03/02/2014


O excêntrico “socialismo científico”

Tomislav R. Femenick – Mestre em economia e contador

 

            Contrariando a expectativa marxista de que a revolução socialista se daria em regimes capitalistas adiantados (isso em função das contradições internas do sistema), os comunistas somente assumiram o poder em países atrasados, onde o modo de produção capitalista ainda não tinha se desenvolvido plenamente. Rússia, China, Coréia do Norte, Cuba, Vietnã, Camboja, Angola, Moçambique, por exemplo, eram países de economia agrícola, onde a indústria era incipiente e não o polo determinante. Na Alemanha Oriental, Tchecoslováquia, Polônia, Hungria, Romênia, Albânia e outras nações do leste europeu a ascensão deu-se por pressão do exercito vermelho, presente em seus territórios logo após a Segunda Grande Guerra. 

            O caso da Rússia, onde em 1917 foi instalado o primeiro governo comunista, é um episódio a parte. Em 1922 existiam cerca de 20 milhões de pequenas propriedades agrícolas e aproximadamente quatro mil empresas privadas, enquanto que o Estado já tinha assumido o controle de mais de 4.500 grandes indústrias. Em 1925, os sovietes já tinham transformado “a terra, as fábricas, as empresas industriais, os bancos e as vias de comunicações em propriedades” estatais, como início da “obra de edificação da Economia socialista” (Pankrátova, 1947). No outono de 1928 começou a implantação do Primeiro Plano Quinquenal e no início dos anos 1930 aconteceu a total estatização da agricultura. Essas medidas resultaram em altas taxas de crescimento, principalmente na produção de commodities agrícolas e produtos industriais, tais como aço, carvão, energia elétrica e petróleo, porém com um alto custo social. O censo de 1937 revelou que a população havia caído em oito milhões de pessoas.

            O segundo período de crescimento da URSS foi o do pós-guerra, quando houve maciços investimentos na indústria pesada, visando recuperar as perdas causadas pelo conflito. Em alguns setores os soviéticos superaram os Estados Unidos, como na produção de armamentos e na corrida espacial. Porém o modelo socialista emperrava o crescimento econômico como um todo; sobravam tanques de guerra e faltava manteiga.

Nos anos 1970/1980 já se previa o descalabro. Havia estagnação na produção agrícola, na siderurgia e de petróleo e o fornecimento de energia elétrica (com unidades geradoras e de transmissão defasadas) não atendia as necessidades das empresas e da população. Some-se a isso um quadro de ineficiência da infraestrutura e atraso tecnológico, inclusive no campo na informática. Essa situação levou a um crescimento econômico per capita igual a zero; negativo, em alguns anos. O resultado foi que o povo passou a enfrentar dificuldades para adquirir produtos básicos como alimentos, roupas e produtos de higiene.

            O colapso econômico da União Soviética foi efeito direto da maximização do Estado nas relações econômicas. O centralismo e a alta burocracia tinham um custo exorbitante. Nas fábricas centenas de milhares de pessoas não agregavam valor aos produtos, pois simplesmente exerciam tarefas de seguir o andamento da produção, e a alocação dos fatores de produção atendia apenas aos desejos da nomenclatura partidária e não às necessidades reais da economia e da população. Tal procedimento exigia vultosa soma de subsídios governamentais para manter empresas ineficientes.

            Essa verdadeira máquina de moer recursos terminou por evidenciar o erro de se atribuir ao Estado todos os direitos de prioridades e de estabelecer caminhos e modos de se planejar, produzir e distribuir as riquezas do país.

E o “socialismo científico” morreu.

Tribuna do Norte. Natal, 02 fev 2014.

O Mossoroense. Mossoró, 01 fev 2014.

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