28/03/2018

VIVER O ESSENCIAL

Valério Mesquita*

Manhã depressiva aquela em que revi o mar de Cotovelo. Fazia tempo que as águas verdes de verões antigos não me agitavam. Revivi o olhar vespertino da enseada e busquei os meus sonhos desfeitos nas ondas que quebravam ali, bem perto de mim, e compreendi que já não podia mais tocá-las. A praia havia se modificado. Novas casas surgiram. Apenas o musgo e o lodo dos muros das antigas casas denunciavam o que foi passado e espalharam ao redor pedaços de profundidade vital. Cotovelo alimenta os meus presságios e me remete ao fundo do oceano, como se fosse o peixe prisioneiro de antigas redes. Levo comigo essas sensações estranhas quando retorno aos lugares que vivi. Sou comprometido com o emocional.
Ano passado, ao divisar ao longe a Fazenda Uberaba, em Macaíba, e que pertenceu ao meu pai, não pude reprimir a emoção. Ali passei a minha infância e realmente era feliz e não sabia. A casa branca, alpendrada no alto, me devolvia a visão mágica e mítica dos albores de minha vida e dos primeiros alumbramentos. As lágrimas fáceis de um coração mole deslizaram livres, como se convidassem antigos passarinhos a bebê-las.
A vida tem sido assim comigo. Sou um proustiano? Um saudosista em busca do tempo perdido? Talvez sim, talvez sim. Gosto de apostar nos tempos idos e voltar aos lugares a que já fui.

No Colégio Marista, onde estudei por oito anos, retornei às melhores lembranças. A capela, as salas de aula, o pátio do recreio, os campos de futebol e aquela atmosfera impregnada da presença dos antigos irmãos maristas: Nelson, Osvaldo, Mário, Leão, Miguel, Alípio, Adonias, Sebastião, Régis, Celso Trombeta, Estavão, Ilídio, Hipólito, Aniceto, Dalton, Paulo Berckmans, Pedro Caveira, entre outros. Vi-os em cada classe, ora comandando o recital do terço da Virgem Maria, ora ministrando aulas com tanta proficiência que até hoje quem aprendeu não esquece e muito deve aos discípulos do padre Champagnat. Mal sabia que, de saudade, choraria amanhã.

Assim também me fascinam certos recantos de minha terra Macaíba. O antigo cais do porto, hoje depredado e abandonado; o Solar do Ferreiro Torto e os mistérios circundantes; o sobradão onde nasci à rua Nair de Andrade Mesquita, que pertenceu ao meu avô paterno já não existe; o parque governador José Varela, hoje todo desfigurado; o rio Jundiaí dorminhoco e refratário, contaminado de manguezais antipáticos no seu leito urbano e, por fim, as ruas estreitas de minha infância relembram a cidade velha do tempo dos pioneiros. Como na Bíblia “que se prenda a minha língua ao céu da boca” se de Macaíba eu me esquecer.
Enfim, sou cativo, prisioneiro do sentimento do medo de perder todas essas emoções um dia, se o progresso e a insensatez destruírem tudo em que vi o que vivi. Mesmo errante como ovelha desgarrada não deixarei de acreditar que a lei de Deus é mais sábia do que os meus inimigos. No curso da história de cada um, o Salmo 118, a água potável de sempre, desce melhor do que qualquer bebida: “Melhor é buscar refúgio no Senhor do que confiar no homem. Melhor é buscar refúgio no Senhor do que confiar nos governantes”.
Relembro, aqui, o esplendor do pensamento do escritor Mário de Andrade (1893 – 1945), no seu “Valioso Tempo dos Maduros”:
“Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente do que já vivi até agora. Tenho muito mais passado do que futuro.”
“Já não tenho tempo para lidar com o supérfluo.”
“Já não tenho tempo para conversas intermináveis...”
“Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas...”
“Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa…”
 “Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade. O essencial faz a vida valer a pena. E para mim, basta o essencial!”

(*) Escritor.

27/03/2018

DISPONIBILIZAÇÃO ON LINE DE JORNAIS DO RN




Assunto: Re: Acervo Jornais BCZM


Graças a um trabalho conjunto entre a UFRN e o IHGRN, com a participação da Professora ângela Maria Paiva Cruz, Professora Magnólia Andrade,  Professor Graco Viana, Ormuz Barbalho Simonetti, Betânia Leite Ramalho e Gustavo Sobral está sendo possível a disponibilização on line de jornais do Rio Grande do Norte (Acervo Jornais BCZM).  link do material digitalizado pela BCZM. No que tange aos jornais, assim como está feito com o Labim/UFRN nos mesmos moldes, na seção repositório do nosso site, qual seja: 
http://www.ihgrn.org.br/repositorio




CARRO DE CHÁ - para servir


Para servir, carro de chá


Mobiliário & objetos
texto Gustavo Sobral e ilustração Arthur Seabra

Está na última moda, embora não sirva mais só para o chá. Em razão do hábito vespertino do chá, que lhe fez bom uso, como apoio para louça, bule, xicaras, pires, pratinhos, talheres, e todas as guloseimas que acompanham, em bombonieres, potes para doces, pratos de bolo, tudo preciso e necessário para cerimônia do chá.

Até ousando uma licoreirazinha para então tomar outros serviços, como minibar com as bebidas, copos, balde de gelo e apetrechos mais deste universo: mexedores, dosadores, abridor de vinho que não pode faltar, porta copo, tudo mais. Com o tempo, como tudo, foi ganhando outros arrojos e formas que, se mudaram a sua fisionomia, não alteraram a sua essência de ser portátil.

Suas rodinhas permitem que ande pela casa para lá e para cá se for preciso impecável no seu serviço de guardar e servir. E, por isso, já ultrapassa o uso arraigado de andar pelas salas da casa. Já ganhou a varanda e até o escritório de trabalho exercendo a mesma função indispensável. E até já foi visto na cozinha e como apoio não faz mal. Há quem já chame mesmo carrinho para bar quando esse uso está certo e definido, tintim.

Arquitetos foram por ele conquistados e muitos já colocaram a mão para fazer a sua própria versão em uso ilimitado de materiais, madeira, ferro, vidro, metal, respeitando a sua característica essencial de ter rodas para ser conduzido e forma plana das bandejas em que se dispõem toda a matéria que deve abrigar. 

O arquiteto modernista Gregori Warchavchik fez a sua versão, ainda moderna e hoje clássica, criação de 1928, são três bandejas de madeira em uma estrutura simples de metal, linhas básicas, sem enfeite, frufru ou entalhe, disputadíssimo como peça de arte, porque desenho de um próprio artista.


No monde da arquitetura e decoração, o carro meio futurista de Jorge Zalszupin, arquiteto polonês, e naturalizado brasileiro, dos anos 1950, é a peça retrô sonho de meio mundo, senão de todo. E assim a experiência do chá ou do mini bar nunca perde o seu requinte.

25/03/2018

CALENDÁRIO DA SEMANA SANTA


*SIGNIFICADO DE CADA DIA DA SEMANA SANTA:*

*DOMINGO DE RAMOS*
_Começa a Semana Santa, dia em que comemora a entrada de Jesus em Jerusalém. Nos dias de hoje, os fiéis levam para a igreja ramos, a fim de serem abençoados, como símbolo de sua fé._

*SEGUNDA-FEIRA SANTA*
_Neste dia, se reflete, em um momento de descanso de Jesus, na casa de uma família que Lhe era muito estimada. A casa de seu amigo Lázaro (a quem Ele havia ressuscitado), e de Marta e Maria. (Jo 12, 1-11)._
_Faltavam seis dias para a Páscoa. E, enquanto estavam a jantar, Maria tomou um vaso de nardo (um perfume autêntico e muito caro), e ungiu Jesus nos pés, e depois enxugou-os com seus cabelos. A casa encheu-se da fragrância do perfume. Tal gesto foi de imediato criticado por Judas Iscariotes, que hipocritamente logo alegou que o dinheiro que valia o perfume poderia ter sido dado aos pobres. Jesus ignorou a crítica e, saindo em defesa de Maria, justificou com estas palavras: “Antecipou-se a ungir o meu corpo para a sepultura. Asseguro-vos que em qualquer parte do mundo onde se proclame o evangelho, se recordará o que ela fez”._

*TERÇA-FEIRA SANTA*
_É o dia, em que com grande tristeza, Jesus anuncia a sua morte, causando grande sofrimento aos seus discípulos. Anuncia também a traição, e indica o traidor. Judas sai possuído por Satanás, para trair o seu mestre._

*QUARTA-FEIRA SANTA*
_É o 4º dia da Semana Santa, no evangelho deste dia, é-nos apresentada a traição de Judas, descrevendo-nos como este foi ter com os chefes dos sacerdotes, a quem se ofereceu para trair o Jesus. Aceita assim, trinta moedas de prata como recompensa da sua traição. (MT 26,14-25)._

*QUINTA-FEIRA SANTA*
_É o dia da Última Ceia de Jesus Cristo com seus Apóstolos, onde Jesus humildemente lavou os pés dos seus 12 discípulos. É no momento do lava-pés que Judas Iscariotes sai, para entregar Jesus em troca das 30 moedas de prata. (Jo 13,1-15) Foi aqui, que Nosso Senhor Jesus Cristo instituiu o Santo Sacrifício como sua eterna memória, e em seu último discurso, encorajou os discípulos a amarem-se uns aos outros. Depois Jesus dirigiu-se ao monte de Getsêmani, tomou consigo três discípulos, e começou a sua agonia nos jardins, onde foi preso pelos judeus._
_É nesta noite que Jesus é preso, interrogado e ao amanhecer de sexta-feira, açoitado e condenado. A Igreja inicia em vigília ao Santíssimo, relembrando os sofrimentos começados por Jesus nesta noite._

*SEXTA-FEIRA DA PAIXÃO*
_Relembra o dia em que Nosso Senhor Jesus Cristo é crucificado (após sua prisão, Jesus é julgado e açoitado; recebe a coroa de espinhos na cabeça; é levado á presença de Pilatos, e depois de condenado carrega com a sua própria cruz, até ao monte Calvário; ao meio-dia é crucificado entre dois ladrões e por volta das três da tarde, Jesus morreu... o Seu corpo foi depois retirado da cruz, e colocado num sepulcro cavado na rocha._
_Neste dia, é praticado o jejum, e a abstinência da carne em sinal de penitência e respeito pela morte de Jesus Cristo._

*SÁBADO SANTO*
_Jesus permanece no sepulcro. Na Vigília Pascal, os fiéis ainda estão à espera, na esperança da ressurreição. Neste dia, inicia-se a Vigília Pascal, ao final do dia, e termina com o amanhecer da Páscoa._

*DOMINGO DE PÁSCOA*
_Dia da ressurreição, onde Jesus se levanta de sua sepultura, e vence a morte. É o dia do grande milagre! O dia em que Cristo volta à vida através da Sua Ressurreição de entre os mortos. É o dia em que se celebra a vida, o amor e a misericórdia de Deus._

*ALELUIA*❗

*Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo*❗🙏
__________________
Colaboração do sócio ASSIS CÂMARA

23/03/2018

A MÚSICA E O TEMPO


 A MÚSICA E O TEMPO – Berilo de Castro


Fui, sou e continuo sendo um admirador imbatível da boa música brasileira. Trago e conduzo com muito carinho e afeto asica de tempos passados, quando se cultivava o romantismo, a temática de amor, solidão, a dor de cotovelo; que a mulher era a fonte maior de inspiração poética dos seus apaixonados compositores. Tempo de grandes e imortais compositores, como: Noel Rosa, Vadico, Wilson Batista, Braguinha, Ataulfo Alves, Ary Barroso, Lupicínio Rodrigues, Herivelto Martins, Cartola, Custódio Mesquita, Luís Peixoto, Lamartine Babo; e de fantásticos instrumentistas, como: Pixinguinha, Canhoto, Henrique Brito, K-Ximbinho, Jacob do Bandolin, Nelson Cavaquinho e muitos outros iluminados da nossa tão qualificada e expressiva música brasileira.
As décadas de 1940 e 1950 foram configuradas como a época de  ouro do samba-canção, que tem como marco inaugural a composição Iaiá (Linda Flor) dos compositores Henrique Vogeler e Cândido Costa, na voz de Aracy Cortes, no ano de 1929. Vale a pena lembrar e registrar as belas e deslumbrantes interpretações de Francisco Alves, Mário Reis, Vicente Celestino, Orlando Silva, Dock Farney, Lúcio Alves com suas vozes inigualáveis. Tempo inesquecível da música brasileira.
A partir do final da  década de 1950, surge um novo e revolucionário gênero musical: a Bossa Nova derivado do samba e com influência do Jazz. Um toque de violão diferente e ousado fez a diferença. Seu maior representante, a figura exótica, esquisita, do genial baiano de Juazeiro, João Gilberto, interpretando o Barquinho” e “Chega de saudade. Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Carlos Lira, Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli, Carlos Miéle, Nara Leão, Elizeth Cardoso, Hianto de Almeida completavam o grupo de jovens da zona sul do Rio de Janeiro, precursores do novo gênero musical.A sequência dos bons tempos musicais chega com  os  baianos, criando o movimento Tropicália ou Tropicalismo, que surgiu sob a influência das correntes artísticas da vanguarda e da cultura pop nacional e estrangeira, como o rock nroll. Seus maiores representantes foram: Torquato Neto, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé, Os Mutantes, Maria Bethânia e Gal Costa.
Surgem os Festivais da Canção, que mexem e  infernizam o movimento musical brasileiro. Nomes como Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil  Edu Lobo, Geraldo Vandré, Elis Regina, os irmãos Vale, Jair Rodrigues, Roberto Carlos dão uma nova roupagem no cenário musical brasileiro.
O país entra em regime ditatorial militar e a censura cai em cima dos compositores e muitas letras são censuradas e retiradas do mercado. Mesmo assim, a produção é rtil e de boa qualidade.
Na área pop acontecia o crescimento do rock, denominado de iê-iê-iê, o que originaria o fenômeno Jovem Guarda, popularizado a partir do final da década de 1950 pelos pioneiros Sérgio Murilo, Tony e Celly Campello, que atingiu sua melhor fase nos anos de 1965 até 1967, que teve como seus grandes e maiores representantes os parceiros Erasmo Carlos, Roberto Carlos e Wanderléa.
Depois do regime de força, tivemos uma baixa considerável na nossa boa produção musical, o que deu brecha e estimulou  a criação de muita coisa ruim, inconcebível e imprestável para os nossos ouvidos (não sei distinguir que gênero).
Surgiram letras musicais agressivas e sem conteúdo algum. E, acreditem, com um índice altíssimo de aceitação e aprovação na mídia televisiva e radiofônica. Suas letras, quando usam a mulher como forma de inspiração, vai, de forma agressiva, grosseira e humilhante, denegrindo a pessoa feminina fonte eterna de inspiração dos grandes e imortais poetas e modinheiros de outrora.
Vejamos o que o tempo mudou:
    Composição: Gostoso demais
    Compositores/Intérpretes: Dominguinhos/
    Nando Cordel
    É tão difícil ficar sem você
    O teu amor é gostoso demais
    Teu cheiro me dá prazer
    Quando estou com você
    Estou nos braços da paz
    Em troca:
    Composição: Mulher é foda
    Compositores/Intérpretes: Os Hawaianos
  
     Mulher é bagulho doido
    Te ilude, te trai, fala que te ama
    Mulher é bagulho sinistro
    Te arranca dinheiro, te faz sinistro
    Composição: Rosa
    Compositores: Pixinguinha/Otávio de    
    Souza
    Intérprete: Orlando Silva
   Tu és a forma ideal
   Estátua magistral
   Oh alma perenal
   Do meu primeiro amor
   Sublime amor
   Em troca:
   Composição: Que tiro foi esse
   Compositor/ Intérprete: Jojo Todynho
   Que tiro foi esse?
   Que tiro foi esse que tá um arraso?!
   Que tiro  foi esse, viado?
   Samba na cara da inimiga
   Vai, samba
O tempo mudou. Pioramos muito. Não?!
Berilo de CastroEscritor
As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

22/03/2018

INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RN IHGRN <ihgrn.comunicacao2017@gmail.com>


Caro sócio,

A nossa diretoria de Arquivo, Biblioteca e Museu juntamente com o LABIM/UFRN vem providenciando a digitalização de material do nosso acervo para acesso do sócio e dos usuários do biblioteca e do arquivo. Além disso, procura junta a Biblioteca Central Zila Mamede BCZM/UFRN a disponibilização no site da instituição de link de acesso aos jornais do Rio Grande do Norte já digitalizados.

Buscando melhor servir ao nosso sócio repassamos os links dos nosso repositório e do repositório da BCZM para aqueles que porventura tenham interesse em conhecer ou pesquisar neste tipo de material. Para acessar o conteúdo segue o link: http://www.bczm.ufrn.br/jornais/ 

Já o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte - IHGRN em parceria com o LABIM/UFRN já disponibiliza alguns documentos, livros e números da Revista do IHGRN para pesquisa e consulta também online. Conheça o nosso repositório: http://www.ihgrn.org.br/repositorio

Não deixem de acompanhar as nossas atividades nas redes sociais facebook e instagram, de participar dos nossos eventos, afinal, somos todos nós que fazemos a Casa da Memória que anda sentindo falta dos seus sócios curtindo, compartilhando, comentando e presente nas nossa programação cultural

Fiquem atentos!
E boa semana.

21/03/2018


   
Marcelo Alves

 

As livrarias de Oxbridge

“Oxbridge” é uma palavra amálgama que serve para designar conjuntamente as cidades e, mais especificamente, as universidades de Oxford e Cambridge. Pertinho de Londres, menos de uma hora de trem, essas duas cidades universitárias são belíssimas e, assim, indicadas tanto para o estudo sério como para o mero turismo diletante. Eu mesmo, antes de fazer doutorado no King's College London, mais de uma vez prestei exames (o IELTS e o ILEC, se não estou enganado) e estudei em Oxford e em Cambridge. Direito no Corpus Christi College da Universidade de Oxford (lembro-me bem) e língua inglesa em mais de uma das muitas escolinhas de línguas que essas duas cidades oferecem. Para quem for ao Reino Unido a passeio, enfaticamente recomendo dar um pulo nelas. Se não nas duas, numa ou noutra (e desde já adianto que tanto faz qual delas). 

Sobre “Oxbridge”, aliás, eu já escrevi aqui algumas vezes, como, por exemplo, em “Oxford e Cambridge: as grandes rivais (I) e (II)”. 

Entretanto, não me recordo de haver tratado das livrarias e sebos dessas duas cidades, tipos de comércios que, em razão da natural demanda de seus milhares de estudantes e professores, ali são achados, tanto grandes como pequenos, em abundância. 

Faço agora, selecionando, na profusão das dezenas de comércios de livros novos e usados existentes, os quatro – dois em Cambridge e dois em Oxford – que, por motivos diversos, mais me encantaram, tanto que ainda guardo, na algibeira da memória, as boas horas ali passadas. 

Começo pela “Heffer's Bookshop”, que pode ser considerada “a livraria” de Cambridge. Mais que centenária, fundada em 1876 e administrada pela própria família Heffer até a década de 1990, ela foi adquirida e é hoje gerida pela rede de livrarias “Blackwell’s”. Muito bem localizada, no número 20 da Trinity Street, é uma livraria gigante, a maior de Cambridge, que, para além de livros, vende de quase tudo em se tratando de produtos relacionados a leitura e à vida acadêmica da cidade. O seu acervo é “especializado” em tudo, “de arqueologia a zoologia”, para atender aos professores e estudantes da Universidade e, de quebra, aos turistas/pesquisadores de ocasião. Se livros acadêmicos não faltam, a Heffer's também se gaba do seu acervo mais diletante, a exemplo das seções de ficção, em especial a da ficção policial, que ela afirma ser a maior no Reino Unido. Quanto a mim, e olhem que já faz algum tempo que estive lá, ainda recordo as tardes passadas na seção de livros de segunda mão, garimpando exemplares bem conversados e com preço bastante em conta. Adoro promoção. 

Mas se tem uma livraria em Cambridge que me traz as melhores recordações, essa é a “Cambridge University Press Bookshop”, que fica no número 1 da Trinity Street. Não é uma livraria grande. Pelo contrário, são dois andares de um prédio até modesto. O seu acervo, entretanto, que gira em torno das publicações da Cambridge University Press, é, por esse motivo, especial. Livros técnicos de todos os ramos do saber ali são encontrados em abundância. Isso inclui direito e filosofia, ou a mistura deles, que é a minha preferência. A loja atual data de 1992. Em 2009, foi inaugurada uma extensão especializada no aprendizado da língua inglesa. Embora essas instalações sejam recentes, elas estão exatamente no local/região onde historicamente – e ponha alguns séculos nisso – o comércio de livros era realizado em Cambridge. Por sinal, turisticamente falando, a localização é fantástica, mesmo na praça central que dá para a fachada leste do King's College da Universidade de Cambridge. Tenho guardada na memória a visita que lá fizemos, a família toda, no comecinho do meu doutorado. E até hoje uso as sacolas de pano, com a logomarca da livraria, que compramos, num tempo, tão gostoso, em que ainda viajava com os meus pais. 

Já em Oxford, a primeira livraria que tenho para sugerir é a “Oxfam Bookshop”, localizada no número 56 da St. Giles Street. Para quem não sabe, a Oxfam (por extenso: “Oxford Committee for Famine Relief”), como organização não governamental, foi fundada em 1942. Hoje é famosíssima para muito além do Reino Unido, estando oficialmente presente, através da “Oxfam International Confederation”, em ao menos vinte países, incluindo o Brasil. Indo à Terra da Rainha (a Londres, especialmente), é quase certo topar com uma das lojas da Oxfam, quase sempre misto de livraria, sebo e brechó. A Oxfam Bookshop aqui sugerida é a livraria original dessa badalada organização, em funcionamento há mais de trinta anos, e essa rica história já basta para ela merecer a nossa visita. De toda sorte, o seu acervo também é muito bom, indo de obras de ficção e outras “diletantices” a livros acadêmicos, para atender às necessidades do ambiente estudantil da cidade. Esse acervo, pela própria dinâmica do comércio de livros usados, muda frequentemente, o que é bom. E o preço é bastante em conta, o que é ainda melhor. 

Por derradeiro, ainda em Oxford, vai aquela que é considerada por muitos “a melhor livraria do mundo” (com o que tendo a concordar): a “Blackwell’s Bookshop”. Falo da loja gigantesca que fica nos números 48-50 da Broad Street, bem pertinho de algumas das melhores atrações turísticas de Oxford, como a “Bodleian Library”, a “Radcliffe Camera”, o “Sheldonian Theatre” e a “Bridge of Sighs”. Na verdade, inaugurada em 1879 (por um tal Benjamin Blackwell), com seus alegados mais de 250 mil livros, a Blackwell’s é, por si só, uma atração turística nesta cidade onde o cotidiano se confunde com o ensino e o aprendizado. Excetuando as coleções especializadas (que ficam em outras lojas da rede Blackwell’s na cidade), em termos de livros, ali se acha de tudo, tudo mesmo, para fins acadêmicos (no que é imbatível no Reino Unido) ou não. O ambiente colorido, para quem gosta da coisa, é de tirar o fôlego, sobretudo a enorme “Norrington Room”, a sala subterrânea que, com seus cinco quilômetros de estantes, em mais de um nível, é considerada, pelo “Guinness Book of Records”, o maior espaço contínuo e permanente para venda de livros do mundo. Para mim, quando penso em uma livraria descomunal, que contenha de tudo, numa paródia imperfeita da Biblioteca de Borges (1899-1986), é a Blackwell’s de Oxford, mais do que qualquer outra, que me vem à cabeça. 

Bom, caro leitor, em “Oxbridge”, recomendo que você visite essas quatro livrarias. Se possível com a família toda, como eu fiz um dia, num tempo em que ainda viajava com os meus pais. 


Marcelo Alves Dias de Souza
Procurador Regional da República
Doutor em Direito (PhD in Law) pelo King’s College London – KCL
Mestre em Direito pela PUC/SP