23/03/2021

Marcelo Alves Desnego! Pouquíssima gente conhece um tal François-Marie Arouet (1694-1778). Mas muitos já ouviram falar de Voltaire. Eles são a mesma pessoa. O historiador e filósofo iluminista que impulsionou as Revoluções Francesa e Americana. O aristocrata liberal, conselheiro de reis, mas também preso e exilado de seu país. O polemista refinado que atacou o Cristianismo (em especial a Igreja Católica) e seus dogmas, que bradou contra a intolerância reinante e que defendeu a separação entre a Igreja e o Estado e a liberdade de crença e de expressão. O homem a quem foi atribuída a frase: “Posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo”. O escritor prolífico, mestre em todos os estilos: teatro, poesia, romances, cartas, panfletos e ensaios variados. Muitos títulos nos vêm à cabeça, como os ensaios “Lettres philosophiques” (1734), “Dictionnaire philosophique” (1752) e “Traité sur la tolérance” (1763), os romances/contos filosóficos “Micromégas” (1752), “Zadig, ou La Destinée” (1748) e “Candide, ou l'Optimisme” (1759) e as peças “Mahomet” (1741) e “Tancrède” (1760). Foi best-seller internacional. Viveu na Suíça, na minúscula Ferney. Já idoso, voltou a Paris. Morreu em glória e se acha sepultado no Panteão dos franceses. Da imensa obra de Voltaire, um título, em especial, hoje me interessa: “Cândido, ou O Otimismo”. Trata-se da saga de um jovem, o tal Cândido, que, em princípio, vive protegido dos males do mundo num castelo idílico. Cândido é doutrinado pelo seu professor Pangloss, por sua vez um seguidor do “otimismo” do filósofo e polímata Leibniz (1646-1716). “O nosso universo é o melhor dos mundos possíveis que Deus poderia ter criado”, dizia o grande pensador alemão. Tudo muda quando Cândido é descoberto em “enxerimentos” com a filha do senhor da casa, a amada Cunégonde. E começa sua jornada errática pelos sofrimentos da terra redonda. Naufrágios, terremotos (o de Lisboa, de 1755), guerras (a dos 7 anos), fanatismo e escravidão, correndo mundo afora, indo bater até no nosso Paraguai. Não vou contar o final, claro. Mas registro que, embora em tom picaresco, “Cândido” é aquilo que os alemães consagraram como romance de formação, o “Bildungsroman”. É a obra-prima de Voltaire, diz-se. Como lembra Jean-Claude Berton, em “50 romans clés de la littérature française” (Hatier, 1993), “Cândido” é uma viagem filosófica através de uma porção de temas: o problema do mal, a injustiça, a piedade, o papel da religião, a moralidade em si. Mas o que se destaca nessa obra, a meu ver, é a ironia. Voltaire ridiculariza quase tudo: os governos e os seus exércitos, a religião e os seus teólogos, filosofias e os seus filósofos, até o grande Leibniz. Afinal, “tudo vai bem, porque tudo poderia ser pior”. “Cândido” desgostou muitos. Como registram Danièle Nony e Alain André, em “Littérature française: histoire et anthologie” (Hatier, 1987), “editada em Genebra sob um nome falso, a obra foi distribuída clandestinamente até ser descoberta, condenada e queimada”. A ironia é um troço danado. Destrói mitos. Diz muitas verdades. E, como li outro dia, não devemos achar que as pessoas vão gostar da gente pelas nossas opiniões, quando mais mordazes. Hoje, vivemos algo que tangencia o otimismo de “Cândido”. Só que mais perigoso. É o “negacionismo”. Que se dá por medo ou por cretinice mesmo. Nega-se a pandemia da Covid-19. Nega-se a existência do vírus. Nega-se sua transmissão por contato entre pessoas. Negam-se as vacinas. Negam-se as máscaras. Negam-se os números. Nega-se a Ciência. Nega-se até a morte. Bom, embora não seja um Voltaire, eu faço minha parte. Todas as semanas, todos os dias, todas as horas, séria ou ironicamente, eu desnego! Marcelo Alves Dias de Souza Procurador Regional da República Doutor em Direito (PhD in Law) pelo King’s College London – KCL Postado por MIRANDA GOMES às 09:48 Nenhum comentário: MÚSICA POTIGUAR BRASILEIRA Valério Mesquita mesquita.valerio@gmail.com Não é pretensão, arrogância ou entusiasmo pueril. Não é uma constatação baseada em suposto direito. Antes de tudo é uma conquista. Existe, sim, hoje, uma música potiguar brasileira formada por expressões que nada ficam a dever aos compositores e intérpretes do Ceará e Pernambuco. Nesses estados o poder público, a iniciativa privada e a mídia atuam financeiramente e divulgam os seus artistas. No Rio Grande do Norte o apoio é tímido e, até parece, que não acreditam no potencial do talento do musicista, na sua criatividade e na beleza de sua poesia. A característica hereditária da cultura musical potiguar vem de um Otoniel Menezes, Eduardo Medeiros, Tonheca Dantas, Felinto Lúcio, das modinhas de Auta de Souza, da inspiração de K-Ximbinho e Hianto de Almeida, um dos precursores da bossa nova. O tempo e o vento, o sol e as águas do Potengi esculpiram uma nova constelação musical no Rio Grande do Norte que me entusiasma e me induz a aplaudir a todos quantos prestigiam os compositores e intérpretes – alguns deles - somente comecei a ouvi-los através dos programas da Rádio FM Universitária. Ao ouvir “O Poema Nordestino”, “Forró pra valer” de Galvão Filho e Chico Morais cheguei ao CD e ao autor, que é filho do saudoso Severino Galvão. Trata-se de uma “família musical”, a começar de D. Elvira Galvão, no seu reinado da Avenida 10, ensinou aos filhos a “arte milenar do rabequeiro e do sanfoneiro”: Erinalda, Erineide, Eri, João Galvão e o grande Babal. O CD contém treze composições da mais fina poética nordestina, sem o lugar-comum dos apeladores do erotismo e da imoralidade que corrompem o sentimento da alma sertaneja. “Não, na minha rede”, “A energia dos Cristais”, “Tem dez no forró”, “Saudade D’ocê”, são versos que relembram Gonzagão, Humberto Teixeira e tantos outros reis do baião e da arte popular. O Rio Grande do Norte tem a sua música popular genuína nascida das raízes, da gente e do folclore. Esse plantel notável inclui Elino Julião, Enoch Domingos, Chico Morais, Cezar e Zé Fontes, Almir Padilha, Dozinho, Tarcísio Flor, Lane Cardoso, Marina Elali, Carlinhos Zens, Glorinha Oliveira, Rejane Luna, Zé Dias (animador cultural), Lucinha Lira, Regional Sonoroso, Paulo Tito, Liz Nôga, em nome de quem saúdo os grandes cantores da música seresteira do Rio Grande do Norte. Não cabem aqui nestas linhas mencionar todos. Mas, uma coisa se torna importante: a conscientização de que temos uma música potiguar brasileira e que precisa ser valorizada o quanto antes. (*) Escritor

Um comentário:

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