PARABÉNS AO NOSSO CONFRADE.
13/03/2017
10/03/2017
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H O J E
ACADEMIA DE LETRAS JURÍDICAS DO RIO
GRANDE DO NORTE
A L E J U R N
COMUNICAÇÃO Natal, 03 de fevereiro de 2017
Estimado Confrade,
Comunicamos que no
próximo dia 10 do mês março próximo vindouro, no período de 9 às 17 horas
estaremos recebendo os votos para a eleição do novo (a) acadêmico (a) para a
cadeira nº 03 – Patrono ALVAMAR FURTADO DE MENDONÇA, para a qual se inscreveram dois candidatos:
FRANCISCO HONÓRIO DE MEDEIROS FILHO e ISABEL HELENA MARINHO.
Por oportuno, informamos que o voto poderá
ser sufragado por correspondência, nos termos do Regimento Interno vigente,
desde que entregue à Comissão Eleitoral dentro do prazo do processo de votação
ou pelo processo eletrônico aos cuidados do Presidente da Comissão Eleitoral
JURANDYR NAVARRO DA COSTA, através do endereço: alejurn2007@gmail.com
Qualquer
dúvida poderá ser esclarecida através do telefone 3232-2890.
Respeitosamente
________________________________
LÚCIO TEIXEIRA DOS SANTOS
Presidente da ALEJURN
09/03/2017
BAR
GATO PRETO E PENSÃO DA ESPERANÇA
Valério Mesquita*
Mesquita.valerio@gmail.com
01) Na chamada "Cinco
Bocas", território humano e sentimental de Macaíba, não existe mais o bar
"Gato Preto", que tem suas origens nos primórdios da
"civilização". Foram mais de cem anos de história viva, de pastores
da terra, das nuvens, das estrelas, queimando vigílias na província submersa.
Chão sagrado de antepassados, povoado de rostos ocultos, de figuras pálidas por
longas noites assombradas. Nele vislumbro os vultos inaugurais de Zé Solon,
Alberto Silva, Chico Cajueiro, Lula Ramos, Jorge Chocalheiro, Zé Pelado, Manoel
Sabino, Chico de Dulce, Banga, Sinval Duarte, Manoel Pixilinga, Jorge de Papo,
Odilon Benício, entre tantos outros que desapareceram vítimas do tempo, esse
astrólogo arbitrário. As “Cinco Bocas” ferinas, são cinco ruas que deságuam
como um rio noturno na intimidade simples dos lençóis de minha terra. Rua do
Cajueiro, rua do Benjamim, beco de seu Alfredo, beco do Mercado e rua da Cruz.
Esse pedaço de chão no centro de Macaíba carrega a saga lírica, popular e
mística de muitos obreiros que gastavam saliva diariamente no pórtico de suas
entranhas, de suas calçadas. O "Gato Preto", sempre foi o antigo
desterro de mim mesmo, da infância perdida mas petrificada no silêncio de suas
paredes. Mas, o que importa é que por onde andei eu carreguei o seu andor.
Mesmo deformado fisicamente, o seu espírito vive. Basta contemplá-lo e
deixar-se envolver na sua atmosfera densa, no centro de Macaíba. Era um bar,
com todos os seus habitantes. Figuras opacas, empíricas, etílicas. Todos
reduzidos a humanidade comum. Todos crentes de que a verdade e a vida nunca
estão num único sonho mas em muitos. Era o nosso “Grande Ponto” que tombou e
morreu como o de Natal. Tanto ontem quanto hoje, caracterizou-se como um
cenário profuso e difuso, tecido de conversas banais, de palavras soltas,
malandras, boatos, chafurdos soprados pelo errante vento da esquina. Tudo
coisas fugidias: prateleiras, garrafas solitárias e eternas, sinucas, bilhares.
Todos os seus notívagos caminheiros são incertos, dispersos e derradeiros. Aí
de nós se não fosse o mistério do nome, do 13, do “Gato Preto”. Por que “Gato
Preto”? Não sei. As coisas misteriosas são fascinantes.
02) Na primavera política
do início dos anos sessenta no Rio Grande do Norte, pontificava na província
submersa de Macaíba, a imbatível Pensão da Esperança. Nasceu no fragor das
lutas eleitorais e foi a nau catarineta do aluizismo. Nela singrava o mar
encapelado da política macaibense, a capitã de longo curso e minha prima
Graziela Mesquita. Bacurau de cinco estrelas, Grazi era uma das dissidências
dos Mesquita. Situada à rua de Nossa Senhora da Conceição, a Pensão da
Esperança, era também o Porto Seguro das caravanas, das manifestações
aluizistas e quem fosse arara jamais seria hóspede. Graziela solteirona
invicta, mas parecia uma matrona romana. Andava nas pontas dos pés, como se
fosse desabar de frente. Pesava-lhe muito o imenso busto-arbusto. Elétrica,
vibrante, frenética e fanática, era simpática com todos os seguidores da causa.
Nesses tempos trepidantes tivemos uma relação política difícil mas respeitosa.
Isso influiu, para que, mas tarde, tornássemos correligionários, até a sua
morte. A Pensão da Esperança era o termômetro político da cidade mas também o
alvo possível das manifestações hostis do dinartismo radical. De quando em vez,
ocorriam "atentados à bomba" no recinto, obra de alguns
ativistas sorrateiros para perturbar o sossego de Graziela e testar o seu
prestígio. Mas, nem era preciso. Como um raio, riscava à porta o delegado de polícia
para as necessárias averiguações e prisão dos culpados. Grazi era intocável, um
patrimônio tombado e vivo da cruzada da esperança. Outro enfoque político digno
de nota, era a sua fiel ala-moça, treinada para cantar as canções de Aluízio. "Cigano
feiticeiro, teu feitiço, ai meu Deus, eu faço tudo, tudo pelo governo seu e o
eleitor o que deve fazer? É virar cigano e votar com você". Isso sem
falar na canção principal que dizia que "Aluízio Alves veio do sertão,
lá do Cabugi...". Assim se passou uma página folclórica, melódica,
ingenuamente dramática e humana da vida política de Macaíba, que teve na Pensão
da Esperança o oxigênio natural desse mundo frágil e encantado. O seu antigo
endereço desapareceu com a sua proprietária, só restando a memória visual e
auditiva da reconstituição dos gestos, das verdes bandeiras pandas ao vento, do
ruído da multidão, da silhueta de Graziela, tudo como uma saudade suspensa no
ar, mas renovada todas as vezes que passo pela calçada.
(*) Escritor.
08/03/2017
PARABÉNS
Dia Internacional da Mulher
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Dia Internacional da Mulher | |
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Poster alemão de 1914 em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, conclama o direito ao voto feminino. | |
SEGUIDO POR: | |
África do Sul, Albânia Angola, Argélia, Argentina, Arménia, Azerbaijão, Bangladesh, Bélgica, Bielorrússia, Butão, Bósnia e Herzegovina, Brasil, Bulgária, Burkina Faso, Camboja, Camarões, Chile, China, Colômbia, Croácia, Cuba, Chipre, Equador, Eslováquia, Eslovénia, Espanha, Estónia, Dinamarca, Finlândia, Geórgia, Grécia, Holanda, Hungria, Ilha de Formosa, Índia, Itália, Islândia, Israel, Laos, Letónia, Lituânia, Cazaquistão, Kosovo, Quirguistão, Macedónia, Malta, México, Moldávia, Mongólia, Montenegro, Nepal, Noruega, Polónia, Portugal, Roménia, Rússia, Sérvia, Suécia, Síria, Tadjiquistão, Turquia, Turquemenistão, Ucrânia, Uzbequistão, Vietname, Zâmbia | |
DATA: 8 de Março | |
OBSERVAÇÕES: Relembra as lutas sociais, políticas e econômicas das mulheres. |
O Dia Internacional da Mulher é celebrado em 8 de março. A ideia de criar o Dia da Mulher surgiu no final do Século XIX e início do século XX nos Estados Unidos[1] e na Europa, no contexto das lutas femininas por melhores condições de vida e trabalho, de direito de voto. Em 26 de agosto de 1910, durante a Segunda Conferência Internacional das Mulheres Socialistas em Copenhaga, a líder socialista alemã Clara Zetkin propôs a instituição de uma celebração anual das lutas por direitos das mulheres trabalhadoras.[2][3]
As celebrações do Dia Internacional da Mulher ocorreram a partir de 1909 em diferentes dias de fevereiro e março, a depender do país [1]. A primeira celebração se deu em 28 de fevereiro de 1909 nos Estados Unidos, seguida de manifestações e marchas em outros países europeus nos anos seguintes, usualmente durante a semana de comemorações da Comuna de Paris, ao final de março. As manifestações uniam o movimento socialista, que lutavam por igualdade de direitos econômicos, sociais e trabalhistas ao movimento sufragista, que lutava por igualdade de direitos políticos. Em 1910, durante uma conferência internacional das mulheres, que antecedeu a realização da reunião da Segunda Internacional Socialista de Copenhague, Dinamarca, foi estabelecido o Dia Internacional da Mulher, celebrado no ano seguinte no dia 19 de março por meio de numerosas manifestações em países como Alemanha, Áustria-Hungria, Dinamarca e Suíça[4].
Posteriormente, no início de 1917 na Rússia, ocorreram manifestações de trabalhadoras russas por melhores condições de vida e trabalho e contra a entrada da Rússia czarista na Primeira Guerra Mundial. Os protestos foram brutalmente reprimidos, precipitando o início da Revolução de 1917.[5][6] A data da principal manifestação, 8 de março de 1917 (23 de fevereiro pelo calendário juliano), foi instituída como Dia Internacional da Mulher entre o movimento internacional socialista.
Após 1945, a data tornou-se principalmente um feriado comemorado nos países do chamado bloco comunista. Em 1955, segundo as autoras francesas Liliane Kandel e Françoise Picq, surgiu o mito de que a data teria como origem a celebração da luta e da greve de mulheres trabalhadoras do setor têxtil em Nova York em 1857 que haviam sido duramente reprimidas pela polícia ou mortas em um incêndio criminoso na fábrica, segundo diferentes versões do mito. Não há indícios de que isso tenha ocorrido e segundo as autoras, a origem desta versão ocorreu entre feministas francesas que durante a Guerra Fria buscavam uma origem à comemoração que estivesse desvinculada da história da luta socialista [7] [8].
Na antiga União Soviética, durante o stalinismo, o Dia Internacional da Mulher tornou-se elemento de propaganda partidária. Também era amplamente celebrado nos países do bloco socialista na Europa Ocidental.
Nos países ocidentais, o Dia Internacional da Mulher foi comemorado no início do século, até a década de 1920, tendo sido esquecido por longo tempo e somente recuperado pelo movimento feminista na década de 1960. Na atualidade, a celebração do Dia Internacional da Mulher perdeu parcialmente o seu sentido original, adquirindo um caráter festivo e comercial. Nessa data, os empregadores, sem certamente pretender evocar o espírito das operárias grevistas do 8 de março de 1917,[8] costumam distribuir rosas vermelhas ou pequenos mimos entre suas empregadas.
Em 1975, foi designado pela ONU como o Ano Internacional da Mulher e, em dezembro de 1977, o Dia Internacional da Mulher foi adotado pelas Nações Unidas, para lembrar as conquistas sociais, políticas e econômicas das mulheres.[9]
Origem
A ideia de instituir o Dia Internacional da Mulher surge na virada do século XX, no contexto da Segunda Revolução Industrial e da Primeira Guerra Mundial, quando ocorre a incorporação da mão-de-obra feminina, em massa, na indústria.
O primeiro Dia Internacional da Mulher foi celebrado em 28 de fevereiro de 1909 nos Estados Unidos, por iniciativa do Partido Socialista da América, em memória do protesto das operárias da indústria do vestuário de Nova York contra as más condições de trabalho. [10]
Em 1910, ocorreu a primeira conferência internacional de mulheres, em Copenhaga, dirigida pela Internacional Socialista, quando foi aprovada proposta da socialista alemã Clara Zetkin, de instituição de um Dia Internacional da Mulher, embora nenhuma data tivesse sido especificada.[11][12]
No ano seguinte, o Dia Internacional da Mulher foi celebrado a 19 de março, por mais de um milhão de pessoas, na Áustria, Dinamarca, Alemanha e Suíça.[4]
Poucos dias depois, a 25 de março de 1911, um incêndio na fábrica da Triangle Shirtwaist mataria 146 trabalhadores - a maioria costureiras. O número elevado de mortes foi atribuído às más condições de segurança do edifício. Este foi considerado como o pior incêndio da história de Nova Iorque, até 11 de setembro de 2001. Para Eva Blay, é provável que a morte das trabalhadoras da Triangle se tenha incorporado ao imaginário coletivo, de modo que esse episódio é com frequência desde a década de 1950 erroneamente considerado como a origem do Dia Internacional da Mulher.[13] [14]
Em 1915, Alexandra Kollontai organizou uma reunião em Christiania (atual Oslo), contra a guerra. Nesse mesmo ano, Clara Zetkin faz uma conferência sobre a mulher.
Na Rússia, as comemorações do Dia Internacional da Mulher foram o estopim da Revolução russa de 1917. Em 8 de março de 1917 (23 de fevereiro pelo calendário juliano), a greve das operárias da indústria têxtil contra a fome, contra o czar Nicolau II e contra a participação do país na Primeira Guerra Mundial precipitou os acontecimentos que resultaram na Revolução de Fevereiro. Leon Trotsky assim registrou o evento: “Em 23 de fevereiro (8 de março no calendário gregoriano) estavam planejadas ações revolucionárias. Pela manhã, a despeito das diretivas, as operárias têxteis deixaram o trabalho de várias fábricas e enviaram delegadas para solicitarem sustentação da greve. Todas saíram às ruas e a greve foi de massas. Mas não imaginávamos que este ‘dia das mulheres’ viria a inaugurar a revolução”. [8]
Após a Revolução de Outubro, a feminista bolchevique Alexandra Kollontai persuadiu Lenin para torná-lo um dia oficial que, durante o período soviético, permaneceu como celebração da "heroica mulher trabalhadora". No entanto, o feriado rapidamente perderia a vertente política e tornar-se-ia uma ocasião em que os homens manifestavam simpatia ou amor pelas mulheres - uma mistura das festas ocidentais do Dia das Mães e do Dia dos Namorados, com ofertas de prendas e flores, pelos homens às mulheres. O dia permanece como feriado oficial na Rússia, bem como na Bielorrússia, Macedónia, Moldávia e Ucrânia.
Na Tchecoslováquia, quando o país integrava o Bloco Soviético (1948 - 1989), a celebração era apoiada pelo Partido Comunista. O MDŽ (Mezinárodní den žen, "Dia Internacional da Mulher" em checo) era então usado como instrumento de propaganda do partido, visando convencer as mulheres de que considerava as necessidades femininas ao formular políticas sociais. A celebração ritualística do partido no Dia Internacional da Mulher tornou-se estereotipada. A cada dia 8 de março, as mulheres ganhavam uma flor ou um presente do chefe. A data foi gradualmente ganhando um caráter de paródia e acabou sendo ridicularizada até mesmo no cinema e na televisão. Assim, o propósito original da celebração perdeu-se completamente. Após o colapso da União Soviética, o MDŽ foi rapidamente abandonado como mais um símbolo do antigo regime.
No Ocidente, o Dia Internacional da Mulher foi comemorado durante as décadas de 1910 e 1920. Posteriormente, a data caiu no esquecimento e só foi recuperada pelo movimento feminista, já na década de 1960, sendo, afinal, adotado pelas Nações Unidas, em 1977. A data mantém hoje relevância internacional, e a própria ONU continuava a dinamizá-la, como sucedeu em 2008, com o lançamento de uma campanha, “As Mulheres Fazem a Notícia”, destinada a chamar a atenção para a igualdade de gênero no tratamento de notícias na comunicação social mundial. [15]
Referências
- Ir para cima ↑ International Womens Day, 8th March. The University of Queensland, Australia.
- Ir para cima ↑ Díaz, René (29 de abril de 2007). «Diplô - Biblioteca: Copenhague, contracultura e repressão:». René Vásquez Díaz. Consultado em 8 de março de 2016
- Ir para cima ↑ «Alexandra Kollontai 1920. International Womens' Day». Consultado em 8 de março de 2016
- ↑ Ir para: a b Eva Alterman Blay (8 de março de 2010). «As mulheres faziam parte das "classes perigosas"». Carta Maior. Cartamaior.com.br
- Ir para cima ↑ About International Women's Day (8 March) internationalwomensday.com
- Ir para cima ↑ International Womens Day, 8th March
- Ir para cima ↑ «ON THE SOCIALIST ORIGINS OF INTERNATIONAL WOMEN'S DAY» (PDF)
- ↑ Ir para: a b c Conquistas na luta e no luto. Ao contrário do que ressalta o imaginário feminista, o 8 de março não surgiu a partir de um incêndio nos Estados Unidos, mas foi fruto do acúmulo de mobilizações no começo do século passado. Por Maíra Kubík Mano. História viva.
- Ir para cima ↑ «Sobre a adoção, pelas Nações Unidas, do dia 8 de março como o Dia Internacional da Mulher». Nações Unidas. Un.org
- Ir para cima ↑ «History of International Women's Day». Nações Unidas. Un.org
- Ir para cima ↑ «History of the Day». Nações Unidas. Un.org
- Ir para cima ↑ A woman's place is in the revolution. Elizabeth Schulte conta a pouco conhecida história do Dia Internacional da Mulher. 8 de março de 2011.
- Ir para cima ↑ Cinderela M. F. Caldeira. «Dia Internacional da Mulher». Revista Espaço Aberto. Usp.br
- Ir para cima ↑ «ON THE SOCIALIST ORIGINS OF INTERNATIONAL WOMEN'S DAY» (PDF)
- Ir para cima ↑ Como Tudo Funciona
07/03/2017
Fernando Pessoa, o nada que é tudo
24/02/2017
texto Gustavo Sobral e ilustração Arthur Seabra
Foi Fernando, antes de ser Pessoa – dito assim por Saramago, outro
super Camões. E de pessoa passou a mito no retrato que se apaga no
tempo, enquanto o tempo lhe constrói o mito. É aquilo mesmo que ele
vaticinou em Mensagem, único livro publicado em vida: é o nada que é
tudo. Sua poesia não publicada é cânone e um arrepio de descoberta. É
bom que se adiante que foi um sendo vários. Criou poetas imaginados com
nome, personalidade, vida e poesia. Fernando Pessoa não foi uma só voz,
foi muitas. Todas as possíveis. Haroldo de Campos, Alberto Caieiro,
Ricardo Reis. Três deles.
Décima segunda entrevista da série entrevistas imaginadas,
quando se falará de e com poetas e escritores, pelo que já disseram em
seus versos e prosa, por isso, imaginadas, mas nunca imaginárias, porque
o fundo da verdade é o que já disse e está estampado no que já
disseram. O entrevistado da vez, como se disse, é poeta, é português, é
Fernando Pessoa. Poeta da beleza e dos mistérios da vida. Aqui respostas
do poeta em versos colhidos em antologias.
Entrevistador: Fernando Pessoa por Fernando Pessoa?
Fernando Pessoa: Este que aqui aportou foi por não ter existido.
E: E o que é de tudo na vida para acontecer?
FP: Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
E: E Portugal?
FP: Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez. Senhor, falta cumprir-se Portugal!
E: Deus deu ao mar perigo e abismo, não foi poeta?
FP: Mas nele é que espelhou o céu.
E: E o mar?
FP: ó mar salgado, quanto do seu sal são lágrimas de Portugal!
E: E aqueles que acenam um lenço de despedida?
FP: São felizes: têm pena... eu sofro sem pena a vida.
E: E o poeta, quem é?
FP: É um fingidor.
E: Fingidor?
FP: Finge tão completamente e que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente.
E: E você, poeta, finge?
FP: Dizem que eu finjo ou minto tudo o que escrevo. Não. Eu simplesmente sinto com a imaginação.
E: E quem é que deve sentir?
FP: Sinta quem lê!
E: E o que fazer da vida?
FP: Dorme, que a vida é nada! Dorme que tudo é vão!
E: Um conselho, poeta?
FP: Cerca de grandes muros quem te sonhas.
E: Liberdade para o poeta, é...
FP: não cumprir um dever, ter um livro para ler e não fazer!
E: És o que poeta? [Álvaro de Campos, um dos heterônimos toma a palavra, e responde]
Álvaro de Campos: Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
E: E quem foi tu, Álvaro de Campos?
AC: fui como ervas, e não me arrancaram.
E: E o que faz da vida?
AC: enquanto não morro, falo e leio.
E: E o que lhe ensinou a vida? [Alberto Caeiro, outro heterônimo, toma a palavra]
Alberto Caeiro: eis o que os meus sentidos aprenderam sozinhos: as coisas não têm significação: têm existência.
E: E foi feliz?
AC: fui feliz porque não pedi cousa alguma, nem procurei achar nada.
E: Afinal, o que escreve a pena do poeta? [surge então Sá Carneiro, outro heterônimo, e encerra a entrevista, respondendo por todos]
Sá Carneiro: tenho uma pena que escreve aquilo que eu sempre sinta... se é mentira escreve leve. Se é verdade, não tem tinta.
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