01/05/2021

Minhas Cartas de Cotovelo – verão de 2021-25 Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes Continuo firme, morando em Cotovelo, onde tenho a segurança contra doenças, recebo a vitamina D em estado natural, respiro o ar puro do mar, caminho dentro das possibilidades das minhas pernas combalidas e tenho a facilidade de todos os meios de comunicação ao meu dispor, inclusive ouvindo palestras, participando de lives, assistindo missas, ouvindo considerações de bons intérpretes da religião e tenho contado permanente com a minha família e amigos. A internet permite que eu administre meus pagamentos e minhas transferências de maneira simples, deixando-me tempo para continuar a escreve meus livros e artigos, preenchendo a minha vida, que ficou muito vazia com a partida da minha sempre lembrada THEREZINHA. Hoje, venho lembrar duas grandes datas, aqui desenvolvidas separadamente: 1º de Maio – Dia do Trabalho Por que 1º de maio é considerado o Dia do Trabalho ou do trabalhador? Aproveito texto publicado pela Calendarr disponibilizado na internet: _____________________________________________ Dia do Trabalho
O Dia do Trabalho ou Dia do Trabalhador é comemorado anualmente em 1º de maio em diversos países do mundo. O Dia do Trabalho é feriado nacional no Brasil, em Portugal, Rússia, França, Espanha, Argentina, entre outras nações. Esta data representa o momento que os empregados e as empresas têm para refletir sobre as legislações trabalhistas, normas e demais regras de trabalho. Nesta data também é homenageada a luta dos trabalhadores que reivindicaram por melhores condições trabalhistas. Graças à coragem e persistência desses trabalhadores, os direitos e benefícios atuais dos quais usufruímos foram conquistados. Origem do Dia do Trabalho Até meados do século XIX, os trabalhadores jamais pensaram em exigir seus direitos trabalhistas para seus patrões, apenas trabalhavam. Mas, a partir de 1886, aconteceu uma manifestação de trabalhadores nas ruas de Chicago, para reivindicar a redução da jornada de trabalho (de 13 horas para 8 horas diárias), e em 1º de maio desse ano milhares de pessoas foram às ruas iniciando uma greve geral nos Estados Unidos. Os conflitos estadunidenses ficaram conhecidos como Revolta de Haymarket. Três anos após as manifestações nos Estados Unidos (20 de junho de 1889, precisamente), foi convocada em Paris uma manifestação anual para reivindicação das horas de trabalho e foi programada para o dia 1º de Maio, como homenagem as lutas sindicais em Chicago. No dia 23 de abril de 1919, o Senado francês ratificou as 8 horas de trabalho e proclamou o dia 1º de maio como feriado. Após alguns anos, outros países também seguiram o exemplo da França e decretaram o dia 1º de maio como feriado nacional dedicado aos trabalhadores. Dia do Trabalho no Brasil No Brasil, o Dia do Trabalhador só foi reconhecido em 26 de setembro de 1924 através do decreto nº 4.859 assinado pelo então presidente Artur da Silva Bernardes. A criação da CLT (Consolidação das Leis de Trabalho) foi instituída através do Decreto-Lei nº 5.452, em 1º de Maio de 1943, na gestão de Getúlio Vargas. Durante o governo Vargas realizavam-se grandes manifestações que incluíam música, desfiles e normalmente o anúncio de alguma nova lei trabalhista. Até hoje, alguns governos seguem a tradição e comunicam o aumento do salário mínimo nesta data. O dia do trabalho é comemorado com manifestações convocadas pelas principais centrais sindicais do Brasil para revindicar melhores condições de trabalho. Dia do Trabalho nos Estados Unidos Nos Estados Unidos e Canadá, o Dia do Trabalho é conhecido como Labour Day e é celebrado na primeira segunda-feira do mês de setembro. URSS e Países Socialistas Na antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas e em países de orientação socialista, o 1º de Maio era a festa mais celebrada do calendário civil. Realizavam-se desfiles e feiras industriais onde o trabalhador era o protagonista. Mensagem para o Dia do Trabalhador Abençoadas são as mãos dos trabalhadores, responsáveis por fazer o motor da nossa nação em constante funcionamento! Feliz Dia do Trabalho! Como já diz o conhecido ditado: "o trabalho dignifica o homem!" Feliz Dia do Trabalhador! Não importa se é médico, advogado, empresário, faxineira ou porteiro... Todos os trabalhos são dignos e os trabalhadores devem ser respeitados e reconhecidos pelos serviços que prestam ao bem da comunidade! Feliz Dia do Trabalho! 1º de Maio - Dia da Literatura Em 1º de maio, comemora-se o Dia da Literatura Brasileira, data em que nasceu o escritor José de Alencar, considerado um dos mais importantes autores brasileiros. Um dia específico para homenagear a diversidade de autores e obras produzidas no país é um reconhecimento a um elemento cultural fundamental para a construção identitária de uma nação. O que se comemora no Dia da Literatura Brasileira? Comemora-se o Dia da Literatura Brasileira em 1º de maio, pois nessa data, em 1829, nasceu o escritor José de Alencar, autor de inúmeras obras que se tornaram clássicas da literatura nacional, como O guarani (1857), Lucíola (1862) e Senhora (1875). A escolha do dia de nascimento desse escritor para comemorar a importância de toda literatura brasileira deu-se em razão, sobretudo, do empenho de José de Alencar em prol da construção de um conjunto de obras genuinamente brasileiras, com enredos centrados em temáticas nacionais e formuladas em uma linguagem mais próxima possível do português falado no Brasil. Esse projeto nacionalista, que era a bandeira principal do romantismo, teve, portanto, José de Alencar como seu principal representante. José de Alencar, com sua obra constituída sobre temáticas brasileiras, como a representação de enredos passados no meio rural, no meio urbano, em contexto cultural indígena, abriu espaço para que se consolidasse no Brasil uma produção literária cada vez mais distanciada da portuguesa. Para conhecer mais acerca da vida e obra do autor homenageado no Dia da Literatura Brasileira, leia: José de Alencar. Movimentos literários do Brasil A história da literatura divide-se em fases temporais, cada uma com características estéticas, formais e ideológicas específicas, representando, no plano literário e artístico, o pensamento vigente da época de sua ocorrência. No Brasil, essas fases, ou movimentos literários, dividem-se em: · Quinhentismo: vigente no século XVI, correspondeu à fase inicial da literatura brasileira, caracterizada pela ocorrência de relatos de informação e textos de catequese. O padre José de Anchieta foi o principal autor desse período. · Barroco: vigente no século XVII, esse movimento refletiu os conflitos espirituais do homem, por isso o uso recorrente de antítese nas obras desse período. Destacaram-se os autores Padre Antonio Vieira e Gregório de Matos. · Arcadismo: vigente no século XVIII, esse movimento teve como marcada a busca pela racionalidade e pelo equilíbrio do classicismo. Destacaram-se os autores Tomas Antonio Gonzaga, Basílio da Gama e Cláudio Manoel da Costa. · Romantismo: vigente no século XIX, que destacava o romance. Os autores mais relevantes do período foram Castro Alves, José de Alencar, Gonçalves Dias, Casimiro de Abreu e Álvares de Azevedo. · Realismo: vigente no fim do século XIX, esse movimento buscava reproduzir os conflitos humanos e sociais da forma mais real possível. Destaque para Machado de Assis, Aluísio de Azevedo e Raul Pompéia. · Naturalismo: concomitante à ocorrência do realismo, também primava pela objetividade, mas associada a um tom cientificista e ao determinismo social. Destacaram-se Aluísio de Azevedo e Raul Pompéia. · Simbolismo: vigente no fim do século XIX, esse movimento opôs-se ao realismo/naturalismo, privilegiando, portanto, um tom místico. Seu principal representante foi o poeta Cruz e Souza. · Parnasianismo: vigente no início do século XX, esse movimento caracterizou-se pela valorização de formas rígidas no poema e utilização de temáticas clássicas. Os principais autores foram Olavo Bilac e Raimundo Correa. · Pré-modernismo e modernismo: movimentos que aconteceram de 1902 a 1930. Os autores mais influentes foram Euclides da Cunha, Augusto dos Anjos e Monteiro Lobato (pré-modernismo); Manuel Bandeira, Oswald de Andrade, Cassiano Ricardo e Mario de Andrade (modernismo). Dia da Literatura Brasileira | 1 de maio - Calendarr
Cinco grandes autores da literatura brasileira 1. Machado de Assis Nascido em 21 de junho de 1834, na cidade do Rio de Janeiro, e falecido em 1908, na mesma cidade, foi o principal autor do movimento realista brasileiro. Suas principais obras são Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881) e Dom Casmurro (1899). 2. Graciliano Ramos Nascido no interior de Alagoas, em 27 de outubro de 1892, e falecido em 1953, no Rio de Janeiro, foi um dos principais autores do chamado romance regionalista. Suas principais obras são São Bernardo (1934) e Vidas Secas (1938). 3. Guimarães Rosa Nascido em Cordisburgo, interior de Minas Gerais, em 27 de junho de 1908, e falecido em 19 de novembro de 1967, no Rio de Janeiro, foi um dos mais importantes contistas e romancistas modernista. Sua principal obra é Grande sertão: veredas (1956). 4. Carlos Drummond de Andrade Nascido em 31 de outubro de 1902, na cidade de Itabira, Minas Gerais, e falecido em 1987, no Rio de Janeiro, é considerado o maior poeta brasileiro. Entre inúmeros livros de poesia e crônica, destacam-se as obras poéticas Sentimento do mundo (1940), A rosa do povo (1945), e Amar se aprende amando (1985). 5. Clarice Lispector Nascida na Ucrânia, em 10 de dezembro de 1920, e falecida em 9 de dezembro de 1977, no Rio de Janeiro, é considerada a mais importante voz feminina na literatura brasileira. Destacam-se, no conjunto de sua produção literária, os seguintes livros: A paixão segundo GH (1964), Felicidade Clandestina (1971), A hora da estrela (1977). Veja também: 23 de abril – Dia Mundial do Livro e do Direito Autoral Cinco obras que você precisa conhecer da literatura brasileira 1. Noite na taverna Publicada em 1855, essa narrativa de Álvares de Azevedo (1831-1852), principal escritor da segunda geração do romantismo brasileiro, estrutura-se de modo a assemelhar-se a um livro de contos ou a uma novela, podendo ter suas partes lidas separadamente, apesar de ter um fio narrativo que as liga. O enredo gira em torno dos jovens boêmios Solfieri, Johann, Gennaro, Bertran, Hermann e Arnold, os quais, em uma taverna, contam histórias macabras que viveram um para o outro. 2. Dom Casmurro Publicado em 1899, esse romance, de Machado de Assis (1834-1908), é considerado um dos mais enigmáticos da história da literatura brasileira. Acometido por dúvidas e incertezas quanto à fidelidade de sua finada esposa (Capitu), o narrador-personagem Bento Santiago (Bentinho) conduz o leitor a seu passado, o qual tenta, por meio da narrativa, reconstituir a fim de “atar as duas pontas da vida”. Capitu traiu ou não Bentinho? Isso fica em aberto na obra, porém é justamente a construção narrativa ambígua, que se abre ora a uma ora a outra possibilidade, que faz desse clássico da literatura uma verdadeira obra-prima. 3. São Bernardo Publicado em 1934, esse romance, de Graciliano Ramos (1892-1953), é narrado por Paulo Honório, órfão pobre de pai e mãe que consegue, por meio de negociações vantajosas e questionáveis, adquirir a fazenda São Bernardo no interior alagoano. Após reestruturar a propriedade e tornar-se um fazendeiro influente, casa-se com a jovem professora Madalena, com quem tem embates e brigas por pensarem diferente: enquanto Paulo Honório mostra-se como um típico capitalista interessado unicamente em prosperar economicamente, sua esposa mostra-se solidária em relação aos explorados trabalhadores da fazenda. Após Madalena sucumbir a esse embate, Paulo Honório, já velho, procura reconstituir, com remorso e arrependimento, sua história, na tentativa de passá-la a limpo. 4. As horas nuas Publicado em 1989, esse romance, da escritora Lygia Fagundes Telles (1923), inova em muitos aspectos, principalmente em relação ao foco narrativo. Rosa Ambrósio, atriz decadente, expressa um monólogo interior em que expõe suas angústias psicológicas ao retomar seu passado e analisar seu presente. Coexistindo com essa narradora inicial, chama a atenção a presença de um pitoresco narrador, o gato de Rosa, chamado Rahul, o qual, com muita ironia, tece comentários acerca do que vê ou já viu no núcleo familiar da trama. Há ainda um terceiro narrador, dessa vez onisciente, que se centra na personagem Ananta, analista de Rosa Ambrósio. Além da multiplicidade do foco narrativo, merecem destaque o modo fragmentado com que o tempo e o espaço são apresentados. 5. Lavoura arcaica Publicado em 1975, esse romance, de Raduan Nassar (1935), adaptado às telas de cinema em 2001 pelo diretor Luiz Fernando de Carvalho, é narrado em primeira pessoa por André, um jovem da zona rural que deixa sua família, centrada na figura autoritária de seu pai, de descendência árabe, para morar só em uma cidade do interior. Mais do que o enredo, centrado nas inquietações subjetivas de um jovem oprimido pela figura paterna, destaca-se nessa obra o trabalho com a linguagem, que é elevada a um nível poético, já que o autor prioriza uma construção sintática muito concisa e rica em significado. Além disso, a intertextualidade com o texto bíblico e com elementos da tradição árabe é fator que enriquece essa obra de Raduan Nassar. Crédito da imagem [1] Nido Huebl / Shutterstock Publicado por: Leandro Guimarães

19/04/2021

CALVÁRIO DAS LETRAS Valério Mesquita Mesquita.valerio@gmail.com “Help! De tanto esperar já nem sei mais pedir socorro em português”. Assim falou conhecido intelectual da paróquia que habitamos. Viu ao derredor tudo abandonado, sucateado. Um amigo pedira um catálogo do patrimônio cultural da cidade para um grupo catarinense que visitava Natal. Em João Pessoa, Recife e Fortaleza a agenda dos turistas fora inteiramente cumprida. A expectativa era de que na cidade dos Reis Magos não seria diferente. Alguém do Rio Grande do Norte, numa das capitais antes visitadas, fornecera algumas informações sobre os pontos culturais a serem visitados. Deve ter sido um guia turístico desinformado da realidade em que se encontram os bens culturais móveis e imóveis do Estado. Apesar dos esforços dos órgãos de promoção cultural no enfrentamento dos problemas, não existem: dinheiro nem vontade política superior. Como explicar a sociedade e aos turistas por que o teatro Alberto Maranhão ainda está interditado? O museu Café Filho saqueado e fechado! A biblioteca Câmara Cascudo bloqueada, palco de tantas exposições de artistas locais, além do rico acervo de coleções de obras de autores nacionais e estaduais completamente entregues às baratas? O Palácio Potengi, sede da pinacoteca precisa de uma urgente restauração, pois é cartão de visita dos que chegam à cidade! O prédio centenário do antigo Q.G. da praça André de Albuquerque é outro que carece de cuidados e de uma conservação, tombado também pelo Patrimônio Histórico (Museu Câmara Cascudo). O Instituto Histórico e Geográfico – IHGRN, fundado em 1902, guardião de todos os documentos do Rio Grande do Norte colonial, imperial e republicano empenhou uma dotação de duzentos mil reais, obtida de emendas parlamentares da Assembleia Legislativa mas, teve o documento legal cancelado, o que prejudicou seriamente a digitalização do imenso acervo, após a conclusão da restauração do prédio de 1906, com recursos advindos da mesma fonte. Inimaginável, tal coisa! A cultura potiguar está a merecer o surgimento de vozes que despertem e unifiquem o pensamento e a ação da classe, além das entidades públicas e privadas, em defesa do patrimônio histórico, artístico, bibliográfico. Aliás, tudo isso pertence com mais legitimidade ao povo do que as instituições. Aguarda-se, igualmente, que os senhores parlamentares tomem consciência e utilizem as suas prerrogativas de representatividade porque a cultura de um povo é o que fica, quando tudo o mais passar. É do conhecimento de todos a crise econômica e financeira que se abateu também no nosso Estado. Mas, as autoridades administrativas que acolhem todos os seguimentos da sociedade, por que não consideram também dignos do diálogo, os responsáveis pelo contexto cultural? Seria a ação dos órgãos culturais uma atividade inútil e marginal? A cultura é uma atividade para sempre mendicante?

30/03/2021

TEMPESTADE Chove e mais do que nunca é preciso saber dos amigos sobretudo quando as cataratas se abrem e se transformam em chuvas torrenciais e os potiguaras atônitos exclamam Tupã! A taxa de ocupação em nossos corações chega ao máximo e neles já não cabem tantas lembranças As recordações faróis da vida submersa saltam em vão nas barreiras do tempo cinza que se põem cada vez mais altas e já não há mais lugar para a sesta ou para o alívio pois os deuses da chuva decidem abrir as torneiras e decretam lockdown em nossos corações assim na terra como no céu - Horácio Paiva

29/03/2021

Marcelo Alves Palavras do doutor Samuel Johnson (1709-1784), dito Doutor Johnson, foi um daqueles excêntricos gênios ingleses. Nascido na pequenina Lichfield, no oeste da Ilha, estudou na Universidade de Oxford. Mas faltou dinheiro e ele foi morar em Londres. Ganhar a vida. No jornalismo e, depois, tratando sobre quase tudo. Escreveu poesia. Ensaios variados. Muita crítica literária. Foi biógrafo de muita gente boa. A sua “Lives of the Most Eminent English Poets”, de 1781, não me deixa mentir. Foi lexicógrafo (vide seu famoso “Dictionary”) e editor sem par na história do seu país. Corpanzudo, rechonchudo mesmo (segundo os retratos que temos dele), cheio de tiques e manias, Samuel Johnson é por muitos celebrado como “o homem de letras mais distinto da história da Inglaterra”. Já idoso e debilitado, ele faleceu na adorada capital do Reino Unido. De toda sorte, acho que o legado do Doutor Johnson reside hoje sobretudo em duas grandes obras. Uma é o seu “A Dictionary of the English Language”, também chamado de “Johnson’s Dictionary”, inicialmente publicado em 1755. Dizem que ele levou sete anos para escrevê-lo, praticamente sozinho. Foi revisado e reeditado várias vezes pelo autor em vida. Até a publicação do “Oxford English Dictionary”, mais de uma centena de anos depois, foi o dicionário de referência para a língua inglesa. O “Johnson’s Dictionary” é frequentemente tido como um dos mais importantes empreendimentos da cultura universal, talvez até o maior já realizado por uma só pessoa nas condições de então. Curiosamente, a segunda obra à qual devemos a badalação do Doutor Johnson não foi escrita por ele, mas, sim, por seu amigo e biógrafo James Boswell (1740-1795). Trata-se de “The Life of Samuel Johnson”, um texto enorme, que possuo numa bela edição da Everyman’s Library, de 1992. Dela consta: “A mais celebrada biografia em inglês é um grupo de retratos na qual um homem extraordinário desenha as figuras de uma dúzia mais. No centro desse brilhante círculo, o qual inclui Burke, Reynolds, Garrick, Fanny Burney e mesmo George III, Boswell foca a poderosa, problemática e original figura de Samuel Johnson, que pontifica acima de todas as outras. Embora esta seja também um retrato íntimo da vida doméstica, que mistura os maiores conversadores de uma era dourada da conversa com os amigos mais simples do nosso herói na maior e mais tocante de todas as biografias”. Noutros tempos, morando em Londres, paguei meu tributo ao enorme Doutor Johnson. Recordo-me de haver ido algumas vezes à Dr Johnson’s House, casa-museu que fica no número 17 da Gough Square, na City londrina. Bem pertinho da biblioteca do King’s College London – KCL, onde estudava quase todos os dias. Consta que, morando de 1748 a 1759, Samuel Johnson teria ali terminado o seu Dicionário. Sítio belo e histórico. Vale a pena visitar. Era – e sou cada vez mais – fã de Samuel Johnson. Sobretudo de suas frases. O Doutor, à moda de muitos sábios, era um grande frasista. Uma delas, em especial, bastante adequada para o Brasil de hoje, muito me tocou: “O patriotismo é o último refúgio do canalha”. E olhem que o homem era um reconhecido conservador. Matutava sempre sobre essa sentença quando ia tomar umas pints no Ye Olde Cheshire Cheese, antiquíssimo pub da região (sito na Fleet Street), outrora frequentado por Charles Dickens (1812-1870), Arthur Conan Doyle (1859-1930), G.K. Chesterton (1874-1936) e o próprio Johnson, entre outros gigantes das letras. Eram todos regulars do local. Ao menos espiritualmente estava bem acompanhado. E ainda matuto. Pois são as palavras do verdadeiro doutor! Marcelo Alves Dias de Souza Procurador Regional da República Doutor em Direito (PhD in Law) pelo King’s College London – KCL
HOSPITAL SAMARITANO Valério Mesquita* Mesquita.valerio@gmail.com O Hospital Infantil foi criado em 1917, pelo Dr. Manoel Varela Santiago, com atendimento ambulatorial às crianças do Rio Grande do Norte, principalmente de baixo poder aquisitivo. Antes da sua morte, o dr. Silvio Lamartine assumiu a direção do hospital, permanecendo nessa função por mais de 30 anos. Nos últimos anos, o “Varela Santiago” ganhou significativo impulso, diversificando e ampliando o seu atendimento, através de mais de vinte especialidades, assistindo uma média de oito a dez mil crianças por mês. As suas UTIs, encontram-se permanentemente lotadas. Sobrevive com a contribuição de algumas empresas, convênios com o governo do estado e com a ajuda financeira de pessoas que conhecem e acreditam na seriedade do trabalho desenvolvido pelo médico Paulo Xavier, seu atual diretor. Trata-se do único hospital pediátrico do Rio Grande do Norte que atende exclusivamente através do programa SUS. Ou seja, o SUS é porta única para se ter acesso ao mesmo. Caso raro, que merece não só o aplauso do povo norte-riograndense, mas, de igual forma, a plena aprovação ao trabalho do grande profissional e magnífico ser humano - Dr. Paulo Xavier – que ali tem transformado os seus dias, em exercício de doação e permanente lição de amor. A saúde do Rio Grande do Norte vive um quadro difícil de sua existência devido ao Covid. O exemplo impactante é a situação do Walfredo Gurgel, mais conhecido como o “hospital dos mártires”, onde os doentes continuam jogados nos corredores, sem falar nas UPAs. O Walfredo Gurgel não estaria sendo vítima da “ambulancioterapia” dos municípios interioranos? Por que não equipar e ampliar a estrutura de atendimento dos hospitais públicos da grande Natal para absorver essa clientela e livrar o Walfredo Gurgel desse fluxo de interminável agonia? Cito o Walfredo Gurgel porque me parece que os problemas de saúde não estão sendo tratados com racionalidade e disciplina. Digo, melhor: falta uma política descentralizada e investimentos maciços na área da saúde. Como, um único hospital pediátrico que atende somente pelo SUS, da rede privada, consegue equalizar, sistematizar e manter a sua qualidade de atendimento, como vem procedendo o Varela Santiago? Acrescente-se aí um dado importante: a demanda de pacientes que recebe do interior e da capital é geometricamente crescente porquanto a população infantil desassistida tornou-se incalculável. Você conhece, por dentro, a ala das crianças que padecem de câncer? Eu vi e não pude controlar a emoção e um quase desespero. Foi aí que me lembrei dos que moram em mansões e palacetes de luxo, que vivem uma vida de dissipações com gastos supérfluos achando que nunca adoecerão. Veio-me à cabeça um evento como o carnatal onde os promotores ganham rios de dinheiro e não se sensibilizam em ajudar a criança cancerosa. Antes, as damas da sociedade e dos clubes de serviço promoviam chás e festas em benefício do hospital infantil. Hoje, pagam caro a vaidade social para exibir as suas futilidades e esquecem os inocentes pacientes portadores de tumores malignos. Por isso, louvo e aplaudo, o trabalho do Dr. Paulo Xavier e toda a sua equipe de auxiliares que mantêm acesa a chama votiva do ideal hipocrático de Manoel Varela Santiago e seu sucessor Silvio Lamartine. Não significa dizer, com efeito, que o Hospital Infantil é auto-suficiente e já dispensa ajudas. Absolutamente. O condão do meu reconhecimento tem o objetivo de registrar e agradecer as vidas salvas de milhares de crianças ao longo do tempo. E que a sociedade pode e deve ampliar esse apoio, esse auxilio, porque o Hospital Infantil Varela Santiago é um patrimônio de Natal e do Rio Grande do Norte. Meu Deus, o que seria das crianças pobres se ele não existisse!! (*) Escritor

26/03/2021

Comendadores pontifícios do RN Padre João Medeiros Filho “Façamos o elogio de homens ilustres, nossos antepassados, através das gerações”, recomenda o Livro do Eclesiástico ou Sirácida (Sr 44, 1). A comenda é uma condecoração concedida a pessoas que se destacam em suas áreas de atuação. O Vaticano outorga esta honraria a leigos que prestam relevantes serviços à Igreja. Costuma agraciar por meio de cinco instituições. São as ordens do Santo Sepulcro, Soberana de Malta, São Pio X (Piana), São Silvestre e São Gregório Magno. Esta detém a precedência sobre as demais. Conferem quatro graus: cavaleiro, dama, oficial e comendador, sendo este o mais alto. Seus detentores desfrutam de privilégios junto à Sé Apostólica, como, trânsito livre nas dependências pontifícias e direito à saudação protocolar da Guarda Suíça. Além das insígnias próprias, são contemplados com brasão e heráldica personalizados. No século passado, o Rio Grande do Norte foi aquinhoado com cinco comendadores pontifícios. Justas e merecidas homenagens. O primeiro é Luís da Câmara Cascudo, ícone de nossa cultura. Levantou os dados dos registros (cartas régias, decretos imperiais, leis provinciais, provisões diocesanas etc.) da criação de nossas paróquias, até os idos de 1950. O Capítulo IX de sua História do Rio Grande do Norte volta-se para a tarefa de evangelização da província. Publicou numerosos estudos sobre vultos religiosos potiguares. Dom Marcolino Esmeraldo de Souza Dantas, quando arcebispo de Natal, solicitou ao Papa condecorar o renomado pesquisador e antropólogo. Entretanto, coube a Dom Eugênio de Araújo Sales, bispo auxiliar, a entrega do galardão, que o metropolita havia pleiteado, pois, na ocasião, Dom Marcolino já padecia de cegueira total. Otto de Brito Guerra é a expressão da liderança intelectual católica de nosso estado. Jurista e mestre de gerações, detentor de inúmeros títulos, membro de alguns movimentos e irmandades, distinguia-se também pelo elevado saber místico-teológico, especialmente no campo da Doutrina Social da Igreja. Sobre esta temática possuía, à época, a mais completa biblioteca da América Latina. Contribuiu para a organização das emissoras rurais de nossas dioceses. O Concílio Vaticano II deve-lhe muitas páginas da Constituição “Guadium et Spes”. Seus artigos em jornais e revistas revelam a profundidade de seu pensamento religioso. Outro homem marcado pelo cristianismo é o professor Ulysses Celestino de Góis. Consagrou-se como alma das cooperativas de crédito, incentivador do ensino da contabilidade e, durante anos, dirigente da Congregação Mariana de Natal. Esta veio a ser uma grande escola de formação católica, a exemplo do Centro Dom Vital (RJ), celeiro de tantos líderes cristãos, como Tristão de Athayde, Sobral Pinto e outros. Em gratidão a seu trabalho apostólico, o Sumo Pontífice outorgou-lhe a comenda, reconhecendo igualmente sua piedade e devoção à Virgem Santíssima. Além disso, foi um mecenas para nossa arquidiocese. Hélio Mamede de Freitas Galvão era, sem dúvida, um católico convicto e fervoroso de nossa terra. Tive a honra de ser seu aluno no Seminário de São Pedro, em Natal. Homem de sólida fé, piedoso e probo, foi o defensor ardoroso do patrimônio das paróquias, por vezes, dilapidado pela incúria ou desconhecimento dos gestores. Prestou incomensurável contributo à pacificação do RN. Seu parecer canônico-jurídico – a pedido do bispado de Caicó – em defesa da candidatura de Monsenhor Walfredo Gurgel ao governo do estado, foi técnico e convincente. Respondendo à diocese seridoense e autorizando a candidatura daquele eclesiástico, Dom Sebastião Baggio, Núncio Apostólico no Brasil, assim se expressou: “Brilhante peça jurídica. Vislumbra-se no autor a fé profunda de um autêntico cristão.” Há poucos meses, foi juntar-se aos eleitos de Deus o último comendador pontifício norte-rio-grandense João Wilson Mendes Melo. Educador, advogado, historiador, jornalista, membro de várias irmandades e assessor do arcebispado. Dirigiu diversas instituições de ensino e tornou-se o formador de muitas consciências na Congregação Mariana de Natal, enquanto responsável pelas palestras, cursos e retiros dos congregados. A Igreja muito deve a esses filhos, voltados para assuntos eclesiais. Constituíram a vanguarda do pensamento e do laicato católico potiguar. Tal tarefa deveria ser incentivada pelas faculdades de teologia, cujo objetivo consiste também em responder ao desafio de pensar o Evangelho e sua inculturação junto ao povo. A maior recompensa desses eminentes conterrâneos é a glória celestial, pois “seus nomes estão inscritos no Livro da Vida” (Lc 10, 20).

23/03/2021

Marcelo Alves Desnego! Pouquíssima gente conhece um tal François-Marie Arouet (1694-1778). Mas muitos já ouviram falar de Voltaire. Eles são a mesma pessoa. O historiador e filósofo iluminista que impulsionou as Revoluções Francesa e Americana. O aristocrata liberal, conselheiro de reis, mas também preso e exilado de seu país. O polemista refinado que atacou o Cristianismo (em especial a Igreja Católica) e seus dogmas, que bradou contra a intolerância reinante e que defendeu a separação entre a Igreja e o Estado e a liberdade de crença e de expressão. O homem a quem foi atribuída a frase: “Posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo”. O escritor prolífico, mestre em todos os estilos: teatro, poesia, romances, cartas, panfletos e ensaios variados. Muitos títulos nos vêm à cabeça, como os ensaios “Lettres philosophiques” (1734), “Dictionnaire philosophique” (1752) e “Traité sur la tolérance” (1763), os romances/contos filosóficos “Micromégas” (1752), “Zadig, ou La Destinée” (1748) e “Candide, ou l'Optimisme” (1759) e as peças “Mahomet” (1741) e “Tancrède” (1760). Foi best-seller internacional. Viveu na Suíça, na minúscula Ferney. Já idoso, voltou a Paris. Morreu em glória e se acha sepultado no Panteão dos franceses. Da imensa obra de Voltaire, um título, em especial, hoje me interessa: “Cândido, ou O Otimismo”. Trata-se da saga de um jovem, o tal Cândido, que, em princípio, vive protegido dos males do mundo num castelo idílico. Cândido é doutrinado pelo seu professor Pangloss, por sua vez um seguidor do “otimismo” do filósofo e polímata Leibniz (1646-1716). “O nosso universo é o melhor dos mundos possíveis que Deus poderia ter criado”, dizia o grande pensador alemão. Tudo muda quando Cândido é descoberto em “enxerimentos” com a filha do senhor da casa, a amada Cunégonde. E começa sua jornada errática pelos sofrimentos da terra redonda. Naufrágios, terremotos (o de Lisboa, de 1755), guerras (a dos 7 anos), fanatismo e escravidão, correndo mundo afora, indo bater até no nosso Paraguai. Não vou contar o final, claro. Mas registro que, embora em tom picaresco, “Cândido” é aquilo que os alemães consagraram como romance de formação, o “Bildungsroman”. É a obra-prima de Voltaire, diz-se. Como lembra Jean-Claude Berton, em “50 romans clés de la littérature française” (Hatier, 1993), “Cândido” é uma viagem filosófica através de uma porção de temas: o problema do mal, a injustiça, a piedade, o papel da religião, a moralidade em si. Mas o que se destaca nessa obra, a meu ver, é a ironia. Voltaire ridiculariza quase tudo: os governos e os seus exércitos, a religião e os seus teólogos, filosofias e os seus filósofos, até o grande Leibniz. Afinal, “tudo vai bem, porque tudo poderia ser pior”. “Cândido” desgostou muitos. Como registram Danièle Nony e Alain André, em “Littérature française: histoire et anthologie” (Hatier, 1987), “editada em Genebra sob um nome falso, a obra foi distribuída clandestinamente até ser descoberta, condenada e queimada”. A ironia é um troço danado. Destrói mitos. Diz muitas verdades. E, como li outro dia, não devemos achar que as pessoas vão gostar da gente pelas nossas opiniões, quando mais mordazes. Hoje, vivemos algo que tangencia o otimismo de “Cândido”. Só que mais perigoso. É o “negacionismo”. Que se dá por medo ou por cretinice mesmo. Nega-se a pandemia da Covid-19. Nega-se a existência do vírus. Nega-se sua transmissão por contato entre pessoas. Negam-se as vacinas. Negam-se as máscaras. Negam-se os números. Nega-se a Ciência. Nega-se até a morte. Bom, embora não seja um Voltaire, eu faço minha parte. Todas as semanas, todos os dias, todas as horas, séria ou ironicamente, eu desnego! Marcelo Alves Dias de Souza Procurador Regional da República Doutor em Direito (PhD in Law) pelo King’s College London – KCL Postado por MIRANDA GOMES às 09:48 Nenhum comentário: MÚSICA POTIGUAR BRASILEIRA Valério Mesquita mesquita.valerio@gmail.com Não é pretensão, arrogância ou entusiasmo pueril. Não é uma constatação baseada em suposto direito. Antes de tudo é uma conquista. Existe, sim, hoje, uma música potiguar brasileira formada por expressões que nada ficam a dever aos compositores e intérpretes do Ceará e Pernambuco. Nesses estados o poder público, a iniciativa privada e a mídia atuam financeiramente e divulgam os seus artistas. No Rio Grande do Norte o apoio é tímido e, até parece, que não acreditam no potencial do talento do musicista, na sua criatividade e na beleza de sua poesia. A característica hereditária da cultura musical potiguar vem de um Otoniel Menezes, Eduardo Medeiros, Tonheca Dantas, Felinto Lúcio, das modinhas de Auta de Souza, da inspiração de K-Ximbinho e Hianto de Almeida, um dos precursores da bossa nova. O tempo e o vento, o sol e as águas do Potengi esculpiram uma nova constelação musical no Rio Grande do Norte que me entusiasma e me induz a aplaudir a todos quantos prestigiam os compositores e intérpretes – alguns deles - somente comecei a ouvi-los através dos programas da Rádio FM Universitária. Ao ouvir “O Poema Nordestino”, “Forró pra valer” de Galvão Filho e Chico Morais cheguei ao CD e ao autor, que é filho do saudoso Severino Galvão. Trata-se de uma “família musical”, a começar de D. Elvira Galvão, no seu reinado da Avenida 10, ensinou aos filhos a “arte milenar do rabequeiro e do sanfoneiro”: Erinalda, Erineide, Eri, João Galvão e o grande Babal. O CD contém treze composições da mais fina poética nordestina, sem o lugar-comum dos apeladores do erotismo e da imoralidade que corrompem o sentimento da alma sertaneja. “Não, na minha rede”, “A energia dos Cristais”, “Tem dez no forró”, “Saudade D’ocê”, são versos que relembram Gonzagão, Humberto Teixeira e tantos outros reis do baião e da arte popular. O Rio Grande do Norte tem a sua música popular genuína nascida das raízes, da gente e do folclore. Esse plantel notável inclui Elino Julião, Enoch Domingos, Chico Morais, Cezar e Zé Fontes, Almir Padilha, Dozinho, Tarcísio Flor, Lane Cardoso, Marina Elali, Carlinhos Zens, Glorinha Oliveira, Rejane Luna, Zé Dias (animador cultural), Lucinha Lira, Regional Sonoroso, Paulo Tito, Liz Nôga, em nome de quem saúdo os grandes cantores da música seresteira do Rio Grande do Norte. Não cabem aqui nestas linhas mencionar todos. Mas, uma coisa se torna importante: a conscientização de que temos uma música potiguar brasileira e que precisa ser valorizada o quanto antes. (*) Escritor