O MACHADIANO PROFESSOR RODRIGUES ALVES
(Odúlio Botelho Medeiros)
Fui criado ouvindo o
seresteiro Chico Botelho dizer: “a justiça tarda, mas não falha”. Quando tomei
conhecimento de que o advogado/escritor David de Medeiros Leite iria
homenagear, quando de sua posse no Instituto Histórico e Geográfico do Rio
Grande do Norte, o professor RODRIGUES ALVES, velho mestre de português do
ATHENEU, lembrei-me das verdades que eram difundidas pelo meu avô. É que, afora
Nei Leandro de Castro, um dos seus ex-alunos que, em talentoso artigo publicado
na Tribuna do Norte, de 1º de maio de 2005, prestou-lhe bonita e justa
homenagem, que empolgou a cidade e sensibilizou os que foram alunos do
professor que residia na rua Potengi, justamente ao lado do Atheneu, pouca ou quase
nenhuma referência se fez ao cearense nascido no Pereiro, como ele costumava
dizer, cheio de orgulho e de empáfia.
Tive, também, ao lado de
outros de minha geração a oportunidade e a sorte de ter sido discípulo do
professor que ora relembro. Aquele jeito austero e elegante de falar são
inesquecíveis. A sua cultura e a elegância no vestir permanecem indestrutíveis
na minha memória. Acredito que ele fazia das tripas coração para se manter
elegante, uma vez que professor estadual, de poucos ganhos, portanto.
Foram muitas as lições
de literatura (portuguesa e brasileira), coisas muito do seu domínio. Era
literato por natureza. Rodrigues Alves não exercia a cátedra apenas por
exercer. Vivia a cátedra. Em sala de aula revelava-se um homem sério, franco, leal,
abundante de moral e cultura, porque, não apenas preparava as aulas para
exercitar os alunos e a matéria que lecionava. Ia mais além: dava vida às
aulas, impregnava o ambiente de sinceridade e incentivos. Era, sim, na melhor
assertiva, um homem de letras, com muito talento, que fazia resplandecer no
discurso programático, todas as leituras agasalhadas no tempo e no espaço, a
exemplo dos filósofos gregos. Ser aluno de Rodrigues Alves era ser aluno da
vida, da euforia e aluno da esperança.
As suas aulas de
literatura portuguesa e brasileira transformavam-se num desfile permanente de
grandes autores. Lembro-me bem do destaque que dava aos escritores Raul
Pompéia, Machado de Assis (o seu predileto), Lima Barreto, Aluísio Azevedo,
José Américo de Almeida, Câmara Cascudo, Érico Veríssimo, Gilberto Freire,
Jorge Amado, José Lins do Rêgo e aos poetas Castro Alves, Olavo Bilac, Álvares
de Azevedo, dando ênfase à Semana de Arte Moderna, especialmente a Manoel
Bandeira. Quanto aos escritores portugueses lembrava sempre Eça de Queiroz,
Camilo Castelo Branco, Alexandre Herculano, Vieira e os poetas Camões, Guerra
Junqueiro, Antero de Quental, enaltecendo, ainda, Fernando Pessoa.
A minha turma do Atheneu
(1º ano clássico – 1957/59) – era mista, uma novidade na época, podendo
registrar que os alunos procediam de origem humilde – em sua maioria - mas,
esperançosa, dinâmica e valorosa. As mulheres já demonstravam liderança e
vontade de vencer, a exemplo de Valquíria Félix da Silva, Salete Bernardo,
Marta (irmã de João Ururai), Maria Clara, Maria da Conceição Simonetti, Lúcia
Saldanha, Dales Falcão, Izabel Bezerra e tantas outras que o tempo e a vida
distanciaram. Lembro-me, também, de Gilka Bigois. Quanto aos homens, devo
registrar Nei Leandro de Castro (o vocacionado), Glênio e Claudionor de Andrade
Jr., José Dias de Souza Martins, Ronaldo Ferreira Dias, Danilo Bessa, Roosevelt
Garcia, Borginho e Danúbio Rebouças Rodrigues – filho do lente (usava-se esse
termo). As omissões ficam por conta da idade.
Assim, quero atestar
nesta oportunidade, por um dever de justiça e gratidão, que o Prof. Rodrigues
Alves foi a figura marcante da minha vida estudantil. O impressionante é que o
mestre do Atheneu, que dava lições de decência e de língua portuguesa,
entusiasmou uma geração que precisava estudar, compreender o mundo, sonhar e
progredir.
Registro, ainda, o
Rodrigues Alves idealista, avançado para o seu tempo, homem ligado às causas
populares e ardente defensor da criação e implantação da Universidade Federal
do Rio Grande do Norte, da qual tornou-se, depois, professor. Tenho certeza de que os
que tiveram o privilégio de conviver com RA jamais poderão esquecê-lo, pois ele
faz parte da cultura que conseguimos armazenar ao longo do tempo e as
demonstrações de cidadania permanecerão intactas nas mentes de seus
admiradores.
Portanto, parabenizo o
Dr. David de Medeiros Leite por ter optado pela figura do Professor Francisco
Rodrigues Alves, fazendo reviver o homem e o mestre, quando de sua posse como
sócio do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, o que
ocorrerá no próximo dia 17 de junho de 2005. Ao apertar a sua mão, Dr. David, o
faço como o homenageado: “Você parece que é do Pereiro?”...
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