17/04/2019


PRAIEIRA (96 ANOS)

Valério Mesquita*
Mesquita.valerio@gmail.com

Muitos já cantaram e falaram sobre “Serenata do Pescador”, composição imortal de Othoniel Menezes e musicada por Eduardo Medeiros que atravessou o tempo e o vento com a mesma beleza sonora e poética. A pesquisadora Leide Câmara reuniu a melhor geração de intérpretes norte-riograndenses que gravaram a composição, uma estrofe cada um, pela primeira vez em estúdio. Se os estilos de cantar de cada um são distintos, pelo timbre de voz, a inflexão, a entonação dos versos, é inegável a intensidade e a paixão de todos na interpretação, como se estivessem vivendo a fascinação do pescador ante o permanente e o efêmero da aventura marítima.
Esse poema musicado de 1923 alcançou a força de uma obra prima e se tornou hoje a canção tradicional de Natal pelo paladar do povo. Nem precisaria a eficácia de um decreto oficial. Lembro a noite de lançamento que se realizou no Palácio da Cultura (80 anos), onde a confrade Leide Câmara, fiel porta-estandarte da música potiguar, reuniu centenas de natalenses de boa vontade que não deixam cair a bandeira, a riqueza e a beleza do talento dos nossos músicos e intérpretes. O disco teve a capa do imortal Dorian Gray e a apresentação de vários expoentes da nossa cultura. Fui presente e me senti feliz por prestigiar o evento, passageiro do batel naquela noite de navegação e delicadeza aquática.
Tratou-se de um acontecimento que fala a alma e o coração de Natal e precisava repercutir por que não é fugaz e frívolo como o carnatal. Vivemos numa cidade que lança livros que não se lêem, línguas que não se aprendem (exceção para aquelas ferinas), amor que não se dá, a não ser aqueles movidos à álcool e as drogas, próprios da folia doidivana onde tudo depois é esquecido. Província que desfila vaidade nas crônicas e só veste abadás nas passarelas. Natal precisa saber quem é e a que veio. Carnatal não é cultura. Mas, sim dinheiro, ganância, transitoriedade e consumo de carne. Por que não prestigiar o autor, o músico, a música e o cantor norte-rio-grandense? Só pensam em lucro fácil e fáctil. Todo folião que se despedaça no carnatal não retorna mais inteiro. Perdem a identidade assim como Natal perde, a cada ano, a sua cara e a própria identidade cultural.
Por isso cultuo o “pão cotidiano” das coisas nossas sem deixar de me preocupar com o poente apagado do Potengi amado, outrora tão aceso e contemplado por Câmara Cascudo que sempre valorizou os temas, as criações, os autores e o patrimônio da cultura do Rio Grande do Norte. O mundo ainda não acabou por causa de dez por cento de cristãos de fé e penitência de todas as religiões do planeta. E a música potiguar brasileira não se exauriu ainda por que existem figuras como Leide Câmara e todos os doze intérpretes de Praieira, além dos seis músicos, somados às dezenas de outros profissionais espalhados pelo Rio Grande do Norte que vivificam o labor diário de compor e cantar a música genuína de nossas origens e vertentes. Ouçamos Fernando Pessoa:  “a vida é breve, a arte é longa”.

(*) Escritor.

15/04/2019


A cidade dos livros
No ano de 2002, acho que era fins de março, passei uma temporada no Corpus Christi College, na Oxford University. Fui bolsista do British Council (bendito Conselho!), como representante brasileiro, para participar do curso “Tackling Corruption and Establishing Standards in Public Life”. Nesses dias, assistimos a muitas palestras do tipo: “Por que os sistemas produzem corrupção?”, “Por que o financiamento eleitoral é uma grande fonte de corrupção?” e “Como nós podemos expor a corrupção – ideias de um informante”. E participamos de vários outros seminários e de trabalhos em grupo.
Já faz tanto tempo, agora me dou conta. Estou ficando (…) experiente.
De toda sorte, como passei coisa de dois meses nessa temporada de estudos e pesquisas no Reino Unido – matriculei-me também numa escola de inglês em Oxford e ainda dei umas palestras como professor visitante na University of Northumbria at Newcastle (mas isso é outra história) –, tive tempo e oportunidade de viajar, nos finais de semana, pelo interior da Ilha Britânica.
Uma das viagens mais interessantes que fiz, partindo de Oxford, de carro, dirigindo na mão inglesa (Deus nos protege!), foi até a cidadezinha de Hay-on-Wye, a “cidade dos livros” (“The Town of Books”, no idioma da Ilha), já no País de Gales.
No caminho, recordo-me, passei uma tarde inteira na belíssima Stratford-upon-Avon, a cidade natal de Shakespeare (1564-1616). Mas isso, em se tratando da vida do autor do Hamlet, merece uma outra – e exclusiva – crônica. E pernoitei em Ross-on-Wye, uma pequena cidade mercado das “midlands” inglesas, postada em um penhasco sobre o tal rio Wye, que reivindica ter sido o berço, em meados do século 18, da indústria turística na Ilha Britânica. Não sei se é verdade. Mas topei com um “bed and breakfeast” bom e barato e ali pernoitei. Como eu gosto. Valeu a pena: Ross-on-Wye é também belíssima.
Cheguei a Hay-on-Wye – a “cidade dos livros” – no dia seguinte. Ela é simplesmente minúscula. Coisa de menos de 2 mil habitantes permanentes. E sua relação com os livros retroage à década de 1960, quando uma livraria foi aberta ali por um tal Richard Booth (1938-), que, vivendo no Hay Castle, uma mansão construída no terreno do antigo castelo local, ainda hoje detém o título honorífico de “Rei da Hay Independente”. Portanto, para os padrões britânicos, essa relação da cidadezinha com os livros nem é tão antiga assim.
Mas, como constava do meu já muito usado “Guia Visual Folha de São Paulo – Inglaterra Escócia e País de Gales” (PubliFolha, 1998), essa “belíssima cidade fronteiriça nas Black Mountains [precisamente nos limites do Brecon Beacons National Park] recebe amantes da literatura do mundo todo. Hay-on-Wye tem mais de 25 lojas de livros usados com milhões de títulos. No começo do verão, a cidade promove um festival de literatura de muito prestígio [o ‘Hay Festival of Literature and the Art’]”. É isso mesmo.
De minha parte, adorei Hay-on-Wye. Pelo que me recordo, cheguei um pouquinho antes do tal “Hay Festival of Literature and the Art”, que, de fins de maio para o começo de junho, por dez dias, reúne, na minúscula cidade, coisa de 100 mil amantes de livros (e a cada ano, desde 1988, vem crescendo mais). A coisa já estava bem movimentada. Livros, livreiros e leitores por todo canto. Em prédios, casas, carros e na rua. Muito colorido e divertido. Tudo fervilhando. Mas limpo e organizado (na medida do possível, em se tratando de livros). Um mundo à parte. Quase um parque temático (de livros!). Lindo. E confirmei que Hay-on-Wye faz mesmo jus ao seu posto de mais famoso centro literário/livresco britânico, em virtude do seu festival e desses seus muitos (para lá de três dezenas, hoje, com certeza) comércios de livros, tanto novos como usados, alguns até, para os cultores da bibliofilia (o que não é bem o meu caso), raros e muito valiosos.
Tempos depois, ao adquirir o meu precioso “The Oxford Guide to Literary Britain & Ireland” (Oxford University Press, 2008), descobri que não estou só nessa minha ótima impressão de Hay-on-Wye. Li nesse livrão – quase quatrocentas páginas, em formato grande, com muitos textos e fotos – que o ex-Presidente dos Estados Unidos da América, Bill Clinton (1946-), considerou o “Hay Festival of Literature and the Art” como o “Woodstock da mente”. Dizem que ele entende dessas coisas.
E me lembro, por fim, que essa minha visita a Hay-on-Wye foi, também, muito útil. Comprei ali o que, para mim, foi um achado: “Public Law and Public Administration” (F. E. Peacock Publishers, 2000), de Phillip J. Cooper. Um livro do qual, embora sobre direito público, retirei, reinterpretando-o, boa parte de um capítulo, versando sobre filosofia do direito, da minha dissertação de mestrado. Foi no dia 5 de maio de 2002. Ele custou 22.50 libras. E agora registro, com certeza, a data da minha visita a Hay-on-Wye, pois está anotado na folha de rosto do dito cujo.
Bom, um dia eu ainda volto lá (morar já seria demais). À cidade dos livros.
Marcelo Alves Dias de Souza
Procurador Regional da República
Doutor em Direito (PhD in Law) pelo King’s College London – KCL
Mestre em Direito pela PUC/SP

12/04/2019


A CONSERVAÇÃO COMO NECESSIDADE PERMANENTE

Valério Mesquita

O exercício perene da conservação deve ser revelada em todos os seguimentos da atividade humana. Seja pública ou privada. Como navegar – conservar é preciso. A conservação dos bens administrativos, culturais, patrimoniais, econômicos, morais, de uma sociedade dignifica a própria condição de humanidade. Os ativismos do processo da atual gestão pública de muitos prefeitos e governadores, tem induzido manter a estrutura urbana e suburbana das cidades em completo descaso e predação incessantes. É raro o gestor público que recupera obra herdada do seu antecessor. O prejuízo é contundente para a família e a comunidade. Seria inveja mórbida? Monocratismo perverso, porque não está ali refletido o seu ego?
O ser humano está em constante evolução como tudo no planeta e no universo. Mas, o que existe de bom e de bem, em favor da sociedade, e ainda de belo, de amor à vida, não pode ser desdenhado. Tapar buracos em ruas e estradas; conservar as escolas e os hospitais, deixando-os aptos a prestar os seus serviços; conservar as ruas limpas, iluminadas, abastecidas com água e gás; conservar, restaurando o patrimônio histórico da cidadania popular dos seus casarões; conservar a conquista da ética, dos direitos individuais, lembrando o passado com gratidão, alegrando-se com o presente e encarando o futuro sem medo; conservar as crenças principalmente aquelas nascidas do Novo Testamento; conservar a natureza, as praças e os jardins que os outros construíram é sempre preferível essa conduta do que o mito administrativo de ser único.
Não sou conservador, nem tradicionalista. A conservação que me refiro não é hostil às inovações políticas ou sociais. Mas àquelas que propugnam resguardar de danos, decadência, deterioração, prejuízo, etc., os prédios do domínio da união, estado e municípios constituídos de edificações tombadas pelo patrimônio histórico ou não. Observe o caro leitor, a situação das repartições oficiais hoje, frente, fundo, verso e inverso. São construções de vinte, trinta, quarenta anos passados. Compare com as de outros entes federativos. Natal armazena em suas ruas, praças e logradouros, lixo, fezes, fedentina, drogas, violência e corrupção. Conservação, por conseguinte, invertida da que se espera e se propõe.
Por fim, tudo é relativo. Tem causa e efeito. O orçamento estadual é hoje refém do colossal tamanho da máquina funcional, verdadeiro monstro Leviatã do qual falou o teórico político filosofo inglês Thomas Hobbes no século XVII. Sem comentar os desperdícios do estuário caudaloso da má gestão explícita e implícita que sempre atormentaram os governantes de todos os níveis (de federal à municipal), depreende-se que é difícil e distante o conserto ou reparo da máquina. O arcabouço legalista que gerou todo esse emaranhado é um “nó de jabá” indesatável, catimbado, mijado em cima porque foi criação do homem, pelo homem para o homem. Fisiológico, pantagruélico, corporativo, elitista, fome zero.

(*) Escritor.


INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RN IHGRN <ihgrn.comunicacao2017@gmail.com>


Caro sócio(a),

Ocorreu ontem o lançamento do livro "Meu amigo Bartolomeu Correia de Melo" de autoria do presidente Ormuz Barbalho Simonetti, que DOOU toda a sua tiragem para ajudar o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte.
Os sócios que não puderam comparecer ao evento, poderão adquiri-lo na sede do IHGRN, como uma forma de contribuir com esta Casa da Memória, para minimizar os seus grandes problemas financeiros.
Os que quiserem adquirir o livro e não tiverem condições de comparecer à nossa sede, que efetuem o depósito bancário da quantia de R$ 30,00 (trinta reais) por cada livro, na conta 35247-0 da Agência 022-1 do Banco do Brasil, envie o comprovante do depósito e nós mandaremos entregar o livro no endereço fornecido.
Esperando a sua colaboração,

ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO

11/04/2019

Vai texto de artigo publicado ontem, dia 7 de abril de 2019, no jornal Tribuna do Norte (de Natal/RN):
Avenida Corrientes
Já escrevi aqui, em dois artigos, sobre as livrarias de Buenos Aires. Mas me lembro muito bem de haver evitado tratar dos comércios de livros – antigos ou simplesmente usados – da famosa Avenida Corrientes. Achava que era coisa de “profissional”, esse comércio de livros antigos e valiosos. E, conhecedor diletante da obra de Ludwig Wittgenstein (1889-1951), sempre achei que, “sobre o que não se pode falar, deve-se calar”. Continuo achando. As duas coisas.
Mas de volta a Buenos Aires bateu mais forte a minha paixão pelos livros. E, apesar das advertências do clima e da minha mulher, corri, literalmente, para a Avenida Corrientes. Afinal, segundo constava do meu “Guia Visual Folha de São Paulo – Top 10 – Buenos Aires” (PubliFolha, 2010), “centro do bairro dos teatros, esta lendária avenida foi chamada ‘a avenida que nunca dorme’ nos anos 1940, quando abrigava muitos teatros e cinemas. Hoje, está um tanto decadente, mas os teatros continuam aqui. Também está repleta de cafés e livrarias, entre elas excelentes sebos”.
Passaria uma tarde inteira, entrando na noite, por aquelas bandas.
Foi bom e foi ruim.
Os teatros e os cinemas, pelo menos boa parte deles, ainda estão mesmo lá. O Teatro Metropolitan (no número 1343), o Teatro San Martin (número 1530), o Teatro Gran Rex (número 557) e o Opera Allianz (número 860), ao menos, pelo que me recordo agora. Entrei nos que pude. Assisti a uma ou duas pequenas apresentações gratuitas no foyer dessas casas. Saquei muitas fotos. Dentro e fora deles. E desfrutei de uma beleza ostensivamente decadente, sabedor, mas conformado, que os dias de glória nunca mais voltarão.
Fucei, sobretudo, um sem-número de sebos e livrarias (quase todas as redes de livrarias argentinas têm filiais ali, registre-se) daquela avenida larga e extensa. Muitos mesmo, às vezes colados uns nos outros, e perdi as contas dos nomes e dos endereços. A gente, que ama livros, fica doidinho, correndo deste para aquele comércio. Alguns são excelentes, tudo limpo e organizado; outros, bem longe disso. E olhem que gosto do cheiro (e do mofo, segundo minha mulher) dos livros. Mas não importa. Para quem busca por algo interessante e barato, o sebo bom é o sebo ruim.
Comprei uma penca de livros. Muitos mesmo. Dentre eles, se não o melhor, pelo menos o mais divertido, foi um tal “El mundo de Borges”, que foi publicado, numa edição especial, dividida em fascículos, pelo diário argentino Âmbito Financeiro. E já xeretei esses fascículos – “Borges e a política”, “Borges e seus mestres”, “Borges e o romance policial”, “Borges e as viagens” e por aí vai – uma porrada de vezes. De toda sorte, o que mais comprei foram livros de filosofia, geral e até do direito, todos baratíssimos, sobre os quais, alguns deles, nunca tinha ouvido falar. Coisa de 10 ou 15 reais cada. Em ótimo estado, quase sempre. Por exemplo, num tal Edipo Libros (número 1686 da Corrientes), um dos maiores e melhores sebos que visitei ali, comprei, por apenas 150 pesos, o curioso “Los filósofos españoles de ayer y de hoy: épocas y autores” (Editorial Losada, 1966), de Alain Guy. Comprei até, mas não me lembro do nome daquele pequeno sebo, uma “Historia de la filosofía inglesa” (Editorial Losada, 1951), de W. R. Sorley, filosofia que, em razão dos 100 pesos gastos, vou ter de estudar em espanhol (aqui a minha mulher apenas riu. De mim? Será?). E foram tantos outros livros – todos excelentes e úteis, vou logo avisando, sem brincadeirinhas – que não ouso aqui sequer imaginar relacioná-los.
O grande problema da minha aventura na Avenida Corrientes chegou no final. Caiu um dilúvio em Buenos Aires, que até impediu, naquele dia, a grande final da Libertadores da América entre River e Boca (quem gosta de futebol, deve estar lembrado). A Corrientes estava em obras e, de uma hora para a outra (pelo menos para mim, que estava concentrado pulando de sebo em sebo), virou uma lama só. Fui pego em cheio na hora de ir embora, com sacos de livros nas mãos, que protegi bravamente, em detrimento de mim mesmo e do casaco (não tão novo) que usava. Chamo isso de resiliência. Minha mulher, que presenciou parte do acontecido, chama de maluquice. Eu tenho sempre razão, acho.
Bom, voltei para Natal cheio de livros.
Mais uma vez, foi bom e foi ruim.
Coloquei-os (há quem diga que “rebolei-os” nas prateleiras e em cima do sofá) em um quarto/biblioteca que estou montando vizinho à nossa suíte de casal. Chamo-a de biblioteca colorida. Minha mulher deu para chamá-la de Avenida Corrientes. Ela está me irritando deveras. E eu tenho sempre razão. Acho.


Marcelo Alves Dias de Souza
Procurador Regional da República
Doutor em Direito (PhD in Law) pelo King’s College London – KCL
Mestre em Direito pela PUC/SP

Livro pioneiro celebra 117 anos do IHGRN

09/04/2019



Viver. Tribuna do Norte 20/03/2019

O pensador grego Heródoto, geógrafo e historiador, cunhou uma frase há cerca de 2,5 mil anos que faz todo o sentido até os dias de hoje: “É preciso pensar o passado, para compreender o presente e projetar o futuro”. Uma velha máxima que nunca deveria sair de moda, sempre se renova, e serve como combustível para entusiastas da memória como os integrantes do grupo de estudos BAM do Instituto Histórico e Geográfico do RN. Sigla para Biblioteca, Arquivo e Museu (do IHGRN), o grupo trabalhou por mais de um ano para materializar o livro “Institutos Históricos e Geográficos do Brasil”.

A obra traz um apanhado de informações sobre os 21 Institutos Históricos e Geográficos instalados em capitais brasileiras, e seu lançamento – marcado para o próximo dia 28 de março – celebra os 117 anos da mais antiga instituição cultural do Rio Grande do Norte. Parte da tiragem será vendida, e outra parte da edição remetida para todos os IHG do Brasil, às principais bibliotecas e universidades do País, e instituições culturais de outros países de língua portuguesa.

Organizado pelo trio Gustavo Leite Sobral, Pedro Simões Neto Segundo e André Felipe Pignataro, o livro compila informações sobre datas e circunstâncias da fundação, dados sobre os imóveis onde estão instalados, e a composição da primeira diretoria sócio-fundadora. O conteúdo é voltado para consulta de pesquisadores, estudantes, historiadores, entre outros interessados na trajetória desses ambientes que respiram história e transpiram memória. O título é ilustrado pela artista plástica Amanda Simões.

“A questão primordial não é ser mais ou menos 'aprofundado', é a relevância”, disse Gustavo Sobral, que coordenou o trabalho. A ideia de publicar surgiu quando Sobral, então diretor de Biblioteca, Arquivo e Museu do IHGRN, não encontrou informações organizadas sobre outros Institutos estaduais. “A proposta foi reunir perfis, para que os Institutos pudessem se reconhecer e conhecer as atividades que cada um promove”.

“A questão primordial não é ser mais ou menos 'aprofundado', é a relevância”, disse Gustavo Sobral, que coordenou o trabalho. A ideia de publicar surgiu quando Sobral, então diretor de Biblioteca, Arquivo e Museu do IHGRN, não encontrou informações organizadas sobre outros institutos estaduais. “A proposta foi reunir perfis, para que os Institutos pudessem se reconhecer e conhecer as atividades que cada um promove”.
  
Entre os pontos em comum verificados durante o levantamento para o livro está a “falta de atenção e conservação que os acervos merecem”. Além da publicação “Institutos Históricos e Geográficos do Brasil”, que contou com apoio da Fiern, está nos planos o lançamento de um fascículo anexo contendo pequenos ensaios sobre a trajetória dos fundadores do IHGRN, criado no dia 29 de março de 1902.

O presidente do Instituto potiguar, Ormuz Barbalho Simonetti, explicou que o lançamento do livro precisou ser antecipado em um dia devido programação prévia agendada no mesmo local onde as comemorações dos 117 do IHGRN irão acontecer. O livro estará à venda por R$ 30, e pode ser encontrado após o dia de lançamento na sede o Instituto na Rua da Conceição, 622, Cidade Alta.

Para ler esse e outros escritos acesse www.gustavosobral.com.br

04/04/2019


BULA MEDICAMENTOSA

Valério Mesquita*

Jesus Cristo, o amado mestre, falava através de parábolas. O ser humano comum, quando muitas vezes quer dizer uma verdade, escreve por linhas tortas. Esse preâmbulo indefectível vem esbarrar num assunto que desejo abordá-lo via deduções preterintencionais, comparativamente a uma bula medicamentosa. Repleta de disse-me-disse. Falo do famigerado coeficiente eleitoral, a mais afiada faca de dois gumes do processo eleitoral brasileiro. Modelo injusto e antidemocrático, que eleva ao podium o lanterninha em detrimento do mais votado. O resultado, muitas vezes, de uma eleição, não reflete a manifestação da maioria, principio fundamental de qualquer processo decisório.
O escorre das votações ou proclamação de resultados, em qualquer atividade institucional ou não, baseia-se na lógica numeral dos sufrágios. Nos plenários do Legislativo, do Judiciário, dos Tribunais de modo geral, no placar das competições esportivas, no Vaticano, no sindicato, na OAB, no ABC, no grêmio escolar, enfim, em qualquer seguimento coletivo a expressão dos mais sufragados - é a respeitada. Até a lei de Gerson é a da vantagem. Somente o processo eleitoral brasileiro é liquidificado, diluído, triturado, para inverter e subverter a escolha popular que deu três mil votos a um candidato mas o que se elege é aquele dos quinhentos. Acho perverso esse sistema. A maioria dos pequenos partidos que abunda o elenco eleitoral é useira e vezeira na prática de registrar candidatos fajutos apenas com o intuito de alimentar a legenda.
O coeficiente eleitoral, assim, é semelhante a bula medicamentosa. Esta tem efeitos colaterais pois ofende a todo organismo da eleição. Elege quem não devia. Retira do eleitor a primazia de escolher o melhor, retirando do túmulo do processo o opaco e o onomatopaico. Envia para a casa do povo o que não deve ir – o lôgro. Verifique o resultado das urnas, à luz mortiça das reações adversas que o coeficiente eleitoral tem provocado nos legislativos de modo geral só para atender ao cálculo equivocado que premia o caricato partido político e derruba o valor pessoal, humano, valorativo e majoritário do candidato. Ainda dentro da posologia sobre o assunto as minhas precauções residem no fato de entender que o homem deve ficar acima da agremiação. A proliferação das legendas têm trazido mais problemas para a democracia do que o político solitário. Afinal, o mensalão, o lava jato e outros escândalos foram obras da proliferação de partidos nanicos.
A superdosagem de corticóide no coeficiente eleitoral mascara o exercício da democracia. Além de alarmante, a sua aplicação penaliza, deturpa a face das urnas, a liquidez da escolha, a lisura da lei. Vamos construir um Brasil eleitor. Respeitando o direito da maioria do povo e não o artifício matemático, algébrico, trigonométrico do computador eleitoral. O voto é algo numeral e ordinal. Sentar na cadeira do eleito o menos votado é invenção escabrosa. É gambiarra, “morcego” e tapeação. Voto é maioria e não medicamento controlado e manipulado. Tarja preta para o coeficiente eleitoral! Aceito tudo o que for eletrônico numa eleição menos o coeficiente digitalizado porque nega o direito da maioria
(*) Escritor.