O CUNHADO DE LILIU – Berilo de Castro
O CUNHADO DE LILIU –
Adail Loiola Barata (Liliu) figura
folclórica, muito conhecida que marcou época em Natal das décadas de
1950 e 60. Homem de média estatura, de boa conversa, sempre alegre,
óculos caídos no nariz, verve privilegiada e um tanto
relaxado com suas vestimentas.
Nunca levou a sério a responsabilidade com o
trabalho formal. Mesmo assim, sempre se deu muito bem com a vida que
levava, devido aos bons dotes e a sorte que possuía como um grande e
inveterado apostador.
Apostava e ganhava em tudo que era jogo.
Apostava e ganhava até em jogo de biloca. Presença contumaz nos
Estádios de futebol, salões de sinuca, rinhas de gala de raça e de
canários brigadores. Fino e esperto jogador de sinuca.
Exímio gozador.
Gostava ( talvez tenha sido o primeiro ) de a
usar a palavra “maracatu”, empregada para aquelas pessoas relegadas,
que só merecem desprezo; sem importância, sem nenhuma expressão e
valor.
Guardo a sua lembrança na memória, nos jogos
no Estádio Juvenal Lamartine, quando faturou muito dinheiro apostando
no time do Alecrim FC, nas conquistas dos títulos de 1963/64.
Nunca dividiu com ninguém os seus ganhos. Era sovina, um verdadeiro mão de vaca.
Essas figuras nem sempre conseguem levar para
sempre os seus planos e viver perenemente como desejam. “Como tudo na
vida acontece”, — já dizia o cancioneiro popular –, a vida sempre lhes
apresentam surpresas, algumas não muito boas.
E assim aconteceu com o nosso grande e
sortudo apostador. Entrou em sua vida, a figura de um cunhado. No
começo, tudo as mil maravilhas: bem empregado, boa moradia, ganhando
bem, sempre perguntando se o cunhado estava precisando
de alguma coisa, pois estava pronto para ajudar.
Gabava-se Liliu, com um largo e infindável
sorriso, que a sua irmã tinha acertado na milhar. Fora premiada com o
cartão da sorte. Benza Deus!
O tempo foi passando, e o golpe do cunhado
foi se manifestando: deixou o emprego, se achando muito cansado. Dizia
que sentia muita dor nas costas e que o trabalho estava acabando a sua
coluna, já se pronunciando, quem sabe, uma
bela hérnia de disco lombar, dizia ele.
Abandonou o emprego. A casa começou a cair: o
dinheiro desapareceu, o aluguel ficou atrasado ( e muito atrasado ).
Perdeu a moradia. Saída imediata. Morar com quem? Lógico, com o
cunhado querido. O que que não agradou em nada o
avarento apostador. Mas, cunhado é cunhado!
O novo morador, hóspede familiar, tinha
hábitos que fugia muito da rotina do cunhado. Passava o dia todo em casa
de ventilador ligado; dormia tarde vendo televisão e, ainda por cima,
não desligava o aparelho, o qual passava a
noite toda ligado. A conta de energia começou a subir. Acordava tarde,
já na hora que o cunhado vinha chegando, suado e cansado na busca de
provimentos para o lar.
O cunhado bocejando, ainda com cara se sono, não dava nem um bom dia e perguntava:
— Seu Liliu, trouxe o jornal? De cara fechada, respondia Liliu: Touxe! Qual? A República! Não gosto, só leio a Tribuna.
Na hora do almoço era o primeiro a sentar à
mesa, sem camisa, e na cabeceira, lugar por respeito reservado somente
para o dono da casa. Muito exigente, comia muito e rápido. Era também o
primeiro a pedir a sobremesa:
— Tem doce seu Liliu? Tem! Respondia Liliu.
Qual? Bananada Potiguar! Não gosto, só como goiabada cascão Cica.
Enquanto isso, ficava palitando e chupando os dentes. Liliu suava frio e
os óculos já não se sustentavam sobre o nariz.
Às 3 horas da tarde, depois da sesta profunda e demorada, sentava à mesa, já perguntando pelo lanche:
— Tem abacatada com uma torradinha quentinha com queijo de Minas?
Não, só tem mariola. Não conheço, não me cheira bem, não faz parte do meu cardápio. Embrulha o meu estômago.
No jantar, era novamente o primeiro a chegar a
mesa: tem uma sopinha de legumes com frango desfiado e uma
torradinha com manteiga Itacolomy? Não, só pão com mortadela e manteiga
de lata grande, misturada com banha de porco.
— Não como nada disso, me dá azia. Puxa! Meu
cunhado tá ganhando pouco. Não era essa a impressão que eu tinha do meu
meu querido paizão.
Moral da história: Liliu enfezado e p. da
vida, explodiu! Disse não! Mandou o mala, o folgado e o exigente
cunhado, pentear macaco, procurar e juntar batata podre na feira, uma
lavagem de roupa, passar o tempo se divertindo enxugando
barras de gelo com a língua e, ainda ir olhar se ele (Liliu) estava na
esquina.
E num grito de liberdade, com os óculos
espedaçados no chão, esbravejou: desapareça da minha vida e da minha
casa, já! Não volte mais nunca seu MARACATU PALOMBETA!!!
Berilo de Castro –
Escritor