10/01/2017


Mulher se surpreende com o próprio rosto em carrinho de crepe na praia em Natal
Moradora de Curitiba, ela publicou a foto diante do carrinho no Facebook e a imagem foi compartilhada mais de 24 mil vezes
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 postado em 07/01/2017 11:22


Como dizem, é cada dia um Black Mirror diferente… A jornalista Fran Azevedo estava de férias, na praia em Natal, quando pimba! Viu o próprio rosto estampado em um carrinho de um ambulante vendedor de crepes.



Moradora de Curitiba, ela publicou a foto diante do carrinho no Facebook e a imagem foi compartilhada mais de 24 mil vezes até a publicação deste texto.

O episódio inusitado ocorreu porque de alguma maneira chegou ao ambulante a foto que Fran postou em 2013: na ocasião ela estava ruiva, segurando crepes para uma reportagem gastronômica.


Em vez de implicar com o uso indevido, a moça entrou na onda para lidar com a situação (postura que foi inclusive elogiada nas redes sociais). Fran traduziu o bom humor com uma chuva de tags fofas no post: #vacation #goodvibes #tôdeférias #todapositividade #happy #tôfamosa #garotapropaganda.

Por Fred Bottrel, do Estado de Minas.
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Crédito: Eventos Assessoria - eventusbr@yahoo.com.br

09/01/2017

   
Marcelo Alves

 

O museu e a biblioteca

Dividida em cidade velha e cidade nova, dominada pelo seu castelo e pela Royal Mile (a cidade velha, me refiro, que é certamente a mais interessante), Edimburgo, capital da Escócia, é uma urbe belíssima, com poucas rivais, nesse quesito, na Europa. A depender da época do ano em que você a visite, é um pouco escura, é verdade. E é também um pouco triste – pelo menos essa foi a minha sensação –, sobretudo se você prestar demasiada atenção (foi o meu caso na última vez que estive por lá) na história do pequeno Greyfriars Bobby, um cãozinho terrier local que, por quatorze anos, tomou conta do túmulo do seu amado dono. 

Mas, reitero, Edimburgo é belíssima. 

E como se isso não bastasse, para nós, amantes dos livros, Edimburgo tem, embora pequenino, um “Museu dos Escritores”. Mais precisamente, um museu dedicado à vida e à obra de três grandes literatos escoceses: Robert Burns (1759-1796), Walter Scott (1771-1832) e Robert Louis Stevenson (1850-1894, sobre quem, já faz alguns anos, escrevi aqui). Hospedado numa casa que data de 1622 (renovada algumas vezes, por óbvio), sita na rua/praça denominada “Lady Stair’s Close”, o museu está caprichosamente decorado com primeiras edições, mobília e inúmeros objetos que pertenceram aos três grandes escritores, além, claro, de contar a vida e explicar um pouco da obra dos homenageados. E há também, de vez em quando, pequenas exposições temporárias que dão ao museu, como ele mesmo afirma, “a oportunidade de celebrar a vida e obra de outros escritores que contribuíram para o desenvolvimento e para diversidade da literatura escocesa”. Isso sem falar na lojinha que vende artigos e livros sobre livros, onde você pode sempre encontrar algo do seu agrado. Por exemplo, foi lá que, por precisas 12,99 libras, adquiri algo que procurava desde o início da minha peregrinação pelas terras de David Hume (1711-1776) e Adam Smith (1723-1790): “The Literary Traveller in Scotland: a Book Lover’s Guide”, de Allan Foster, Mainstream Publishing, 2007. Um livro/guia que, confesso, deveria ter usado mais em minha estada na Escócia, mas que, de toda sorte, me está sendo útil para elaborar este riscado. 

E mais: Edimburgo sedia uma maravilhosa Biblioteca Nacional da Escócia (“National Library of Scotland - NLS”, no original), cujo prédio principal, de fachada belíssima, fica na George IV Bridge, bem pertinho da Royal Mile, na cidade velha. Curiosamente, a NLS foi formalmente criada em 1925, por ato do Parlamento do Reino Unido, a partir de doação feita à nação, pela “Faculty of Advocates” (uma espécie de OAB escocesa), de todo o seu acervo de livros não jurídicos. É a maior biblioteca da Escócia e um dos seis depósitos legais de livros para o Reino Unido e a República da Irlanda (juntamente com a British Library/London, a Bodleian Library/Oxford, a University Library/Cambridge, a Library of Trinity College/Dublin e a National Library of Wales/Aberystwyth). 

Seu acervo é contado em milhões: quinze milhões de livros impressos; dois milhões de mapas, que datam de mais de setecentos anos; sete milhões de manuscritos; dois milhões de documentos públicos originados no Reino Unido, na Escócia, nos EUA e em muitos países da Commonwealth; dezenas de milhares de periódicos; muitos milhares de gravações musicais, de filmes e de fotografia; e por aí vai. Tudo isso aberto ao público, in loco e online, da forma o menos burocrática possível, gratuitamente. 

No mais, como toda grande biblioteca, a Biblioteca Nacional da Escócia é também um excelente museu. Parte do seu rico acervo, com suas obras raras, é exibido, em local próprio, para nós pobres mortais. Sua coleção de mapas é orgulhosamente propagandeada como uma das maiores do mundo. Isso sem falar nos eventos e nas exibições temporárias. Por exemplo, quando estive por lá no ano passado, uma dessas exibições – “Playing Shakespeare: 400 years of great acting” – era comemorativa dos quatrocentos anos da morte de Shakespeare (1564-1616) e tratava dos muitos atores que, nesses quatro séculos de história e estórias, interpretaram as personagens desse grande conhecedor da alma humana. Outra exibição acontecendo por aquela época chamava-se “Praga! Uma história cultural das doenças contagiosas na Escócia” (“Plague! A Cultural History of Contagious Dideases in Scotland”), sobre a peste negra, a cólera, o tifo e outras mazelas, muito interessante por sinal, mas que dei apenas uma espiada, já ressabiado e triste que vinha com outras histórias ou lendas (quem sou eu para decidir) de bruxas, espíritos, cães e túmulos nessa cidade milenar. 

Bom, minha sugestão final para Edimburgo: visite o Museu dos Escritores, dê uma passada na Biblioteca Nacional da Escócia e, principalmente, tente não pensar muito na história do fiel Greyfriars Bobby, sobretudo se você já estiver na terceira ou quarta dose do uísque nacional. 


Marcelo Alves Dias de Souza
Procurador Regional da República
Doutor em Direito pelo King’s College London – KCL
Mestre em Direito pela PUC/SP

07/01/2017

 
   
Tomislav R. Femenick

 
Matérias publicadas por Tomislav R. Femenick nos anos de 1967/71 sobre o Aeroporto Dix-Sept Rosado
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AEROPORTO VAI REINICIAR SUAS ATIVIDADES 
MOSSORÓ, 16 – O Ministério da Aeronáutica forneceu ao Aeroporto Dix-Sept Rosado todo material necessário ao balizamento daquele campo de pouso de aeronaves. O material já está sendo montado e instalado, esperando-se para este mês, ainda, o término do serviço. 
LINHAS AÉREAS – Agora, com este trabalho de iluminação, está o aeroporto de Mossoró capacitado a receber pouso a qualquer hora. Espera-se que as companhias de aviação voltem a fazer escala nesta cidade, preparada tecnicamente que está para isso. 
Por outro lado, o Centro das Indústrias está envidando esforços nesse sentido. Já foi feita solicitação à direção da SADIA (Transportes Aéreos S.A), para que, quando da extensão de sua linha São Paulo-Recife até Fortaleza, seja incluída uma escala nesta cidade. A “Paraense” e a VARIG são empresas que poderão também fazer pouso em Mossoró. 
HOTEL – Um dos fatores que poderiam contribuir ainda mais para abreviar o reinicio das atividades de companhias de aviação em Mossoró, seria a abertura do Esperança Palace Hotel, inaugurado oficialmente no término do governo Aluísio Alves e ainda com suas majestosas portas fechadas. 
O hotel funcionaria como elemento de atração de turismo e daria condições para que aqui pudesse ser realizados eventos tais como seminários, convenções, etc. 
Diário de Natal – 16.03.1967 

AEROPORTO ESTÁ EQUIPADO PARA POUSOS NOTURNOS 
MOSSORÓ, 12 – O aeroporto Dix-sept Rosado, desta cidade, está finalmente equipado para receber pousos noturnos de aeronaves, faltando apenas retoques finais na parte técnica de iluminação. Espera-se que as companhias de aviação agora voltem a fazer escala nesta cidade, inclusive a VARIG com o seu voo 702, que faz o percurso Recife-Natal-Fortaleza. 
Diversas entidades mossoroenses estão envidando esforços neste sentido, visando que Mossoró receba, o mais breve possível, o seu aeroporto em condições de atender à aviação civil. 
Diário de Natal – 12.07.1967 

AEROPORTO PARADO POR FALTA DE UMA “ORDEM” 
MOSSORÓ, 3 – Com todo material de balizamento já instalado, com a fiação e luminárias já colocadas, o Aeroporto Dix-Sept Rosado, ainda não pode receber pousos noturnos de aeronaves porque falta a ordem de acionar a chave que faz a ligação do balizamento. 
No serviço de instalação desse material para iluminação da pista do aeroporto da maior cidade do interior do Rio G. do Norte, foram gastos alguns milhões de cruzeiros. Atendendo o parecer de uma comissão militar de estudos, o Ministério da Aeronáutica forneceu tudo o que foi necessário para o serviço, fazendo o seu transporte do Rio de Janeiro para cá, em um avião especial. Houve o maior interesse no assunto que, inclusive foi tratado com a importância que merece, pois que Mossoró já recebeu três pousos diários de linhas comerciais para o sul e três para o norte, no tempo em que suas pistas eram de barro. Agora com modernas pistas de asfalto e concreto esta cidade está sem comunicação aérea como outras cidades, a não ser pelos seus serviços de taxi aéreos. 
QUEM É QUEM? – A VASP estava anunciando para o dia primeiro deste mês o seu voo inaugural para Mossoró, fazendo novamente uma linha que incluía Mossoró na rota. Acontece que por causa daquela ordem que não foi dada, ainda não foi possível o rebatismo do aeroporto Dix-Sept Rosado. De quem é que deve partir a ordem? Aqui não souberam dizer. Quem é quem manda esse ato oficial não se sabe dizer, nem os agentes da VASP os mais interessados nos negócios, naturalmente. 
NORTE- SUL – Quando for dada a ordem e por quem de direito, a VASP incluirá Mossoró em sua rota as terças e sábados para o norte e as quartas e domingos para o sul. 
Enquanto isso os aviões não vêm, fica-se “a ver navios”. 
AÇÃO E REAÇÃO – Diante de tal lapso (pois somente um lapso pode estar ocorrendo), entidades representativas das classes produtoras reagem e já telegrafam para as autoridades competentes para resolver o impasse. Enquanto a solução não vem, o povo e a economia da região continuam sofrendo com a falta de linhas aéreas normais servindo Mossoró. Para se perceber o valor de serviços aéreos para esta cidade é suficiente notar o fato de todas as cidades vizinhas utilizarem o aeroporto local em casos de transportes aéreos, tanto de passageiros como de carga. 
Diário de Natal – 03.08.1967 

AEROPORTO TERÁ PISTA AMPLIADA 
MOSSORÓ, 12 – A pista de pouso do aeroporto Dix-Sept Rosado, dessa cidade, será ampliada em mais de 460 metros de concreto asfáltico e os outros 880 serão concluídos em piçarra. Este aumento representará o deslocamento de aproximadamente de três mil metros cúbico de matéria a serem utilizadas para concretização dos serviços. 
Com a ampliação de sua pista de pouso Mossoró passará a ter condições para operações de diversos tipos de aviões e de receber os de tipo jato, de linha comercial, que poderão fazer escala em Mossoró. 
OS TRABALHOS – Uma maquinaria executa os trabalhos da ampliação do aeroporto local. Uma usina de asfalto foi montada em 90 dias e concluirá os trabalhos dentro de seis dias, após o que será feita a desmontagem. As obras estão orçadas num montante de NCr$ 2 milhões. Dada à importância da obra, uma turma de alunos da Faculdade de Engenharia, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, esteve em visita ao local onde os trabalhos estão sendo efetuados, a cargo por uma empresa potiguar. 
O Povo – 12.08.1969 

OUTRA EMPRESA AÉREA 
OPERARÁ EM MOSSORÓ 
MOSSORÓ, 12 – Estão sendo veiculadas notícias nesta cidade de que outra companhia de navegação aérea poderá operar no aeroporto Dix-Sept Rosado. Trata-se da VARIG, que há tempos operou aqui com suas aeronaves. 
O assunto começou a transpirar quando de recente visita a esta cidade do Sr. Edgard Villena Masseran, auditor da companhia, em viagem de inspeção as agências da VARIG. Foram observados as condições do aeroporto local e o sistema de transporte de cargas do sul do país para Mossoró, operados pela empresa centralizada em Fortaleza. 
POSSIBILIDADE – As condições para retorno das atividades da VARIG, em Mossoró, forma vistas pelo funcionário da empresa que pretende levar ao conhecimento da diretoria as possibilidades que são oferecidas para escalas de seis aviões novamente nesta cidade. 
Atualmente, a empresa utiliza dois aviões na linha Recife-Belém, com trânsito em Fortaleza, Natal e São Luís, o que dará condições para escalarem o aeroporto Dix-Sept Rosado com dois voos semanais. 
AVIAÇÃO PARA NATAL – Caso seja aceita a ideia pela diretoria da VARIG da escala de seus aviões, em Mossoró na rota Recife-Belém, esta cidade poderá contar novamente com transporte aéreo para capital do Estado, vez que se encontra desprovida nesse setor coma substituição da linha Mossoró- Natal pela Mossoró-Campina Grande, efetuada recentemente pela VASP. 
OUTRA EMPRESA – Se bem que Mossoró esteja ligada a Natal por uma rodovia asfaltada em boas condições de tráfego, com cerca de meia dúzia de ônibus diariamente, o sistema viário com a capital ainda merece ampliação, o que seria feito com uma linha aérea. 
A indústria e o comércio mossoroense, que necessita de transportes aéreos para solução de seus negócios, esperam que a direção geral da VARIG venha liberar a inclusão de seus aviões para escalas em Mossoró. 
O Povo – 12.01.1971; Diário de Natal – 17.01.1971.
Matérias publicadas por Tomislav R. Femenick nos anos de 1967/71 sobre o Aeroporto Dix-Sept Rosado
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05/01/2017

   
Marcelo Alves

 

Sobre Benjamin Franklin

Já escrevi aqui sobre alguns dos “Founding Fathers” dos Estados Unidos da América: Thomas Jefferson (1742-1826), James Madison (1751-1836), Alexander Hamilton (1757-1804) e John Marshall (1755-1835), desses me recordo bem. Chegou agora a hora de tratarmos de Benjamin Franklin (1706-1790), que é por muitos considerado o “primeiro americano”, o que denota tanto o seu vanguardismo como a sua proeminência no movimento que levou à criação daquele imenso país. 

Benjamin Franklin nasceu em Boston, em 1706, filho de pai inglês e mãe americana, puritanos e de certo prestígio, já radicados na América havia algumas décadas. Filho mais novo de uma grande prole, ele foi uma criança inteligente e ávida por leitura. Foi destinado, por decisão do pai, à carreira religiosa. Para tanto, chegou a estudar teologia em Harvard, mas não terminou o curso, porque seu pai, alegadamente, não pôde mais sustentar os custos acadêmicos. Virou autodidata em quase tudo. 

Ben Franklin começou a vida profissional como aprendiz na editora de um irmão mais velho. Ainda jovem, perambulou, arredio, por Nova Iorque e Filadélfia. Teve filhos ilegítimos. Casou. Teve mais filhos. Foi comerciante. Virou editor de sucesso, sendo a prova disso o seu famoso “Almanaque do Pobre Ricardo” (“Poor Richard's Almanac”), que foi continuamente serializado, de 1732 a 1758, com enorme sucesso. Franklin fez ciência. Entre outras coisas, ele foi o inventor dos óculos bifocais, do pára-raios e um dos “pais da eletricidade”, cuja representação segurando uma pipa e uma chave em meio a uma tempestade de raios ficou para sempre consagrada no imaginário popular. Franklin fez política, primeiramente na Pensilvânia, depois nos Estados Unidos como um todo. Exerceu cargos públicos diversos, entre eles o de Parlamentar, de Presidente da colônia/estado da Pensilvânia e de diretor-geral dos Correios dos EUA. Viajou com frequência, dentro e fora da América. Foi um estadista e diplomata que viveu por muitos anos, especialmente de 1776 a 1785, na França, sendo o primeiro embaixador designado pelos EUA para esse crucial país. Articulado, amigo de Mirabeau (1749-1791) e com relações com Voltaire (1694-1778), D’Alembert (1717-1783), Marat (1743-1793), Condorcet (1743-1794), Lavoisier (1743-1794) e Robespierre (1758-1794), entre outros, ali fez muito sucesso, tendo contribuído deveras para a aliança militar da França com a causa estadunidense (em 1778) e para a assinatura do Tratado de Versalhes (de 1783), que pôs fim à Guerra da Independência, do qual ele é um dos signatários representando os EUA. 

Na verdade, Benjamin Franklin foi uma figura (talvez “a figura”) de proa do iluminismo americano e, rezam a história e a lenda, o perfeito polímata: comerciante, editor, jornalista, escritor, cientista, inventor, ativista contumaz, revolucionário (embora moderado), abolicionista, maçom, filantropo, servidor público, diplomata, político e, se não bastasse tudo isso, jurista. 

Como bem lembra Brion T. McClanahan (em “The Politically Incorrect Guide to the Founding Fathers”, Regnery Publishing, 2009), afora George Washington (1732-1799), Benjamin Franklin foi “o mais famoso americano de sua geração”. E, para os fins do direito, qualquer documento elaborado na Filadélfia de seu tempo teve “as suas impressões digitais, incluindo a Declaração de Independência [1776] e a Constituição dos Estados Unidos da América [1787]”. Ele também redigiu, anote-se, a proposta para a união das colônias americanas que “mais tarde se tornou a base para os ‘Artigos da Confederação e da União Perpétua’, elaborados por John Dickinson (1732-1808)”. Isso sem falar na própria Constituição do estado da Pensilvânia (de 1776), a primeira e para alguns a mais democrática das constituições dos estados americanos pós-Declaração de Independência. 

A indagação que fica é: como um homem sem quase nenhum estudo jurídico formal pôde produzir (ou colaborar na produção de) tão importantes documentos legais? Essa é a pergunta que também faz Catherine Puigelier em “L’art d’etre savant: Écrire la sience et le droit” (livro em edição bilíngue – “The Art of Being a Savant: How Science and Law Were Written in the 18th and 19th Centuries”, publicado pela editora Mare & Martin, na “Collection Droit et Littérature”, em 2013). 

Com a ajuda da mesma Catherine Puigelier podemos imaginar algumas respostas. Antes de tudo, Benjamin Franklin foi ao longo da vida adquirindo vasta experiência nas coisas públicas. A política e a diplomacia eram para ele verdadeiras paixões. Ele também leu muito (e escreveu outro bocado de) documentos legais, tanto de direito público como de direito privado. Segundo anota a citada autora, “o direito americano era uma das suas preocupações diárias. Ele também tinha grande interesse no direito francês e no direito de outros países”. Seu imenso talento para o auto-aprendizado, típico da sua personalidade inovativa e ativista, assim como serviu para a ciência, serviu também – e muito bem – para o direito. Isso sem falar que Franklin foi o homem certo na hora certa, “um sábio em um conselho de semideuses, como certa vez colocou Jefferson, um homem mais velho entre jovens que estavam empreendendo uma missão de grandíssima importância”. 

Mas, ao final, a resposta mais plausível para explicar a relação de Benjamin Franklin com o direito está simplesmente na sua genialidade. Franklin foi certamente o mais dotado americano de sua era, um gênio natural que, com suas invenções e invencionices, algumas delas jurídicas, foi um dos criadores da América que hoje conhecemos. 


Marcelo Alves Dias de Souza
Procurador Regional da República
Doutor em Direito pelo King’s College London – KCL
Mestre em Direito pela PUC/SP

04/01/2017


A PAISAGEM E O TEMPO



Valério Mesquita




Mantenho reações conservadoras diante dos fatores imanentes e iminentes da vida. Sou devoto dos hábitos e da retórica provinciana do interior. O costume secularizado da cadeira na calçada, da brisa sedutora do fim de tarde, do grito heroico do vendedor de cuscuz e mugunzá ainda me apascenta. São crenças básicas na simplicidade da vida como perpétuo e inalienável direito de existir, misturado ao povo miúdo, posto ser melhor do que o absolutismo dos donos do palanque e da burguesia consumista e desfigurada pelo cinismo materialista. Mas fui tomado pelo fascínio de mesclar o real e o imaginário. Não exercito artificial adesão ao modismo. Nenhum vestígio que se possa recolher da minha travessia terrena não passará da impressão de algo plástico, aéreo, estelar, humano e sobre-humano, difuso, mas cintilante, místico e mítico. No meu bairro sou donatário da capitania não hereditária. Ou seu capataz dos mistérios circundantes, como Sanderson Negreiros em Petrópolis e Vicente Serejo em Morro Branco. Não renegam a horizontabilidade urbana de onde extraem a alma e o sumo das verdadeiras descobertas.

A minha rua em Lagoa Nova é modesta. A iluminação pública espalha no calçamento parnasiano a luz mortiça amarela, qual um abajur lilás. No céu estrelado passeio a nostalgia que vem da herança telúrica de um tempo que a memória ainda não desfez. O rio, a casa, a lua, a calçada, as aparições noturnas. Minha angústia factual e meu desespero tipicamente social estão inseridos no contexto das doenças que as seguradoras de saúde não cobrem. Componho o universo sensível, ferido, por vezes amargo e infeliz, que abomina a marginalização dos pobres, dos velhos, das crianças, vítimas do perverso sistema econômico-social. Por isso procuro a terra habitada pelo silêncio e pela distância das coisas, porque o meu grito é cárcere concreto e real e já não se faz mais ouvido. Conforta-me que as palavras não são fugazes nem constituem perdas instantâneas. Meu canto é harmônico sem divagações nem desvios, embora as tensões e os influxos se cruzem, se choquem mas não se anulam.

Volto à minha ruazinha comum. Nela não residem poderosos. Afinal, sozinho perscruto a tolice dos seus mistérios visíveis e invisíveis. Não há muito que sonhar. Como mergulhador penetro nas ruínas da alegria de sua pobreza, sem jardins, às vezes, sem chananas, refletores ou praças. Ruas opacas, empíricas, apenas onomatopaicas. Mas, é o território dos meus vãos e desvãos. Nem fantasmas líricos e bufões aparecem. Somente vislumbro minhas relíquias imemoriais da infância e da adolescência. Restos sagrados nos olhos de quem é intimo da ilusão, eterno aprendiz de um mundo de contradições, mas também repleto de lembranças antigas e serenas. Tudo torna minha rua como a quero ver.



(*) Escritor.

31/12/2016



31/12/16 10:06:35: Ormuz: Meus caros amigos, hoje é o último dia do ano de 2016. Ano muito difícil principalmente para aqueles que, como eu, lutam diariamente para a preservação da maior instituição cultural do nosso Estado. 
Lutamos contra a indiferença de parte  da sociedade, principalmente dos Poderes constituídos que em última instância têm a obrigação de bem cuidar de nossa Casa. 
O Instituto Histórico e Geográfico  do RN pede socorro para continuar existindo como provedor de 300 anos de história, principalmente de nossa história. 
Períodos  Colonial, Imperial e Republicano têm suas histórias preservadas através de livros, decretos e farta documentação. No  dia 29 de março  do NOVO ANO, completarmos 115 anos de profícua existência e serventia à sociedade. 
Desejamos continuar servindo ao nosso povo  como sempre fizemos.
UM GRANDE E AFETUOSO ABRAÇO A TODOS E  UM FELIZ ANO DE 2017
VIVA O IHGRN! VIVA A CULTURA! VIVA A TODOS OS HOMENS DE BOA VONTADE.

30/12/2016

Ferreira Gullar, um sujinho no poema

04/12/2016



texto Gustavo Sobral e ilustração Arthur Seabra

Não é nada cascão, ou tem aversão à água e às coisas da limpeza e higiene, como sabão, escova, lavanda e coisas afins. Nasceu que nem rojão, o poema, assim longe de casa, apesar de falar da casa, e da casa maior que é a cidade, e longe de todo mundo, longe até da língua portuguesa, porque estava o poeta no exílio lá no Chile. Nasceu assim, o poema, sujo, mas com sujo de mangue, de mangue de sua cidade São Luís do Maranhão, um sujo de vida do negrume cinzento do mangue.

Um poema de enxurrada, em que pingos-palavras fizeram-se chuva-poema de nuvens formadas pelo sentimento cerebral do poeta Ferreira Gullar. Um longo poema de São Luís e da vida do poeta. Quarta entrevista da série entrevistas imaginadas, quando se falará de e com poetas e escritores, pelo que já disseram em seus versos e prosa, por isso, imaginadas, mas nunca imaginárias, porque o fundo da verdade é o que já disse e está estampado no que já disseram. Entrevistamos o poeta no seu Poema Sujo.

Entrevistador: Poeta, e as coisas?
Ferreira Gullar: Cada coisa está em outra coisa da sua própria maneira e de maneira distinta de como está em si mesma.

Entrevistador: Plantas e rosas que crescem no quintal, fendas da vida?
FG: Da lama à beira das calçadas, da água dos esgotos cresciam pés de tomate, nos beirais das casas sobre as telhas cresciam capins mais verdes que a esperança (ou o fogo dos teus olhos), a vida explode por todas as fendas da cidade.

Entrevistador: Em quantos dias há um dia, poeta?
FG: Muitos, muitos dias há num dia só porque as coisas mesmas os compõem.

Entrevistador: Fácil de entender?
FG: Fácil de entender mas difícil de penetrar no cerne de cada um desses muitos dias porque são mais do que parecem pois dias outros há ou havia...

Entrevistador: Mas como entender?
FG: Não é possível estabelecer um limite a cada um desses dias de fronteiras impalpáveis feitos de – por exemplo – frutas e folhas, frutas e folhas que em si mesmas são um dia.

Entrevistador: E a noite, poeta?
FG: Numa noite há muitas noites mas de modo diferente de como há dias no dia (especialmente nos bairros onde a luz é pouca) porque de noite todos os fatos são pardos.

Entrevistador: E por que noite?
FG: De noite, porque a luz é pouca... a noite nos fez crer (dada a pouca luz) que o tempo é um troço auditivo. Menos, claro, as palafitas da Baixinha, na margem da estrada de ferro, onde não há água encanada: ali o clarão contido sob a noite não é como na cidade, é punho da vida fechado dentro da lama.

Entrevistador: De qual cidade, a sua cidade?
FG: Ah, minha cidade suja de muita dor em voz baixa de vergonhas que a família abafa, minha cidade doída.

Entrevistador: Doída, mas também móvel?
FG: Sim, e do mesmo modo que há muitas velocidades num só dia, e nesse mesmo dia muitos dias.

Entrevistador: E o homem, na cidade?
FG: O homem está na cidade como uma coisa está em outra e a cidade está no homem que está em outra cidade. Mas variados são os modos como uma coisa está em outra coisa.