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13/12/2016
ORMUZ SIMONETTI enviou
REMINISCÊNCIAS
DA RUA PRINCESA ISABEL – A SAGA DE FLORIANO “EL BODEGUERO”. ÚLTIMA PARTE.
Em uma noite do mês junho
de 1972, despedi-me da turma da Princesa Isabel, dos meus amigos do Atheneu, da
minha cidade de Natal, e rumei para São Paulo onde iria assumir no Banco do
Brasil, o que seria o meu primeiro emprego.
Pouco me recordo daquela última semana passada junto com essa turma. A
expectativa de viver e trabalhar em outra cidade, não me deixava pensar em mais
nada. O foco era a viagem. O desconhecido me assustava, ao tempo que também me
atraia. Como seria morar sozinho? O que me esperava naquela cidade grande? A
verdade é que eu pouco conhecia além das fronteiras de minha cidade, já que meu
vôo fora de Natal tinha apenas conseguido alcançar as cidades de João Pessoa,
com os pic-nic do professor Humberto do Atheneu, que de tanto fazer esse tipo
de viajem, terminou recebendo o apelido de “Humberto Pic-nic” e a cidade do
Recife, onde fui assistir o casamento de um primo.
Hoje escrevendo essas crônicas, vagas lembranças fragmentadas daquela época,
chegam-me à memória como fleches daqueles últimos dias que antecederam a minha
viagem a São Paulo. Recordo que saímos pelos bares da vida, tomamos umas
cervejas e, como de costume, tudo terminou em serenatas.
Ao retornar nos anos seguintes, o tempo era curto para dividi-lo entre os
familiares e os velhos amigos. E como sequência natural das coisas, cada um foi
tomando o seu rumo pela vida. Uns mudaram-se para outros estados, outros para
ruas mais afastadas e lá formaram novas turmas. O ensino superior, outra fase
importante na vida dos jovens, obrigatoriamente abriria espaço para a
convivência com novos amigos que estudariam e se divertiriam juntos.
Quando deixei Natal em 1972, a turma de frequentadores da “Bodega de Floriano”
já estava se dissipando. Faço aqui uma retrospectiva dos que me chegam à
memória e as profissões que abraçaram pela vida: Jairo (engenheiro); Adauto
(advogado e escritor); Levi (artista plástico); Jaime Ninho (economista);
Adilson Gurgel (advogado); Hamilton Gurgel (bancário); Chiquinho (serviços de
telecomunicação); Leonardo Naná (engenheiro); Rominho (comerciante); Leo Leite
(matemático); Gilson Leite (bancário); Beto Coronado (psicólogo e professor);
Zé Ivo (odontólogo); Jorge Chopp (médico); João Bosco (professor
universitário); Cacá (pintor), Paulinho (médico); Alberto (engenheiro); Carlos
Castim (advogado) e Thales (engenheiro), todos morando atualmente em Natal.
Barroca, Carlinhos, Mario Maromba e Sérgio China faleceram. Josemar (odontólogo)
mora em (Brasília; Zezé (bancário) mora em Caruaru-Pe; Maninho mora em Maceió;
Túlio e Calabé moram em Recife.
Quanto a essas reuniões, tudo começou quando no final da década de 80, por
ocasião das festividades natalinas, Beto e Jairo se encontraram e, pela
primeira vez, trataram do assunto. Comentaram sobre a possibilidade de reunir
alguns componentes da turma, para uma confraternização na época natalina. Dez
anos depois, em 1999, meia dúzia dos amigos daquela época reuniu-se no hotel
Barreira Rocha para um almoço de reencontro. Aquele almoço seria o pontapé
inicial para a sucessão ininterruptas dessas reuniões, que no próximo sábado
completam 15 anos.
Nesse dia faremos uma homenagem especial ao nosso patrono Floriano,
proprietário da bodega, que deu nome a nossa confraria, onde essa e outras
turmas no passado se reuniam diariamente para conversar, fazer amigos e beber
na fonte do conhecimento de um dos bodegueiros mais festejados e admirados de
nossa cidade.
Viva Floriano “El Bodegero”!
__________
Publicada no Jornal de Hoje em 2013.
VIAGEM
Expresso Guanabara
20/11/2016
texto Gustavo Sobral e ilustração de Arthur Seabra
Natal-Fortaleza. A partida é impreterivelmente ao meio dia. Passageiros alcançam suas poltronas. É um tal de se acomodar e poucas vozes. De ponto indefinido, o rapaz no estilo, óculos espelhados, falante, anima uma conversa pelo celular ao ouvido de todos: Irmão, esse homi superou ela inda não? Relaxe, chegue nas áreas nas suas férias.
O motoristas presta os esclarecimentos para o andamento da viagem: fiquem de posse dos seus pertences e avisa a dinâmica das paradas.
A primeira que se aponta é em Lajes, logo depois que se avista o Cabugi aprumado para o céu. Churrascaria Chimarrão. O esquema é sirva-se a vontade e pague tanto. E desfilam pratos com altura de invejar o pico, camada de arroz, camada de macarrão, monte de macaxeira e a carne enfeitando por cima, o copo de suco vem pela boca.
E tem cafezinho. A menina apresenta duas xícaras, uma pequena outra grande e explica: tem assim ou assim. É o negócio tem que ser ligeiro, 20 minutos de parada sem mais.
O caminho é paisagem, cidades vão passando na beira da estrada entremeadas por longos vazios de mato, pedra e terra aqui e acolá e, quando se vai chegando Açu, desfilam fábricas de tijolos fumegando e bueiros. O ônibus segue.
Acabou-se essa história de ônibus com janela. Agora o negócio é na vidraça, por ela desfila a paisagem que surge e passa no ritmo do seu levar, o ônibus vai dançando, um lado, outro, um lado, outro, sobre o asfalto, depois das quatro da tarde o sol brilha amarelo acompanhando o trajeto e apressando o dia que provavelmente vai se acabar quando for noite em Mossoró.
Você anda, anda e quando pensar que está perto está na metade do caminho. Mossoró não perde tamanho. Se Lampião ousou ao invadir cidade que tinha igreja com torre, sinônimo de cidade grande, Mossoró já cresce em edifícios que já se vê na paisagem distante. Mais um par de horas e Fortaleza recebe à noite.
11/12/2016
Lenho da cruz
Geraldo Duarte*
Em capítulo de
seu livro, Portugal Insólito, o escritor Joaquim Fernandes trata
de crenças e superstições lusas sobre árvores tidas milagrosas,
como o gigantesco carvalho de Leça do Balio e o pinheiro santo
de Macinhata.
Fenômenos
naturais às atingiram, provocando clamor místico e pedacinhos
dos vegetais tornaram-se disputados amuletos. Padecentes de
males físicos na busca da cura sobrenatural.
No dizer comum,
história puxa outra e, eis aqui, a realidade trazida pela
memória.
1972. Chefia de
gabinete da Secretaria de Segurança Pública. Atendo a telefonema
de um deputado estadual.
Denunciava
“atrocidade da polícia, na prisão de inocente religioso”. Mais
informou. Doutor Vilemar, advogado, procurar-me-ia e a soltura
evitaria pronunciamento dele na Assembleia. E disse “Até logo!”.
Contatei o
delegado de plantão e recebi o relato dos fatos.
Padre Ferreira,
pároco da Igreja do Patrocínio, pediu a intervenção policial
para deter um estelionatário defronte ao templo. Vendia, em
pequenos frascos, dos utilizados com penicilina, lasquinhas de
madeira, dizendo-as do lenho da crucificação do Senhor.
Acompanhados de uma “Oração da Santa Cruz”.
O número de
fiéis solicitando do vigário a benção dos objetos já era grande.
Detido o
contraventor, em sua residência foram apreendidos quase
trezentos talismãs e as tais orações.
O causídico não
veio a mim, o ínclito delegado Wanderley Girão Maia adotou os
procedimentos rotineiros e o parlamentar não realizou a
pronunciação.
Lembro-me,
inclusive, do comissário Queiroga afirmando que, “mesmo com
tantos patuás e o sobrenome Santos, não escapou da cadeia.”.
*Geraldo
Duarte é advogado, administrador e dicionarista.
09/12/2016
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