25/05/2015

Não existe essa coisa de dinheiro público
Tomislav R. Femenick – Contador; autor do livro “Para aprender economia”.

 vinheta168
Nos anos 1970 se iniciou uma ação, mais que um movimento teórico, de redução da intervenção do Estado na economia e ampliação da liberdade das pessoas; de revitalização do liberalismo econômico e político. Aconteceu primeiro nos países capitalistas desenvolvidos; depois por quase todo o mundo. Os principais condutores desse movimento foram Margaret Thatcher, na Grã-Bretanha, e Ronald Reagan, nos Estados Unidos.
Primeira-ministra da Inglaterra de 1979 a 1990, Thatcher vendeu a particulares o controle que o governo britânico mantinha de algumas empresas – indústrias, mineradoras e prestadoras de serviços –, cortou gastos públicos, proibiu o aumento dos preços dos serviços governamentais e enfrentou o poder dos sindicatos, principalmente dos mineiros de carvão. Tudo isso resultou na redução da inflação e, por um período inicial, um crescimento da taxa de desemprego. Politicamente teve uma ação drástica contra as esquerdas locais e combateu duramente os países de governo comunista. Em 160 anos, foi o único primeiro-ministro a permanecer no cargo por três mandados consecutivos e, ainda, elegeu seu substituto, John Major, do seu partido, o Conservador. Major exerceu as funções por sete anos, cedendo o lugar para um membro do Partido Trabalhista, de esquerda, Tony Blair, que, curiosamente, mantém a política liberal de Margaret Thatcher inalterada em seus princípios básicos (Femenick, 1998).
Ao assumir seu segundo mandado, em 1983, a dama de ferro disse em seu discurso perante o parlamento britânico: “Um dos grandes debates de nosso tempo é saber quanto do seu dinheiro deve ser gasto pelo governo e quanto dele você deve usar nos gastos com sua família. Nunca nos esqueçamos dessa verdade fundamental: o Estado [o governo] não tem outra fonte de receita que não o dinheiro ganho pelo próprio cidadão. Se o Estado deseja gastar mais, só pode fazê-lo se tomar emprestado de sua poupança ou lhe cobrar mais impostos. Não é lógico pensar que outro alguém vai pagar – esse outro alguém é você. Não existe essa coisa de dinheiro público; existe apenas o dinheiro do contribuinte. A prosperidade não virá com programas de despesas públicas mais gordas. [...] Nenhuma nação prosperou ao taxar seus cidadãos além da capacidade de pagamento deles. Temos o dever de nos certificar de que cada centavo obtido com tributos seja gasto sabidamente e bem” (Veja, 2015).
No Brasil dos últimos anos, a lógica tem sido outra. Enquanto os tributos beiram a 40% da toda a renda nacional, o governo gasta como se tivesse fonte própria de recursos e como se esses recursos fossem ilimitados. Nesse quesito, os governos federal, estaduais e municipais (com poucas exceções) são estroinas, levianos, irresponsáveis e desajuizados – criam cargos, dão fartos aumentos para certas castas de funcionários públicos e se esquecem de segmentos fundamentais como os professores, por exemplos. O perigo dessas despesas é que elas permanecem pelos anos futuros. Por outro lado, lançam programas e obras públicas em atacado e a granel.
Mas a conta chegou. O governo federal está atrasando o pagamento das verbas orçamentárias para estados e municípios. O resultado é perverso para o cidadão: as obras estão paradas no meio do caminho e a educação, a saúde, a segurança pública e outros serviços estão em níveis cada vez piores. Quem sai perdendo é o cidadão, o pagador de impostos.
Mas grave ainda é o reflexo dessa improbidade na iniciativa privada. Custos cada vez mais altos, mercado cada vez menor e desemprego cada vez maior. Sim, o desemprego é um grande problema para os empresários. Eles têm que mandar embora quadros técnicos que custaram muito dinheiro para serem formados, além de que quanto menor for o número de empregados, menor será a produção, menor será o volume das vendas, menor será o lucro.
Para fugir do desemprego e dos salários contingenciados, criou-se no país um cenário que bem representa a falta de confiança na economia; todos querem receber algo do governo. Os mais pobres querem recebem a bolsa família, os jovens da classe média sonham em passar em algum concurso e assumir um emprego público e os empresários querem ser premiados com um financiamento do BNDES com juros magrinhos e a perder de vista.

Para completar o quadro deveras dantesco, o ministro da Fazenda, o Sr. Joaquim Levy, defende o aumento dos impostos, como meio do governo sair da crise que ele mesmo, o governo, criou. 

24/05/2015

AS DIFICULDADES DE 2015

Flagrantes da solenidade dos 113 anos do IHGRN

                Após o ano redentor de 2014, onde a Diretoria do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, liderado pelo seu Presidente Valério Mesquita, conseguiu realizar milagres com pequenas dotações liberadas pelo Governo do Rio Grande do Norte, através da Fundação José Augusto e pela Prefeitura Municipal do Natal, iniciamos 2015 com extremas dificuldades, sem nenhuma liberação de recursos até o momento, contando com o sacrifício de subsistir com a diminuta contribuição anual dos seus poucos sócios, mesmo assim com uma inadimplência acentuada e com o desembolso pessoal dos diretores.

            O nosso projeto, já definido com Convênios assinados com a SEEC, Fundação José Augusto e perspectivas de novos pactos de cooperação técnica e financeira com a Prefeitura de Natal e Universidade Federal do Rio Grande do Norte, concentra-se na recuperação física do nosso acervo, desde a higienização, recuperação física e digitalização, de forma a permitir as consultas dos estudantes e pesquisadores através do meio digital. Para isso, recebemos uma doação de 10 computadores do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região e estamos no caminho de obtenção da participação da UFRN, com a indicação de professores especialistas e participação no Sítio da Universidade através de um link que permita as consultas necessárias.

         A par desse ideário, fomos intimados pelo Ministério Público Estadual para tomarmos medidas essenciais à solução de problemas pontuais, como um sistema contra incêndio e a acessibilidade para pessoas com deficiência motora, providências que dependem da ultimação dos convênios antes referidos.

        Gostaríamos que nossos sócios providenciassem os pagamentos das anuidades, com urgência, para que possamos concluir a tarefa de recadastramento a fim de conciliarmos a certeza do "quorum" para as assembleias gerais que serão realizadas no próximo mês e na assembleia eleitoral que ocorrerá entre outubro de novembro do corrente ano.

          Pedimos a todos uma atenção especial para o IHGRN, o maior acervo documental do Estado e que precisa urgentemente de um trabalho de consolidação.

             Compareçam diariamente ao nosso expediente matutino para conversarmos sobre o futuro da Entidade e recebermos sugestões para a sua otimização.

Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes - Secretário Geral do IHGRN

23/05/2015

Valério Mesquita celebrando mudança de idade

AS ZONAS


Valério Mesquita*


 

Trata-se de um tema que vem sendo comentado com frequência, há décadas. Recrudesce sempre nas proximidades das eleições no Rio Grande do Norte. Áreas para instalação são apontadas e em seguida tudo fica no mesmismo. Seria trágico, se não fosse cômico, se investigar esse disse-me-disse de ZPE’s no agreste, no Seridó, no vale do Assu, no oeste ou na área da grande Natal. A reprise desse assunto no calendário eleitoral, além de confundir e enganar o povo – fazendo-o de estúpido – redunda em agressão a lei eleitoral, aos bons costumes, pela falsidade ideológica com que é impingido um investimento de ordem publico/privada sem uma discussão ampla dos grupos investidores com as classes produtoras do Rio Grande do Norte e governo do estado.

Essas zonas não significam o que alguns estão pensando. São as zonas de processamento de exportação do Rio Grande do Norte. Compreendam-me bem: não quero com isso que suponham que sou contrário as ZPE’s. Mas, sim, a propaganda enganosa de infligir a coletividade, a imagem de vítima de um capricho político vicioso e eleitoreiro. Alguns municípios – li na imprensa – já disponibilizam glebas desapropriadas com o dinheiro público, sem nenhum planejamento ou debate técnico sobre o assunto. São procedimentos açodados onde o tráfico de influencia e a captação subliminar e ilícita de votos estão tão explícitos quanto as irregularidades de ordem contábil com afronte a moralidade pública.

Esses artifícios curiosos e episódicos contam com a cumplicidade de alguns ministérios ligados a partidos aliados que atuam nos estados. O critério de escolha não parece técnico nem seletivo. Há um dano, um foco, um aparelho transformador, destinado a converter situações e imprimir resultados. A expectativa nossa é de que as zonas não se transformem em burlas para premiar confrarias, pelo tratamento vago, vadio e vazio em vez de avançar sistemicamente nas negociações com os grupos estrangeiros, os quais, nem ao menos se tem idéia de onde vêm. A ZPE é tratada como tema abstrato, oferecendo apenas um factóide publicitário que transparece como recompensa material em troca de voto. O receio reside na preocupação coletiva que essas regras facilitem a perpetuação da corrupção e do fisiologismo. O próprio capitalismo selvagem no mundo transformou-se num assombroso vampiro na Ásia explorando a classe proletária.

A implantação das zonas de processamento de exportação deve sair do palanque político para o auditório dos debates com os verdadeiros agentes produtivos do estado. Que as coisas não sejam decididas com festa do dinheiro público como se desenha na volta anual de cada pleito. Que as zonas representem na agenda do crescimento do emprego, melhor e maior credibilidade e não uma zorra implementada e operacionada por ministérios comprometidos com os interesses partidários e não com os objetivos da integração nacional.

No popular, zona é um vocábulo comum que inspira boas recordações. Casas de recursos e pousadas de lazer e divertimento. Não existem mais. Imperava nelas a servidão humana das mulheres. Mas, reservavam o prazer. E funcionavam bem porque processavam e exportavam o pecado, o mais antigo meio de comércio e indústria da humanidade.  O bairro da Ribeira em Natal e Ponta Negra são as “ZPE’s” mais citadas dos bons tempos às margens das águas fluviais e marítimas. A expectativa do articulista é de que os “corredores de exportação” de hoje, não fiquem, apenas, na saudade e no consumo dos pecados políticos: através de atos, fatos, omissões e oportunismos.

 

(*) Escritor.

 

22/05/2015


“Pátria-Mãe!”


            “Quando, triste e envergonhado, leio a mentira divulgada em textos revisionistas e marxistas... quando, feliz e orgulhoso, associo-me às comemorações da data magna de Portugal, ainda que dela nenhuma referência tenha encontrado na imprensa brasileira, brado com emoção...”  

                        ...Obrigado, Portugal, Pátria-Mãe do meu Brasil!

                        Obrigado porque teus descobridores partiram da ocidental praia lusitana e, por mares nunca d’antes navegados, foram bem além do Bojador, além da dor, e descobriram para o mundo a terra onde eu nasci.

                        Obrigado por teres batizado esta parte do Novo Mundo de Terra de Santa Cruz, e que se fez conhecida como Brasil. Nas velas enfunadas da esquadra de Pedro Álvares Cabral, teus navegadores, a cruz e a espada lado a lado, revelaram-nos e marcaram-nos para sempre com a Cruz da Ordem de Cristo. E, de imediato, mandou o Descobridor celebrar missa em louvor a Nosso Senhor Jesus Cristo, fazendo do Brasil a Nação cristã da qual e do que todos nos orgulhamos. Obrigado pelo cristianismo!

                        Obrigado pela última flor do Lácio, inculta e bela! Porque tu, Portugal, nos colonizaste, herdamos o idioma que Luiz Vaz de Camões e Fernando Pessoa imortalizaram. Obrigado, pois que, assim, permitiste que na tua língua latina se imortalizassem Machado de Assis, Castro Alves, Olavo Bilac, Rui Barbosa, Gustavo Barroso e outros patrícios que bem a esgrimiram. Graças ao teu Português, ao nosso Português, os cento e noventa milhões de brasileiros se expressam e se entendem, emprestando unidade exemplar à Nação. É por meio do idioma de nossos antepassados luso-brasileiros que se entendem o caboclo da Amazônia e o capoeirista da Bahia, o jangadeiro nordestino e o empresário paulista, o gaúcho dos pampas e o seringueiro do Acre, o sambista carioca e o boiadeiro do pantanal, o seresteiro das Minas Gerais e o índio de todas as tribos. Obrigado pelo idioma que nos une e nos faz Nação!

                        Obrigado pelo território que nos legaste! Obrigado pela audácia, bravura, coragem, empreendedorismo e despojamento dos teus e dos nossos bandeirantes e entradistas que ousaram transpor Tordesilhas. Povoados e vilas, rios e campos, riquezas e ciência, tudo legaram em função da obra desbravadora que tanto enriquece nossa História. Pelas mãos daqueles bravos e dos homens do litoral, a Pátria foi sendo desbravada, demarcada e construída. Obrigado pelo território, magistralmente defendido por teus diplomatas, cuja obra tornou-se imortal nos teus tratados com Espanha, entre os quais sobressai o de Madrid. Obrigado pela terra que nos legaste.

                        Obrigado por esta mesma terra que para nós demarcaste e defendeste, semeando marcos, padrões e fortificações. Aí estão os fortes e fortalezas das Baías de Guanabara e de Todos os Santos. Aí estão as fortificações em todo o litoral, como, por exemplo, as do Recife, de Natal e Belém. Aí estão, sobretudo, provas da obstinação e da capacidade de teus engenheiros em Príncipe da Beira e em Coimbra. Obrigado, pois, pela riqueza histórica e cultural que, por meio tuas obras defensivas, tu nos presenteaste.

                        Obrigado pela coragem e bravura, pelo espírito combativo e destemido com que tu, Portugal, lideraste lusos e brasileiros nas lutas contra o invasor francês, no Rio de Janeiro e no Maranhão. Assim também nos combates contra o ousado invasor holandês, na Bahia, em Pernambuco e em outras praias do Nordeste. Da mesma forma, com determinação, comandaste os teus e os nossos nas pelejas contra os ingleses na calha amazônica.

                        Obrigado pela integridade do patrimônio territorial, afirmada e confirmada pela transmigração de tua Corte para o Rio de Janeiro, o que fez do monarca português o único rei europeu a visitar e a viver no Novo Mundo. Não fora a sábia e oportuna decisão tomada pelo Príncipe Regente, quem sabe como teríamos nosso País, quase metade da América do Sul, do qual tão bem desfrutamos em pleno Século XXI? Obrigado pelo legado da permanência da Corte no Brasil, de que são exemplos o Jardim Botânico e a Academia Militar das Agulhas Negras, o Banco do Brasil e o Arquivo Histórico do Exército, a Justiça Militar, a Polícia Militar do Rio de Janeiro e o Corpo de Fuzileiros Navais, exemplos lembrados a esmo entre tantos outros que bem poderiam ter sido recordados. Obrigado pela integridade do território.

                        Obrigado pela independência, proclamada pelo teu Pedro IV, que, em momento de magnífica lucidez e de amor ao Brasil, D. João VI deixou-nos como Príncipe Regente. Fizemo-nos independentes de ti, mas o sangue lusitano organizou o Império do Brasil e nos governou até a Regência. Não se pode esquecer que, também nas veias e artérias do brasileiro D. Pedro II corria o sangue de Portugal, filho de teu Rei D. Pedro IV. Obrigado pela voz que bradou “Independência ou Morte!”.

                        Obrigado pelo verde e pelo amarelo, nossas cores nacionais desde o Império e que perpetuaram, em nosso pavilhão, as cores das dinastias de Bragança e dos Habsburgos. Nelas, hoje e no mundo inteiro, encontramos nossa identidade e por elas somos prontamente reconhecidos. São cores que fazem bater mais forte o coração do brasileiro. Elas estão em nossos quartéis, belonaves, aeronaves, edifícios públicos, estádios, legações e trajes desportivos. Obrigado aos da Casa de Bragança e aos da Casa dos Habsburgos por nossas cores nacionais.

                        Obrigado pelo jeito brasileiro de ser, tão marcado pela miscigenação adotada e praticada pelo colonizador. Porque os teus se miscigenaram, não somos racistas. Ao contrário, abominamos os que nos querem fazer ver e pensar de outra forma. Não fossem os teus e não teríamos as decantadas mulatas que tanto nos orgulham e que encantam platéias quando evoluem ao som de samba e do frevo, do maracatu e do boi bumbá.

                        Obrigado pelo legado artístico que hoje exibimos em nossas igrejas. São, os próprios templos, admiráveis obras de arte, com seus riquíssimos acervos em imagens, objetos de ouro e prata, pinturas e esculturas. Obrigado pelo que nos ensinaste e deixaste em arte sacra.

                        Obrigado pelo que nos ofereceste quando comemoramos, em 1972, o sesquicentenário de nossa independência. Deste-nos o corpo do próprio D. Pedro I, hoje guardado em venerável repouso no Monumento do Ipiranga, às margens do mesmo riacho no qual proclamou-nos Nação livre e soberana. Obrigado por deixá-lo repousar em terras brasílicas.

                        Obrigado pelos costumes, valores e tradições que nos fazem parte inconfundível da civilização ocidental. À tua predominante cultura somaram-se contribuições italianas e indígenas, espanholas e africanas, finlandesas e alemãs, japonesas e coreanas, holandesas e russas, todas artífices da cultura brasileira, perfeitamente integrada e identificada à do Ocidente. Obrigado por nos ter aberto as portas do Ocidente cristão.

                        Obrigado por tudo, Portugal! Obrigado, Pátria-Mãe!

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Autor: Paulo Cesar de Castro – General de Exército, atualmente na Reserva Remunerada, antigo Chefe do Departamento de Educação

21/05/2015

 
 

No nordeste (dizem...), os holandeses, jesuítas ou ricos fazendeiros, deixavam escondidas verdadeiras riquezas, que ficavam enterradas no chão, em paredes de taperas, em mourões de porteiras ou nas proximidades de grandes árvores, até que um dia, através de sonho, mostrava-se a um escolhido, o local exato onde estava aquele tesouro. No sonho era informado como se comportar para a retirada da “Botija. Sempre à noite e sem acompanhantes. Quem não cumprisse as determinações, não receberia o tesouro. E, com a fortuna nas mãos, a pessoa deveria se mudar para um lugar distante, caso contrário, não desfrutaria da riquezas.
O Ceará-Mirim também teve as suas “botijas”. Muito se ouviu falar das riquezas obtidas por esse meio, embora tudo estivesse no campo do “boato”. Hoje, finalmente, a Acadêmica 
Ceiça Cruz apresenta um desses casos, por ela vivenciado. 

MITOLOGIA DO VALE DE CEARÁ-MIRIM: 
A ESTÓRIA DA BOTIJA NO ENGENHO SÃO PEDRO TIMBÓ
Maria da Conceição Cruz Spineli, ocupante da Cadeira 19 da ACLA

Em Dicionário do Folclore Brasileiro, pág. 681, Câmara Cascudo afirma que tesouro significa “dinheiro enterrado, o mesmo que botija para o sertão do Nordeste, ouro em moedas, barras de ouro ou de prata, deixadas pelo holandês ou escondidos pelos ricos, no milenar e universal costume de evitar o furto ou o ladrão de casa, de quem ninguém evita”.
Ainda no mesmo verbete, Câmara Cascudo diz que “os tesouros dados pelas almas do outro mundo dependiam de condições, missas, orações, satisfação de dívidas e obediência a um certo número de regras indispensáveis, trabalhar de noite, ir sozinho, em silêncio, identificar o tesouro pelos sinais sucessivamente deparados [...]. O tesouro é encontrado unicamente por quem o recebeu em sonhos [...]. Se faltar alguma disposição, erro no processo extrativo, o tesouro transformar-se-á em carvão.”

Lá pelo Timbó também encontramos estórias de tesouros enterrados, de minas, botijas. O assunto era para adultos, mas as crianças curiosas escutavam. Falava-se em sussurros as coisas do além, do sobrenatural, de almas penadas querendo livrar-se do fardo da mina enterrada de que nada lhes servia no outro mundo. Geralmente o pedido da alma penada vinha sob a forma de sonho. No Engenho Timbó, um homem e uma mulher tiveram um sonho idêntico, na mesma noite, e logo cedo os dois confabulavam a experiência e se arvoraram na empreitada. A mulher me contou, anos depois, detalhes do sonho: que era um homem alvo e bonito, vestido com rica indumentária (inclusive me falava de abotoaduras douradas em sua roupa e nas botas), cortês e educado, e que lhe indicava a existência de um tesouro enterrado debaixo da tamarineira que ficava no meio do curral dos burros, no Timbó de Dentro. O homem do sonho era bem didático, riscando o chão com um graveto, para explicar-lhe com muita clareza o local exato onde enterrara o tesouro. 
Ela deveria sair de casa ainda escuro da madrugada, ele insistia que fosse cedo, antes do sol nascer. Que fossem só ela e o senhor que tivera o mesmo sonho, que fizessem orações no percurso e durante toda a operação, que levassem água benta e não portassem objetos cortantes, pontiagudos ou armas de fogo. No sonho, ele ficava de cócoras, mexia na terra com as mãos dizendo que a terra onde estava enterrado o tesouro era bem fofinha, que ela não teria dificuldades em encontrá-lo, que o sinal era uma bola de ouro que estaria amarrada a uma corrente, também de ouro, fechando a tranca de um caixão comprido.
Durante o sonho, enquanto conversava com o senhor bem trajado, aparecia uma mulher, maltrapilha, os poucos cabelos ralos desalinhados pelo vento. Ela parecia estar suspensa do chão. A figura acanhada não falava, só olhava com olhar vago e mortiço o senhor que dava detalhes de como proceder para a retirada da mina. Dessa figura, a mulher que me contou o sonho tinha medo, muito medo.
Depois de muito conversarem, resolveram sair em busca do local onde estava a mina. De cara, contrariaram quase todas as regras impostas pela alma penada doadora do tesouro. Saíram com o sol alto, levaram um grupo grande de pessoas com pá, enxada, até gente com arma de fogo na cintura. Eu acho que eles tinham medo de saírem ainda escuro e só os dois.
Começaram a retirada do tesouro, o homem mandava os trabalhadores cavarem com a enxada e a pá, e a mulher pedia que só usassem as mãos como lhe ensinara o doador da mina, no sonho; assim o fizeram. Na busca, começaram a ver a bola de ouro, o sinal anunciado no sonho, quando surgiu um enorme cachorro com os olhos de fogo e um dos trabalhadores que cavava o chão gritou: “ô cachorro da mulesta!”; o cachorro saiu em disparada e o local em que já aparecera a bola de ouro virou um imenso formigueiro.
A frustração da mal sucedida empreitada ainda persiste após muitas décadas. Conta-se que poucos dias após o ocorrido, um trabalhador com serviço alugado em tempo da safra da cana, e que se hospedava na casa grande do Zumba, no Timbó de Dentro, havia tirado essa mina nas caladas da noite. Esse homem desapareceu do engenho misteriosamente. No local onde estava enterrada a botija, só um grande buraco.


20/05/2015


UMA GRELHA NÃO TÃO DIVINA
Jansen Leiros*
Certo dia, recebi uma ligação de um amigo de longas datas dizendo que, na semana próxima, chegaria a Natal para uma visita à cidade e que, no ensejo, desejaria  visitar um restaurante onde pudesse, com sua família, degustar comidas típicas de nossa terra.
De imediato, pensei na DIVINA GRELHA! Lá, são oferecidos pratos típicos deliciosos, elaborados com muito cuidado e esmero. Como são supinamente cautelosos com a higiene, nada nos levaria a não recomendá-lo, pois que nosso visitante é pessoa de bom gosto e gosta de servir-se bem.
Todos os bons restaurantes têm uma programação semanal.  Nem todos os dias são servidos todos os pratos do cardápio. A sugestão é uma consulta prévia. Luis Paulino estava eufórico! 
fazia algum tempo, que não vinha ao Nordeste.
No sábado, fomos ao Aeroporto  busca-lo. Aquele encontro foi profundamente prazeroso! Luiz Paulino, como sempre muito simpático, sorriso franco, gostou muito do ”city tour” e, então fui fazer o “cheque in” da família no velho e conhecido Hotel Samburá, atendendo ao saudosismo do amigo.
No dia seguinte, fomos à Praia de Pirangi, Luiz Paulino todo munido dos mais sofisticados aparelhos fotográficos, não parou um só momento, tirando fotos de tudo que lhe parecesse novidades. Já cansado, decidiu dar uns mergulhos  e lembrar-se das águas quentes do Rio Pium e Cajupiranga.   

Daí, tentar rever uns amigos  de “ontem”, como o Dr. Ruy Santos, Dr. Carlos Gomes e outros tantos que a memória não lhe acudia, de imediato. Mas, uma figura que não esquecia era o grande amigo Dr. Valério Mesquita e de seus “causos”.  Depois de visitar os primeiros, pediu-me para leva-lo em Cotovelo. Queria ver Valério!  Rir com seu anedotário e seus “causos”. Depois de visitar os primeiros, pediu-me para levá-lo em Cotovelo. Queria ver Valério! Rir com seu anedotário e "causos". Ele se declarava admirador e fã do Jovem Líder.
O encontro foi agradabilíssimo!  Valério, sempre hospitaleiro, desdobrou-se em amabilidades, se bem que não pudesse acompanha-lo na “pinga”, por proibição médica! Conversa longa! Quase duas horas de recordações, onde foram lembradas as figuras de “Dozinho”, Genildo, o velho Romão, o engraçadíssimo Romeu, Raimundo Barros Cavalcanti, “Palocha” e outras figuras daquele que já se foram.  Lembrou as boas de Pe. Chacon, a figura de José Inácio (Zezinho Turco) e trouxe à memória o Bar do Distinto, onde costumava dar “show”, fazendo “caçapadas” da bola um à sete.  O dia foi prazeroso!
Luiz Paulino e a família estavam contentíssimos.
No retorno, Luiz Paulino sempre paurador, só tinha lembranças para as comidas típicas e  as  ia mencionando uma a uma, “salivando no seco”. “Cuscuz com tapioca”, “feijão verde” com carne de sol, “buchada”, “picado de porco”, “galinha à cabidela” e foi tecendo o rosário  de suas memórias.
Chegada a noite, Luiz Paulino e seus familiares, minha mulher e eu, nos dirigimos ao “Shopping” do Mid Way Maal,  à procura do DIVINA GRELHA, com o grupo do Instituto Histórico, Valério, Ormuz, Odúlio, Carlos Gomes, Edgard, Vicente Serejo, e “Guga”.  
No imenso salão – sala de alimentação – do “Shopping” encontramos o restaurante tão esperado e nos sentamos.  Luiz Paulino salivava enquanto podia e, quando estava à frente da moça que nos atenderia, foi recitando o que desejaria comer.
Para sua surpresa, dos sete pratos aos quais se referiu, nenhum deles estava sendo oferecido pelo restaurante, pois não atendia à programação da semana, pois oferecem mais de cinquenta itens, diariamente.
Luiz Paulino, com cara de poucos amigos, pegou no braço da moça e disse: “Diga ao dono dessa coisa chamada de “restaurante” que mande mudar o nome DIVINA GRELHA para DIVINA FRUSTRAÇÃO!
Dirigiu-se para o HOTEL SAMBURÁ, triste e melancólico.

Na segunda-feira, Luis Paulino tomou o vôo das 7:00 e se foi de retorno ao Rio de Janeiro, levando consigo um desgosto irreversível.


Da Academia Macaibense de Letras;

Da Academia Norte Rio-grandense de Trovas;

Da União Brasileira de Escritores;

Do Instituto Histórico e Geográfico do RN.


19/05/2015