Branco, perto de Nazí.
100. Das festas de São João do Neves, Marista, ED e Salesiano, e ainda das ruas Ângelo Varela e Jaguarari.
099. Dos Jogos Estudantis para onde ia torcer fervorosamente por seu colégio?
098. Dos Paqueras circulando no Palácio dos Esportes.
097. Dos picolés Big Milk. Especialmente o creme holandês.
096. Da "Festa do Caju" da Redinha.
095. Do caldo de mocotó e da 'paquera' no Pé do Gavião.
094. De que fazia parte de alguma turma de rua.
093. De que se freqüentava todos os "arrastas" e festinhas "americanas".
092. De que ia para o centro da cidade nas noites de dezembro.
091. De que dançava de rostinho colado.
090. De que as muitas meninas "botavam macaco" quando dançava.
089. De que frequentou o ABC, Hippie Drive-in e Piri-Piri.
088. De que frequentou o Bar Postinho.
087. De que frequentou a Sorveteria Belém.
086. De que frequentou a Casa da Música.
085. De que lanchou no Barramares.
084. Das matinês de domingo no Aero Club, com o Impacto 5.
083. De que frequentou o Caravelas Bar (Bar do Flauberto).
082. Das discotecas do América e da AABB, nos "Embalos de Sábado à noite".
081. Dos carnavais no América, AABB, Aero Club ou Palácio dos Esportes.
080. De que fazia parte de algum bloco carnavalesco.
079. Do corso na Av. Deodoro em dias de carnaval, nos Jipes sem capota.
078. De que ter um lança perfume no Carnaval era uma glória.
077. De que chorou assistindo "Marcelino Pão e Vinho" e "La Violetera".
076. Dos pileques na Palhoça, depois Casa da Maçã.
075. Dos seriados no Rex, São Luiz ou São Pedro.
074. Do trabalho que dava para assistir filmes "pornôs.
073. Do Vesperal dos Brotinhos na Radio Poti.
072. De C... de Ouro, Rosa Negra e Velocidade, patrimônios de Natal.
071. De que era "piolho" do "Quem-me-quer" na Praia dos Artistas.
070. Das "umas e outras" no "Sinus bar" observando os surfistas.
069. Da "La Prision " nas matinês do domingo (comeu pipoca com coca-cola?)
068. Do Centro Cearense.
067. Das festas na Rampa.
066. Do "Bier House".
065. Da Confeitaria Mirim na João Pessoa, cujo proprietário era João.
064. Dos pegas no Stop e depois no Tobs.
063. Do delicioso caldinho de feijão na "Tenda do Cigano".
062. Da "Royal Salut" no Reis Magos.
061. Da "Transamazônica", na Praia do Forte? (sexo ecológico e com Maruin picando a bunda)
060. Da "Apple", depois "Augustus" e do "Club Set".
059. Do Striptease , na boate do Ducal.
058. Dos ensaios para o carnaval dos ''Deliciosos na Folia'' onde hoje é a Telemar.
057. Das lutas de Takeo Uono, Waldemar e Bernadão no ringue onde hoje é o IPE.
056. Da ajuda do enfermeiro Cicero Calú na Rua Princesa Isabel para "curar" as doenças venéreas.
055. Das 'pinicas' na Lagoa Manoel Felipe ou Praça Pedro Velho.
054. Do "Boliche", na Praia dos Artistas.
053. Das horas que passava no Ktikero bebendo a cerveja mais gelada da cidade e ouvindo as mentiras de "Bigode".
052. Do "Iara Bar".
051. Dos banhos nos tanques na Praça Pedro Velho.
050. Da galera da "Bodega da Praça".
049. Do Restaurante do Hotel Samburá.
048. Do Xique-xique... lá no posto São Luis da Av. Salgado Filho.
047. Do SCBEU com seus cursos de Inglês...
046. Da saída das meninas na Escola Doméstica, Auxiliadora ou Colégio da Conceição.
045. Das corridas de kart nas tardes de domingo, no pátio da Ceasa ou na Rampa...
044. Da freqüencia que tinha a boate da Rampa...
043. Do sorvete de Seu Louro na porta do colégio...
042. Do Cachorro Quente de Salada que ficava na calçada da padaria em frente ao Colégio Marista.
041. Da Praia do Forte nas férias e fins de semana...
040. Da "Banana split" com a turma no Gimi Lanche na Rua João Pessoa.
039. De dançar o Vira, cheio de mé!
038. Das missas no Auxiliadora, Santa Terezinha e Catedral para na verdade 'paquerar'.
037. Da inesquecível cartola da lanchonete da Casa Costa em frente ao Rex.
036. Das vitaminas de frutas do Bom Lanche.
035. De Maria Mula Manca e da Embaixatriz Severina.
034.Das sessões de Cine de Arte no Cinema Rio Grande nas manhãs de domingo...
033. Dos blocos de alegoria pelas ruas da cidade - Plebe, Saca-Rolha, Ressaka, Baculejo, Arrocho, Jardineiros, Puxa-Saco, Jardim de Infância, ....
032. Das fotos que tirou com "Deodato", nos jogos do Palácio dos Esporte, Ginásio do Atheneu, Escola Técnica ou Salesiano...
031. Das fotografias 3/4 e posters com Rodrigues.
030. Das ''fotos para a posteridade'' com Jaeci Emerenciano Galvão.
029. Das torcidas pelo Atheneu, Marista, 7 de Setembro, Escola Industrial, ou por outro colégio nos Jogos Estudantis.
028. Das 'horas' que ficava na saída do colégio, de preferência na calçada, esperando a paquera?
027. Do aprendizado e descoberta do prazer do sexo com as meninas da Boite Arpege, Ideal, etc.
026. Do pavor que tinha de passar perto do Beco da Quarentena com medo de pegar gonorréia.
025. De tomar banho no Rio Potengi perto do Sport ou do Náutico.
024. De que tinha um sonho: um dia ter cacife para ir à Boite de Maria Boa?
023. De que frequentou a "casa de recursos" dos coqueiros na Ribeira com as Rocas.
022. De que visitava o cabaré de Otavio ou o de Inês.
021. De que nega até hoje que um dia foi ao apartamento de Epifânio no 1º andar da Casa Rio.
020. De que nega que foi pelo menos uma vez tomar 'Caldo de Anjo' no Arapuca de Jesiel, pertinho da Praça Gentil Ferreira.
019. De que começava a beber com uma de Conhaque Castelo com Coca-ColaCola para ficar logo no 'grau' e economizar.
018. Do medo que tinha das turmas da Camboim e da Tabica.
017. Das calças que mandava fazer calças e camisas de Martins na rua Felipe Camarão.
016. Da palhoça - vizinho ao Rio Grande.
015. Do Vipinho na Rua. Princesa Isabel
014. Da Toca do Chicão
013. Do caranguejo do É Nosso, além de Bar de Cãindão e do Círculo Militar em Areia Preta.
012. Do Tirraguso e Trapiche na Praia do Meio
011. Do Bar da Apurn - na Ponta do Morcego
010. Do Bar Oasis
009. Da Galinha da Mãe
008. Da Carne de Sol do Lira e do Marinho.
007. Do Bar Minhoto - em frente ao Nordeste
006. Do Bar Dia e Noite - com o velho e simpático garçon Gasolina
005. Dos sorvetes da Confeitaria Ateneu com Severino.
004. Do professor Saturnino e do Curso Pitágoras do prof. Evaldo.
003. De Pedrinho Mendes e Sueldo no "Boteco", cantando no "Boca da Noite", e no "Antigamente".
002. Do Libertè e Boate 775.
001. Da "Ki Show" na João Pessoa.
 

2 comentários:

 
Getulio Jucá disse...
-Dos "FESTIVAIS DE MÚSICAS" no Palácio dos Esportes, com a presença de The Jetsons, Impacto 5, Os Vândalos, etc.
-Dos Pic-nics em Ponta Negra e Pirangi.
-Dos jogos escolares no Silvio Pedroza e Palácio dos Esportes.
Das competições de natação no CAMANA e AEROCLUBE.
-De ir ver os lançamentos de foguetes da Barreira do Inferno, lá na estrada de Piúm.
-Das costumeiras trocas de gibis que acontecia nas calçadas dos cinemas REX, RIO GRANDE, POTY, SÃO PEDRO e São LUIZ.
-Do filme "OS DEZ MANDAMENTOS", que de tão longo tinha o inesquecível intervalo para se fazer "uma boquinha".
-Das aulas do Prof. William (o Bacurau) no Ginásio 7 de Setembro e particular.
-Das quadrilhas de São João da Cirolândia.
-Da "Casa Rubi", "CASA RÉGIO", "CANTINA LETIERE", "LIVRARIA E PAPELARIA WALTER PEREIRA".
-Do Guaraná Dore e do Grapette, comprados na grade direto na fabriga do Sr. Walter Dore.
-Do medo da "Viúva Machado" e da "Tintureira". Quem não tinha????
Arilza disse...
Esse blog é tudo de bom! Me encanto com tantas lembranças maravilhosa! Me vejo andando por Natal, principalmente na minha juventude. Muito obrigada por nos possibilitar esses passeios no tempo. E se recordar é viver, Natal de Ontem é responsável por muitas vidas. Um grande abraço
Ailza, seguidora apaixonada por esse blog.

PADRE LUIZ MONTE


Jurandyr Navarro
Do Conselho Estadual de Cultura

Há 68 anos despedia-se do nosso mundo um dos espíritos mais cin­tilantes que a espécie humana produziu. Dele pode-se dizer outro tanto do que foi fixado para o grande pensador inglês:
"A terra cansada de dar homens comuns, gerou um Shakespeare.”
Faleceu em Natal, cidade em que permaneceu toda sua vida. Uma doença insidiosa trouxe-lhe numa taça de cicuta o veneno da morte.
Deixou o bulício dos mortais com apenas trinta e nove anos de ida­de. O golpe de sua morte foi tão lancinante para a comunidade que serviu e guiava com o archote da sua sabedoria, que abalou a Cidade inteira.
Naquele dia a notícia se espalhou à maneira de um raio: "O Pa­dre Monte morreu".!
Era muito jovem ainda para instilar os miasmas letárgicos. Estava a subir a ladeira da vida anabólica intelectual. Mas seu espírito tinha mil vezes a idade do corpo, por ser um espírito genial de um sábio e de um santo.
Na lage de seu túmulo, encerra a inscrição que diz com eloquência o que foi a sua vida: "Ele tudo fez bem".
Foi ele um dos grandes homens da sua geração. O seu comporta­mento retilíneo, cujo tropismo inclinado para o sol esplendente da Verdade, situou-se no vértice da pirâmide luminosa onde repousam os gigantes da ciência.
A sua inteligência privilegiada abraçava todo âmbito científico, cin­gia todo firmamento do saber humano, mergulhando verticalmente nas profundezas pelágicas do imenso amazonas da sabedoria.
Viveu fazendo o Bem e sempre em busca da Verdade, porque a "Verdade é o fundamento mais sublime" (Píndaro), é "a formosura da alma" (Virgílio), é "o argumento mais forte" (Sófocles).
Abeberou-se tanto do licor sagrado das fontes cristalinas da Ciêcia, que abusou da auto-regulação do seu cérebro genial. O corpo franzi­no não pôde suportar mais o peso enorme de sua cabeça majestosa.
Brilhou intensamente em todos os domínios do saber. A sua mira­culosa cultura desmentiu a afirmação do filósofo germânico Schopenhaeur, para quem:
"Mocidade e sabedoria, a um só tempo, é impossível para um mortal".
O Padre Monte aos vinte e cinco anos já dominara a ciência do seu tempo.
Ele não se parecia com os demais porque era um sábio. E "os sá­bios se diferenciam dos ignorantes como os vivos dos mortos". Era como Leonardo Da Vinci -  "um semi-deus nascido na raça dos homens".
Não passou pela vida sem deixar vestígio, à maneira de um "vôo de pássaro".
A gigantesca planta da sabedoria ele explorou da coifa, percorrendo ao longo do caule até as nervuras dos pecíolos do ramal mais alto. Talvez  não se encontre, nas páginas do Livro do Tempo, quem tivesse assimilado tão imenso cabedal de conhecimentos, com apenas trinta e nove anos de vida! Estudava em nove línguas, dentre as quais o hebraico, o grego e o latim.
Não viveu a idade provecta do nosso "Águia de Haia", nem a do au­tor do "Fausto". No entanto, com o lastro cultural que possuía, acresci­do a mais quarenta anos de    pesquisas,  teria multiplicado a sua sabedoria. Camara Cascudo afirmou ter sio ele “a nossa mais ampla cultura.”
Se dizem que o grande Rui com seus setenta anos era um dicioná­rio ambulante, o padre Monte com seus trinta, apenas, era uma enciclopédia. Já dzia Calderon, ser o genio uma revelaçao de Deus.
Como teria sido distinguida a Ciência, se ele tivesse chegado a viver os oitenta e três anos de Goethe!
Nas porfias dialéticas e disputas teológicas não encontrou adversá­rio. O seu vigoroso talento policultural pulverizava, logo de saída, as li­ções decoradas dos antagonistas.
Se tivesse vivido na Roma de Cícero, teria sido adornado com a coroa de mirto que cingia a fronte dos grandes oradores.
A tocha da Verdade, acesa pelo Cristo, ele tutelou na noite de um mundo repleto de misérias humanas. Pelo seu singular devotamento aos semelhantes, parecia ter se embebido da fulguração radiosa que refulgiu aos olhos deslumbrados das multidões nos acampamentos da Galileia.
Em seu meigo coração residia o Espírito Santo, estava Jesus, a chama da Vida. A sístole e a diástole replicavam a melodia da vida no santuá­rio do seu coração, aberto, todo aberto para o Cristo.
No seu apostolado era o sentinela indormido da Igreja Católica. Defendia a cidadela religiosa dos ataques dos incrédulos, como os fagócitos defendem, muitas vezes, o organismo da ofensiva e da invasão patogênica das chusmas microbianas.
Vestido de luz, a todos ensinava, aconselhava e amava.
A alma do Padre Luiz Monte é aquela "feliz alma que uma centelha divina incendiou e que o fogo sagrado devorou".
A sua morte, embora prematura, e levando-se em conta a sua irre­parável perda para a Igreja, pelo menos durante largo período, não constitui motivo para seus contemporâneos ficarem inconformados, em virtude de ter sido um chamamento de Deus, contra o quai a ninguém é lícito se insurgir.
Não nos deve causar tristeza a sua morte. Devemos afivelar a másca­ra lutuosa por termos em derredor gente de baixa extração, e não por perde­mos os espíritos cintilantes.
A propósito disso, Epemetes, o tirano, certa vez, vendo Demóste­nes chorando pela morte de um filósofo, indagou ao autor da "Oração da Coroa", por que tanto lacrimejava, pois não se concebia um ho­mem do seu quilate em prantos. Respondeu-lhe Demóstenes:

"Não choro eu, ó Epemetes, porque o filósofo morreu, senão por tu que vives; e, se não o sabes, quero te fazer sabê-lo, é que na Academia de Atenas mais choramos nós porque vivem os maus, que porque morrem os bons".

08/07/2014


Natal e a II Guerra (I)


Natal e a II Guerra Mundial - Parte I (Minervino Wanderley*)
Com a chegada da Segunda Grande Guerra, houve a implantação da Base Aérea de Parnamirim, que terminou sendo responsável pela consolidação do bairro do Tirol, além de contribuir para o surgimento dos bairros de Lagoa Seca e Lagoa Nova.
Na visão de Ethiene Reis, morador do Tirol desde 1935, "antes da Grande Guerra, Natal começava pela Ribeira e terminava por aqui, mais ou menos onde é 16º Regimento de Infantaria. Para lá, onde hoje é Candelária Ponta Negra, não tinha nada, tudo deserto", afirma.
Pery Lamartine destaca a importância da Segunda Grande Guerra para Natal, no que se refere à sua geografia:
"Natal tinha cerca de 30 a 40 mil habitantes antes da guerra. A cidade terminava perto do Aero Clube. Para se ter uma idéia, os bondes que faziam a linha para o Tirol, nem chegavam a ir lá. Paravam ali onde hoje é a Associação Atlética Banco do Brasil-AABB, exceto quando tinha baile no Aero, que era uma vez por mês. A última construção que tinha era o prédio do Aero Clube".
Diante dos depoimentos colhidos e das pesquisas feitas, vê-se claramente que a cidade do Natal do pré-guerra não passava de uma grande vila, com carências peculiares a lugares desse porte. Sua infra-estrutura era débil e sua economia não apontava para perspectivas otimistas.
A cidade pacata e pequena, que "cresce sem querer e sem saber porque", que, segundo contam, era uma frase atribuída ao seu filho mais ilustre, o folclorista Luís da Câmara Cascudo, continuaria assim até
O início da Segunda Guerra Mundial. Foi então que sua geografia pesou como nunca no seu crescimento: os americanos, mesmo antes de deflagrada a guerra, perceberam que Natal era a cidade das Américas mais próxima da África. Ou seja, um lugar de grande valor estratégico na defesa do Atlântico Sul.
Sua proximidade com os continentes europeu e africano fez com que, desde a sua fundação, Natal tenha sido sempre um lugar "cortejado" por povos de diferentes origens, que viam a cidade como um perfeito trampolim entre os continentes.
A chegada da Segunda Guerra Mundial mudou radicalmente o perfil da cidade de Natal. A instalação da base militar em Parnamirim provocou impactos econômicos e sociais na cidade, deixando evidente o seu despreparo para absorver essa nova situação que se desenhava.
A chegada de grande contingente militar americano, que em alguns momentos chegou a cerca de 10 mil homens, demandou um aumento na quantidade de serviços nas áreas de construção, infra-estrutura urbana (transportes, hotéis e pensões) e abastecimento. Tal situação atrai, de imediato, a população em razão da oferta de emprego civil e militar, além das oportunidades surgidas pela grande circulação de dinheiro que ocorria na cidade.
Graças ao grande poder aquisitivo do povo americano, a Segunda Guerra trouxe benefícios à população, que passou a conviver com uma moeda - o dólar -de grande lastro, respeitada em todo o mundo e que viria e ser, depois da Guerra, adotada como referência na economia universal. Sobre esses momentos, Guiomar Araújo, esposa do comerciante Alcides Araújo, então proprietário da Casa Rio, conta: "O período da Guerra foi muito bom para o comércio. Além de os americanos gostarem muito de comprar nossas mercadorias, o dinheiro passava de mão em mão. O americano gastava num bar, o dono bar comprava mercadoria para abastecer no mercado, o dono do mercado comprava ao agricultor ou criador e por aí, ia". Via-se, então, que a circulação monetária trazia bens significativos à cidade e seu povo.
Se houve benefícios à sociedade como um todo, o impacto financeiro provocado pela presença americana entre nós também trouxe ganhos individuais. Comerciantes, industriais, proprietários de imóveis etc. Sobre isso, Smith Júnior relata: "Muitos natalenses ganharam dinheiro dos americanos durante a guerra. Um dos primeiros foi a Amélia Machado, que era proprietária da maior parte das terras nas quais a Base de Parnamirim foi construída. Um outro que obteve lucros foi Theodorico Bezerra, proprietário do Grande Hotel, único hotel de Natal naquela época, hospedava os oficiais americanos, recebendo o pagamento em dólares".
Na obra desse historiador, encontramos a história do começo de um dos mais bem sucedidos empresários potiguares. Vejamos: "Um judeu, Moisés Feldman, abriu uma loja na Ribeira, perto do cais do porto, onde vendia relógios aos americanos. Seu negócio tornou-se tão lucrativo que contratou um empregado, Nevaldo Rocha, que mais tarde tornou-se um rico empresário dono de uma cadeia de lojas, as Confecções Guararapes". Com efeito, Nevaldo tornou-se um dos maiores empresários do ramo de vestuário do país, criando uma grande cadeia de fábricas e lojas no Brasil e no exterior, as Lojas Riachuelo.
Por outro lado, a inviabilidade de importar produtos como hortaliças, legumes e aves, levou o comando militar norte-americano a articular, em Natal, a instalação de pequenas unidades de produção agrícola.
Até aquele momento, a agricultura em Natal que ainda era dominada pela monocultura da cana-de-açúcar e pela cultura de subsistência, passou a ter uma outra alternativa econômica fundamentada nos pequenos produtores de hortifrutigranjeiros, contrastando com os latifúndios nas áreas rurais do agreste potiguar.
Como se antevia, os problemas básicos de uma comunidade que cresceu abruptamente e sem planejamento, começaram a surgir, trazendo consigo uma espiral inflacionária. Clementino nos diz que "as restrições ao livre trânsito das mercadorias terminam por provocar uma crise de abastecimento. Os preços dos gêneros de primeira necessidade, como carne, ovos, manteiga, banha, farinha de trigo, feijão, etc, aumentam sensivelmente, tornando-se impossível a manutenção de pessoas de limitados recursos".

(*Jornalista)

07/07/2014


BRASIL, MUNDO E AS CONTAS QUE O POVO PAGA - TOMISLAV R. FEMINICK.




Brasil, mundo e as contas que o povo paga TOMISLAV R. FEMENICK – Diretor da Femenick & Associados, Auditoria e Consultoria. As consideráveis mudanças econômicas e políticas acontecidas no Brasil, no final do século passado e no decorrer deste século, resultaram na intensificação das transações econômico-financeiras com o exterior. A interação do país com o mundo foi conseguida com a implantação de novas sistemática de importação/exportação, visando acelerar o processo de desenvolvimento tecnológico e industrial nacional, o aumento de parcerias comerciais e, ao mesmo tempo, beneficiar o consumidor interno. Alguns dos instrumentos usados foram a adoção de: redução de alíquotas de importação e exportação, programas de financiamento para exportações e seguro de crédito para as vendas externas. Para estimular os investimentos estrangeiros no país, houve de concessões especiais e isenção do imposto de importação e do IPI para máquinas e equipamentos. Acordos econômicos firmaram nossa participação no Mercosul, assegurando nossa fatia no comércio com o bloco e, consequentemente, a área de penetração dos produtos brasileiros na América do Sul, se bem que em níveis aquém do desejável. Porém não conseguimos acordos bilaterais com a União Europeia e outros blocos. Todavia, a nossa carência de recursos exigiu novas medidas para sustentar o fluxo de capital externo. Aumentou-se o prazo médio mínimo de amortizações de empréstimos externos, tanto para novas operações como para suas renovações e prorrogações. Outras regras reduziram as alíquotas de IOF para favorecer as operações de prazo mais longo. Por outro lado, o controle de fluxo de capitais externos foi ampliado com a exigência de registro de informações em contas próprias no Balanço de Pagamentos. No campo do câmbio flutuante, o Banco Central passou a vigiar a oscilação das cotações, intervindo no mercado quando as tendências saem do seu controle. Outros instrumentos, relativos aos ingressos de recursos financeiros, foram editados e impuseram limites às inversões cujas funções visavam essencialmente ganhos financeiros no curto prazo. Entretanto não se pode esquecer o problema da dívida externa governamental. Em março de 2002, no início do seu primeiro mandato, Lula herdou de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, uma dívida externa governamental de US$ 226,962 bilhões. No dia 24 do mês passado, o Banco Central informou que a estimativa para a dívida externa brasileira em maio de 2014 era de US$ 326,695 bilhões; um aumento de quase 44%. Alguns leitores, aqueles que cultivam a habito de se lembrar de fatos recentes, hão de perguntar: e no dia 22 de fevereiro de 2008 Lula, por meio do Ministério da Fazenda e do Banco Central, não disse que a divida externa estava paga? E mais, que a partir daquela data nós brasileiros éramos credores do resto do mundo? O que Lula anunciou foi a sua versão do fato. O que ocorreu, o fato real, foi que o governo pagou cerca de US$ 11,5 bilhões e antecipou um pagamento US$ 3,5 bilhões da dívida com o Fundo Monetário Internacional (FMI), totalizando US$ 15 bilhões. Na verdade o pagamento da dívida com o FMI foi um ato puramente demagógico; não econômico. Isso porque na visão das esquerdas esse organismo (do qual o Brasil é sócio fundador) sempre representou o bicho papão do capitalismo internacional. Mas, para pagar o FMI o governo aumentou a divida interna. Em 2002, também inicio do primeiro mandato de Lula, a dívida interna era de R$ 640 bilhões; em maio passado foi para R$ 2,030 trilhões; um aumento de 217%. Vença quem vencer as próximas eleições, esse é um triste legado para o próximo governo. Sem esquecer dos inevitáveis aumentos da conta de luz, da gasolina, do gás de cozinha etc., etc. e tal. 

 Tribuna do Norte. Natal, 05 jul. 2014.

05/07/2014

Artigo: 20 anos do Estatuto da Advocacia e da OAB

Uma das leis mais importantes do país completa, neste 04 de julho de 2014, os seus primeiros e alvissareiros 20 anos de existência. Trata-se do Estatuto da Advocacia e da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Lei nº 8.906, de 04 de julho de 1994. Antes de se ter aí uma data com caráter comemorativo apenas para a classe dos advogados é de se compreender que essa é uma lei de defesa e proteção do cidadão e que traz não somente prerrogativas e direitos para os causídicos e respaldo legal para a instituição, mas impõe a essa categoria profissional uma série de obrigações e deveres para com a sociedade brasileira.
Seria descabido deixar passar uma data como essa sem lembrarmos os importantes papéis desempenhados pela advocacia brasileira, seja ela de caráter público ou privado. A história é pródiga em demonstrar o quanto é essencial ao país a ampla liberdade de atuação dos advogados, cumprindo deveres cívicos que hoje permitem a ampliação e a consolidação do conceito e mesmo de todo o ideal democrático e seus corolários.
Uma sociedade democrática que avança permanentemente. Isso é o que vemos na atualidade brasileira. Algumas das conquistas mais importantes nessa seara do civismo, das liberdades e garantias do cidadão e da cidadania se permitiram em face da atuação forte e decisiva de ícones da advocacia brasileira. E o Estatuto construído em 1994 veio justamente para contribuir na consolidação dessa visão e dessa prática benéfica a toda a população deste país continental, o que já vinha sendo construído em anos contínuos de uma belíssima história fincada sobre sólidas raízes.
Assim como a Carta Magna de 1988 que, em seu artigo 133, demonstra a indispensabilidade do advogado, na condição de partícipe fundamental para o pleno desempenho da Justiça, o Estatuto da Advocacia e da OAB trouxe imensa colaboração no sentido de que se firme o travejamento mais amplo e sólido para a OAB em correlação com as demais instituições – não somente para a obtenção de fins imediatos  para essa entidade histórica – até mesmo porque há uma saudável interdependência e necessário equilíbrio na construção de um cenário político e jurídico harmonioso, qualificado e edificante.
Assim, necessário que reste evidenciado e translúcido que a Lei nº 8.906, de 04 de julho de 1994, o valoroso Estatuto da Advocacia e da OAB, é um marco legal dotado de significativa importância para todos os brasileiros que, dele servindo-se, terão sempre à mão um diploma normativo que se ergue em defesa da mais aperfeiçoada cidadania, algo cada vez mais presente e mais próximo de realização palpável, concreta e definitiva em nosso país.

Por: Lívio Oliveira – Advogado público federal e Conselheiro da OAB/RN

VANDALISMO


No instante em que lutarmos para reformar a estrutura física do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte e realizamos o trabalho de revisão na catalogação do acervo, com extremo sacrifício, a bandidagem se ocupa para danificar o patrimônio que é do povo, isto pela 5ª vez na atual gestão, embora sejam feitos Boletins de Ocorrência na Delegacia da Cidade Alta e comunicações ao IPHAN e FJA.
Já roubaram todos os nossos refletores externos, arrombaram a casa da bomba hidráulica e levaram a mangueira contra incêndio, os cabos de ligação dos aparelhos de climatização, placas comemorativas colocadas no largo Vicente Lemos e danificaram janelas e portas, além dos constantes pichamentos e colocação de dejetos em suas cercanias


 Tais fatos, contudo, não diminuirão o nosso entusiasmo e empenho para dotar o nosso IHGRN, muito brevemente, de uma sede acessível ao público e espaço para grandes eventos culturais, como já estamos agendando a partir do mês de agosto próximo vindouro.
Temos recebido diariamente provas de respeito e cooperação, ingresso de novos sócios, doações como aconteceu recentemente com a entrega de um lustre de cristal e bronze, por liberalidade do Dr. Paulo Sérgio Luz, o qual será colocado no salão nobre da

 Instituição, além das ajudas constantes de empresas privadas, a Arquidiocese de Natal,  edilidades potiguares, Governo do Estado, Fundação José Augusto, dos Senhores e Senhoras Deputados, Vereadores, PMN, UFRN, FIERN, FECOMÉRCIO, SEBRAE e entidades agregadas, os quais serão devidamente referenciados e homenageados em breve solenidade. 
Esperamos a adesão de todos os nossos sócios e pessoas beneméritas da cidade para uma corrente de solidariedade em prol da nossa secular CASA DA MEMÓRIA, como assim a denominou o inesquecível LUÍS DA CÂMARA CASCUDO.