25/01/2015

TOMISLAV



OS “CABOCLOS DE CARÚBAS”
Tomislav R. Femenick – Da diretoria do IHGRN. Mestre em economia, com extensão em sociologia e história.

O agrupamento de pessoas conhecido como “caboclos de Caraúbas” é formado por descendentes de Francisco de Souza Falcão, tenente-general português que chegou a Caraúbas por volta de 1745, trazendo uma carta de sesmarias (título de propriedade que os reis de Portugal davam aos novos povoadores) que lhe dava direitos sobre as terras da região. Vindo da cidade do Cabo, em Pernambuco, com familiares e alguns agregados ele se instalou às margens do Riacho das Carnaubeiras, um afluente do rio Apodi, onde formou uma fazenda de gado, origem da cidade de Caraúbas.
A família Souza Falcão exerceu a liderança política e econômica do lugar, até quando as perdeu para os Fernandes Pimenta. Desde então os seus descendentes passaram a viver nas localidades Pedras, Retiro, Baixa Grande, Defuntos, Cachoeira e, principalmente, Mirandas, vivendo com um mínimo contato com outras pessoas que não os do seu grupo. Hoje esse isolamento está quebrado e os “caboclos” se miscigenaram com os outros moradores da região, subsistindo apenas na tradição de alguns pequenos grupos.
Como resultado desse isolamento (enquanto houve) e dos casamentos endogâmicos (entre familiares), alguns deles apresentavam atrofia nas juntas ósseas, membros superiores bem maiores do que o normal, bem como alterações nas articulações das palavras e pouco desenvolvimento cognitivo. Na segunda metade do século passado foram registrados alguns casos mais graves de anomalias físicas, inclusive um de hermafroditismo.

POR HERANÇA OU POR TOPONÍMIA?

Subsiste um aspecto a ser resolvido. Talvez baseadas no fato de que a palavra “caboclo” designa um individuo nascido da união de índios e brancos, algumas pessoas dizem que os “caboclos de Caraúbas” são descendentes de índios, chegando a identificar na sua linhagem Felipe Camarão, o índio herói nacional da resistência à invasão holandesa.
Todavia, os próprios “caboclos de Caraúbas” não se identificam como tal e atribuem essa designação ao fato de seus ancestrais serem provenientes da Cidade do Cabo. Para complicar mais ainda essa problemática, no Município de Caraúbas e nos que ficam em seu entorno há uma grande população autenticamente resultado da miscigenação de índios com brancos, notadamente nos sítio Cachoeira e Apanha-Peixe.

PESQUISA ESTÁ ESPERANDO PUBLICAÇÃO
           
As primeiras pesquisas científicas sobre os “caboclos de Caraúbas” foram desenvolvidas em 1967, pelos departamentos de antropologia cultural, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Mossoró, e de sociologia, da Faculdade de Serviço Social de Mossoró, então faculdades isoladas, antes da formação da Universidade Regional do Rio Grande do Norte, a atual Universidade Estadual do Rio Grande do Norte.
Na época desses estudos existiam cerca mil pessoas nos agrupamentos dos “caboclos”, que viviam em uma pequena faixa de terra com aproximadamente 100 quilômetros quadrados. Semianalfabetos, não recebiam nem visitas dos políticos nas épocas de campanhas (aos analfabetos não era dado o direito de voto); muito menos recebiam qualquer assistência dos governos.
            A pesquisa pioneira das faculdades mossoroenses não chegou a ser publicada na época de sua realização. Consta que foi “requisitada” pelas autoridades militares; vivia-se o tempo da ditadura militar. De lá para cá, diversos estudos já foram publicados sobre os “caboclos de Caraúbas”, entre eles os de autoria de Maria Consuelo Oliveira (1994), Raimundo Soares Brito (1999), José Nunes Cabral de Carvalho (1983), Susana Rolim Soares Silva, (2002), Marcos Roberto Fernandes Gurgel (2003), Marcos Roberto Fernandes Gurgel (2003), Roberta Borges de Medeiros Falcão (2005), entre outros.
Em 1964, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais chegou a manter uma escola que funcionava de sete da manhã até a noite. Ali eram ministradas aulas para cerca de cinquenta alunos. Na época em que os estudantes e professores coletaram dados sobre a povoação, havia apenas uma pequena escola municipal, com menos de dez crianças matriculadas, pois não existem condições para acomodar um número maior de alunos.
Muitas pessoas do grupo jamais tinham visto um médico e, segundo declararam, até então nunca tinham recebido visita de nenhum profissional de saúde pública. Eram comuns casos de mortes causadas por uma simples dor. O mais velho dos caboclos possível de localizar tinha aproximadamente 80 anos, o que era um caso raro entre eles, pois a idade de sobrevivência média foi calculada em torno de trinta anos. De uma maneira geral não havia crime e eles não eram dados a bebidas alcoólicas. O maior número de morte de adultos era por suicídio, geralmente por enforcamento.
A atividade econômica era voltada para produção agropastoril, principalmente para o cultivo do milho, feijão e mandioca e criação de caprinos e ovinos. O trabalho era feito com ajuda mútua, no sistema de mutirão. Produziam farinha de mandioca, para o que dispunham de três bolandeiras. Todo o excedente de produção era vendido na feira de Caraúbas, aos sábados, ou em Mossoró; nesse caso via terceiros.

CONQUISTAS FUNDIÁRIAS E MELHORIAS

Pequenas, feitas de taipa e barro batido, sem espaços para entrada de luz e ventilação, baixas e sem higiene, assim eram as casas em que vivem os caboclos. No entanto, em uma delas foi encontrado um rádio de pilha, como sinal de contato com o progresso. Nessa casa, todas as noites eles se reuniam para ouvir musica e, surpreendentemente, as notícias sobre política.
Muito embora já tivessem sido os donos absolutos de toda a sesmaria de Caraúbas, nos anos 1960 eles não eram os proprietários das terras em que viviam. Eram poucos os que possuem títulos de domínio. No governo de Aluízio Alves, as terras dos caboclos foram desapropriadas com o objetivo de doa-las legalmente aos seus moradores, legalizando a situação de posse e domínio. Até 1967, trinta e cinco títulos já tinham sido entregues e mais e cento e cinquenta aguardavam o andamento da burocracia do Estado.
Quando do estudo realizado em 1967, o maior problema do núcleo era a falta de água, conseguida apenas em um açude ou em pequenas cacimbas. Às vezes era necessário que se andasse mais de quatro quilômetros, para se conseguir “algumas latas ou barris d’água”. Foram relatados casos de crianças que teriam morrido por falta de água.
O esforço para levar água a esse povo se iniciou em 1968. Foi um misto de festa e pavor. Uns corriam para perto e outros se escondiam longe. No entanto todos estavam curiosos e admirados com aquele monstro que se erguia para o ar. Para eles, era algo inexplicável. Essa cena aconteceu em um entardecer de meados de junho daquele ano, na terra dos “caboclos de Caraúbas”, quando ali chegaram dois caminhões, trazendo uma sonda que irá perfurar o chão para resolver um dos seus principais problemas: a falta de água.
A perfuratriz tinha sido prometida cinco dias antes por Dix-huit Rosado, então presidente do INDA-Instituto Nacional de Desenvolvimento Agrário, mas ninguém acreditava que ela fosse realmente para valer, pois, “nem era época de eleição”.

MÚSICA E DANÇA ATRAÍRAM A ATENÇÃO DE JORGE AMADO

O escritor Jorge Amado e a pesquisadora Eneida (Eneida de Villas Boas Costa de Moraes, ou simplesmente Eneida, como assinava seus livros), quando visitaram Mossoró em 1959, foram até Caraúbas conhecer e estudar os caboclos, principalmente o “samba dos caboclos”. Essa música e essa dança teriam se originadas no início do século XX, e serviram para comemorar a colheita, no mês de junho. Jorge e Eneida anotaram que o ritmo e a dança nada tinham com o samba propriamente dito, pois as mulheres arrastam os pés e os homens fazem acrobacias, numa coreografia que faz lembrar as danças ibéricas.
Na ocasião do estudo acadêmico, quase que já não mais havia a prática dessa tradição folclórica. Somente três homens e algumas mulheres sabiam dançar o “samba dos caboclos” e apenas um só homem sabe executar a música (em uma sanfona). Hoje há um movimento que tenta recuperar essa manifestação da cultura popular.
Em estudo mais recente, a antropóloga Susana Rolim Soares Silva, afirma que: “Na atualidade, pode-se perceber que tal expressão cultural consiste numa mistura de samba com danças juninas e é constituída basicamente por três passos: o Martelo, momento no qual os protagonistas, colocados lado a lado, pisam fortemente no chão; Cigana, quando os pares começam a rodopiar pelo salão, equilibrando-se um parceiro no outro na tentativa de se manterem de pé, e o Maracatu. Os instrumentos musicais que dão o tom da dança são: o triângulo, a sanfona e o pandeiro, entre outros”.
A religiosidade dos habitantes do núcleo dos caboclos é um misticismo voltado para uma antiga imagem de São Sebastião, existente na igreja matriz da cidade. Esse “santo” teria sido trazido para Caraúbas em 1750 (ou no final do século), quando foi iniciada a construção da capela que posteriormente foi transformada na igreja que hoje é a matriz da paróquia. Há alguns anos, os habitantes da cidade resolveram comprar uma imagem nova e levar o São Sebastião “velho” para outra capela. Os caboclos não deixaram, inclusive fazendo ameaças. No dia 20 de janeiro de cada ano, elas vão à cidade para acompanhar a procissão do santo “velho”.
A imagem nova, mais bonita, nem é olhada. O “santo” é o velho, para esses descendentes dos fundadores de Caraúbas, uma das maiores cidades da zona oeste do Rio Grande do Norte. Na festa de São Sebastião, “a cultura cabocla ganha maior visibilidade, legitimação e diferenciação em relação a outros grupos, sobretudo os caraubenses, embora estejam unidos pela religião, pela fé e pela tradição na família vinda de Portugal” – anda segundo Susana Silva.

COSTUMES DO SERTÃO - ABOIO





22/01/2015

PADRE MOTA




MESTRE DE MOSSORÓ

Tomislav R. Femenick – Historiador, membro da diretoria do IHGRN.



Luiz Ferreira da Cunha Motta nasceu em Mossoró no final da última década do século XIX. Estudou em sua cidade, em Natal, Recife, João Pessoa e Roma, onde se ordenou Padre em 1922, às vésperas de completar 25 anos de idade. Sua tese em teologia, apresentada à Pontifícia Universidade Gregoriana, obteve a classificação de “bone probatus”; aprovada com excelência.

Regressou à sua cidade no dia 21.10.1922. Segundo reportagem do jornal “O Nordeste”, o novo sacerdote foi recebido na Estação da Estrada de Ferro pelo Padre Manuel Gadelha, Vigário da Paróquia de Santa Luzia, seus familiares e pelo povo, que compunha uma enorme multidão. Formou-se, então, um extenso cortejo em direção à Matriz. Soltaram foguetes e a banda do Grêmio Musical tocava músicas sacras e alegres. No altar-mor da igreja de Santa Luzia, o Padre orou demoradamente ao som de “Sacerdos Magnus” e palmas da multidão.

Quando do regresso à terra natal, o Padre Mota encontrou quase a mesma Mossoró que deixara. O município tinha pouco mais que dezesseis mil habitantes. A cidade possuía trinta ruas, doze praças, cinco travessas e uma avenida, com 1.872 casas, sendo 840 de tijolos e telha, e 1.032 de taipa. Havia menos de trinta escolas primárias, um Grupo Escolar e uma escola de nível ginasial – o “colégio das irmãs”, pois o Santa Luzia estava fechado. As vias públicas eram cobertas com barro e pedregulhos. Não havia calçamento. Quando chovia, as ruas ficavam lamacentas e escorregadias. Durante o dia, o sol imperava abrasador. A escuridão das noites era cortada apenas por poucas lâmpadas de 32 velas, instaladas pela Intendência Municipal. Para reduzir o breu da noite e afugentar os mosquitos, em frente das residências eram acesas fogueiras, misturando-se estrume de gado às brasas.



O PADRE



O novo sacerdote ocupou vários cargos eclesiásticos: capelão do Colégio Sagrado Coração de Maria, vice-diretor do Colégio Diocesano Santa Luzia (quando este reabriu suas portas), capelania do Sagrado Coração de Jesus, responsável pelo ensino da religião para cerca de 1.200 crianças, vigário da Paróquia de Santa Luzia de Mossoró (quando deu início à construção da Capela de São José) e vigário geral da Diocese, de 1936 até o seu falecimento. Na hierarquia da igreja, o seu posto mais alto foi o de Monsenhor.

Meses após tomar posse como vigário da Paróquia de Santa Luzia, o Padre Mota promoveu uma reunião na sacristia da Capela do Sagrado Coração de Jesus, com um número bem reduzido de pessoas. Além dele, apenas seu pai, Vicente Ferreira da Mota, e o comerciante e industrial Miguel Faustino do Monte. O motivo da reunião: a criação da Diocese de Mossoró. Muitas, muitas outras pessoas se agregaram a esse esforço.

Miguel Faustino ficou encarregado de levar o assunto junto à Diocese de Natal, a qual a Paróquia de Mossoró estava subordinada. O coronel Mota junto às autoridades, comerciantes e industriais da cidade, e o Padre Mota, juntamente com o Cônego Amâncio Ramalho, se encarregariam de arregimentar apoio entre os outros clérigos locais. Entretanto, tudo isso deveria ser tratado com absoluto sigilo, para não melindrar as autoridades eclesiásticas da Diocese da capital do Estado. Se houvesse dúvidas quanto ao segredo, dever-se-ia recorrer ao sigilo confessional. O Padre Mota reconheceu: “Foi um recurso maquiavélico, mas a causa era nobre e divina”.

O passo mais importante foi dado por Miguel Faustino junto ao bispo de Natal, Dom Marcolino Dantas. A ele disse que estaria disposto a fazer uma generosa contribuição em bens e dinheiro, quando fosse oportuno transformar a Paróquia de Mossoró em Diocese. Essa contribuição visaria formar a sua estrutura material, para que ela pudesse funcionar sem percalços.

O trabalho durou mais de seis anos. No dia 14.09.1934, o Padre Mota recebeu um telegrama de Dom Marcolino em que este lhe comunicava a criação da Diocese de Mossoró, através de uma bula papal emitida por Pio XI, assinada em Roma e datada de 28 de julho daquele ano. No dia 18 de novembro de 1934, por deferência especial do Bispo de Natal, e em seu nome, o Padre Luiz Ferreira da Cunha Mota presidiu o ato inaugural da nova diocese, pela qual tanto lutara. A celebração teve lugar na Catedral de Santa Luzia e contou com a presença de autoridades e do povo da cidade.



NA LINHA DE FRENTE DURANTE A BATALHA CONTRA LAMPIÃO



Consta que o ataque de Lampião a Mossoró teria sido a ele sugerido pelo político cearense Isaias Arruda e pelo cangaceiro potiguar Massilon Leite Benevides. Como teste, o bando desse último invadiu com sucesso a cidade de Apodi. Então, vários grupos de cangaceiros se reuniram para, juntos, atacar Mossoró. O ambiente era confuso e havia mais de um comando, embora que Virgulino tivesse ascendência sobre todos. Pelo caminho, assaltavam vilas, povoados e fazendas, roubando, batendo, torturando e fazendo reféns, ao mesmo tempo em que destruíam, quebravam e incendiavam o patrimônio daqueles que não eram seus apaniguados ou acólitos. Mas todos esses casos eram preliminares da grande luta: Mossoró.

A cidade se preparou para fazer sua defesa. Foram organizadas trincheiras em diversos pontos da cidade. Segundo o historiador Vingt-un Rosado, no dia 13 de junho de 1927: “Treze horas. O padre Mota [...] vai fazer um reconhecimento pela Cidade. Sozinho, de­sarmado, ei-lo percorrendo todas as trincheiras. O padre Mota e o cônego Amâncio seguem até a atual Pra­ça Rodolfo Fernandes. Começara a luta. [...] Os dois sacerdotes, com extraordinário sangue frio, es­timulam os combatentes. Eram soldados desarmados, os únicos a percorrerem a Ci­dade, na hora difícil. [...] Na Rua Idalino Oliveira, uma bala vinda da Praça da Independência, quase os atingia”.

A luta terminou às cinco horas da tarde. Nenhum defensor da cidade estava, pelo menos, ferido. Os cangaceiros se reuniram ao lado de um muro lateral do cemitério. Um dos atacantes fora morto, seis estavam feridos, quatro em estado grave. Derrotado, Lampião fugiu.



LIÇÕES DE DEMOCRACIA NA CALÇADA DO PADRE



Muito se fala e pouco se sabe o que realmente é democracia.  Na verdade, a maioria a entende apenas como repetição do sistema em que vive ou desejam viver. Todavia, o fundamento maior da democracia é o entendimento republicano de que o indivíduo é “æquabilis in paribus”, igual entre os iguais.

A calçada do vigário era o espaço mais democrático da cidade. Era uma assembleia de amigos, à moda da democracia ateniense, onde todos podiam dizer o que quisessem, desde que ouvissem o que os outros falassem. Tudo de maneira pacífica e civilizadamente, sem discussões acaloradas. Nada foi planejado, apenas aconteceu. Na Mossoró de antigamente, cidade ainda pequena, havia o costume das famílias colocarem as cadeiras na calçada para mitigar o calor com o frescor dos ventos do final do dia. O Padre Mota também fazia isso e aproveitava o tempo para fumar seus charutos. Os vizinhos e as pessoas que passavam, sentavam-se para tirar alguns dedos de prosa. Como eram muitos, criou-se o hábito de todos irem buscar suas cadeiras na sala de visitas do reverendo e depois deixa-las no mesmo lugar. As mais ilustres figuras de todas as correntes políticas, inclusive alguns evangélicos, ateus e comunistas, frequentavam essas reuniões.

Antonio Capistrano, comunista desde 1960 e ex-vice-prefeito de Mossoró, diz que a calçada do Padre Mota era “o ponto de encontro de políticos, intelectuais e comerciantes da cidade, local suprapartidário, democrático, de papos sobre os diversos assuntos de interesses da coletividade, como também não deixava de ter as fofocas provincianas. Os que participavam dessas conversas lembram-se com muita saudade dos finais de tarde da calçada do padre; ele era espirituoso, piadista e conversador. Padre Mota parece que inspirou Che na sua famosa frase ‘ser duro sem jamais perder a ternura’. É essa a imagem que tenho do padre Mota. Severo nas suas convicções, mas extremamente humano nos seus atos. Isso é, para mim, a razão do bem-querer do povo mossoroense ao seu vigário geral. Homem pronto a servir, participando ativamente dos problemas da cidade”.



BRINCALHÃO, O PADRE ENSINAVA QUE DEUS NÃO É TRISTE



Uma das características do cidadão Luiz Ferreira da Cunha Mota, inseparável de sua condição de Padre ou Prefeito, era o seu humor ferino, brincalhão, travesso, com um toque de galhofa e de gracejo fino, sem ser grosseiro, nem nunca descambar para o impudor ou para a agressividade. O Padre Mota sabia rir e não gostava de lamúrias, tristezas ou lástimas. Dizia que Deus não é Triste. Se o fosse, não teria criado o mundo e a vida tão belos. Não teria feito os passarinhos cantar, o amor dos jovens, o sorriso das crianças, o sol, a lua, o mar”. O jornalista Lauro da Escóssia reuniu vários “causos” do padre e publicou um livro com o título de Anedotas do Padre Mota (1986).

Em 1951 aconteceu um caso emblemático do seu humor sagaz. Manuel Leonardo Nogueira levou uma filha para ser batizada na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, cujo vigário era o padre holandês Cornélio Dankers, o qual se recusou a fazer o batizado, alegando que os padrinhos, João Café Filho e sua esposa, eram comunistas. Note-se que Café Filho era o vice-presidente da República. Manuel Leonardo recorreu ao Padre Mota e o batizado foi celebrado na igreja Matriz. Meses depois, o padre Cornélio falando com o Padre Mota trouxe o assunto do batizado à conversa, dizendo que não compreendia a atitude do seu colega. O Padre Mota respondeu: “Cornélio, eu conheço Café. Ele não é comunista coisa nenhuma. No máximo, é um oportunista. Além do mais, ele estava longe. E, mesmo se eles [Café Filho e a esposa] estivessem aqui e fossem comunistas, eu nunca vi comunista comer criancinha”.



PADRE MESTRE



Luis da Câmara Cascudo assim escreveu sobre Padre Mota: “Padre Mestre Luís Mota, Prefeito de Mossoró, gordo, atarracado, baixo, com um passo airoso de moço-fidalgo. Padre que viveu oito anos de Roma e conheceu três Papas, que viu a Itália guerreira, bolchevista e fascista, que aprendeu a olhar o povo como organização e jamais como figura de retórica, aí está tua Mossoró, um orgulho para os olhos e uma saudade para o coração. Ninguém se iluda com tua fisionomia espirituosa e plástica, com o humorismo de tuas graças, com o infalível charuto, com a ponteira incansável de tua bengala negra. Nem pelas anedotas que contas, pelos fatos que evocas deliciosamente. Tua história vibra nesse cenário tu­multuoso e moderno de existência sem desfalecimento”.

21/01/2015

 

Missa de Sétimo Dia de Anna Maria Cascudo será quarta-feira (21/01), 16h, no Instituto Câmara Cascudo

A Missa de Sétimo Dia da associada e fundadora da AMPERN, Anna Maria Cascudo Barreto, será celebrada na próxima quarta-feira, 21 de janeiro, às 16h, no Instituto Câmara Cascudo, localizado na Av. Câmara Cascudo, 377 – Centro (antiga av. Junqueira Aires).
Anna Maria Cascudo faleceu na ultima quinta-feira (16), vítima de complicações respiratórias provocadas por um câncer no esôfago.
A AMPERN agradece aos que comparecerem à celebração.
Confira abaixo um pouco da vida e da carreira profissional de Anna Maria Cascudo Barreto:
Procuradora de Justiça aposentada, Anna Maria Cascudo Barreto foi uma das fundadoras da Associação do Ministério Público do RN (AMPERN), no dia 10 de abril de 1969. Ao longo da carreira ministerial, passou pelas comarcas de Natal (1956), São Gonçalo do Amarante (1961), Curadoria de Acidentes de Trabalho da Comarca de Natal (1968), foi a 3ª Curadora da Comarca de Natal (1970) e assumiu o cargo de 6ª Procuradora de Justiça (1984), tendo se aposentado em seguida, no mesmo ano.
Era filha do folclorista potiguar Luís da Câmara Cascudo e de Dahlia Freire Cascudo. Nasceu no casarão da avenida Junqueira Aires, hoje Avenida Câmara Cascudo, onde o pai construiu grande parte de sua obra. Fundadora da Academia Feminina de Letras, onde ocupava a cadeira 13, e dona de cadeira na Academia Norte-Riograndense de Letras, Anna Maria Cascudo escrevia desde os 13 anos para uma coluna no extinto jornal “A República”. Nasceu em 13 de outubro de 1936.  Era viúva, deixou três filhos e três netos.
Publicou “Mulheres Especiais” (Global, SP) “O Colecionador de Crepúsculos” (Gráfica do Senado Federal, DF) “Neblina na Vidraça” (Global, SP), além de Ensaios de Abertura e prefácios em 16 livros de autores nacionais; participou de oito Antologias, sendo a mais recente “Nós Mulheres 4”, da Academia Brasileira de Arte, História e Cultura, SP e “Sinfonia de Cristal” lançado no Cobana (Clube dos Oficiais da Marinha), por ocasião da entrega das Medalhas de “Amigos da Marinha”.
Em 15 de março de 2009, foi escolhida como uma das “Cinquenta Mulheres Notáveis do Brasil’, pela Associação de Imprensa de Minas Gerais, e recebeu, em Itabira (MG), o Troféu “Cecília Meirelles”.

O marechal e o padre, 1914




João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN, membro do IHGRN e do INRG
No jornal “A Época”, de 3 de janeiro de 1914, digitalizado pelo Hemeroteca Nacional, há uma matéria com o título: Fracassou o projeto  de acordo entre aciolistas e rabelistas para normalizar o Ceará. Nessa matéria, teremos oportunidade de conhecer melhor o marechal Hermes, que apoiou a sedição de Juazeiro, chefiada pelo padre Cícero, uma das páginas mais vergonhosas da república brasileira. Está escrito lá:
Ontem, à tarde, quando tumultuosamente palpitava a multidão na expectativa ansiosa de rever e aplaudir essa inconfundível e arrojada figura de Santos Dumont, palestravam, à porta do cinema Avenida, dois nortistas, que exercem influência  na política  dos respectivos Estados.
Um deles, rabelista ardoroso, relatava ao seu companheiro, adversário curagé(?) da oligarquia norte-riograndense, o insucesso das negociações propostas pelo marechal Hermes, no sentido de ser obtida a pacificação do Ceará.
- O fracasso do acordo que se pretendia realizar, ou melhor, que o marechal patrocinava, como advogado da facção oposicionista, é um fato. O Moreira da Rocha, como representante de Franco Rabello, assegurava a anistia aos rebeldes, caso eles depusessem as armas, sendo condição indispensável ao cumprimento dessa medida, a retirada dos Drs. Lavor e Floro Bartholomeu, de Juazeiro, onde as suas presenças determinariam de futuro, a reprodução dos acontecimentos, que se estão desenrolando naquela região.
Como se vê, as condições propostas pelo Franco Rabello são as mais aceitáveis, e, se, realmente, houvesse, por parte do marechal, o desejo sincero de fazer cessar a luta fratricida, nenhum outro meio melhor do que esse se lhe antolharia.
- E que respondeu o marechal ao Moreira da Rocha? – atalhou o interlocutor.
- A princípio, teve evasivas, terminando, porém, por dar a entender claramente ao representante cearense, que os rebeldes não aceitariam, de modo algum, a proposta  do Sr. Franco Rabello. Pretendiam eles muito mais do que lhes oferecia, isto é, aspiravam ascender aos cargos públicos e ver admitida a sua influencia na política estadual.
O Moreira da Rocha teve, então, um momento de desânimo, mas refazendo-se logo, propôs ao marechal, que o observava com o olhar perquiridor:
- V. Ex. poderia, neste caso, telegrafar ao padre Cícero, salientando a sua reprovação ao movimento de rebeldia que ele se fez chefe, o que, estou certo, determinaria uma profunda modificação na sua conduta.
O marechal, como resposta, teve um largo gesto teatral que acompanhou de uma frase mais ou menos equivalente a esta:
- Não! Eu não me posso corresponder com o padre Cícero!
- Mas V. Ex., por ocasião da campanha eleitoral no Rio Grande do Norte, telegrafou ao capitão J.da Penha, procurando demovê-lo da luta.
- Fi-lo, mas, naquele caso, tratava-se de um companheiro de armas, com um nome e uma reputação respeitáveis, com quem eu me podia corresponder sem desdouro, e não um bandido como o padre Cícero.
Antes essa recusa formal, o Moreira da Rocha deu por terminada a sua missão e retirou-se.
Continuou, então, o autor da matéria do jornal “A Época”.
Afora a barretada ridícula e extemporaneamente feita ao ardoroso republicano capitão J. da Penha, tudo mais que Sua Ex. disse ao Sr. Moreira da Rocha, demonstra de modo patente, muito embora as afirmações em contrário, que S. Ex. se mantém irredutível ao lado dos rebeldes de Juazeiro e veria de muito bom grado a realização dos seus intuitos de deposição do governador.
É irrisória a declaração do marechal de que não pode corresponder-se com um bandido como o padre Cícero, quando nós vemos S. Ex., a servir de mediador entre duas facções em luta, uma das quais precisamente constituída pelos amigos e companheiros do famigerado sacerdote a quem S. Ex. tão pejorativamente se referiu.
E como o marechal não está disposto a descer do alto de sua dignidade para telegrafar ao bandoleiro “ousado”, que lhe manda diariamente notícias suas, o Ceará continuará mergulhado em sangue, até que o Sr. Franco Rabello jugule de vez o movimento e castigue os culpados com o merecido rigor.
No dia 22, do mês seguinte a essa matéria, era assassinado em Miguel Calmon, por um jagunço do grupo apoiado pelo governo federal, o capitão tão elogiado pelo marechal. Como se sentiu o Presidente da República, nessa hora, com a morte do seu colega de armas?

20/01/2015

Marcelo Alves
Marcelo Alves

Estranho seria

Conheci Antônio Augusto (cujo nome alterei um pouco aqui para dificultar a identificação) quando eu era servidor da Justiça Federal. Coisa de 1993 ou 1994. Formado a um par de anos, ele advogava por lá. Pelo que me lembro, fazia, em benefício exclusivo de um grande escritório da cidade, direito previdenciário. E, como era de praxe à época, também fazia, para tirar uns trocados, algumas audiências criminais, como advogado “ad hoc”, em prol de réus sempre desassistidos.

Mesmo com seus vinte e poucos anos, era muito calmo, pacato, quase lento. Era muito crédulo, talvez como resultado da criação das tias e da educação muitíssimo religiosa no Colégio Nossa Senhora das Neves. No foro, tinha pouca “manha”, característica que, se não é essencial, dá um empurrão danado na advocacia. O que ele queria, por aptidão de temperamento, e dizia isso a todos, era ser servidor público.

Se não era inteligente, era esforçado. Após muitas tentativas frustadas, que acompanhei curioso, ele acabou, para espanto dos mais céticos, sendo chamando, já na casa dos trinta anos, em um concurso que nem ele se lembrava quando e para o que tinha feito. Embora na rabeira da fila, mandou celebrar uma missa e tomou posse. E era isso o que importava.

Ainda no estágio probatório do seu venerável emprego, para espanto até dos mais crédulos, casou-se com Silvinha, jovem estagiária em uma promissora banca de advogados da cidade. E que estagiária! Silvinha, que por final era bem mais nova do que Antônio Augusto, tinha imaginação e manha de sobra.

Logo notou-se, ainda durante o estágio probatório (e, aqui, refiro-me aos primeiros meses do enlace amoroso), a falta de “sintonia” do casal. Silvinha - vítima de olhares cobiçosos, embora não fosse gostosuda do tipo de fazer motorista de ônibus subir meio-fio - era invariavelmente faceira. Antônio Augusto estava quase sempre cansado, exceto quando dava pra falar, sem mais nem menos, sobre seus dois assuntos prediletos: a teologia de São Boaventura de Bagnoregio (do qual se dizia profundo conhecedor, não havendo à mesa um interessado sequer para contraditar) e o método dos gráficos para fins de investimentos na nossa muito estável bolsa de valores.

Sempre houve rumores de escapadelas da manhosa Silvinha (e desde o estágio probatório). Financeiras e amorosas, registre-se. Com colegas advogados, com dois ou três amigos “das antigas” e com um primo que atendia pelo carinhoso apelido de “Ivanzinho”. Para ela, eram meras aleivosias. Para muitos, era “fato público e notório”. E tudo isso sempre chegou ao conhecimento de Antônio Augusto. Os amigos insinuaram que algo não batia nos investimentos financeiros e nos atrasos de Silvinha. Reafirmaram que nem sempre a TIM estava fora do ar (pelo menos não todas as quartas e sextas-feiras das 13 às 15 horas). Um amigo, que tomou todas, com a voz embrulhada, chegou a contar o “milagre” e o “santo” (no caso, para ser mais preciso, os “santos”) envolvidos na trama toda.

Mas Antônio Augusto sempre foi um “crédulo”. Leia-se: acreditava, sem questionamento ou espanto, em tudo o que dizia e fazia a manhosa Silvinha. Para ele, tudo estava bem e tinha uma explicação. E, se não tivesse, dizia ele: “era o desígnio de Deus, como afirmou, em seu 'Itinerarium mentis ad Deum', São Boaventura” (até hoje, por falta de proficiência no latim, não sei se o grande teólogo franciscano proferiu realmente essa “sentença”). Sem falar na sua chatíssima frase, repetida quase todos os dias, que dizia tudo e nada: “estranho seria se o cachorro miasse”. Minha vontade era sempre mandar esse “animal” para a PQP.

Finalmente, já com quase um lustro de anos de matrimônio, Antônio Augusto teve a oportunidade de dar um fim nas alegadas escapadelas de Silvinha. Um oportunidade de, vendo ou “tocando”, à semelhança de São Tomé, acreditar no que todo mundo sussurrava.

Era Natal, e ele “fugia”, antecipadamente, de um plantão que teve de dar lá para as bandas de Ceará-Mirim. Dizem que, quando chegou em sua casa, sita em um conhecido condomínio da cidade, desavisadamente (lembremos que o celular de Silvinha vivia desligado), flagrou um vulto fugindo pela janela de seu quarto matrimonial.

Como sempre fez, foi perguntar a Silvinha o que tinha acontecido. Mas, desta feita, Antônio Augusto fez algum barulho (dizer que fez escândalo é muito. O certo é que os vizinhos ficaram sabendo do ocorrido). É que havia uma coisa a mais fora de lugar: no quarto do casal, Antônio Augusto achou, além de uma Silvinha estranhamente cheirosa e excitada, uma roupa de Papai Noel. De um Papai Noel muito magro, mas definitivamente havia o gorrinho característico.

Sobre o vulto e a roupa de Papai Noel, a imaginativa Silvinha deu uma explicação. Um bom samaritano, que faz as vezes do bom velhinho, veio para dar presentes aos meninos. Um amigo da família. Talvez o próprio primo Ivanzinho. Apenas, por erro de fato plenamente escusável, errou de quarto.

Após pensar sete segundos, Antônio Augusto deu-se por satisfeito. Afinal, “era Natal”, disse ele, “e estranho seria se, naquela noite, tivesse aparecido o coelhinho da Páscoa”.

Marcelo Alves Dias de Souza
Procurador Regional da República
Doutor em Direito (PhD in Law) pelo King’s College London - KCL
Mestre em Direito pela PUC/SP

19/01/2015

OS MUROS DE BRASÍLIA

Públio José – jornalista

                                     
                   A guerra fria legou ao mundo, entre tantas desgraças, o Muro de Berlim. Anteriormente, Mao Tse Tung já dera sua contribuição ao tema ao erguer a Muralha da China. Tanto um como outro são símbolos físicos, palpáveis, do desejo do homem de separar, segundo loucas ideologias, determinados agrupamentos humanos dos demais. É também uma forma de se elitizar, de se diferenciar em relação a outros, em função do estabelecimento de doutrinas as mais diversas, de cunho ideológico, social, cultural, político, esportivo, religioso, militar, econômico... É ainda, e principalmente, uma forma de aprisionar pessoas segundo conveniências as mais variadas. São notórios os casos recentes da Coréia do Norte e de Cuba, e da antiga União Soviética, todos à esquerda do espectro político, países onde o ir e vir das pessoas era e é dificultado a todo momento, conforme apontem as idiossincrasias de seus dirigentes.
                        A direita também não ficou atrás e tratou de erigir seus muros, muitos dos quais, se não em formato físico, também contribuíram para o estabelecimento dos guetos mais diversos. Aliás, basta consultar a História para se ter conhecimento dos muros físicos e não físicos que o homem construiu para se separar de outros, ou para aprisionar populações inteiras – segundos seus interesses. Na China, das dinastias imperiais, a Cidade Proibida é um exemplo clássico de elitização e domínio de uma classe em relação às demais; na Grécia e na Roma antigas, as castas também serviram de muro para separar os nobres de escravos e plebeus; a Índia é famosa ainda hoje pelo sem número de castas que servem de muro no contexto geográfico e populacional do país. Enfim, até onde o olhar do passado e do presente alcançam, o homem teve em muros e separações de toda ordem uma forte marca do seu mover na História.  
                        Também pode ser incluído nesse tema a utilização, como muro, do aparato econômico para separar pessoas, embora, de certa forma, isso possa ser visto como incentivo às pessoas para a conquista de espaços maiores no ambiente social que habitam (o tal do “subir na vida” que nossos pais tanto bradavam). Mas, e os muros do Brasil? Como país diferente dos demais, ou melhor, mais criativo que os demais, o Brasil tinha que arrasar nesse quesito. Aqui, além dos formatos de muro conhecidos em outros quadrantes, a corrupção se estabeleceu com um forte baluarte da separação entre as pessoas. Outro muro a vicejar em solo verde e amarelo, além da corrupção, é o da impunidade. No Brasil, legislação, costumes, hábitos, canalhices, sem-vergonhices e que tais se transformaram em verdadeiros muros a beneficiar pilantras, ladrões de colarinho branco, políticos, autoridades, funcionários públicos, magistrados...   
                        Como exemplo de muro, de fenômeno a distinguir pessoas, a corrupção brasileira, principalmente em Brasília, chegou a tal ponto que saiu do terreno do palpável, do real – e achegou-se à ficção. Ora, em um país onde o trabalhador conta centavos para chegar ao fim do mês, como explicar um funcionário de quarto escalão da Petrobras ter em banco estratosféricos 100 milhões de dólares! Uau! Isso, sim, é que é muro! E o que se vê mais em Brasília? Integrantes do establishment local vivendo como nababos, padrão de vida incompatível com os salários declarados – surrupiando, para tanto, recursos da merenda de estudantes humildes, dos remédios dos idosos, de postos de saúde, estradas, portos... Note-se que, de toda a roubalheira divulgada, a Petrobras atingiu um nível ainda mais superior – pelos volumes registrados. Alguém da empresa na cadeia? Não. Não é Brasília cidade de portentosos muros?