13/05/2014

Petróleo



A DIMENSÃO SOCIOCULTURAL DO PETRÓLEO;

UMA HISTÓRIA DO PETROLEO POTIGUAR

Tomislav R. Femenick – Historiador, membro da diretoria do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte.

            No Rio Grande do Norte, as atividades de extração e/ou refino do petróleo estão presentes em dezesseis Municípios: Afonso Bezerra, Alto do Rodrigues, Apodi, Areia Branca, Assú, Caraúbas, Carnaubais, Felipe Guerra, Governador Dix Sept Rosado, Guamaré, Macau, Mossoró, Pendências, Porto do Mangue, Serra do Mel e Upanema. Natal, a capital do Estado, sedia uma unidade administrativa da Petrobras. Segundo a ANP-Agência Nacional de Petróleo (Boletim da Produção de Petróleo e Gás Natural, set 2013), o campo do Canto do Amaro, no Município de Mossoró, é o campo petrolífero brasileiro que tem o de maior número de poços produtores: 1.109 poços.
            A unidade de refino, a Refinaria Potiguar Clara Camarão está localizada no Município de Guamaré e, como decorrência de sua existência, a Petrobras e sua controlada Transpetro, têm na região 556 quilômetros de oleodutos e 542 quilômetros de gasoduto.

Além do Econômico

            Mas a indústria petrolífera não deve ser vista somente pelo prisma econométrico ou com uma visão meramente empresarial. Além de uma atividade multiplicadora de oportunidades, de negócios, de empregos e impulsionadora das receitas públicas, ela transforma a realidade das comunidades, das regiões e até dos países, interferindo diretamente na vida das pessoas.
            E não poderia ser diferente o que aconteceu nas regiões oeste e costeira norte do Rio Grande do Norte. Comunidades rurais praticamente saltaram do século XIX para o século XXI. Pessoas que antes trabalhavam “na enxada” se tornaram “torristas” nos poços de petróleo, analfabetos tiveram que se alfabetizar e – benfazejo paradoxo – nas suas casas as lamparinas, que antes queimavam querosene de petróleo, deram lugar à luz elétrica. Para não falar nos aparelhos de TV e celulares, nas geladeiras, maquinas de lavar... e nos computadores.
            Calcula-se que, antes da crise que se abateu na indústria petroleira do Estado, os empregos diretos na cadeia produtiva do petróleo tenham alcançado a casa de vinte mil pessoas e que os empregos indiretos tenham atingido algo por volta de quinze mil vagas, ou mais. Atualmente, no Rio Grande do Norte há aproximadamente 11.500 pessoas que trabalham nas empresas petrolíferas, sendo 2.500 na Petrobras e 9.000 nas outras empresas.

Construindo a infraestrutura

                As empresas de petróleo que trabalham no Rio Grande do Norte (principalmente a Petrobras) vêm realizando um trabalho de integração com a população local, que tem trazido grandes benefícios para as pessoas e melhorado o seu padrão de vida. Ainda nos anos 1990, a Petrobras repassou às comunidades dos vales do Açu e Mossoró mais de 220 poços d’água, alguns equipados com caixas d’água e chafarizes. As instalações de telecomunicação da empresa, localizadas na serra do Mangue Seco (Guamaré), foram disponibilizadas para a retransmissão do sinal de TV para as comunidades vizinhas e para o sinal da telefonia celular na região, inclusive no Alto do Rodrigues.
            O sistema viário rodoviário do Rio Grande do Norte foi outro setor que recebeu grande contribuição da Petrobrás. Foi construída a estrada RN-408 (ligando Alto do Rodrigues/Carnaubais) e um trecho da RN-118, a "Estrada do Óleo", (que liga Guamaré a Alto do Rodrigues). Foi recuperado um trecho da rodovia RN-016 (Carnaubais/Assú) e reconstruídas a rodovia RN-117 (Mossoró/Carnaubais) e a RN-118 (Macau/Assú), totalizando 144 km. Alem do mais foram construídas pontes metálicas em estradas de Upanema, Alto do Rodrigues, Governador Dix Sept Rosado e na RN-408 (Alto do Rodrigues/Carnaubais).

Construindo a Cultura

            Na área de ensino, a estatal criou os programas Criança Petrobras e Mova Brasil, que inicialmente funcionavam em Natal, Mossoró e Macau, e foram estendidos à outras cidades;  milhares de jovens já foram atendidos pelos programas. No âmbito da cultura, a estatal participou, direta ou indiretamente, de empreendimentos tais como a preservação do Lagedo de Solidade, no Município de Apodi, do Teatro Dix-huit Rosado e do espaço Estação das Artes, em Mossoró, do projeto Porto de Ama, em Macau, criou a Casa de Talentos, a Orquestra de Talentos e a Lutheria Talento e contribuiu para a reforma da Casa da Ribeira, estes últimos em Natal.

OS ROYALTIES DO PETRÓLEO

Royalty é uma quantia de dinheiro que se paga para o uso de determinada tecnologia, desenvolvida por outra pessoas ou empresa que não o usuário. Também identifica os valores pagos aos criadores de obras de arte (livros, peças teatrais, composições musicais, roteiros de filmes, imagens, pinturas ou esculturas) e marcas e patentes. No Brasil o maior volume de royalties se origina no pagamento de direitos sobre extração de produtos minerais, notadamente o petróleo.
Art. 3º da Lei Lei 9.478/1997 diz que Pertencem à União os depósitos de petróleo, gás natural e outros hidrocarbonetos fluidos existentes no território nacional, nele compreendidos a parte terrestre, o mar territorial, a plataforma continental e a zona econômica exclusiva”. Assim, as companhias que extraem petróleo ou gás natural em todas essas regiões pagam ao governo federal pelos seus direitos exploratórios e, por outros dispositivos legais, estão também obrigadas a pagar aos Estados, Municípios, aos proprietários das terras, bem como aos Ministérios da Marinha e da Ciência e Tecnologia.
Em 2012, o Rio Grande do Norte recebe algo em torno de R$ 500 milhões de reais, considerando a participação do Estado, dos Municípios produtores e dos proprietários de terras onde há extração de petróleo e gás (ver quadro 01). Sem dúvida esses recursos têm sido de relevante importância para a sustentação dos serviços públicos e para o sustento das famílias dos proprietários de terra. 
Porém nem sempre se faz bom uso dos royalties. Os futuros recebimento do Estado, por conta da exploração petrolífera em seu território, estão empenhados na composição do fundo garantidor que foi formado para a construção da Arena das Dunas. Em 2012 o governo do Estado recebeu royalties no montante de R$ 248 milhões e R$ 70 milhões é quanto o fundo garantidor deve sempre manter em caixa para pagar a construtora do estádio.

Quadro 01 - ROYALTIES DISTRIBUÍDOS (Mil R$)
Beneficiários
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
Rio Grande do Norte
140.946
163.848
181.023
180.150
159.577
213.647
140.129
158.934
205.981
248.237
Municípios
97.011
112.259
132.556
145.622
123.913
165.629
126.730
148.721
185.078
231.576
Proprietários de terra
19.417
23.638
26.601
28.247
24.108
31.562
20.493
24.916
33.907
41.569
Total
257.374
299.745
340.180
354.019
307.598
410.838
287.352
332.571
424.966
521.382
Formatado pelo autor, com base em dados da ANP.

            Um caso realmente atípico é Guamaré, onde se localiza a Refinaria Potiguar Clara Camarão que, de 2002 a 2011, recebeu R$ 202 milhões de reais em royalties. No mesmo período, o Município trocou de prefeito oito vezes. As contas de três deles foram reprovadas pelo Tribunal de Contas do Estado e um foi preso, acusado de desvio de verbas. Embora seja o Município brasileiro com a 20ª colocação do “PIB per capta” (total da renda do Município dividida pelo número de habitantes), com R$ 90.230 reais por pessoa, quase o triplo da renda dos moradores da cidade de São Paulo, isso nada significa para a grande maioria da população. O exemplo típico – apontado pela revista Exame em agosto de 2012 – seria a comunidade de Morro do Judas, um bairro com ruas de terra, sem água, luz e esgoto. Para os moradores dos bairros iguais a esse, a boa colocação do PIB per capta é apenas um registro estatístico, enquanto “os analfabetos representam mais de um quinto da população (o dobro da média brasileira) e quase 10% vivem na extrema pobreza”. O modus operandi da administração local tem sido o assistencialismo: “um quarto da cidade trabalha na prefeitura [...], 2.300 famílias recebe da prefeitura um cartão com 120 reais para gastar no comércio. Outras 267 estão no programa de auxílio-aluguel. Há ainda 1.604 beneficiadas pelo Bolsa Família” – ainda segundo a revista.

AS EMPRESAS DO POLO PETROLÍFERO

         Afora a própria Petrobras, a Transpetro e outras empresas subsidiadas da companhia estatal, estima-se que mais de trezentas organizações empresárias atuam, atuaram ou poderão vir a atuar no Rio Grande do Norte em função da existência do petróleo e do gás na Bacia Potiguar. Aqui elas desenvolveram suas atividades nas áreas de prospecção, extração, refino ou transporte de insumos e produtos, ou dão suporte em atividades suplementares as mais diversas, realizando serviços de engenharia, segurança, transporte de pessoal, alimentação, hospedagem etc. Graças a sua participação na cadeia produtiva do petróleo, essas empresas criam aqui empregos, dinamizam a economia e pagam impostos.

Uma publicação da Petrobras cita a empresa Vipetro como exemplo de uma organização de Mossoró que se desenvolveu prestando serviços a Petrobras e outras empresas do setor, e que expandiu sua atuação para empreendimentos em outros Estados e para outras atividades econômicas. Desde os anos 1980, quando foi fundada, a Vipetro instalou mais de 80% da malha de distribuição de gás natural do Estado, realizou a expansão da rede de gás natural da Paraíba, obras de instalação de tanques de armazenamento de petróleo e água, bem como participou da instalação, modernização ou ampliação de grandes obras estruturantes do Estado, como a Barragem Armando Ribeiro Gonçalves, o Porto Ilha de Areia Branca, a implantação de vilas rurais em Serra do Mel e de vias ferroviárias. No início do século a Vipetro já contava com mais de mil empregados e, em 2011, admitiu como sócia a empresa portuguesa SIMI-Sociedade Internacional de Montagens Industrial, que atua em Portugal, Inglaterra, Alemanha, Itália, Espanha, Bélgica, Polônia, Rússia, Romênia, Ucrânia, México, Índia e em vários países africanos.

Dentre as empresas engajadas no cicio produtivo do petróleo no nosso Estado podem ser citadas:

 ABDM Empreendimentos e Serviços, ADLIN Terceirização em Serviço, Alban Engenharia, Allpetro Exploração, AP Mariscal, Aurizõnia Petróleo, Autograf Projetos e Construções, Baker/BJ Services, BP Energy do Brasil, Central Resources do Brasil (antiga Koch), COOTRAMERJ - Cooperativa dos Trabalhadores Metalúrgicos do Estado do Rio de Janeiro, Dall Empreendimentos, EBS Empresa Brasileira de Serviços, El Paso Óleo e Gás do Brasil, EMPERCOM Empresa de Montagem e Serviços Gerais, ETX Serviços de Perfuração e Sondagem de Petróleo (de Eike Batista), ExxonMobil, Starfish, EnCana, Forteks Engenharia, Gênesis 2000 Exploração e Produção de Hidrocarbonetos, Geokinetics Geophysical do Brasil,Grupo Synergy, Halliburton Servicos, Hidrodex Engenharia e Perfuração, Máxima 07 Exploração e Produção de Petróleo, M-I Swaco do Brasil Comercio, Serviços e Mineração, Partex Brasil, PERBRAS Empresa Brasileira de Perfurações, Phoenix Petróleo, Plena Engenharia, Potióleo (do grupo Aurizõnia), PROEN Engenharia e Manutenção, Quatra Petróleo, RAL Engenharia, Rio Proerg Engenharia, San Antonio Internacional do Brasil Serviços de Petróleo, SAYBOLT CONCREMAT Engenharia e Serviços, Schahim Petróleo, Schlumberger Serviços de Petróleo, Tenasa Tecnology, Tucker Energy, Tuscany  International Drilling Inc, Varco International do Brasil Equipamentos e Serviços, Varco International do Brasil, Vestland Marine AS, Marine AS Derivados de Petróle e Worktime Assessoria Empresarial.

 FORMAÇÃO DE MÃO DE OBRA

            O desenvolvimento da indústria petrolífera no Rio Grande do Norte encontrou, desde o início, um grande problema: a carência de mão de obra especializada para todas as funções, notadamente aquelas especificamente voltadas para o setor. A solução foi trazer técnicos de outras regiões do país e até do exterior. Com a sua consolidação no Estado, diversas organizações se aparelharam para fornecer essa mão de obra, instalando aqui cursos de nível técnico, bacharelado, MBE, mestrado e até de doutorado, todos voltados para o desenvolvimento da indústria petroleira.
            O foco desses cursos é formar profissionais  para atender as necessidades da cadeia produtiva do petróleo e gás natural, nas atividades de planejamento, supervisão, exploração, perfuração, produção, distribuição, comercialização e transporte de petróleo e gás natural e seus derivados, com foco em projeto, gerenciamento, operação, manutenção, controle e automação de processos na indústria petrolífera, bem como executar programas de manutenção de máquinas e equipamentos e aplicar normas e legislação pertinentes à gestão e controle da produção, saúde, segurança e meio ambiente, minimizando o impacto ambiental.
            Dentre esses cursos estão:

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN: Bacharelados em Química do Petróleo e Engenharia de Petróleo; mestrado e doutorado em Ciência e Engenharia de Petróleo, todos em Natal – RN.
Universidade Federal Rural do Semi-Árido – UFERSA: Bacharelado em Engenharia de Petróleo, em Mossoró.
Universidade Potiguar - UnP: O Curso de Bacharelado em Engenharia de Petróleo e Gás, em Natal.
Universidade Estácio de Sá: Graduação tecnológica de Petróleo e Gás e MBE (Master in Business Administration; em português: Mestre em Administração de Negócios) também em Petróleo e Gás, em Natal.
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia – IFRN: Curso Técnico em Operação e Manutenção da Produção do Petróleo e Gás Natural, Vespertino (Natal) e noturno (Mossoró).

CTGÁS-ERCentro de Tecnologias do Gás e Energias Renováveis. Criado em 1999, a partir de uma parceria entre a Petrobras e o SENAI, é uma organização voltada à pesquisa, desenvolvimento e estudos sobre petróleo e gás e outras áreas. Cerca de 40 mil alunos já foram matriculados em seus cursos. Além do curso Técnico de Petróleo e Gás, também oferece programas que, embora não específicos para a cadeia produtiva do petróleo, formam profissionais capacitados a exercer seus conhecimentos e habilidades na área.

12/05/2014

Beatles




A Influência dos Anos 50 - III
Juarez Chagas/Professor do Centro de Biociências da UFRN (Juarez@cb.ufrn.br)

                    “Well, shake it up, baby, now, (shake it up, baby)
Twist and shout. (twist and shout)
                                Cmon, cmon, cmon, cmon, baby, now, (come on baby)
                Come on and work it on out. (work it on out)”
                                                                                           
                                                                              -The Beatles, 1964

          Quatro rapazes, de ternos cinza escuro, ainda não cabeludos e ainda igual e praticamente desconhecidos, alegres e freneticamente pulando no ar, acima de uma velha muralha de pedras é a capa do primeiro compacto dos Beatles para o single Twist and Shout, do álbum Please Please Me, gravado em final de 1963 e “estourado” em 1964 (Anos difíceis no Brasil). Pronto, o Rock incendiou e incendiou-se de novo!
         Nesse momento, como um furacão, os quatro rapazes de Liverpool começavam a dirigir sua locomotiva musical com vários vagões inéditos cheios de sonoridade, poesia, histórias e melodias, falando tudo o que os jovens inquietos de todo o mundo queriam sentir, falar e viver, enquanto o caminhoneiro do rock, um surpreso Elvis Presley teve que dar passagem pra não ser atropelado, mesmo mantendo ainda seu caminhão na estrada que cabia todos, bastando para isso obedecer aos sinais de trânsito e velocidade. Agora a onda que apenas começava era Twist and Shout (Gire, balance e grite). A beatlemania apareceu como um passe de mágica e o velho Rock renovavam suas baterias e energia que iriam incendiar o Planeta por quase uma década mais!
          Junto com os Beatles o vulcão musical do rock tocado e vivido por uma plêiade de artistas das mais variadas tendências e estilos, com sua irreverencia, protesto e comportamento explodiu e jogou larvas nos quatro cantos do Planeta.
          Estava, portanto, aberto um ciclo musical que não era apenas musical, mas, sobretudo, comportamental e que influenciaria jovens de todo o mundo. E, o mais interessante é que este ciclo ainda não se fechou, corroborando a famosa frase de Lennon: “The Dream is not over!”, embora lamentavelmente, o próprio Lennon já não exista mais.
          Enquanto isso no Brasil, já influenciado por todo esse movimento desencadeado nos Estados Unidos, cuja influência advinda dos anos pós-guerra e, mais fortemente dos meados dos anos 50 e, portanto, no final da década de 50 e início dos anos 60 é a época tida como chegada do rock and roll do Brasil, o qual, considerando ainda como genuíno, se prolongaria até os anos 70, era incontestavelmente uma realidade e o fenômeno, chamado por muitos como contracultura, era um acontecimento que ninguém mais poderia interromper.
          A chegada dos primeiros astros do rock no Brasil, Bill Halley e seus Cometas (1958) e Neil Sedaka (1959) sedimentaria de vez a explosão musical da juventude e, a partir daí, a juventude brasileira teria, além de seus ídolos americanos, seus próprios cantores e representantes musicais.
          Cantores, bandas e conjuntos eram de uma forma ou de outra, a própria explosão do Rock and Roll e a música pop, mudando a forma de pensar, vestir, falar e se comportar da juventude dos Anos Dourados. O programa brasileiro Jovem Guarda da TV Record, comandado pelo fenômeno Roberto Carlos, conseguiu reunir em seus shows e apresentações praticamente todos os artistas da época da revolução musical do Rock no Brasil. Abaixo, alguns desses representantes no Brasil, na década de ouro ou Anos Dourados:
          Comandado por Roberto Carlos, Erasmos Carlos e Wanderléia, o Programa Jovem Guarda foi o mais autêntico movimento musical em forma de veículo divulgador que pôde mostrar ao Brasil e ao mundo, alguns dos astros e estrelas brasileiras que permaneceram durante e até depois desse próprio fenômeno musical brasileiro. Somente para registrar alguns desses astros e estrelas que permaneceram como parte do elenco da Jovem Guarda, genuíno movimento musical brasileiro, além dos astros e estrelas solo, as mais famosas bandas e grupos musicais que se destacaram, por muito tempo!
          É claro que, a juventude natalense, a exemplo dos jovens de todo o mundo, não apenas sofreu este impacto, como também bem o absorveu e fez eco repetitivo através dos primeiros grupos e bandas musicais da história de Natal.
          É inegável admitir e até necessário lembrar que a SCBEU (Sociedade Cultural Brasil-EEUU), por ser um centro binacional e, que imprimia a cultura americana em Natal entre os anos 50, 60 e 70, teve papel preponderante nesta história, pois além de ser uma Sociedade Cultural, era de uma forma ou de outra, um pedaço da América, no seio de Natal e, já havia lá, talvez uma das únicas bibliotecas atuais com discografia recente com os maiores sucessos musicais do momento. Além disso, quem quisesse cantar ou entender o que os artistas e cantores americanos cantavam, tinha que passar pela SCBEU, onde era liberado espaço e ambiente para ensaios e jam sessions, além de shows e festas realizadas na própria instituição e nos principais clubes da cidade.
          As “Festas Americanas” que influenciaram os “Assustados”, os shows de bandas locais surgidas dos colégios e escolas que passaram a se apresentar em show abertos (Juvenal Lamartine, Lagoa Manoel Felipe), agora invadiam os principais clubes da cidade, tais quais ABC, América, Alecrim, Atlântico e Assen.
          Portanto, ainda hoje vivemos os reflexos (além da nostalgia) da influência dos Anos 50, na música, na cultura e na arte, dos quais muitos têm saudade (htt://Juarez-chagas.blogspot.com//).

11/05/2014

DIA DAS MÃES




O centenário do dia das mães

Diogenes da Cunha Lima

Há exatamente cem anos o presidente dos Estados Unidos consagrou o segundo domingo de maio às mães (mother’s day), logo seguido por outros países, inclusive o Brasil. Esse louvor é antigo. Na Grécia, era feito a Reia, mãe dos deuses. Roma festejou Cibele (Magna Mater), A Grande Mãe. O catolicismo fez louvor à Virgem Maria (Imaculada Conceição).
A elevada sensibilidade dos poetas tem, há séculos, celebrado a Mãe. Singular na língua portuguesa, na emoção produzida, a palavra mãe só rimaria com um múltiplo superlativo de bondade, de renúncia, de amor total.  Nesta data lembro as mães sem filhos e, com carência sofrida dos filhos sem mãe. Vezes, as primeiras inundam com represada afeição seus eleitos de coração. Os outros, órfãos da presença, parecem viver um lugar reservado à sua própria solidão. Umas e outros suavizam a privação com lembrança e prece.
A minha mãe – Dona Nicinha – consagrou-me a Sant’Anna (nasci a 26 de julho), a ter devoção por Santa Luzia, e muito cedo nos ensinou o poder da oração. Confiante, aprendi a rezar, quatro orações: o Pai-Nosso, a Ave-Maria, o Santo Anjo e a Salve-Rainha. Eu deveria ter na mente a imagem sagrada de quem era dirigida. Rezo o Padre-Nosso imaginando estar à beira-mar com muita gente. Jesus vem distribuindo pães. Espero, paciente e consolado, a minha vez. Imagino ver, com a Ave-Maria, Nossa Senhora e a minha mãe de mãos estendidas em benção. O Anjo da Guarda paira no alto, derramando luz. É o mesmo anjo que nos guiava, na parede do nosso quarto – meu e de Daladier. Deixei de rezar a Salve-Rainha porque incorporei o que me disse o meu queridíssimo amigo e mestre Dom Nivaldo Monte. Ele não gostava de considerar-se degredado, num vale de lágrimas e ainda mais gemendo e chorando... Concordei porque sou um otimista profissional.
As mães dão proteção, carinho, orientação, mágica presença de apoio permanente. Nunca cortam o cordão umbilical da vida e do afeto. Os filhos devemos celebrar o seu louvor.  Não conheço melhor louvação da que foi feita pelo poeta Mario Quintana:
Mãe. / São três letras apenas / As desse nome bendito: / Três letrinhas, nada mais, / Mas nelas cabe o infinito. / É palavra tão pequena – / Confessam mesmo os ateus – / És do tamanho do céu / E apenas menor que Deus.
As mães têm lugar cativo na eternidade, o paraíso, porque intensamente amaram.

10/05/2014

JN




Cardeal EUGÊNIO SALES

Jurandyr Navarro
Procurador do Estado, aposentado, e Presidente
do Instituto Histórico e Geográfico do RN

Aplicando a capacidade cognitiva à disposição de um labor construtivo, fez de Dom Eugênio Sales alvo do aplauso unânime dos seus patrícios.
Um Prelado originário de uma minúscula cidade - Acari, obscuridade geográfica do mapa-mundi, converteu-se no grande apóstolo da modernidade católica, cuja admi­ração causada pelo trabalho magnífico empreendido, atravessou fronteiras internacio­nais e chegou à abóbada do Vaticano.
Dom Eugênio tornou-se
"um virtuoso na arte do possível",
como diria Jean Lacouture (1991) a respeito do herói de Pamplona o fundador da Ordem Jesuíta, a instituição dos conquistadores e dos intelectuais da Igreja Católica Apostólica Romana.
A extraordinária trajetória do Cardeal Sales começou em nossa Capital, passando pela Cúria de Salvador e ultimando no Arcebispado da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.
Foram cinquenta anos de luta pertinaz, sem canseiras nem cavilações; nem de­magogia, sem alarde e sem buscar os holofotes da publicidade paranóica. Proeza fan­tástica somente realizável e consumada pelos verdadeiros líderes da Humanidade, la­bor incansável reconhecido por todos.
Não direi aqui as suas muitas realizações. O seu número exorbitaria do texto aqui aplicado. Não aludirei às suas Palestras nacionais e internacionais, às Medalhas rece­bidas, aos Troféus acumulados, os testemunhos dos políticos, intelectuais e Cardeais de todos os idiomas ditos a seu respeito e também de Pontífices. O seu curriculum vitae daria as páginas de uma plaquete. Desenho, apenas, nesta página, alguns traços marcantes da sua vida trepidante, a vol d’oiseau.
Pertence, Dom Eugênio, à categoria restrita daqueles bravos em que a Nação pode confiar o seu patriotismo e a Igreja o seu altar. Nele, dificuldade não era sinônimo de impossibilidade.
Ninguém poderá medir no compasso, pesar na balança, e pôr na estatística as realizações desse Notável condutor de almas. Muitas vezes pensava uma iniciativa pela manhã e na parte da tarde estava ela concretizada. A sua atividade indormida transfor-mou-o num grande administrador, auxiliada, também, pela clarividência de sua mente objetiva.
Disse Peter Druker, famoso autor da Ciência da Administração, que
"não há países subdesenvolvidos; e sim, sub-administrados".
Conclui-se desse corolário ser o bom político, o bom administrador o fator essen­cial do desenvolvimento civitizatório de uma nacionalidade. O Brasil já teve bons e me­díocres governantes todos sabem; como a Igreja Católica, Bispos realizadores e outros apenas contemplativos.
O Trabalho foi sempre a constante e a determinante ideia fixa posta em prática por esse audaz cavaleiro do Grande Rei, vencendo todos os aclives do caminho tortuoso percorrido. Ele semeou a semente do Bem no coração dos fiéis, dos infiéis, dos letrados e ignorantes, pois todos são filhos de Deus.
Como disse Vieira, tribuno inigualável, há muita diferença entre o semeador e o que semeia.
O semeador é o nome, o que semeia é ação! O apostolado de D. Eugênio foi todo de Ação.
Não havia óbices para o herói de Pamplona no ardor da sua luta. O mesmo se deu na vida do Cardeal Sales, toda ela determinada através de um trabalho pertinaz, em edificar uma Igreja melhor "Quero uma Igreja de Homens e não de pedras", disse certa vez, visando o Bem da humanidade, como induz a divisa jesuíta: Ad Majorem Dei glori­am (Para a maior glória de Deus).
Todos devemos ter um ideal, um ideal nobre. D. Eugênio acendeu a chama do ideal desde a mocidade.
"Felizes, disse Bordeaux, os que colocaram bem alto o sonho da sua vida". Afirmou Riboulet (Rumo à Cultura, 1977): "Quando o ideal se apodera de uma inteligência, domina-a completamente".
Expressões estas condizentes com a postura existencial do eminente Bispo potiguar, obedecendo, sempre, na sua vida um ideal nobre.
Eis por que exultava Pierre Rostand, da Plêiade, a chamar, sobre a amplidão da praia sombria, a onda sonora do ideal.
Além de cultuar um ideal elevado, Dom Eugênio aprofundou-se no fazer, dizendo com Carlyle:
"O viver é uma conjugação ininterrupta do verbo fazer".
Não o fazer por fazer, da multidão anônima; mas, o fazer programado pela inteli­gência e acionado pela vontade: o savoir faire!
De suas meditações e questionamentos redundaram mudanças importantes no Governo pontifício. A sua palavra autorizada foi ouvida por Chefes da Cristandade.
A formação do ínclito varão católico foi mais intensificada no ambiente temporal, do que propriamente no ambiente religioso, embora jamais descurasse a atenção primacial deste último. Cursou o Seminário depois do período turbulento da puberdade. Passou a infância e parte da adolescência envolvido na sociedade profana, leiga e libe­ral.
Diversa, portanto, a sua visão social daquela vislumbrada pela maioria dos seus colegas de ministério eclesial. Assim foi a vida de Loyola; do Bispo de Hipona e de alguns Papas, dentre eles João XXIII e Paulo II.
Daí, a inclinação de D. Eugênio, desde a Ordenação em buscar responsabilidades junto aos leigos, para juntos atuarem nas comunidades ditas carentes. Tal se depreende do texto bíblico, a atuação de Esdras, o sacerdote e de Neêmias, o leigo; animados ambos, numa ação conjunta pelas terras da Judeia.
Ciente da força da Imprensa, usou o Jornal, o Rádio e depois a Televisão, para ampliar a voz do púlpito.
A prece contemplativa no Altar e a ação do Trabalho formaram o binômio vitorioso da trajetoria do aplaudido Pastor. Jamais foi dobrado pelo cansaço na caminhada por estrada tortuosa, sem admitir recuos ou desfalecimentos.
Lembra esse labor incansável, as palavras incisivas de Henri Bergson:
"O que me impressiona em Jesus, é essa ordem de ir sempre avante. De modo que se poderia dizer que o elemento estável do Cristianismo é a ordem de jamais se deter".
Por todos reconhecida a extraordinária gesta de meio século pela Igreja, pelos trabalhadores, pela sorte dos detentos e reclusos e dos pobres em geral e também guieiro da elite social.
Foi ele um Pastor que teve dignidade no cargo exercido, em consideração e reve­rência aos postulados éticos do Cristianismo.
A propósito disso declarou Guizot:
"A Igreja Católica é a mais vasta escola de respeito, de obediência e de autoridade".
O eminente nordestino foi uma das autoridades mais acatadas da nação brasileira.
Não irei mais me alongar sobre personalidade tão significativa, mesmo porque dela falar seria um nunca acabar...
Numa palavra, foi ele o grande Príncipe da nossa Igreja!
O Cardeal Eugênio de Araújo Sales não é somente uma destacada figura do Rio Grande do Norte e do Brasil; tem ele o seu nome augusto lugar perpétuo na galeria restrita e luminosa dos imortais vultos da Humanidade.