ADERBAL
DE FIGUEIREDO
Jurandyr Navarro
Do Conselho Estadual de Cultura
Nascido em Aquidaban, município do
Estado de Sergipe, formado pela então Faculdade
de Medicina do Rio de Janeiro em 1922. Ainda cursando as últimas disciplinas, foi interno do Hospital de São João Batista, e da Assistência Pública de
Niterói. Depois, da Assistência Pública do
então Distrito Federal e, em seguida, do Hospital
Central da Marinha.
Neste último concurso obteve a primeira colocação dentre inúmeros concorrentes. Posteriormente, foi Monitor do Hospital
da Santa Casa de Misericórdia.
Já diplomado, foi exercer
o seu primeiro cargo na condição de médico, como Inspetor Sanitário Rural do Saneamento e Profilaxia Rural de
Sergipe, vindo, então, para o Rio Grande do Norte onde se
fixou no município de Caicó.
Na
antiga Vila do Príncipe, instalou, com sucesso, o Posto de Profilaxia Rural e saneamento. Desse seu trabalho resultou uma
medida de higiene pioneira naquela cidade: conscientizou aquela então atrasada
comunidade a instalar o sistema de fossas sanitárias.
Entretanto, o maior feito do grande médico beneficente, foi a construção do
Hospital de Caicó, a primeira unidade
desse tipo na região do Seridó e talvez em todo hiterland do Rio
Grande do Norte. Esta Casa de Saúde foi
inaugurada com a presença do Presidente da República, Washington Luiz, quando visitou o nosso
Estado, no Governo José Augusto.
Transferiu-se, Aderbal de Figueiredo para Natal, onde fixou residência, casando-se com a prendada senhorita Dulce Meira e Sá, filha do
Desembargador Francisco Meira e Sá.
Na Capital potiguar trabalhou como profissional no então Departamento de Saúde Pública e foi
Diretor do Gabinete Médico Legal. Nesse mesmo calendário, assumiria função no Hospital Juvino Barreto,
então sob a direção criteriosa
de Januário Cicco, sendo dirigente da Clínica de Urologia.
A fim de aperfeiçoar os
seus conhecimentos e a técnica
operatória, viajou para a Capital
Francesa onde cursou ginecologia cirúrgica com
o famoso professor Jean Louis Faure. Na própria Paris especializou-se, também, em cirurgia geral, sob a direção magisterial do médico renomado, em toda Europa, professor Gosset; sendo discípulo, também, dos doutores Maurice Chevassu e Marion,
enaltecidos mestres da medicina da época.
Retornando a Natal, seria o novo Chefe da Clínica Cirúrgica do seu melhor
Hospital, o
"Miguel Couto".
Em plena atividade profissional, adoecera do coração, cedendo o lugar ao então jovem médico Onofre Lopes, seu
Assistente.
Falecia pouco tempo depois. Era o ano de 1944.
Aderbal de Figueiredo não tinha
somente como atividade exclusiva a profissão de médico. Dotado de espírito social, frequentava os círculos mais importantes da sociedade natalense, participando de
clubes e entidades culturais.
Vivendo em plena ditadura Vargas e advogando a liberdade de pensar
livremente, jamais deixou de externar a sua repulsa aos atos
atentatórios à boa política. Por tal atitude corajosa, teve
de enfrentar prisão no
Quartel do 29º B.C., durante cerca de
um mês, por se manifestar
adesista à Revolução Constitucionalista de São Paulo, em 1932. Politicamente pertenceu às fileiras do Partido Popular, legenda sob a chefia, na época, de José Augusto, vencedora do pleito em 1935.
Possuía Aderbal de
Figueiredo, conforme escritos da sua viúva d.
Dulce, de Luís da Câmara Cascudo, de Onofre Lopes e Clóvis Travassos Sarinho possuía Aderbal, do que pude deduzir da sua personalidade, uma auréola de simpatia contagiante. As arengas existentes entre colegas
natural em todas profissões, nele teve o conciliador. Na sociedade
natalense, todas as classes, por seus representantes mais autênticos, o admiravam, não somente pela competência na área médica,
mas, sobretudo, pela lhaneza de trato.
Dele, disse Câmara Cascudo, seu amigo confidente:
“Aderbal conhecia História, arqueologia, numismática, como um técnico. Ultimamente
estava lendo Folclore. Lia em vários idiomas
que aprendera. Era original em dizer,
opinar, propor. Autodidata, estudava sempre, com uma sorridente curiosidade
pela cultura humanística. Podia
falar, como um mestre, sobre os assuntos mais distantes, prataria francesa,
Dantzig, história do Corredor polonês, cirurgia, processos novos de narcose, a Clínica dos irmãos Mayo,
corantes, vitaminas, moléstias
profissionais, no mes de cientistas longínquos, suas
figuras, ações, originalidades dos métodos, modificações”.
A palavra de d. Dulce Meira e Sá de Figueiredo:
"Aderbal deve ter sido o
primeiro médico que em Natal fez os primeiros
embalsamamentos. Pacientes, os franceses Barrier, em 5 de setembro de 1935 e
Lievre Pierre, em 27 de maio de 1936. Também foi o primeiro a fazer uma operação cesariana em Natal, tendo a nascida tomado o nome de Cesarina".
Travassos Sarinho e Januário Cicco também depuseram em relação a tão nobilitante figura humana. Disse este, no seu
sepultamento: "Em Caicó,
vencendo muralhas de sacrifício com
a caridade do seu coração e com a força do seu espírito, fundou o seu Hospital, hoje é uma instalação de grande proveito, de grandes alcances e de piedade humanas. E aquele:
"- Não sendo, embora, filho do Rio G. do Norte, pelo que fez
na terra potiguar, o seu nome não poderia ficar esquecido quando se
pretende pôr em destaque a ação dos mais
ilustres médicos do Estado".
Sobre o sítio do
Tirol, d. Dulce atendeu o desejo do marido,
doando-o a Ordem das Freiras Salesianas, onde hoje funciona o Colégio Nossa Senhora Auxiliadora.
Grande benemérito foi
Aderbal de Figueiredo! A sua lembrança ficará perpetuada na classe médica que serviu com amor e dedicação humanitárias; e, também,
perpetuada ficará a caridade da sua alma sensível
devotada aos menos afortunados.