A SELEÇÃO QUE EU VI – Berilo de Castro
A SELEÇÃO QUE EU VI –
Rússia, 2018. Mais uma vez nadamos, nadamos e
morremos no seco. Somos mais de duzentos milhões de treinadores e
conhecedores “profundos” de futebol. Mesmo com aqueles que perguntam
durante uma partida qual é o time do Brasil, quais
são as cores do seu uniforme, se Pelé está jogando. Outro, que diz que o
resultado vai ser três a um, mas vai terminar em pênaltis – vejam só
que tantos disparates e tantas idiossincrasias.
Mas, vejamos o que vi:
— Que foi estudado inegavelmente um planejamento de ação.
— Que houve uma escolha aceitável da comissão técnica.
— Que a seleção dos jogadores foi feita em cima dos jogadores que atuam na Europa – os melhores?
— Que foram deixados, no Brasil, bons e jovens jogadores – inegavelmente.
— Que, mais uma vez, a imprensa brasileira
criou muitos heróis e deuses fora das quatro linhas do jogo – mal
incurável e prejudicial em todo esporte.
— Que o nosso treinador/psicólogo passou a
proferir aulas e mais aulas de psicologia na grande mídia televisiva
para os clientes do Itaú – um besteirol sem limites e promocional (e
pegue mais dinheiro na sua conta bancária).
— Que, por pura e legítima coincidência, me
refiro à “Era Dunga” – 2010, vencemos bem todos os jogos pré-copa,
fazendo inchar os egos dos mais entusiasmados – e, em seguida, a grande
decepção.
— Que, como dizia o velho Didi – “Treino é treino. Jogo é jogo (em Copa do Mundo, mais ainda).
— Que tudo voltou a acontecer novamente.
Ganhamos tudo antes da Copa. Já no enfrentamento oficial, nas quartas de
final, contra a organizada seleção Belga, fomos não mais surpreendidos,
com uma sonora derrota – amarelamos.
— Que não foi observado, pelo técnico e seus
auxiliares, o vazio, a “avenida Marcelo”, onde se concentravam bons
jogadores da equipe da Bélgica, livres de marcação e que deram o
ultimato e a passagem de volta da nossa seleção.
— Que faltou coragem para fazer mudanças na equipe e substituições no decorrer do jogo.
— Que jogamos praticamente sem centroavante. Gabriel Jesus foi uma figura apagada em campo em todos os jogos.
— Que faltou um jogador líder, um gritador,
um “brigador” que balançasse os mais quietos, os mais tímidos, como o
Phillipe Coutinho (muito frio, sem animação e sem criação de jogadas).
— Que faltou, ao nosso goleiro, a empolgação, a liderança e o grito de comando na pequena área — “quem manda aqui sou eu”!
— Que, mais uma vez, somos derrotados pela
bola alta alçada na pequena área. Nosso sistema defensivo se posiciona
mal e sempre mal, apesar de ter melhorado um pouco.
— Que ficou bem nítido e observado no
primeiro gol que levamos, na jogada da bola no primeiro pau quem
disputou com um grandalhão e bom jogador belga, foi Gabriel e Paulino
(muito baixos).
— Que erramos 58 passes no jogo contra a
seleção da Bélgica, a maioria de pequena distância, — inconcebível para
uma seleção que é cinco vezes campeã do mundo e que era vista como
favorita do evento.
— Que o treinador/psicólogo Tite não foi
capaz de abrandar, minimizar o individualismo do nosso Neymar (Neycai),
que só fez chamar a atenção dos adversários para a dura e severa
marcação, com suas sucessivas caídas e grandes gemidos
(nada produziu).
— Por fim, vamos pensar, estudar uma nova
forma de praticar futebol, e deixar o futebol europeu para lá. Estamos
muito burocratizados, engessados, enquadrados. O nosso futebol precisa
voltar às suas origens, se soltar, mandar os
esquemas (ciências) para os raios que os partam. Voltar ao futebol
alegre, bonito, solto, com gols, com dribles, tabelas curtas, muita
movimentação, criação, espontaneidade, liderança e inteligência.
Ai, que saudade me dá!
Berilo de Castro –
Escritor