17/02/2017


FAZENDA UBERABA

Valério Mesquita*

Encontrei no beco das minhas saudades, rebuscando a memória,  o vocábulo Uberaba. Era a propriedade do meu pai em Sucavão, perto de Riacho do Mel, Mata Verde e Traíras, no município de Macaíba. Com a partilha dos bens do espólio de Alfredo Adolfo de Mesquita pelo falecimento de sua esposa Ana Olindina de Mesquita (mãe do meu pai), ele adquiriu no final dos anos quarenta essa fazenda. Construiu o açude, demarcou as terras e ergueu a imensa casa alpendrada num alto, mandando pintá-la toda de branco. A energia elétrica provinha de um gerador e a água servida era da cisterna e do poço à cata-vento, além do açude. Alfredo Mesquita plantava milho, feijão, agave, algodão e criava um plantel de gado leiteiro. Percorria a propriedade e os lugarejos próximos a cavalo. Nídia, minha irmã, também era excelente cavaleira, enquanto eu, ainda menino, montava um cavalo manso que “não desembestava” chamado “Boa Viagem”. Eu me sentia o próprio Durango Kid. “Uberaba” tornou-se o paraíso simples e bucólico de todos nós, o oásis que retemperava o meu pai para os embates políticos. Aqui e acolá, ele a hipotecava ao Banco do Brasil para pagar as dívidas políticas. E assim foi, até um dia perdê-la de vez, vendendo-a ao agro-pecuarista Adauto Rocha em 1961. 
Foi uma das maiores tristezas de nossas vidas. Minha mãe, Nídia e eu choramos a sua perda e todo um universo de gratas reminiscências. A fazenda foi palco de vaquejadas políticas com a presença de governadores, senadores e deputados: José Varela, Silvio Pedroza, Theodorico Bezerra, Georgino Avelino, Dioclécio Duarte, entre outros, pesos pesados do PSD. O exercício da política, foi, aos poucos, depredando a propriedade. Até ferrar novilhas para presentear afilhados de batismo se tornou um ritual do velho Mesquita em favor do compadrio político. Homem solidário e de largueza de gestos tornou-se presa fácil dos oportunistas da política e logo empobreceu.
A Fazenda Uberaba pertenceu depois de Adauto Rocha ao Sr. Manoel Flor que a vendeu, posteriormente, ao Sr. Vicente Flor, proprietário da Empresa Riograndense. Ao longo de certo tempo, seu Vicente sempre me convidava para revisitá-la. Desculpei-me inúmeras vezes, com receio de enfrentar as emoções daquele mundo perdido de minha infância. Certa vez, numa campanha eleitoral, passei ao longe, na estrada, num final de tarde. Pedi para parar o carro. Desci com alguns companheiros de peregrinação política para a contemplação da paisagem linda e quieta. Chorei copiosamente como se tomado e vencido por estranha força. Voltei ao veículo e em silêncio permaneci até chegar a minha casa em Macaíba. A saudade é dor pungente.
(*) Escritor

16/02/2017

Mais uma do PAPA FRANCISCO



"Você pode ter defeitos, ser ansioso, e viver alguma vez irritado, mas não esqueça que a sua vida é a maior empresa do mundo. Só você pode impedir que vá em declínio. Muitos lhe apreciam, lhe admiram e o amam. Gostaria que lembrasse que ser feliz não é ter um céu sem tempestade, uma estrada sem acidentes, trabalho sem cansaço, relações sem decepções. Ser feliz é achar a força no perdão, esperança nas batalhas, segurança no palco do medo, amor na discórdia. Ser feliz não é só apreciar o sorriso, mas também refletir sobre a tristeza. Não é só celebrar os sucessos, mas aprender lições dos fracassos. Não é só sentir-se feliz com os aplausos, mas ser feliz no anonimato. Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver a vida, apesar de todos os desafios, incompreensões, períodos de crise. Ser feliz não é uma fatalidade do destino, mas uma conquista para aqueles que conseguem viajar para dentro de si mesmo. Ser feliz é parar de sentir-se vítima dos problemas e se tornar autor da própria história. É atravessar desertos fora de si, mas conseguir achar um oásis no fundo da nossa alma. É agradecer a Deus por cada manhã, pelo milagre da vida. Ser feliz, não é ter medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si. É ter coragem de ouvir um "não". É sentir-se seguro ao receber uma crítica, mesmo que injusta. É beijar os filhos, mimar os pais, viver momentos poéticos com os amigos, mesmo quando nos magoam. Ser feliz é deixar viver a criatura que vive em cada um de nós, livre, alegre e simples. É ter maturidade para poder dizer: "errei". É ter a coragem de dizer:"perdão". É ter a sensibilidade para dizer: "eu preciso de você". É ter a capacidade de dizer: "te amo". Que a tua vida se torne um jardim de oportunidades para ser feliz... Que nas suas primaveras seja amante da alegria. Que nos seus invernos seja amante da sabedoria. E que quando errar, recomece tudo do início. Pois somente assim será apaixonado pela vida. Descobrirá que ser feliz não é ter uma vida perfeita. Mas usar as lágrimas para irrigar a tolerância. Utilizar as perdas para treinar a paciência. Usar os erros para esculpir a serenidade. Utilizar a dor para lapidar o prazer. Utilizar os obstáculos para abrir janelas de inteligência.  Nunca desista....Nunca renuncie às pessoas que lhes ama. Nunca renuncie à felicidade, pois a vida é um espetáculo incrível". 

Papa Francisco.

15/02/2017

O tempo e o espaço dos amigos


Algumas ocorrências recentes provocaram em mim sentimentos daquilo que antigamente se costuma chamar de “emoção existencialista”. Explico. Essa atitude se caracteriza pela mistura do conceito do mundo real com especulações sobre a busca da racionalidade, por meio de um conceito abstrato da existência. Não, não é nada filosófico e chato. No meu dia-a-dia “pão-pão, queijo-queijo” não há espaço para Kierkegaard, Heidegger, Sartre, EspinosaDescartes e Leibniz. Isso eu deixo para os momentos de ócio absoluto, quando os pensamentos voam livres, desapegados da vida.
Foi assim que descobri algo que muitos outros já devem ter descoberto antes de mim: quando nascemos tem inicio um período em que pessoas, fatos e lembranças vão se agregando à nossa existência em uma velocidade e quantidade imensas. Pai, mãe, parentes, vizinhos, as brincadeira da infância, colegas da escola e do trabalho, as namoradas, as farras, as viagens, o que aprendemos nos estudos e pelo simples fato de viver. Alguns desses elementos permanecem vivos em nossa consciência, outros parecem desaparecer para inesperadamente reviverem, despertados por um incidente inesperado qualquer.
Em certa etapa da vida tem inicio um processo reverso. Começamos a perder lembranças de acontecimentos que no passado foram importante pera nós, nos distanciamos dos antigos vizinhos e colegas da escola e do trabalho e, o mais duro, começamos a perder para sempre parentes e amigos, ceifados pela inexorabilidade da morte.
Os últimos anos foram pródigos nessas perdas. Lá se foram minha mãe e minha tia Albinha, os últimos viventes de uma prole de vinte e um nascidos do casal José Rodrigues e de Dona Mariquinha, meus avós maternos. Da família de meu pai croata, nunca tive notícia a não ser de um primo, isso há quase sessenta anos. Perdi também vários amigos, entre eles Dorian Gray Caldas.
E agora recebo a notícia do falecimento de Assis Amorim. Esse um amigo especial. Tornamo-nos próximos nos encontros casuais havidos no coreto da Praça Antonio Joaquim, lá em Mossoró, quando discutíamos tudo, até o que não sabíamos nada de nada. Lá estava Assis e pontificar, com um vocabulário esmerado – depois descobrimos que ele se preparava para esses encontros e encaminhava a discussão para ai distribuir conhecimento. Pequenos pecados da juventude, mas que serviram para espalhar saberes.
Francisco de Assis Freitas Amorim (FAFA para os íntimos) era um ser com características variadas e peculiares. Idealizador e planejador de prédios sem ser arquiteto, construtor sem ser engenheiro, bancário do Banco do Nordeste – ocasião em que trabalhamos junto –, vereador, deputado estadual, economista, advogado e juiz. Acima de tudo era um ser de uma inteligência rara que só aqueles que desfrutaram de seu convívio podem aquilatar.
Lembro-me de uma série de conversa que uma vez tivemos. Nós, dois jovens inquietos intelectualmente, resolvemos entender a tal lei da relatividade de Einstein. Sempre empacávamos nos fatores “tempo” e “espaço”, os quais entendíamos como inseparáveis. Até que um dia resolvemos, por conta própria, separa-los e os projeta-los no curto e longo prazo. Isso sem ajuda de ninguém, nem  do Padre Sátiro – nosso eterno professor e diretor –, pois éramos jovens e, como tal, autossuficientes. Trazendo nossa especulação para nosso terreno, resolvemos que “tempo” era uma questão de escolha pessoal e que o espaço era coisa de Deus. Simples assim. Como era bom ser jovens e descompromissados; compromisso só com nós mesmo.
Lamento bastante não ter me encontrado com Assis mais vezes nos últimos anos. Mesmo recentemente quando fui a Mossoró proferir palestra na UFERSA, na Universidade Estadual ou na Maçonaria não tive tempo de visita-lo. Agora me penitencio e vejo que desperdicei o meu tempo ao não encontra mais vezes o meu amigo e com ele jogar conversa fora.
 

14/02/2017




EDITAL Nº 1, DE 1/2/2017
Assembleia Geral In Memoriam
 
 
O Presidente da Academia Norte-rio-grandense de Letras - ANRL, na forma regimental, convoca os Senhores Acadêmicos para a Assembleia Geral Sessão  In Memoriam   ao Imortal José de Anchieta Ferreira da Silva,  primeiro sucessor    da cadeira 3, que tem   como patrono  o Conselheiro  Brito Guerra e fundador o Professor Otto de Britto Guerra.
A Saudação de Louvor a José de Anchieta Ferreira da Silva  será proferida pelo Acadêmico João Batista Pinheiro Cabral.    
14 de fevereiro de 2017 (terça-feira)
Na Academia Norte-rio-grandense de Letras – Térreo
Ás 17 horas
 
Diogenes da Cunha Lima
Presidente

13/02/2017


CURTAS E BOAS – Berilo de Castro


1 – MEGAFONE   
Quando fazia atendimento ambulatorial no Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL), fui informado pela auxiliar que não tinha mais nenhum paciente para atender. Mesmo assim, por prudência, pedi que fizesse uma nova chamada. A assistente voltou e confirmou que, realmente, não tinha mais ninguém.
Insisti e, em um tom de brincadeira, disse: chame no megafone!
Passado um bom tempo, volta a auxiliar e, com sinais de cansaço, diz:
– Doutor, já estou rouca de tanto chamar por esse tal de “megafone” e esse irresponsável não dá nem sinal de vida. Já deve ter ido embora…
2 – O DIVÃ
Em certa entrevista, como sempre ocorre, e dá Ibope, com jogadores de futebol, o repórter pergunta ao vigoroso zagueiro vascaíno: Odivan, de onde vem esse seu bonito nome?
 – Responde o jogador: meu pai é muito fanzão do rei Roberto Carlos e curtia muito aquela música Odivan (O divã). Assim sendo, resolveu homenagear o rei, me batizando com esse belo e marcante nome: ODIVAN. Sou, na verdade, um grande sucesso musical!
3 – A BENDITA MADEIRA
 Anos passados, durante a construção de um renomado colégio religioso de propriedade de um devotado homem de Deus e dedicado educador/escritor, atento à dinâmica da construção;  alegre e irradiante, verificando o avanço  da obra, com  as paredes das salas/quartos prontas e levantadas, liga para o seu competente e confiável construtor e fala:
– “Mestre Quincas, já levantei os quartos, pode empurrar a madeira”.
Berilo de CastroMédico e escritor

06/02/2017

   
Marcelo Alves

 


Sobre “O julgamento de Nuremberg” (II)

Hoje conversaremos mais detalhadamente sobre o filme “O Julgamento de Nuremberg” (“Judgment at Nuremberg”), de 1961, dirigido por Stanley Kramer (1913-2001). Esse filme, como já dito na semana passada, dramatiza, com boa dose de ficção, um dos “julgamentos de Nuremberg”, mais precisamente o “julgamento dos juízes”, em que membros do Ministério da Justiça, de tribunais do povo e de tribunais especiais do 3º Reich foram acusados de abusar dos seus poderes de promotores e juízes para cometer crimes de guerra e crimes contra a humanidade, fomentando e autorizando a perseguição racial e horrendas práticas de eugenia, entre outras coisas, levando à prisão e à morte inúmeros inocentes. 

Antes de mais nada, é preciso ser dito que “O Julgamento de Nuremberg”, de 1961, insere-se no período de ouro dos “filmes de tribunal” (“trial films”, com se diria em inglês), que vai dos últimos anos da década de 1950 aos primeiros da década de 1960. São desse período os grandes clássicos do gênero (na verdade, clássicos do cinema como um todo). Por exemplo, são de 1957 “Doze Homens e uma Sentença” (“12 Angry Men”), “O Homem Errado” (“The Wrong Man”) e “Testemunha de Acusação” (“Witness for the Prosecution”). De 1959 temos “Anatomia de um Crime” (“Anatomy of a Murder”). Já em 1960 temos “O Vento Será Tua Herança” (“Inherit the Wind”). Por fim, em 1962, temos “O Sol é para Todos” (“To Kill a Mockingbird”). Sobre quase esses todos filmes, aliás, já conversamos aqui mesmo. 

Por óbvio, há muita gente que não gosta de filmes antigos, sobretudo aqueles em preto e branco. Mas não é o meu caso, já disse certa vez por aqui. De toda sorte, do ponto de vista cinematográfico, “O Julgamento de Nuremberg”, embora longo, com quase três horas de duração, é um filme fantástico. E para sustentar meu ponto de vista basta lembrar que, em 1962, ele foi indicado a onze estatuetas do Oscar, entre elas as de melhor filme, melhor direção, melhor roteiro adaptado, melhor fotografia, melhor direção de arte, melhor ator (duas vezes) e por aí vai. Levou dois prêmios, melhor ator (Maximilian Schell) e melhor roteiro adaptado (para Abby Mann, 1927-2008), aos quais se somaram alguns globos de ouro. 

“O julgamento de Nuremberg” é um filme de tese – um “film à thése”, como diriam chiquemente os franceses. Mas é também um “film d’acteurs”: poucos filmes na história do cinema tiveram no elenco tantos monstros sagrados. Sob a direção de Stanley Kramer, desfilam gente como Spencer Tracy (1900-1967, no papel do juiz Dan Haywood, presidente da corte), Burt Lancaster (1913-1994, como Ernst Janning, o principal réu e anti-herói), Marlene Dietrich (1901-1992, como a Senhora Bertholt), Judy Garland (1922-1969, vítima/testemunha), Montgomery Clift (1920-1966, vítima/testemunha), Richard Widmark (1914-2008, o promotor), Maximilian Schell (1930-2014, o advogado de defesa), Werner Klemperer (1920-2000, um dos réus) e William Shatner (1931-, como o oficial ajudante juiz Haywood), entre outros. 

O filme é ambientado na cidade que lhe dá nome (Nuremberg) e numa Alemanha, pós-Segunda Guerra Mundial, dividida entre as quatro potências vencedoras do grande conflito (Estados Unidos da América, Inglaterra, França e União Soviética). De algum relevo, embora não muito, é o papel da própria cidade no Filme. Uma Nuremberg em parte destruída, até certo ponto perigosa, mas, ao mesmo tempo, fotograficamente bela na sua decadência. 

No que diz respeito à música, tem-se composições como a famosa “Lili Marleen” e outras mais de Ernst Gold (1921-1999), todas de origem germânica, que dá uma atmosfera especial, mas bem triste a meu ver, ao filme. 

Pouco de pessoal – e aqui leia-se de não jurídico – tem o filme. O único destaque talvez seja a “amizade” que se forma entre o juiz Dan Haywood (personagem de Spencer Tracy) e a senhora Bertholt (Marlene Dietrich), uma viúva que teve seu marido, um militar alemão de alta patente, anteriormente executado pela sua atuação durante a Grande Guerra. Uma amizade improvável forjada na adversidade. E é através da senhora Bertholt que o juiz Haywood consegue compreender um pouco (ou bastante) da mentalidade alemã daqueles tristes tempos. 

Na verdade, sem muitos artifícios cinematográficos, muitíssimo de “O Julgamento de Nuremberg” se passa na sala de audiência, onde nos sentimos também confinados, como se assistindo/participando em tempo real das sessões de julgamento. A ação quase se resume, como anota Bruno Dayez (em “Justice & cinéma”, editora Anthemis, 2007): “a assistir o trabalho dos personagens judiciários, na tribuna e no banco das testemunhas […]. As cenas exteriores não nos distraem um só segundo do tema tratado, pois elas servem apenas para ilustrar as angústias do juiz Haywood para responder à obcecante questão: como aqueles juízes puderam se transformar em carrascos?”. 

O fato é que o filme leva bastante a sério a sua temática histórico/jurídica, sobre a responsabilidade dos juízes na aplicação da legislação nazista (que impunha a pureza racial, a esterilização de pessoas etc.), levando à prisão e à morte muitos inocentes, e como punir esses “crimes judiciais” por eles (juízes) praticados “em nome da lei”. 

Mas essa temática histórico/jurídica – e outras coisistas mais –, por falta de espaço hoje, nós só discutiremos na semana que vem. 

Marcelo Alves Dias de Souza
Procurador Regional da República
Doutor em Direito (PhD in Lai) pelo King’s College London – KCL
Mestre em Direito pela PUC/SP

03/02/2017

MÚSICA POTIGUAR BRASILEIRA

Valério Mesquita*

Não é pretensão ou entusiasmo pueril. Não é uma constatação baseada em suposto direito. Antes de tudo é uma conquista. Existe, sim, hoje, uma música potiguar brasileira formada por expressões que nada ficam a dever aos compositores e intérpretes do Ceará ou Pernambuco. Nesses estados o poder público, a iniciativa privada e a mídia atuam financeiramente e divulgam os seus artistas. No Rio Grande do Norte o apoio é tímido e, até parece, que não acreditam no potencial do talento do musicista, na sua criatividade e na beleza de sua poesia.
A característica hereditária da cultura musical potiguar vem de um Otoniel Menezes, Eduardo Medeiros, Tonheca Dantas, Felinto Lúcio, das modinhas de Auta de Souza, da inspiração de K-Ximbinho e Hianto de Almeida, um dos precursores da bossa nova. O tempo e o vento, o sol e as águas do Potengi esculpiram uma nova constelação musical no Rio Grande do Norte que me entusiasma e me induz a aplaudir a todos quantos prestigiam os compositores e intérpretes – alguns deles - somente comecei a ouvi-los através dos programas da Rádio FM Universitária. Ao ouvir “O Poema Nordestino”, “Forró Prá Valer” de Galvão Filho e Chico Morais cheguei ao CD e ao autor, que é filho do saudoso Severino Galvão. Trata-se de uma “família musical”, a começar de D. Elvira Galvão, no seu reinado da avenida 10, ensinou aos filhos a “arte milenar do rabequeiro e do sanfoneiro”: Erinalda, Erineide, Eri, João Galvão e o grande Babal. O CD contém treze composições da mais fina poética nordestina, sem o lugar-comum dos apeladores do erotismo e da imoralidade que corrompem o sentimento da alma sertaneja. “Não, na minha rede”, “A energia dos Cristais”, “Tem dez no forró”, “Saudade D’ocê”, são versos que relembram Gonzagão, Humberto Teixeira e tantos outros reis do baião e da arte popular.
O Rio Grande do Norte tem a sua música popular genuína nascida das raízes, da gente e do folclore. Esse plantel notável inclui Elino Julião, Enoch Domingos, Chico Morais, Cezar e Zé Fontes, Almir Padilha, Dozinho, Tarcísio Flor, Lane Cardoso, Marina Elali, Carlinhos Zens, Glorinha Oliveira, Rejane Luna, Valério Oliveira, Zé Dias (animador cultural), Lucinha Lira, Regional Sonoroso, Paulo Tito, Liz Nôga, em nome de quem saúdo os grandes cantores da música seresteira do Rio Grande do Norte. Não cabem aqui nestas linhas mencionar todos. Mas, uma coisa se torna importante: a conscientização de que temos uma música potiguar brasileira e que precisa ser valorizada o quanto antes.


(*) Escritor.