RETALHOS DE HISTÓRIA DA VELHA RIBEIRA
Briga em um cabaré da Ribeira
Elísio Augusto de Medeiros e Silva
Empresário,
escritor e membro da AEILIJ
elisio@mercomix.com.br
Não
sabemos ao certo como começou aquela confusão. Num minuto, estava formado o
maior quebra-pau dentro do cabaré.
Os
dois antagonistas engalfinhavam-se, trocando socos e rolando pelo chão. De
repente um dos rapazes levou um pontapé na barriga – levantou-se e saiu
distribuindo socos a torto e a direito... pegasse em quem fosse. Aí a coisa
complicou.
As
prostitutas gritavam apavoradas, corriam e se refugiavam debaixo das mesas do
salão. Os três garçons largaram as bandejas e se esconderam atrás do balcão do
bar.
A
luz vermelha do salão foi apagada e luzes normais acesas. No entanto, a essa
altura, a confusão já estava formada. Um homem puxou um punhal, mas foi
desarmado pelos seguranças da casa. Garrafas, copos e cadeiras eram
arremessados de todos os lados.
O
chão logo se encheu de perigosos estilhaços de vidro. Os dois rapazes que deram
origem a confusão engalfinhavam-se, rolavam e trocavam socos no chão.
Correrias,
gritos pavorosos e urros chegam até a Rua 15 de Novembro. Os guardas-noturnos
das ruas próximas apitavam sem parar.
As
mulheres gritavam apavoradas. Logo a rua estava cheia de curiosos que queriam
ver o que acontecia lá dentro do cabaré.
As
inquilinas da casa corriam desesperadas de um lado para outro. Algumas seminuas
não sabiam o que fazer diante de tamanha confusão.
Os
dois “leões de chácara” do cabaré não tinham o que fazer – era gente demais
envolvida na briga. Ninguém sabia ao certo como tinha começado aquele bafafá. A
briga já durava mais de dez minutos. O prejuízo era enorme.
Quando
finalmente a polícia chegou, o salão estava todo quebrado – mesas, cadeiras em
pandarecos – até a radiola de fichas não fora poupada. Havia gente de cabeça
quebrada, dente fraturado, equimoses pelo corpo...
O
grupo de rapazes a quem atribuíram a origem da confusão tinha se “escafedido”
do local.
Naquela
noite o cabaré fechou bem cedo. Um dos seguranças da casa, um negro de quase
dois metros, tinha um olho roxo e um corte no lábio inferior.
-
Iam lhe arrancando um olho, disse um dos garçons ao vê-lo. Será que não ofendeu
a vista?
Na
porta dos fundos, um cidadão gritava, dizendo que tinha perdido cinco mil réis durante
a confusão. Quem vai me pagar? Quem vai me pagar? Perguntava preocupado.
Alguns
dos envolvidos na briga foram detidos e levados até a delegacia de plantão, que,
por sinal, não era muito distante do local. Funcionava ali mesmo, no bairro da
Ribeira.
Na
delegacia um dos detidos, metido à valente, contava “goga”, a respeito de sua
atuação na briga. Ao ser interrogado pelo delegado de plantão, respondeu às
perguntas que lhe foram feitas com ar de deboche. Pelo visto, queria dar uma de
arrochado. O delegado não contou conversa e mandou meter o insolente no
xilindró.
-
Você que é disposto chegou na hora certa. Disse, enquanto o soldado conduzia-lhe
até uma das celas.
Depois
de colocado atrás das grades, o soldado informou-lhe: “Você vai fazer a faxina”.
E lá foi o “brabo” de vassoura e balde fazer a faxina completa do local. Os
outros presos e soldados olhavam a cena – alguns até riam disfarçadamente.