04/06/2014

MUITO BEM DOUTOR DIOCLÉCIO



DIOCLÉCIO DUARTE


Jurandyr Navarro

Do Conselho Estadual de Cultura


Na política do Rio Grande do Norte a sua cultura sobrelevava-se às demais da sua época. Aluno de José Augusto nos bancos escolares do Atheneu e depois um dos seus mais lúcidos biógrafos. Foram correligionários políticos. Depois, adversários. No final de sua carreira pertencia as fileiras do Partido Social Democrático. Nesta agremiação política destacou-se, no Estado, Georgino Avelino, e no plano federal Juscelino Kubitschek, que chegou à Presidência da República. Quando Deputado pela bancada de Minas Gerais, este último recebeu aulas de Retórica de Dioclécio Duarte.

O ilustre político potiguar dominava vários idiomas inclusive o alemão, tendo sido Cônsul em Bremen.

Pertenceu à nossa Academia de Letras, instituição que honrou, possuidor que era de notável conhecimento humanístico. Conferencista e jornalista tendo exercido esta última atividade na imprensa carioca.

Notabilizou-se como Orador. E não só. Foi professor de retórica. As suas orações dispersas por jornais, revistas e nos Anais da Câmara de Deputados, dariam alentados volumes, se publicadas fossem.

Viveu envolto na mais alta sociedade cultural e política do Brasil do seu tempo. Sem favor credenciou-se como um dos maiores tribunos da nação brasileira. Mestre do impro­viso cuja eloquência se aproveitava dos motivos do momento.

Na política as paixões se exacerbam, por vezes, em demasia. Inexperiente, o políti­co na tribuna será presa fácil das armadilhas ardilosas. Dioclécio desde colegial preparou-se na assiduidade dos grêmios literatos que tomava parte. Nesse aprendizado educou o comportamento dialético. Adulto, já era velho marinheiro dos mares revoltos das escara­muças partidárias.

Dioclécio Dantas Duarte foi Deputado Federal e chegou a assumir, por pouco tempo, a Interventoria do Rio Grande do Norte, na década de 1940.

O grande potiguar não foi somente inteligência e cultura. O coração amava o Bem, o Belo e a Verdade.

Disse o imortal Rui Barbosa: “Três âncoras deixou Deus ao homem: o amor da pátria, o amor da liberdade, o amor da verdade. Cara nos é a pátria, a liberdade mais cara; mas a verdade mais cara que tudo. Pátria cara, carior Libertas. Veritas caríssima. (Lieber, Reminiscences, p.42). Damos a vida pela pátria. Deixamos a pátria pela liberdade. Mas a pátria e a liberdade renunciamos pela verdade. Porque este é o mais santo de todos os amores. Os outros são da terra e do tempo. Este vem do céu, e vai à eternidade".

Esta a filosofia política que deve ser adotada por todos aqueles que dedicam a vida à nobre arte de governar.

Dioclécio Duarte tornou-se famoso pela eloquência elogiada e por tal adquiriu glória imorredoura, porque a oratória imortaliza. Disse-nos Plutarco, grego nascido em Queronéia, que "a glória da Retórica de Cícero permanece".

Afirmou Agripino Grieco que as orações de Demóstenes eram "perfeitas como os
mármores de Fídias", contendo a beleza da eloquência jônica.    

Dioclécio Duarte não chegou a essa perfeição, na tribuna, porém a sua palavra ma­ravilhava plateias. Dividiu o troféu da nobre arte com os melhores da Potiguarânia.

Surgida na Grécia, a retórica aflorou no meio social para auxiliar as causas populares através as sessões do juri. Daí, a presença invitável do orador. Depois, em Roma, a oratória iria ser o instrumento verbal indispensável, também, às questões do Direito.

Com o tempo, a tribuna iria servir à Política, à Religião e à Cultura em geral.

Em todos esses círculos da sociedade potiguar, foi ouvida a palava eloquente do talentoso natalense chamado Dioclécio Duarte. Político dos mais influentes do seu tempo.

Como jornalista a sua pena foi sempre brilhante. Muito escreveu na imprensa do Rio de Janeiro.

A sua cultura literária, cingiu-lhe a iteligência, com uma coroa dourada, prêmio merecido a um intelectual de renome.

02/06/2014

O JORNALISTA DESTEMIDO



ELOY DE SOUZA


Jurandyr Navarro
Do Conselho Estadual de Cultura

Nascido no Recife aos 4 de Março de 1897 e falecido em Natal em 7 de Outubro de 1959.

Adquiriu fama imorredoira entre os colegas de Imprensa, pelo fato de ditar duas ou três matérias, simultaneamente. Habituou-se, desde cedo, ao raciocínio rápido, inspira­do pelo cheiro da tinta e do tilintar dos tipos, que ao seu tempo, eram agrupados um a um, na cachêta, para fazer a composição da matéria jornalística, como as letras na formação dos nomes, a encher as páginas do jornal desses minúsculos caracteres linguísticos silábicos...

Que ele ditava duas ou três matérias a um só tempo, confirmou-me o emérito Advogado Raimundo Nonato Fernandes, que há esse tempo, trabalhando n "A Repúbli­ca", servia-lhe como datilógrafo. O doutor Raimundo digitou, para ele, todo o livro "Calvário das Secas", dentre outros trabalhos do jornal. E que, ao ditar, fazia-o, andando em volta, e parando; às vezes, perguntava: "Está certo o que eu disse? (...) "Está bom isso? ..."Fazia-o segurando os suspensórios.

Dê-le diz-se, também, que certa vez, ditando um libelo contra um adversário polí­tico, sendo interrompido com a notícia de que aquele opositor havia aderido ao Partido Popular; ele, ante os olhares interrogativos, disse: "vírgula, assim proclamam os seus inimigos..." e continuou a sua matéria jornalística, fazendo a apologia do novo correligio­nário.

Muitos os comentários de suas artimanhas e proezas jornalísticas e ditos espiritu­osos e inteligentes. Se há exagero nos elogios ao seu talento, no fundo fica alguma coisa de verossímil. Fato é que o seu nome, no oficio, havia virado legenda.

À unanimidade dos que fazem a imprensa escrita, Eloy de Souza foi escolhido o mais autêntico jornalista da gleba potiguar, de todos os tempos.

Por tal razão, quando foi criada a Associação dos Jornalistas do Rio Grande do Norte, pelo seu idealizador João Medeiros Filho, Eloy de Souza foi escolhido seu Presidente de Honra. Para se chegar a esse consenso pressupõe-se um julgamento espontâneo diante do seu estilo inconfundível, objetivo, substantivado, ornado de ideias claras e a imaginação vivaz, ao relatar os fatos com memória fiel. A excelência da sua condição de literato muito o ajudou nas lides da imprensa. Pois todos sabem ser o jornalismo um dos mais elevados géneros da litera­tura.

Em matéria de jornal tudo conhecia e utilizava caso houvesse necessidade; o editorial conciso, o artigo bem esplanado, o suelto sumariado, a forma clara e eloquente da notícia, o rodapé, o registro, a nota panfletária, a polêmica política ou literária, as manchetes, a administração do jornal, as artimanhas jornalísticas... pois o jornal é tal a figura mitológica de Argos - tem cem olhos - e outros ofícios...

Em matéria de imprensa era ele mestre consumado.

A partir da juventude a sua inclinação natural pelo jornal e pela política. Nesta, para ajudar ao amigo e líder Pedro Velho, que também inteligente, via em Eloy de Souza o intelectual que ele precisava para alavancar o seu projeto político.

Declarou Otto Guerra, em discurso na Academia de Letras, que Pedro Velho a ele dissera: "Acabe logo com a sua Bacharelice em Recife e volte". E acrescentou o líder religioso, que por este apelo do Amigo, Eloy se diplomou apenas em Ciências Sociais. É que o Diploma da Faculdade de Direito do Recife confere ao formado o Título de Bacha­rel em Ciências Jurídicas e Sociais, e não somente em Direito.

Eloy de Souza fora atraído pela sedução jornalística por uma vocação nata, por gostar do ofício e ter a devida competência para exercê-la com a criteriosa sabedoria, usando a pena de ouro, o seu cálamo sagrado.

Foi um político de caráter, como raro se vê nos dias presentes. Forjou a moral política desde a legislatura estadual, chegando a renunciar um mandato em pleno exer­cício, por imposição da sua consciência. Eloquente a sua atuação como legislador, coadjuvado que foi, pelas qualidades congénitas - honra, caráter e inteligência; e as adquiridas - trabalho, competência e sociabilidade.

A imprensa, pelo alto poder de persuasão, serviu-lhe de poderoso fulcro à ação política; a par o seu generoso coração, que jamais o deixou inativo frente às necessida­des do seu pobre Estado e da sua pobre gente.

Marcou a sua atividade com o combate às Secas, principalmente, cujos efeitos danosos sacrificava a gente sertaneja. Cuidou, outrossim, da incipiente agricultura a braços com a monocultura algodoeira da época.

Tanto quanto jornalista autêntico e criterioso político, exíbiu-se, ainda, como bri­lhante intelectual. Pertenceu a várias das nossas instituições culturais, tendo sido Sócio fundador da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, mesmo não sendo potiguar. Os Estatutos à época, vedavam a entrada aos que não fossem rio-grandenses do norte por nascen­ça. Exceções foram feitas a ele, ao Padre Luiz Monte, pernambucano, também, e ao paraense Floriano Cavalcanti, em virtude de suas notórias culturas.

Eloy de Souza dirigiu a Imprensa Oficial, alto e cobiçado cargo da época, dirigiu também o jornal "A Razão" e a Caixa Económica Federal.

No Governo Aluízio Alves, o Governador, conhecedor de perto dos seus méritos incontestáveis, como jornalista, deu o seu nome digno à Faculdade de Jornalismo da Fundação "José Augusto", transformada, depois, no Curso de Jornalismo da nossa Universidade Federal.

Deixou algumas obras da melhor qualidade intelectual e considerável acervo de matéria jornalística espalhado pelas mil e uma páginas dos nossos principais periódi­cos, além de temas literários, políticos e económicos.

Usou pseudônimo, costume da época: Jacyntho Canella de Ferro.

Dentre outros livros escreveu "Cartas de um Desconhecido"; "Calvário das Se­cas" e "Cartas de um Sertanejo".

O seu augusto nome tem sido citado por políticos, jornalistas e intelectuais pelo seu trabalho edificante, como legislador e incansável porfiador no tumultuado ambiente da imprensa e da cultura.

Foi um político e um jornalista destemido. Por tal, sofreu Deportação da sua terra, no Governo Bertino Dutra.

Tendo em vista os consideranda supraditos e o talento tridimensional em dominar áreas polémicas de nossa sociedade - a imprensa, a cultura e a política -, enxerga-se em Eloy Castriciano de Souza um dos intelectuais mais inteligentes e hábeis do Rio Grande do Norte.

01/06/2014

Marinho Chagas morre aos 62 anos

O ex-lateral da Seleção Brasileira na Copa de 74 morreu na madrugada deste domingo (1), em João Pessoa.

Diógenes Dantas,
Arquivo/CBF
Marinho tinha 62 anos e estava na capital paraibana para lançar a réplica da camisa que ele usou na Copa de 1974.
Marinho Chagas, o ex-lateral da Seleção Brasileira na Copa de 74, morreu na madrugada deste domingo (1), em João Pessoa. Ele estava internado deste ontem (31) após passar mal por conta de uma hemorragia digestiva.
marinho-copa330_topoMarinho tinha 62 anos e estava na capital paraibana para lançar a réplica da camisa que ele usou na Copa de 1974. 
O ex-jogador estava internado no Hospital de Trauma Humberto Lucena.
Marinho foi internado várias vezes por problemas relacionados ao álcool.
Marinho Chagas teve passagens por Riachuelo, ABC, América, Náutico, Botafogo, São Paulo, Fluminense e Cosmos, dos Estados Unidos. Ele foi treinador do Alecrim.
O ex-jogador foi homenageado pela Federação Norte-Rio-Grandense de Futebol na inauguração da Arena das Dunas, sede da Copa da Fifa em Natal, em janeiro deste ano.
Na praça de Mirassol, a Prefeitura de Natal montou uma instalação para lembrar os bons tempos do único jogador potiguar a participar de uma Seleção Brasileira durante a Copa do Mundo.

Ex-lateral da seleção brasileira, Marinho Chagas morre aos 62 anos

Ex-jogador havia sido internado no sábado em João Pessoa (PB) e não resistiu
Do R7
Marinho Chagas morre em João PessoaGazeta Press
O ex-lateral Marinho Chagas, que atuou pelo Brasil na Copa de 1974, morreu, aos 62 anos, na madrugada deste domingo (1º), em João Pessoa (PB). Após passar mal em um evento, no sábado (31), enquanto discursava, ele foi internado no Hospital de Emergência e Trauma, em decorrência de uma hemorragia digestiva, e não resistiu.
O corpo do ex-jogador da seleção brasileira Marinho Chagas será velado no estádio Frasqueirão, em Natal, onde ele nasceu. De temperamento irreverente, ele era ídolo na cidade, tendo atuado pelo ABC, clube ao qual pertence o estádio, antes de ter fama nacional.
O velório acontece neste domingo (1), e o enterro ocorrerá às 9h desta segunda-feira (2) no cemitério Morada da Paz.
A CBF (Confederação Brasileira de Futebol) divulgou nota lamentando a morte do ex-jogador, um dos destaques no futebol brasileiro dos anos 70.  
— O presidente da CBF, José Maria Marin, lamenta a morte daquele que foi um grande jogador, a quem admirava pelas atuações na seleção brasileira e manifesta os pêsames à família.  
Marinho Chagas, natural de Natal, revelou ainda jovem seu estilo impetuoso e ousado. Do Riachuelo, foi para o Náutico e, encantando por sua técnica ofensiva, logo foi contratado pelo Botafogo-RJ, com o qual despontou como um dos grandes nomes do futebol na época, chegando à seleção para disputar o Mundial em 1974.  
Ele também atuou em outros clubes, como Fluminense e São Paulo, marcando época no futebol paulista, compondo a famosa "Máquina Tricolor".
Marinho Chagas também deixou sua marca pelo futebol dos Estados Unidos, onde defendeu o NY Cosmos, no auge da equipe, e o Fort Lauderdale Stikers, entre outros, antes de encerrar a carreira, no Augsburg, da Alemanha.
A riqueza da atividade mineradora impulsionou o conflito entre bandeirantes e emboabas.

EMBOABA NA HISTÓRIA DE SÃO PAULO
Por: Gileno Guanabara, sócio do IHGRN

            “Emboaba”, um dos lados do primeiro movimento nativista quando da disputa ao tempo do ouro de Goiazes, encontra referência no vocabulário “nheengatu”, objeto que foi da pesquisa de diversos estudiosos. De acordo com os apontamentos históricos, o vocábulo teria correspondido a um insulto que os paulistas dirigiam aos estrangeiros, em especial, uma ofensa aos portugueses, durante a disputa que mediou a conhecida Guerra dos Emboabas.

            Para parte dos estudiosos, a expressão deriva do tupi-guarani mboab, referente a uma ave de pernas emplumadas, atribuída aos forasteiros que cobriam as pernas. O cronista Batista Caetano, citado por Cândido Mendes (in Notas para a História Pátria), afirmava que emboaba correspondia ao o-mboá-bae, o laçador, o que atira o laço, sendo “i-amboa-báe” o laçador de índio, de gente e o mesmo era traidor, pérfido, pois no mesmo conceito se tinham os estrangeiros que chegavam somente para enriquecer, mediante a estultice e a felonia. Segundo a tese de Antônio Joaquim de Macedo Soares, na obra Etymologia da Palavra Emboaba, a expressão correspondia a conduta de um tipo de homem portador de cabelos diferentes.

            Varnhagem (in História Geral do Brasil), que a princípio admitiu ser emboaba uma expressão atribuída pelos índios aos portugueses, pelo fato de vestirem calças, afirmou ser a forma contraída de Amboabá (de Mbae-aba), ou seja “feito homem”. Já Theodoro Sampaio (in O Tupi na Geografia Nacional) diz que o termo deriva da forma verbal mbo-ar, movimento, de que a forma verbal “mbo-ab” exprime a ação de, a agressão, o ataque.

            Há discordância por parte de Affonso de Freitas Júnior, haja vista não se   ter aplicado a mesma expressão, no século XVII, a brasileiros que também vestiam calças, hábito que não era tão incomum, haja vista a relação de bens deixados em inventários e testamentos da época, incluindo como herança aquela indumentária que os portugueses introduziram, quando por aqui chegaram, sem que se lhe atribuísse a alcunha de emboabas. Era costume conservar-se num baú a fatiota exclusiva para se comparecer a rigor nas solenidades, servindo, por último, de mortalha. Diz o estudioso que os galináceos conhecidos naquela época, com tais características, foram animais exóticos trazidos ao tempo em que os indígenas já se tinham enfurnado nos sertões, sem possibilidade de assim nominar em ofensa os portugueses. De igual forma, o apelido decorrente de um tipo exótico de ave de pernas emplumadas, chamado Mboab, ainda assim não encontraria relação com a fauna existente nos campos do Piratininga.

            As digressões se aguçam ainda mais quando a questão envereda pela referência ao tipo de cabelo – aba-ambõaê-aba. Evidente que o português/mouro portasse pele escura, tivesse o fio dos cabelos apichaí e crespo e menos encorpado que o do indígena, sem que se desnaturassem as semelhanças verificáveis entre ambos. Aos esses negros os nativos dirigiam o epíteto Tapanhuno, ou seja bárbaro, negro estranho, palavras que decorrem de “Tapuya” e “una”.

            Em verdade, dado o ódio corrente dos paulistas aos estrangeiros que invadiam suas minas de ouro, atentando contra a fonte maior de sua riqueza naquele momento, foram diversos os apelidos que eram assacados contra os forasteiros: Galego; pés de chumbo; tamancões, entre outros. A expressão que melhor atingia o ímpeto da desforra, os paulistas foram encontrar na locação cabinda, do dialeto angolês, trazido para o Brasil. Em os portugueses se embrenharem na mata protegendo as pernas das cobras e mosquitos, pelo uso de longas botas, fora a adaptação do angolês camboá a que de maior zombaria se atribuía aos intrusos de suas minas, os traidores do Rio das Mortes (1708), na batalha do Capão da Traição. Na luta que se travou, se destacou a ação das mulheres de Piratininga, solidárias aos seus parentes traídos e derrotados, momento da maior batalha durante a guerra entre paulistas e emboabas.

            A expressão emboaba não foi dirigida aos portugueses que se mantiveram alheios ou fiéis à causa dos paulistas, mas àqueles que se identificaram contra os nativistas, os que se aliaram aos forasteiros, nem sempre portugueses. Foram tidos emboabas Manuel Nunes Vianna, Bento do Amaral Coutinho, Antunes Maciel, nativos a quem se acusa de traíram a causa e contribuírem para a derrota dos paulistas.

            Rocha Pita, baiano que se aliou aos portugueses contra os paulistas, afirmou (in América Portuguesa) que os povos das minas estavam divididos em duas parcialidades, uma, dos naturais de São Paulo e das Vilas de sua jurisdição, chamados Paulistas, e outra dos Forasteiros, a quem eles chamavam Emboabas, dando este nome a todos os que não sahião da sua Região”. Ayres do Casal (1817), nos escritos sobre a fundação de São Paulo afirma que um grande número de europeus se agregou aos índios que os chamavam emboabas, por terem as pernas cobertas. Na ausência de outros registros em arquivos, pelo menos encontra-se nas atas da Câmara da cidade a referência à nomeação de Amador Bueno da Veiga, cabo maior dos paulistas, a fim de combater os emboabas que eram referenciados através da expressão forasteiros.

            Azevedo Pizarro (in Memória Histórica do Rio de Janeiro-1820) informa que de Embuabas ou Buabas os paulistas chamavam as aves, galinhas ou não, que tinham as pernas cobertas de plumas. Daí, chamarem a todos os de fora que se portavam vestidos de botas ou polainas, cobrindo as pernas.

            Para Affonso de Freitas poder-se-ia decodificar todas as expressões homens de cabelos diferentes; laçadores de índios, etc., através dos matizes boya (cobra) e avá (homem), resumindo-se na figura ruim como cobra, cruel, astucioso, desleal, adaptação do termo cabinda Emboá, do angolês Camboá, cuja tradução é Cão. O sentido que fica, pois, é o de aventureiro, adversário dos paulistas durante a exploração das minas dos Goiazes. Passado o fragor da guerra, o termo Emboaba revelou o rigor acusativo ao inimigo e com a corruptela de buana dirigiu-se aos portugueses, com o estigma de vindita.  

           

31/05/2014

D. Anna Joaquina do Nascimento, a índia braba

João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN, membro do IHGRN e do INRG
Como registrei no artigo anterior, Joaquim José de Mello Pinto casou em 1833, em São José de Mipibú, com Izabel Maria de Alexandria. No ano de 1834, aos três de dezembro, nasceu Francisco Xavier de Mello Pinto, primeiro filho do casal, que foi batizado aos 31 do mesmo mês e ano, na capela do Ferreiro Torto, sendo padrinhos Francisco de Freitas Costa (que foi testemunha do casamento) e Maria José de Jesus, mãe de Izabel. Nessa data, o casal morava em Tabatinga, aqui em Macaíba. Não encontrei outros filhos de Joaquim e Izabel. Mas, aos três de novembro de 1843, Joaquim José de Mello Pinto ficou viúvo de Dona Izabel, moradora, ainda, em Tabatinga, que foi sepultada na Capela de Jundiaí.
Em setembro de 1865, na Tabatinga, foi batizado Cândido, com dois anos de idade, filho natural de Francisco Xavier de Mello Pinto e de Francisca Genuína Ferreira, tendo com padrinhos Joaquim José de Mello Pinto, avô de Cândido, e Maria Teixeira de Mello. Dois anos depois, em 16 de outubro, na Tabatinga, Francisco Xavier de Mello Pinto casou com Francisca, nessa data, viúva de José Alexandre da Silva. No ano seguinte, ainda, morador de Tabatinga, Francisco faleceu e foi enterrado no cemitério de Jundiaí.
Não encontrei um segundo casamento de Joaquim José de Mello Pinto. Viúvo, é possível que esse Joaquim José fosse o mesmo que faleceu, em 1867, na Casa de Caridade, embora constasse como casado no registro de óbito e, portanto, poderia ser o bisavô do meu primo João Batista.
Mas, eu tinha os anos de nascimentos do velho João Baptista de Mello Pinto e dos seus irmãos. Procurei os registros de batismo, da Freguesia Ceará-Mirim, desses filhos de Joaquim José de Mello Pinto, mas nada encontrei. Aí, procurei os registros de casamento de um deles. O registro do avô do meu primo, João Baptista de Mello Pinto, que casou em Angicos, não continha o nome dos pais dos nubentes. Mas, encontrei o registro do casamento de um irmão dele, conhecido por Zumba, de nome José Gomes de Mello Pinto, que me surpreendeu, e que transcrevo para cá.
Aos vinte e nove de dezembro de mil oitocentos e oitenta e seis, depois de feitas as diligências do estilo, sem impedimento algum, nesta Matriz de Ceará-Mirim, em presença das testemunhas capitão Bonifácio Vieira Goveia e João Baptista de Mello Pinto (esse casou com minha tia-avó Maria Rosa), uni em matrimônio os contraentes José Gomes de Mello Pinto e Maria Clotilde Varella Borges; ele filho natural de Anna Joaquina do Nascimento e ela filha legítima de João Varella Borges e de Maria Varella de Oliveira, e assistiram as bênçãos nupciais no dia dois de janeiro de mil oitocentos e sete, ambos os contraentes naturais e moradores nesta Freguesia. O Vigário Frederico A. Raposo da Câmara. 
Com a informação acima, e as que seguem abaixo, descobri que o avô do meu primo e os irmãos deles eram filhos naturais de Anna Joaquina do Nascimento e, por isso, a procura por filhos de Joaquim José de Mello Pinto, tinha sido infrutífera. Voltei aos batismos para procurar os registros dos filhos de Anna Joaquina do Nascimento. Aí, encontrei os batismos, que seguem abaixo, com exceção de Zumba, pois a microfilmagem dos livros de 1863 está ilegível.
João Baptista de Mello Pinto, branco, filho natural de Anna Joaquina do Nascimento, nasceu aos dez de junho de1860, e foi batizado pelo padre Luiz Fonseca Silva, aos 17 de julho do mesmo ano, sendo seus padrinhos Francisco José de Mello e Rita Coralina do Espírito Santo.
Francisco (do qual não encontrei outros registros posteriores), índio, filho natural de Anna Joaquina do Nascimento, nasceu aos três de fevereiro de 1861, e foi batizado aos trinta de agosto do mesmo ano, pelo vigário Luiz da Fonseca Silva, sendo seus padrinhos José Pegado de Oliveira e Joaquina Maria da Conceição, casados.
Manoel de Mello Pinto, branco, filho natural de Anna Joaquina do Nascimento, nasceu aos dezoito de outubro de 1864, e foi batizado pelo vigário Luiz da Fonseca Silva, aos vinte e oito do mesmo mês e ano, sendo seus padrinhos Joaquim Rodrigues da Silva e sua mulher Maria Rosa do Sacramento e Silva.
Francisco de Mello Pinto, branco, filho natural de Anna Joaquina do Nascimento, natural da Freguesia de São José, e moradora na de Ceará-Mirim, foi batizado aos trinta e um de maio de 1866, na casa de oração da Vila de Ceará-Mirim, pelo padre Targínio Pinheiro de Carvalho, sendo seus padrinhos João Victorino Ferreira Nobre e sua mulher Dona Anna Ferreira Nobre Pelinca.
Nos registros acima, é através do primeiro Francisco, que fica confirmado que Anna Joaquina do Nascimento era índia, além de ser natural de São José de Mipibú. Através de velhos jornais do Acre, onde foi morar, descobri que o segundo Francisco nasceu no dia 1 de maio de 1866.
Segundo os bisnetos João Batista de Mello Pinto e José de Mello Pinto, Dona Anna Joaquina do Nascimento, com a morte do pai dos seus filhos, foi lavar e passar, na Vila de Ceará-mirim, para poder sustentar a família. Dizem mais que ela era muito braba, e que Zumba, seu filho herdou essa brabeza. Zumba foi assassinado em Recife.
Para concluir transcrevemos o casamento de Nestor de Mello Pinto, filho de João Baptista de Mello Pinto e Maria Rosa da Trindade, e neto paterno de Dona Anna Joaquina do Nascimento: Aos vinte de novembro de mil novecentos e dezoito, na Fazenda Santa Luzia, em presença das testemunhas André Avelino da Trindade e Manoel de Mello Pinto, servatis servandis, assisti o recebimento matrimonial de Nestor de Mello Pinto e Luisa Rita da Trindade, solteiros, naturais, ele de Ceará-Mirim, e ela desta Freguesia, e previamente dispensados do impedimento de 2º grau de sanguinidade. Padre Júlio Alves Bezerra (tio do escritor Afonso Bezerra).
Luisa era filha de Joaquim Felippe da Trindade e Rita Emiliana de Assis Barbalho, aquele irmão de Maria Rosa da Trindade, e de André Avelino da Trindade. Manoel de Mello Pinto, tio de Nestor, casou a segunda vez com Anna, irmã gêmea de Joaquim Felipe.
Nestor e Luisa