ELOY DE SOUZA
Jurandyr
Navarro
Do Conselho Estadual de Cultura
Nascido
no Recife aos 4 de Março
de 1897 e falecido em Natal em 7 de Outubro de 1959.
Adquiriu fama imorredoira entre os colegas de
Imprensa, pelo fato de ditar duas ou três matérias,
simultaneamente. Habituou-se, desde cedo, ao raciocínio rápido, inspirado pelo cheiro da tinta e do tilintar dos tipos,
que ao seu tempo, eram agrupados um a um, na cachêta,
para fazer a composição
da matéria
jornalística,
como as letras na formação
dos nomes, a encher as páginas do jornal desses minúsculos caracteres linguísticos
silábicos...
Que
ele ditava duas ou três
matérias a
um só
tempo, confirmou-me o emérito Advogado
Raimundo Nonato Fernandes, que há esse
tempo, trabalhando n "A República", servia-lhe como datilógrafo. O doutor Raimundo digitou, para ele, todo o
livro "Calvário das Secas", dentre outros trabalhos do jornal. E que, ao ditar,
fazia-o, andando em volta, e parando; às
vezes, perguntava: "Está certo o que eu disse? (...) "Está bom
isso? ..."Fazia-o segurando os suspensórios.
Dê-le
diz-se, também, que certa vez, ditando um
libelo contra um adversário político, sendo interrompido com a notícia de que aquele opositor havia aderido ao Partido Popular;
ele, ante os olhares interrogativos, disse: "vírgula, assim proclamam os seus
inimigos..." e continuou a sua matéria jornalística,
fazendo a apologia do novo correligionário.
Muitos os comentários de suas artimanhas e proezas jornalísticas e ditos espirituosos e inteligentes. Se há
exagero nos elogios ao seu talento, no fundo fica alguma coisa de verossímil.
Fato é que o
seu nome, no oficio, havia virado legenda.
À unanimidade dos que fazem a imprensa escrita, Eloy
de Souza foi escolhido o mais autêntico jornalista da gleba
potiguar, de todos os tempos.
Por
tal razão, quando foi criada a Associação dos Jornalistas do Rio Grande do
Norte, pelo seu idealizador João Medeiros Filho, Eloy de Souza foi escolhido
seu Presidente de Honra. Para se chegar a esse consenso pressupõe-se um
julgamento espontâneo diante do seu estilo
inconfundível, objetivo, substantivado, ornado de ideias claras e a imaginação vivaz, ao relatar os fatos com memória fiel. A excelência da sua condição de literato muito o ajudou nas lides da imprensa. Pois todos sabem
ser o jornalismo um dos mais elevados géneros da
literatura.
Em
matéria de
jornal tudo conhecia e utilizava caso houvesse necessidade; o editorial conciso, o artigo bem esplanado, o
suelto sumariado, a forma clara e eloquente da notícia, o rodapé, o registro, a nota panfletária, a
polêmica política
ou literária,
as manchetes, a administração do jornal, as
artimanhas jornalísticas... pois o jornal é tal a figura mitológica de Argos - tem cem olhos - e outros ofícios...
Em matéria de
imprensa era ele mestre consumado.
A partir da juventude a sua inclinação natural pelo jornal e pela política. Nesta, para ajudar
ao amigo e líder
Pedro Velho, que também
inteligente, via em Eloy de Souza o intelectual
que ele precisava para alavancar o seu projeto político.
Declarou Otto Guerra, em discurso na Academia de
Letras, que Pedro Velho a ele dissera: "Acabe logo com
a sua Bacharelice em Recife e volte". E acrescentou o líder religioso, que por este apelo do Amigo, Eloy se
diplomou apenas em
Ciências Sociais.
É que o Diploma da Faculdade de
Direito do Recife confere ao formado o Título de Bacharel em Ciências Jurídicas
e Sociais, e não
somente em Direito.
Eloy
de Souza fora atraído
pela sedução
jornalística
por uma vocação
nata, por gostar do ofício
e ter a devida competência
para exercê-la
com a criteriosa sabedoria, usando a pena de ouro, o seu cálamo sagrado.
Foi
um político
de caráter,
como raro se vê
nos dias presentes. Forjou a moral política desde a legislatura estadual, chegando a
renunciar um mandato em pleno exercício, por imposição da
sua consciência.
Eloquente a sua atuação
como legislador, coadjuvado que foi, pelas qualidades congénitas - honra, caráter e
inteligência;
e as adquiridas - trabalho, competência e sociabilidade.
A
imprensa, pelo alto poder de persuasão, serviu-lhe de poderoso fulcro à ação política; a
par o seu generoso coração, que jamais o deixou inativo
frente às necessidades do seu pobre Estado
e da sua pobre gente.
Marcou
a sua atividade com o combate às Secas, principalmente, cujos efeitos danosos
sacrificava a gente sertaneja. Cuidou, outrossim, da incipiente agricultura a
braços com
a monocultura algodoeira da época.
Tanto quanto jornalista autêntico e criterioso político, exíbiu-se, ainda, como brilhante intelectual. Pertenceu a várias das
nossas instituições culturais, tendo sido Sócio fundador da Academia Norte-Rio-Grandense de
Letras, mesmo não sendo potiguar. Os Estatutos
à época, vedavam a entrada aos que não fossem
rio-grandenses do norte por nascença. Exceções foram feitas a ele, ao Padre Luiz Monte,
pernambucano, também,
e ao paraense Floriano Cavalcanti, em virtude de suas notórias culturas.
Eloy
de Souza dirigiu a Imprensa Oficial, alto e cobiçado cargo da época,
dirigiu também
o jornal "A Razão"
e a Caixa Económica
Federal.
No Governo Aluízio Alves, o Governador, conhecedor de perto dos seus méritos incontestáveis, como jornalista, deu o
seu nome digno à
Faculdade de Jornalismo da Fundação "José Augusto", transformada, depois, no Curso de
Jornalismo da nossa Universidade Federal.
Deixou algumas obras da melhor qualidade
intelectual e considerável acervo de matéria
jornalística
espalhado pelas mil e uma páginas dos nossos principais periódicos,
além de
temas literários,
políticos
e económicos.
Usou pseudônimo, costume da época: Jacyntho
Canella de Ferro.
Dentre
outros livros escreveu "Cartas de um Desconhecido"; "Calvário
das Secas" e "Cartas de um Sertanejo".
O
seu augusto nome tem sido citado por políticos, jornalistas e intelectuais pelo seu trabalho edificante, como legislador e incansável porfiador no tumultuado ambiente da
imprensa e da cultura.
Foi um político e um
jornalista destemido. Por tal, sofreu Deportação da sua terra, no Governo Bertino Dutra.
Tendo em vista os consideranda supraditos e
o talento tridimensional em dominar áreas polémicas de nossa sociedade - a imprensa, a cultura e
a política
-, enxerga-se em Eloy
Castriciano de Souza um dos intelectuais mais inteligentes e
hábeis
do Rio Grande do Norte.