19/07/2014

NOSSA HOMENAGEM


O portal de notícias G1 publicou o último artigo assinado pelo escritor João Ubaldo Ribeiro, que seria publicado no próximo domingo (20).
O escritor morreu na madrugada de hoje [18 de julho], aos 73 anos, vítima de embolia pulmonar.
Leia o artigo, com o título:
O correto uso do papel higiênico
O título acima é meio enganoso, porque não posso considerar-me uma autoridade no uso de papel higiênico, nem o leitor encontrará aqui alguma dica imperdível sobre o assunto. Mas é que estive pensando nos tempos que vivemos e me ocorreu que, dentro em breve, por iniciativa do Executivo ou de algum legislador, podemos esperar que sejam baixadas normas para, em banheiros públicos ou domésticos, ter certeza de que estamos levando em conta não só o que é melhor para nós como para a coletividade e o ambiente. Por exemplo, imagino que a escolha da posição do rolo do papel higiênico pode ser regulamentada, depois que um estudo científico comprovar que, se a saída do papel for pelo lado de cima, haverá um desperdício geral de 3.28 por cento, com a consequência de que mais lixo será gerado e mais árvores serão derrubadas para fazer mais papel. E a maneira certa de passar o papel higiênico também precisa ter suas regras, notadamente no caso das damas, segundo aprendi outro dia, num programa de tevê.
Tudo simples, como em todas as medidas que agora vivem tomando, para nos proteger dos muitos perigos que nos rondam, inclusive nossos próprios hábitos e preferências pessoais. Nos banheiros públicos, como os de aeroportos e rodoviárias, instalarão câmeras de monitoramento, com aplicação de multas imediatas aos infratores. Nos banheiros domésticos, enquanto não passa no Congresso um projeto obrigando todo mundo a instalar uma câmera por banheiro, as recém-criadas Brigadas Sanitárias (milhares de novos empregos em todo o Brasil) farão uma fiscalização por escolha aleatória. Nos casos de reincidência em delitos como esfregada ilegal, colocação imprópria do rolo e usos não autorizados, tais como assoar o nariz ou enrolar um pedacinho para limpar o ouvido, os culpados serão encaminhados para um curso de educação sanitária. Nova reincidência, aí, paciência, só cadeia mesmo.
Agora me contam que, não sei se em algum estado ou no país todo, estão planejando proibir que os fabricantes de gulodices para crianças ofereçam brinquedinhos de brinde, porque isso estimula o consumo de várias substâncias pouco sadias e pode levar a obesidade, diabetes e muitos outros males. Justíssimo, mas vejo um defeito. Por que os brasileiros adultos ficam excluídos dessa proteção? O certo será, para quem, insensata e desorientadamente, quiser comprar e consumir alimentos industrializados, apresentar atestado médico do SUS, comprovando que não se trata de diabético ou hipertenso e não tem taxas de colesterol altas. O mesmo aconteceria com restaurantes, botecos e similares. Depois de algum debate, em que alguns radicais terão proposto o Cardápio Único Nacional, a lei estabelecerá que, em todos os menus, constem, em letras vermelhas e destacadas, as necessárias advertências quanto a possíveis efeitos deletérios dos ingredientes, bem como fotos coloridas de gente passando mal, depois de exagerar em comidas excessivamente calóricas ou bebidas indigestas. O que nós fazemos nesse terreno é um absurdo e, se o estado não nos tomar providências, não sei onde vamos parar.
Ainda é cedo para avaliar a chamada lei da palmada, mas tenho certeza de que, protegendo as nossas crianças, ela se tornará um exemplo para o mundo. Pelo que eu sei, se o pai der umas palmadas no filho, pode ser denunciado à polícia e até preso. Mas, antes disso, é intimado a fazer uma consulta ou tratamento psicológico. Se, ainda assim, persistir em seu comportamento delituoso, não só vai preso mesmo, como a criança é entregue aos cuidados de uma instituição que cuidará dela exemplarmente, livre de um pai cruel e de uma mãe cúmplice. Pai na cadeia e mãe proibida de vê-la, educada por profissionais especializados e dedicados, a criança crescerá para tornar-se um cidadão modelo. E a lei certamente se aperfeiçoará com a prática, tornando-se mais abrangente. Para citar uma circunstância em que o aperfeiçoamento é indispensável, lembremos que a tortura física, seja lá em que hedionda forma — chinelada, cascudo, beliscão, puxão de orelha, quiçá um piparote —, muitas vezes não é tão séria quanto a tortura psicológica. Que terríveis sensações não terá a criança, ao ver o pai de cara amarrada ou irritado? E os pais discutindo e até brigando? O egoísmo dos pais, prejudicando a criança dessa maneira desumana, tem que ser coibido, nada de aborrecimentos ou brigas em casa, a criança não tem nada a ver com os problemas dos adultos, polícia neles.
Sei que esta descrição do funcionamento da lei da palmada é exagerada, e o que inventei aí não deve ocorrer na prática. Mas é seu resultado lógico e faz parte do espírito desmiolado, arrogante, pretensioso, inconsequente, desrespeitoso, irresponsável e ignorante com que esse tipo de coisa vem prosperando entre nós, com gente estabelecendo regras para o que nos permitem ver nos balcões das farmácias, policiando o que dizemos em voz alta ou publicamos e podendo punir até uma risada que alguém considere hostil ou desrespeitosa para com alguma categoria social. Não parece estar longe o dia em que a maioria das piadas será clandestina e quem contar piadas vai virar uma espécie de conspirador, reunido com amigos pelos cantos e suspeitando de estranhos. Temos que ser protegidos até da leitura desavisada de livros. Cada livro será acompanhado de um texto especial, uma espécie de bula, que dirá do que devemos gostar e do que devemos discordar e como o livro deverá ser comentado na perspectiva adequada, para não mencionar as ocasiões em que precisará ser reescrito, a fim de garantir o indispensável acesso de pessoas de vocabulário neandertaloide. Por enquanto, não baixaram normas para os relacionamentos sexuais, mas é prudente verificar se o que vocês andam aprontando está correto e não resultará na cassação de seus direitos de cama, precatem-se.
João Ubaldo Ribeiro (1941-2014) era escritor e imortal da Academia Brasileira de Letras


Raimundo Ubirajara de Macedo: um nome na história.
*Luiz Gonzaga Cortez Gomes.

A participação do jornalista Raimundo Ubirajara Macedo, através de seu depoimento para a  Coleção Multimídia da “Memória das Lutas Populares no Rio Grande do Norte” – Volume 06, representa um dos mais importantes resgates da nossa história política-sindical, cultural e musical, entre as décadas de 50/60 do século passado. Testemunha ocular da história de acontecimentos significativos, além de participante e militante, o decano da imprensa natalense, Ubirajara, na substancial entrevista desta coleção DVD Multimídia,  revela episódios desconhecidos para as novas gerações, principalmente os referentes a Campanha do Petróleo é Nosso,  as Reformas de Base, a Campanha De Pé no Chão Também de Aprende a Ler, criada pelo prefeito Djalma Maranhão para combater o analfabetismo, o “Grupo dos Onze”, idealizado por Leonel Brizola para dar suporte ao movimento nacionalista de esquerda no Brasil que foi sufocado pelo Golpe de Estado de abril de 1964.
Filho de um humilde professor primário, de Macaíba/RN, que “lutou muito para sustentar e educar a família”, Ubirajara de Macedo, nascido em 1920, não esqueceu a  professora Maria Olimpia Ferreira, do Grupo Escolar “Auta de Souza”, que dava as aulas de “História Natural”, no sítio de Sr. Joca Ledo,em Uruassú, ou ar livre em Jundiaí, durante duas a três horas, onde os alunos assistiam as aulas em contato com a natureza e “ouvindo música, pois o marido dela, Orlando Ubirajara, funcionário dos Correios e tocava violino muito bem”. 
Menino, “Bira”, gostando de música, veio para Natal estudar no Colégio Estadual do Atheneu Norte-rio-grandense, onde fez o curso secundário e conheceu os melhores professores da cidade e fez amizades com colegas e mestres que se destacariam, anos depois, na política, na cultura e no sindicalismo potiguar. “Naquele tempo, eu só não assistia as aulas quando chovia muito em Natal , não podia me deslocar para a Cidade Alta, por causa da lama e do aguaceiro. Não existia ônibus, só bondes, e até a Ribeira. Como eu morava na “Limpa”, no bairro de Santos Reis, não saía de casa nos dias de chuvas. Aí, meu pai ia falar com o diretor do Atheneu e justificava as minhas faltas”, relembra “Bira”, um dos grandes e inigualáveis companheiros que tivemos na redação do “Diário de Natal”, na década de 1980.
Na entrevista,  “Bira” relembra os anos da II Guerra, prestando serviços ao Exército em todo o litoral do Rio Grande do Norte, e, seguida, o seu ingresso nos Correios, por concurso, onde passa a se dedicar as atividades de postalista e repórter  esportivo e de polícia  na Rádio Nordeste, levado pelo amigo Aluizio Menezes. “Fiz cobertura de tudo na Rádio Nordeste, desde futebol, basquete e voleibol, polícia, etc.  Aprendi muito com Aluizio Menezes, nos anos 40. Vi o nascimento do Trio Irakitan, com Edinho, Joãozinho e Gilvan. Demos muita força a eles. Saíram de Natal para se apresentar em Mossoró e retornar, mas de lá foram para Fortaleza, Manaus, México e Estados Unidos, numa excursão que durou mais de 3 anos. Foram fenomenais, pois cantavam muito bem”.
Neste DVD Multimídia,  o jornalista Ubirajara de Macedo, o  grande Bira, fala sobre os acontecimentos que assistiu e/ou participou na memorável campanha do “O Petróleo é Nosso”, o movimento sindical nos “Correios” (“o maior empregador do Rio Grande do Norte”), onde  o golpe militar de 1964 encontrou aderentes, colaboradores e informantes.
O comício de Leonel Brizola no “Grande Ponto”, em 1963, onde o deputado gaúcho atacou o comandante da Guarnição do Exército, general Murici, tachando-o de gorila, golpista e covarde e, na iminência de ser preso e “bifado” por oficiais do 16º RI, Djalma Maranhão retirou Brizola de sua casa e tomaram rumo ignorado.
Uma informação inédita consta do depoimento de “Bira”: em Natal, o golpe militar começou na manhã de 1º de abril e o governador Aluizio Alves já estava refém dos novos donos do poder.  “Eu fui a uma missa já programada. Quando cheguei na igreja, encontrei Aluizio ao lado de Hélio Galvão e do almirante Tertius Rebelo, que veio a ser o Prefeito de Natal. Então, Aluizio já estava como uma espécie de refém”.
A deposição de Djalma Maranhão, prefeito de Natal, a repressão policial e  os 11 meses passados  na cadeia do 16º Regimento de Infantaria – 16º RI, no Tirol, juntamente com dezenas de amigos, sindicalistas,  intelectuais e estudantes que se destacaram no movimento pelas “Reformas de Base” .

Ubirajara de Macedo traça perfis de personalidades da política, da cultura e da Igreja no RN, como dom Eugênio Sales, Ulisses de Góis, professor Moacir de Góis, Hélio Vasconcelos, Vulpiano Cavalcanti, Luís Ignácio Maranhão Filho, Luiz Maria Alves, Kerginaldo Cavalcanti, Luiz Gonzaga dos Santos, Luiz Gonzaga de Souza, Hélio Vasconcelos, dentre outros. O capitão Enio Lacerda, que ele considera o mais covarde e perverso torturador que conheceu na cadeia, não é omitido no relato de Ubirajara de Macedo que, segundo acrescenta, o tipógrafo Moisés Grilo, “de tanto apanhar, morreu louco”.

*Luiz Gonzaga Cortez Gomes é jornalista e escritor. Sócio do Instituto Histórico e Geográfico do RN, do Instituto Norteriograndese de Genealogia e da União Brasileira de Escritores-UBE/RN

18/07/2014

CONVITE - DIA 19 DE JULHO


O jornalista Ubirajara Macedo convida para o lançamento do seu livro “A Saga de Joaquina – do Ateísmo ao Cristianismo”, oportunidade em que o Centro de Direitos Humanos e Memória Popular e a DHnet o homenageia no volume 10 da coleção DVD Multimídia Memórias das Lutas Populares do RN.

Local: Edifício Riomar –Av. Deodoro da Fonseca, 240 (Ladeira da Poti) – Petrópolis
Data: 19 de julho de 2014
Hora: 17 horas

Obrigado pela presença"

15/07/2014

JF


 Siminéa e Tavelho

João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN, membro do IHGRN e do INRG

Até pouco tempo não tinha, nos meus arquivos, qualquer registro sobre membros da família Siminéa. Isso para mim era estranho, pois eles eram oriundos de Angicos. A professora Crisan Siminéa, nascida lá, era a mais próxima de meu pai, por ser colega dos Correios e Telégrafos. Vi muitas vezes, na minha infância, a viúva, D. Maria do Carmo, mãe de Crisan, caminhando pelas ruas de Natal.

Depois conheci, no Sebo Vermelho, José Helmut Cândido, que se dizia parente do capitão José da Penha. Abimael me apresentou Idelzuite, irmã de Helmut, e foi através dela que recebi informações sobre alguns ascendentes deles, aparecendo aí, também, um Siminéa. Segundo essas informações, Helmut era filho de José Cândido de Sousa e Maria Leopoldina de Sousa (nascida em Santana do Matos,  em 2 de julho de 1901). Neto por parte paterna de Francisco das Chagas Siminéa e Josefa Veneranda Alves de Sousa e materna de Manoel Aniceto Lopes e Ana Leopoldina Lopes.

A partir daí, fui fazer novas buscas nos arquivos que fotografei, onde primeiramente encontrei, em um livro de proclamas de Angicos, o que se segue: Quer casar o cidadão Francisco Pedro das Chagas Siminéa, solteiro, filho legítimo de Manoel Alexandre dos Santos Tavelho e de Antonia Francisca Pereira da Conceição, com 32 anos de idade, com D. Josefa Veneranda Alves de Souza, solteira, filha legítima de José Alexandre Alves de Sousa e D. Cândida Leopoldina de Souza, com 25 anos de idade, os contraentes são naturais e moradores nesta Freguesia de São José de Angicos. Aqueles que souberem algum dos impedimentos de que trata o artigo 7 do decreto nº 181 de 24 de janeiro de 1890, que possa anular este casamento, poderão exibi-lo neste cartório devidamente provado, e sob as penas da lei,  os com malícia não o impeçam. Cartório do Escrivão de Paz em audiência nesta Vila de Angicos, 7 de junho de 1892. Alexandre Vespaziano de Souza Pinheiro.

Esses dois nomes raros, Siminéa e Tavelho, não encontrei fora dessas famílias, nem, também, como santos ou localidades. Minha hipótese é de que seriam oriundos de apelidos. Na internet, um nome que é sugerido, quando colocamos a palavra Siminéa, é Chimenea (ou Chiminea), que é traduzido como lareira, chaminé, ou lugar de fogo. Como os membros dessa família são ruivos, é possível que Siminéa seja uma variação desse nome espanhol, que gerou esse apelido. 

Com a notícia sobre os pais de Francisco Pedro, fiz nova varredura, pois o nome Tavelho não tinha encontrado até então. Finalmente, acho o casamento deles. Eram Lopes Viegas e Pereira Pinto.

Aos dez dias do mês de junho de mil oitocentos e cinquenta e sete, às oito horas da manhã, nesta Vila de Angicos, em Oratório Particular, tendo precedido dispensa de sanguinidade, e das canônicas denunciações, confissão, e exame de doutrina cristã, em minha presença e das testemunhas João Felippe Teixeira de Souza, e José Vitaliano Teixeira de Souza, casados, e moradores nesta Freguesia, se uniram em matrimônio, por palavras de presente, e tiveram as bênçãos nupciais, os meus fregueses Manoel Alexandre dos Santos Tavelho, e Antonia Maria da Conceição, naturais e moradores nesta Freguesia, filhos legítimos: ele, de Alexandre Lopes Viegas de Azevedo, e Constância Maria do Espírito Santo; e ela de Gonçalo Pereira Pinto, e Maria Angélica da Conceição, falecida. Do que para constar faço este termo em que assino com as referidas testemunhas. Vigário Felis Alves de Souza.

Os nomes de Manoel Alexandre e de sua esposa Antonia Francisca sofreram alterações em alguns registros. Em dois outros registros de filhos, por exemplo, o nome do pai de Francisco Pedro das Chagas Siminéa era Manoel Alexandre de Azevedo Sousa. 

Alexandre Lopes Viegas de Azevedo, pai de Manoel Alexandre, era filho de Antonio Lopes Viegas e Francisca Pereira da Conceição e neto, por parte paterna, do tenente Antonio Lopes Viegas, fundador de Angicos, e de Anna Barbosa da Costa. Foi ele, em 1862, quem fez doação de uma sorte de terra ao “Glorioso Patriarca São José”, orago de Angicos. Alexandre casou, em 1824, com sua prima, Constância Maria do Nascimento, filha legítima de Antonio Martins dos Santos e Felippa Maria Duarte, esta última filha do tenente fundador.

O pai de Crisan, Francisco Siminéa Filho, era irmão de José Cândido de Sousa, pai de Helmut, ambos filhos de Francisco Pedro das Chagas Siminéa.

A primeira esposa de José Alexandre Alves de Sousa, Maria Leopoldina Josefa Carolina, era falecida em 1864. Josefa Veneranda nasceu por volta de 1867, e, portanto, era filha do segundo casamento dele, que foi com Cândida Leopoldina. Assim, Francisco Siminéa e José Cândido eram primos legítimos do capitão José da Penha.
José Cândido e Maria Leopoldina
CASOS DA NOSSA HISTÓRIA

Por: Gileno Guanabara, sócio do IHGRN

             São comuns casos que ocorrem em qualquer lugar e época, a par das sucessivas crises de outras naturezas, como ocorrentes na História do Brasil. Estão presentes no cotidiano, na formação parlamentar e se reflete no espírito gozador do povo. São fatos colhidos pelo jornalismo, pela literatura, anotados por escribas de época, os serventuários do dia a dia e registrados até nos anais do parlamento.
            - Nos idos de 1808, ao deixar Portugal, fugindo da invasão iminente das tropas napoleônicas, D. João VI trouxe uma comitiva numerosa, a qual comungava os preconceitos difundidos pela crônica lusitana, contrariamente às dificuldades da vida da fazenda chamada Brasil. O jornalista Hipólito da Costa, brasilianista e já defensor da independência, publicava em Londres o jornal Correio Brasiliense. Foi sincera a referência que fez, quando da transferência da família real e o séquito que a acompanhou: - São 10 ou 20 mil vadios e parasitas que vão fazer no Rio o mesmo que faziam em Lisboa, isto é, comer e beber à custa do Estado e nada fazer para o bem da Nação. E ainda depois vão alegar o serviço de terem deixado a pátria, a fim de servir ao soberano, como se seguissem por outro motivo que não fosse o de desfrutar...         
- Joaquim Nabuco se referia ao marquês de Olinda, atribuindo-lhe atitudes definitivas. Porém, dele assegurava não tinha flexibilidade para ceder... tinha em tudo ideias próprias, sentimentos, ou antes preconceitos, que ninguém podia modificar. Em razão da crise que se consumou com a ida dos Andradas para o exílio, em 1823, D. Pedro I convidou pessoalmente o marquês para ser primeiro ministro do Império: Preciso no ministério de um homem de sua qualidade, disse o monarca. De temperamento austero, sincero, o convidado, antes de se decidir, fez alusão ao clamor do povo pela clemência em favor de José Bonifácio e seus irmãos. O imperador, tomado de cólera acusou-o: Atrevido. Ao assaque o marquês retrucou: Então V. M. procure outro para ser ministro. O Imperador, sem controle, avançou em direção ao interlocutor e o derrubou no chão. Ao levantar-se, o marquês antecipou: - Agora caem os patriotas...Um dia cairá V. majestade. Anos depois, Araújo Lima foi o regente do Império, enquanto D. Pedro I fora destronado.
            - José Bonifácio foi o personagem principal da cena ocorrida no Paço de São Cristovão, quando a marquesa de Santos fez ao imperador o pedido de anistia em favor dos revoltosos de São Paulo e do Rio. D. Pedro I recepcionou a súplica da mulher amada e transmitiu ordens a serem compridas por José Bonifácio que, tomado de arroubos, se viu diminuído em seu prestígio. Bonifácio se altercou com o imperador, repudiou a presença e a influência da marquesa no palácio, a enfeitiçar a cabeça do soberano. Diante do palavrório impublicável usado pelas partes, o camareiro-mor de S. M. que a tudo assistiu ouviu de José Bonifácio:  - Meu amigo, não sou mais ministro, nem o serei jamais. Perdi o ministério, mas ganhei a minha liberdade. Para o Imperador mais vale o encanto de mulher bonita do que os meus conselhos.
            - Martim Francisco, ministro da Justiça no terceiro gabinete Zacarias, em 1867, em pronunciamento na Câmara, defendendo que a ideia da emancipação dos escravos existia desde 1823, discutida na imprensa e na tribuna parlamentar, foi interrompido pelo colega Cândido Torres Filho: Mas a ideia não foi estudada pelo governo, disse. Sem perder o vigor e a eloquência, o orador prosseguiu: Mas note o nobre deputado pelo Rio de Janeiro, que as questões se preparam não só quando são estudadas pelo governo, mas sobretudo quando são estudadas pelo povo, quando o são na tribuna e na imprensa... Por esses veículos de publicidade é que se demonstra a conveniência de ser aceita ou não uma ideia. E fulminou o aparte: As ideias se discutem no domínio da publicidade, e não somente nos recônditos dos gabinetes ministeriais.
- Francisco de Salles Torres Homem publicava, no ano de 1848, sob o pseudônimo de Timandro, o seu terrível livro Libello do povo, com ataques à monarquia, a D. Pedro II e a família Bragança. Anos depois, reconciliou-se com o monarca. Foi senador, ministro, conselheiro, visconde de Inhomirim. Da tribuna do Senado, no ano de 1871, Torres Homem, que tinha virado de casaca, passara a destacar os avanços dos conservadores, defendia o governo, contrapondo ao atraso dos liberais. Diante da eloquência com que o orador saudava os conservadores, Silveira da Motta, dominado pela verve satírica, interveio e o aparteou: Santo Deus. Dizer que é Timandro que está falando! Responde a si mesmo vinte anos depois!     
            - No ano de 1885, o barão de Cotegipe decidiu apresentar à Câmara o gabinete conservador de 20 de agosto. Maior não poderia ser o alvoroço da oposição, cujos apartes tentavam tumultuar o orador. Qualquer indefinição, em resposta, teria como consequência a queda do gabinete. Em aparte, um dos oposicionistas interpelou o barão, se aceitava ou não aprovar o projeto de abolição do elemento servil. Pelo fato da abolição estar sendo objeto de intensos debates nas ruas, Cotegipe percebeu o embaraço que sua resposta poderia causar. Desviando, mas sem fugir à resposta, sentenciou: Sou do tempo em que os exames se faziam tirando os pontos... Não sei responder pergunta de algibeira.

- Maciel Monteiro, um dos homens mais elegantes do seu tempo, conquistador irreparável, foi ministro dos Estrangeiros da Regência de Araújo Lima. Ao se deparar no Parlamento com uma mocinha de faces meigas, faceira e de beleza encantadora, Maciel não se conteve: Deixa beijar-te, meu bem. De súbito, a ofegante e ruborizada mocinha respondeu: Sim, mas... só se o senhor fizer, agora mesmo, o seu pedido em forma de versos. Maciel Monteiro, engoliu em seco e improvisou: Suspende, Analia divina, / Do teu recato o pudor. / Não beija o zéfiro à flor? / Não beija a aurora a bonina? // Quando o sol meigo se inclina / Não beija as ondas também? / Se ao terno pombo convém / Beijar a rola inocente, / Se a natureza consente. / Deixa beijar-te, meu bem. 

14/07/2014

LEI SECA



A Lei Seca dos Estados Unidos (1919-1933)

Elísio Augusto de Medeiros e Silva

Empresário, escritor e membro da AEILIJ
elisio@mercomix.com.br


Em 1917, quando começou a campanha pela proibição de beber, os Estados Unidos tinham mais de 200 mil saloons, locais onde se consumia basicamente o álcool.
O líder do movimento antiálcool foi William Anderson, sendo ajudado pela crise nacional em que se encontrava o País ao entrar na I Guerra Mundial, em abril daquele ano (1917). O esforço de guerra exigia uma certa dose de economia.
A liga, dirigida por Anderson, lançou o slogan: “Economize 11 milhões de pães de forma por dia”, numa alusão ao fim do álcool. Segundo eles, argumentavam que os soldados sóbrios estariam mais saudáveis e dispostos para a guerra.
Usando os sentimentos antigermânicos que afloravam entre a população, alegavam que as cervejarias alemães instaladas nos Estados Unidos atrasavam o desenvolvimento da indústria nacional.
 O Presidente Woodrow Wilson também fez a sua parte, mesmo involuntariamente e decretou que o governo passaria a controlar a produção de alimentos. Com isso, os grãos foram proibidos de serem utilizados para a destilação de bebidas. E também o Presidente tinha poderes para regular a produção de vinhos e cervejas durante o conflito.
Alguns líderes negros tinham enxergado a aprovação da 18ª Emenda – a que instituiu a Lei Seca – como uma possibilidade de reforço à autoridade das 14ª e 15ª Emendas. Essas emendas tinham sido publicadas após a Guerra Civil e haviam estendido os poderes civis e de voto aos negros. No modo de entender deles, se a Lei Seca fosse realmente cumprida, consequentemente, os direitos dos negros também seriam.
Por seu lado, os produtores de teatro achavam que o dinheiro economizado nas mesas de bar – ou seja, diversão -, seriam transformados em dinheiro a gastar com ingressos para as peças de teatro da Broadway.
Além disso, os fabricantes de chás, refrigerantes, sucos, sodas, sorvetes (...) achavam que, sem o álcool, mais dinheiro sobraria para ser gasto nos seus produtos.
A lei foi aprovada. As penalidades por sua violação seriam de, no mínimo, seis meses de prisão e multas aplicadas a partir de U$ 1 mil no caso de réus primários. As penas iam aumentando a cada descumprimento.
No primeiro ano foi criado o Bureau da Proibição, uma agência que controlava a execução da lei. Operava inicialmente com 1500 agentes e um número igual de funcionários administrativos. Isso fazia do Bureau o maior órgão federal não-militar, maior até que o FBI – Federal Bureau of Investigation.
Mas essa quantidade de fiscais era subornável – recebiam propinas dos donos de bar e traficantes de bebidas, para que os deixassem em paz.
Logo, muitos espertinhos perceberam que a lei proibia a produção, transporte e venda de álcool. Mas, não a sua posse. Então, muitos bares, os “speakeasies”, passaram a usar esse argumento para funcionar – mantinham as portas abertas, cobravam a entrada, e davam “de graça” a bebida aos frequentadores.
De 1916 a 1924, a cidade de Nova Iorque viu fechar 80% de seus bares, e 16.000 trabalhadores perderam seus empregos nesses estabelecimentos.
A proibição ao álcool trouxe outro motivo de preocupação: em vez de ordem causou violência. As ruas ficaram cheias de gângsteres, com seus carros pretos e metralhadoras, que controlavam o comércio ilegal de bebidas. Nas grandes cidades americanas – Nova Iorque, Detroit, Chicago, São Francisco, grupos rivais de gângsteres brigavam pelo controle do comércio ilegal de bebidas alcoólicas.
Um dos mais famosos foi Al Capone e sua gangue, um dos criminosos mais procurados daquele tempo. Al Capone inspirou diversos filmes: Inimigo Público (1931) e Scarface (1932). Em maio de 1932, Al Capone foi preso e trancafiado em Alcatraz, de onde uma fuga seria impossível.
A Lei Seca vigorou durante 14 anos, até o dia 5 de dezembro de 1933.


13/07/2014





TODOS CONVIDADOS - DIVULGUE - ESPALHE - COMPAREÇA

ESCRITOR E JORNALISTA FLÁVIO REZENDE 
LANÇA LIVRO NESTA TERÇA

   
​Militando em diversas áreas como jornalismo, ativismo social e literatura, 
Flávio Rezende
​apresenta nesta terça, 15 de julho, das 19 às 22h, na livraria Saraiva do Natal Shopping, seu mais novo produto literário:
 "Quero que este livro vire um filme"
​.
     Este é seu
24º livro,
​programado para ser apresentado na 
data em que comemora seus 53 anos de
​vida
.
​ 
  
     O livro narra o desejo de um escritor de que um livro de sua autoria vire um filme e a partir dai ele descreve como se fosse o roteiro de uma película, uma estória em Nova Iorque, no futuro, com os EUA dominados por radicais cristãos. Um crime na 5ª Avenida desencadeia uma reação mundial e a trama ganha vida neste cenário.
​     O livro vai ser vendido por R$ 35,00 e, após o lançamento continuará exposto nas livrarias Saraiva do Midway e Natal Shopping e algumas cigarreiras de Natal.

Para saber mais: Flávio Rezende - 9902-0092​