HUMANISMO POLÍTICO E SOCIAL
Valério Mesquita
01) Açu é um filão de
estórias que não tem fim. Ronaldo Soares, captador permanente dessa
atmosfera densa e intensa, passou-me mais uma. Seu conterrâneo Zé Gago
andava às turras com a esposa Isabel. Em suma: havia arranjado uma rival. Revoltada,
a família se reuniu para lavrar aquele protesto e chamar o esposo e pai à
responsabilidade. Em sua defesa, Zé Gago veio com um argumento genial: “Meus
filhos, arranjei uma mulher, é verdade, mas foi prá poupar sua mãe”.
Inconformada, dona Isabel saiu do seu silêncio: “Se foi por esse motivo, pode
me rasgar toda!!”.
02) Comício de Ronaldo
Soares em Açu. Povo
doidão na praça. O locutor vibrante anuncia a palavra de Chico Galego,
candidato a vereador, líder da Lagoa do Piató. Ao receber o microfone sem
fio, assustou-se com o equipamento e tratou de reclamar: “Cadê a correia dele
Lourinaldo, cadê a correia, esse bicho não vai falar de jeito nenhum!!!”. Aí a
galera vibrou.
03) Campanha de 1990,
para senador e governador. Cenário: praça pública de João Câmara em plena feira
multifária e multifusa. Os dois candidatos Garibaldi Filho e Lavoisier Maia
iniciaram às 10 da matina o famigerado corpo a corpo. Gari, vagaroso no andar,
verdadeiro “pé de chumbo”, caminha atrasado e na dianteira, disparado, vai
Lavô, o famoso beijoqueiro. Lá na frente, Gari alcança Lavô. Compassadamente,
Gari cumprimenta: “Doutor Lavô, nunca se cansa. Parou por quê?”. Disfarça Lavô:
“Prá lhe esperar. Pois nessa pressa já beijei até um macho!!!”.
04) Campanha eleitoral de
1998. Em São João
do Sabugi o então candidato Vidaldo Costa discursava em seu palanque solitário
e pedia votos para si e para o irmão Vivaldo, apesar das rugas. Nisso, chega o
ex-prefeito de Caicó Sílvio Santos pedindo para falar. Dadá concede e o médico
larga o verbo. Lá pras tantas, Sílvio, que apoiava para deputado federal o
professor João Faustino, começa a elogiar o seu candidato. Lá em baixo do
palanque, na fila do gargarejo, de repente, um bêbado puxa-lhe com violência a
boca da calça que o faz desandar e grita: “Peça voto também pro papa seu
f.d.p!!!”. O papa era o pecador Vivaldo Costa.
05) O eloquente e saudoso
professor Paulo Viveiros ministrava Direito Romano na velha faculdade da
Ribeira. Empolgado com o tema do assassinato de César no senado romano, descia
a detalhes como se estivesse num júri popular. “Esse homem, foi assassinado com
requintes de perversidade e a primeira cutilada mortal foi desferida pelo senador
Casca”, ensinava em tom quase patético, e virando-se como um raio para um
aluno, perguntou à queima roupa: “Qual o seu nome?”. “Seu nome?”, respondeu o
estudante distraído: “Geraldo Bezerra de Araújo, vulgo Delegado”. “Não, seu
idiota!! Estou falando de César!! Júlio César!!”. Pelo visto, o nosso colega
estava em outro crime.
06) Uma frase filosófica
e reveladora de quão ilusória é a atividade política foi proferida, certa vez,
pelo ex-prefeito e ex-deputado Creso Bezerra. Ao ser indagado pelo escritor
Alvamar Furtado por que deixara a política ele respondeu prontamente: “Deixei a
política em razão do que ouvi de um matuto lá da Paraíba. Disse-me ele:
Política, doutor Creso, é para rico besta e pobre sabido”.
07) Procurado por um
correligionário abarrotado de multas do Detran, o deputado Álvaro Dias escreveu
ao diretor do órgão pedindo condescendência para algumas das infrações, cujo
total somava três mil e poucos reais.
Dia seguinte, desiludido, o eleitor caicoense voltou a Álvaro Dias: “Deputado,
o homem disse que não tirava uma multa!”. Álvaro recorreu ao telefone:
“Lindolfo, esse homem é pobre. As multas estão acima de três mil reais e o seu
veículo foi avaliado em cinco mil reais por uma agência!”. “Presidente,
infelizmente nada posso fazer. É a lei!”, responde do outro lado da linha o
diretor. “Então”, disse Álvaro, “fique com o carro dele e lhe devolva o troco e
tamos conversado”. Se a moda pegar...
(*) Escritor