02/09/2015


PANDEMIA E PANDEMÔNIO


Valério Mesquita*

Mesquita.valerio@gmail.com


A vida da gente, hoje em dia, chega a doer e a enjoar. Sobrepondo-se à lógica, aí estão os mistérios do mundo. Ele parece apodrecer cotidianamente. E acho essas razões um tanto metafísicas mas, perfeitamente racionais e cabíveis à espécie. Apesar da revolução das ciências, em todos os campos de atividade, há uma angústia indagativa porque tudo piora quando a humanidade progride materialmente. Muito antes, nas esquinas do mundo, a fatalidade das guerras ditadas pela imprudência interrompia a esperança do ser humano no dia de amanhã. Tudo leva a crer, no crepúsculo dos nossos dias, que a escalada geométrica da dificuldade de se viver no planeta, hoje tão afetado pela superpopulação e a crise da falta de alimentos, é que ingressamos no corredor escuro do Armagedom.

A vida passa e diante dos nossos olhos segue um desfile barulhento de excessos. Excessos e abusos perturbadores provocados pelo braço do homem. Vejam só, por que surgem na atmosfera (o ar que respiramos) vírus gripais, infecciosos e contagiosos que se multiplicam e se transformam virando pandemia? No processo de mutação ultrapassam a eficácia da vacina e se propagam com surpreendente rapidez, induzindo-nos acreditar que a camada superior da terra e as defesas do corpo humano estão comprometidas por atos insanos do próprio homem. Os continentes, desde os mais industrializados aos mais

pobres, desérticos, quentes, superpovoados, até as  florestas tropicais em compasso progressivo de extermínio, incluindo os mares revoltos, revelam-me recôndita preocupação com o final dos tempos.

Igual em perigo à pandemia, mora vizinho o pandemônio. O tumulto do trânsito em Natal está trazendo estresse e hospitalizando muita gente. Avaliem as cidades maiores! Semana passada, entre 18h e 19h30, gastei de automóvel trinta minutos do bairro de Lagoa Nova ao Natal Shopping. O número de veículos hoje na capital resgata a “saudade de mim mesmo”, como disse o poeta português. Esse grave fato estatístico não preocupa apenas pelo dano físico de acidentes, mas igualmente, pela nova geração de ansiosos, psicóticos e depressivos. E haja consumo de benzodiazepínicos. Diariamente em Natal, acontece de dois a quatro acidentes com motos. A malha viária não comporta mais o enxame de ônibus, “ligeirinhos” antipáticos e imprudentes, automóveis e utilitários de luxo, que lembram a crise do Senado.

Todavia, o pandemônio não se encerra aí. O assalto à mão armada não apenas reside ao lado, mas está dentro de casa fazendo reféns. Com armas modernas e de grosso calibre os marginais já são um número maior que o efetivo policial. Segurança no Brasil é uma ilusão congratulatória. Somente os bobos acreditam e agradecem. Ainda iremos assistir, se não planejarem logo uma solução, desfilando nas ruas e bairros as forças armadas do país, envolvendo-se na estratégia de resguardar a cidadania que é vida e que significa tanto quanto a defesa da soberania do país. Igual ou pior do que a invasão do território nacional é o lar ultrajado, violentado e saqueado da família brasileira que, no dizer de Rui Barbosa, “é a pátria amplificada”.


(*) Escritor

01/09/2015

INICIAMOS SETEMBRO - VEJA O CALENDÁRIO

IHGRN



INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RIO GRANDE DO NORTE – IHGRN
PROPOSTA DE CALENDÁRIO PARA O SEGUNDO SEMESTRE DE 2015



SETEMBRO
DIA 11 – PALESTRA ALUSIVA À SEMANA DA PÁTRIA (Jurandyr Navarro da Costa)e (POSSE DOS NOVOS SÓCIOS)
DIA 14 – COMEMORAÇÃO DA FUNDAÇÃO DA UBE-RN
DIA 14 – ÚLTIMO DIA PARA RECEBIMENTO DE COLABORAÇÃO PARA A REVISTA DO IHGRN nº 91/2015
DIA 30 – PRAZO FINAL PARA REGISTRO DE CHAPAS

OUTUBRO
SEMANA DO ENCONTRO DOS ESCRITORES
30 – LANÇAMENTO DA REVISTA Nº 91 DO IHGRN

NOVEMBRO
DIA 10 – DIA DA ELEIÇÃO

DEZEMBRO
DIA 11 – CONFRATERNIZAÇÃO NATALINA NO LARGO “VICENTE DE LEMOS”
DIA 28 – INÍCIO DO RECESSO

31/08/2015

LUTA PELA DESOBSTRUÇÃO
DO CANAL DO CURURU


Claudionor Barroso Barbalho
Sócio Efetivo

Há muito a população dos municípios de Arez e Papary reclamam pela abertura do canal do Cururu ou Camurupim, esgoto das águas das lagoas de Papary e Papeba.
Com a intenção de observar e verificar a utilidade e exeqüibilidade da obra reclamada, sua Excelência o Governador Dr. Pedro Velho visitou no  sábado 13 de novembro de 1893,  a vila de Papary  acompanhado do Desembargador Ferreira de Melo, do Engenheiro Junqueira Aires, do Tenente Cícero Monteiro, Theodózio Paiva e do ajudante de ordens Joaquim Lustosa.
Na Estação  o Dr. Pedro Velho foi recebido por um numeroso grupo de distintos cidadãos que o acompanharam até a residência do Chefe Republicano José Araújo, onde ficou hospedado juntamente com sua comitiva.  Tratados com a mais cavalheirosa gentileza, os visitantes foram constantemente cercados pelo povo e por pessoas vindas dos municípios vizinhos.
No dia seguinte a comitiva governamental deslocou-se até a Barra.  Eram cerca de 40 cavaleiros:  José de Araújo e José de Góis, do município de Papary, Joaquim Felismino de Albuquerque Maranhão, Joaquim de Oliveira, João Joaquim de Sales, Pedro Marques de Meneses e João Pegado Cortez, todos estes de Arez, além de muitos outros.
O percurso foi feito rapidamente até a povoação de Campo de Santana, onde a comitiva se demorou por alguns minutos, antes de prosseguir a viagem até o mar, que distava cerca de quatro quilômetros.  Esse último trecho da viagem, foram feitos, uns de canoa e outros a cavalo, chegando por volta de 11 horas da manhã ao Camurupim.
Verificou-se in loco, que a barra estava quase obstruída, e o canal, que há poucos anos era largo e profundo, achava-se agora reduzido a um pequeno fio d’água.
Segundo o Dr. Junqueira Aires se, o serviço projetado for concluído, certamente irá corrigir ou atenuar a situação de perigo em que vive o município de Papary, caso contrário se a obstrução da atual barra persistir e as dunas continuarem a avançar impedindo o escoamento das águas para o mar, não tardará que todo o município de Papary seja invadido pelo crescimento do volume d’água da lagoa, que não encontrando esgoto, avançará em direção da Vila.
Da Barra do Camurupim voltaram os visitantes á Campo de Santana, onde foram cavalheirosamente hospedados pelo cidadão Acioli, abastado proprietário do lugar, e que não poupou esforços para obsequiar o ilustre governador e sua caravana.  Pelas quatro horas da tarde regressaram todos a Papary, para a residência do senhor José Araújo.
Durante o jantar, uma excelente orquestra composta de exímios e conhecidos instrumentalistas de Papary e Arez, foram cumprimentar o Exmo. Governador, fazendo-se ouvir um belo repertório magistralmente executado.  Os músicos de Arez foram levados por João Pegado Cortez, que era o chefe político de maior expressão na região naqueles tempos.
Na manhã seguinte regressaram os viajantes para a Estação de São José de Mipibu, onde tomaram o trem de volta para a capital.





29/08/2015

A CASA DA CULTURA NAIR MESQUITA

Valério Mesquita*
Mesquita.valerio@gmail.com

Permitam que o testemunho evocativo presida as minhas palavras.
 A casa da rua Dr. Francisco da Cruz tem a força do resgate das estações. Quantos fatos idos e vividos, quantos passos e olhares perdidos no tempo posso recolher, nos compartimentos, no jardim impregnados nas folhas, nas rosas, nas pétalas dos “dedais de ouro” ou no jasmineiro debruçado há mais de sessenta anos sobre o muro da calçada e cansado de dar boa noite? A estátua da deusa Minerva, de louça portuguesa, chantada no centro do jardim, guarda sobranceira a beleza e o perfume das rosas. Mas a maior e mais antiga delas encantou-se. Deixando-a de cultivá-las associou-se, agregou-se a elas através do doce mistério contemplativo das manhãs, das repetidas manhãs de ressurreição, de que nos falou o escritor Nilo Pereira.
Câmara Cascudo, disse, certa vez, imerso nas brumas dos oitenta anos, que “era uma saudade em vida agarrada ao sonho de continuar a viver”. Não há força mais dramática na passagem do ser humano pela vida do que a do senso trágico da sua própria brevidade.
A residência em foco remonta ao final do século dezenove para o início do século vinte, quando foi adquirida pelo comerciante Alfredo Adolfo de Mesquita, filho de Manoel Carneiro de Mesquita, oriundo do estado da Paraíba. Alfredo Adolfo de Mesquita, meu avô, além de agro-pecuarista, proprietário das fazendas Arvoredo, Telha e Lamarão, exerceu atividade comercial em Macaíba no ramo de lojas de roupas, calçados e bijuterias, bem assim em Natal à rua Dr. Barata (Natal Modelo e Casas Rubi) na avenida Rio Branco.
Do seu casamento com Ana Olindina de Mesquita, da família Baltazar Marinho, nasceram José, Alfredo, Amélia, Vicente, Paulo e Nininha. Em 1929, Alfredo Adolfo de Mesquita faleceu, sendo sucedido nas atividades pelos filhos, como também na política.
Neste casarão residência, no dia 30 de maio de 2001, celebrou-se o centenário de nascimento de Nair de Andrade Mesquita, pois a história dele é a história da família durante todo o século vinte. Ela foi a heroína política anônima, ainda crédula na grandeza do último milagre do velho PSD dos anos cinquenta, revivendo e reinventando as recordações limpas e as ilusões legítimas que um dia viajaram com ela.
Por último, cabe assinalar que esta construção, passarela permanente de notáveis e de humildes, sempre esteve aberta para receber o povo, ao longo de todo esse tempo. Ela se tornou uma referência, uma tradição dentro da história política, social e cultural de Macaíba. A partir de agora, como sede da Casa da Cultura preserva a memória e abriga as manifestações culturais do povo, dos estudantes e dos artistas da terra de Auta de Souza. Foi tombada pelo Patrimônio Histórico e Artístico do Rio Grande do Norte, por decisão do Conselho Estadual de Cultura e do governo do estado, em 16 de setembro de 2005 (decreto nº 18.515).


(*) Escritor.

28/08/2015


AMIGO EXISTE, SIM SENHOR!

* Adalberto Targino

 

A solidão tem sido a fera voraz a espreitar o homem contemporâneo, que, mesmo cercado de uma multidão, se sente cada vez mais sozinho e isolado...

O egoísmo, o narcisismo, a inveja, o individualismo e a egolatria fazem de certos indivíduos espantalhos humanos, os quais, mesmo frequentando clubes, templos e partidos políticos, continuam prisioneiros de si mesmos, pelo simples fato de buscarem receber sempre e nada retribuírem.

Alguns, lamentam: “não existe amigo”. Porque, no seu egocentrismo, esquecem que o único método de ter um amigo leal é ser um. Como São Francisco de Assis, é dando que se recebe. Doando-se com humildade e simplicidade, sem esperar nada, é que se recebe a dádiva do sentimento do querer bem sincero e até incondicional.

A Bíblia preconiza “ter um amigo é possuir um tesouro” e o dito popular ensina: “mais vale amigo na praça que dinheiro no caixa...”.

Ainda, o populacho assevera: “quem planta colhe”, significando que o solidário colhe solidariedade, especialmente quando faz sem esperar retribuição.

Jesus, o salvador-filósofo-avatar-guru-iniciado-mestre-Deus/Homem, recomendava que não haveria salvação, santidade ou nirvana sem amarmos os seres humanos como a nós mesmos. Aliás, somos partículas que se completam quando integradas a outras partículas semelhantes e ao Todo, Cosmo, Inteligência Suprema, Grande Arquiteto ou Deus.

            Entendo, inclusive com apoio científico e metafísico, que o egoísta, invejoso e odiento é autofágico, sofre mais com a felicidade alheia que com a sua própria dor, fogo que se autoconsome, vítima do efeito bumerangue, da lei do retorno e subproduto ou cinza de sua própria fogueira.

Por tudo isso, concluo que a amizade é a mão estendida sem perguntas; é crença e confiança na palavra e nos atos do outro, sem julgamentos precipitados e injustos.

            Nas agruras do universo, os viajores errantes tornam menos penosa a caminhada quando encontram almas irmãs, assim como “aves da mesma espécie que sempre voam juntas...”, independentemente de sexo, raça, idade ou condição social ou intelectual.

            O bom caráter censura o amigo reservadamente, enquanto, em público, rasga elogios às suas qualidades... Nesse sentido, São Tomás de Aquino prelecionava: “o bom amigo os meus defeitos aponta para que eu os corrija; o falso amigo exalta-me indevidamente para que persista no erro e caia no lodaçal da vaidade.”

            Ser bom amigo não precisa dar a vida pelo outro, mas basta estender a mão ao companheiro que resvala no abismo ou simplesmente com ele compartilha, sem competir, com desinteresse e alegria de suas vitórias e ascensões.

            O lamentável é que muitos preferem a destruição pelo elogio fácil do que receberem críticas salvadoras e construtivas.

            Miguel de Cervantes afirmava que “é melhor perder todos os bens materiais que um amigo”. Tudo, contudo, depende do dom sagrado do perdão e da tolerância com as diferenças...

            Ademais, se a gratidão é a memória do coração, ao ingrato compete sepultá-la, já que para este tipo tudo é descartável e transitório, inclusive a amizade.

            Afinal, amigo é uma escolha personalíssima, meditada, inteligente, enquanto a família é uma imposição do destino, da sorte, de forças alheias à nossa vontade.

            Pessoa grata e sensível, gosta pela simples razão de aglutinar, de servir, de somar e convergir, mesmo sem necessidade de ninguém para o seus fins pessoais. Nesse diapasão, entendo como Confúcio que “a melhor maneira de ser feliz é contribuir com a felicidade dos outros”.

           Ainda, faço minhas as palavras do inexcedível Ministro e Escritor José Américo de Almeida, que prelecionava: “com glórias, riquezas e sucessos todos se manifestam como amigos porque, ocultando a mesquinharia da inveja, prostram-se ao poder. No entanto, o amigo verdadeiro se revela na tristeza, desacertos e pobreza”.

            Este é o caminho indeclinável da amizade pura e sincera, cuja conquista jamais pertencerá aos ressentidos, magoados e egocêntricos, que jamais “amarão o próximo como a si mesmo”.

            Nesse ritmo, é que perguntaram certa vez a Epitácio Pessoa, único brasileiro que presidiu os três poderes da Nação (Presidente da República, Presidente do Congresso Nacional e Presidente do Supremo Tribunal Federal), qual o segredo do seu imenso sucesso, e ele respondeu que “tudo se devia a 50% de incansáveis dias e noites de estudo e trabalho e 50% a generosidade de amigos verdadeiros”.

            Em síntese, faço minhas as palavras do inefável Benjamim Franklin: “um irmão pode não ser um amigo, mas um amigo será sempre um irmão”.

            Amigo, porquanto, para quem primeiro sabe sê-lo, existe, sim senhor.

 

* O autor é Procurador do Estado