21/10/2017

A NOITE DE HUMBERTO HERMENEGILDO



Foi uma noite atípica - problema na energia elétrica deixou a Academia parcialmente às escuras. Contudo, a invocação do lema AD LUCEM VERSUS efetivamente trouxe a luz interior para os numerosos parentes, amigos e intelectuais, que apreciaram duas alocuções de alto estilo - a saudação do Acadêmico VICENTE SEREJO e o discurso de posse do novo imortal.


Abertura dos trabalhos pelo Presidente Diogenes da Cunha Lima, com a presença da Secretária Leide Câmara e o empossando
 Alguns dos Acadêmicos presentes

 Recebendo as vestes talares
 Foto parcial da plateia
 Discurso de saudação do Acadêmico Vicente Serejo
 Momento do juramento e recebimento do diploma
Discurso do novo Acadêmico, efusivamente aplaudido.

Momento emocional - o abraço da mãe do novo imortal.

20/10/2017

H O J E



A VERNISSAGE dos quadros de NEWTON NAVARRO, gentilmente cedida pelo escritório HOLANDA ADVOGADOS transformou-se num evento concorrido e bastante apreciado.


 Abertura pelo Presidente do IHGRN, com brilhante apresentação do artista Newton Navarro pelo Acadêmico Iaperi Araújo e a presença do Deputado Estadual Ermano Morais
 Mesa Diretora dos Trabalhos
 Acadêmicos da ANRL Lívio Oliveira e Carlos Gomes
 Vista parcial da plateia, notando-se a presença dos membros do escritório HOLANDA ADVOGADOS.

 Em destaque na foto: Carlos Gomes, Jurandyr Navarro, Gustavo Sobral e Guga


Visitação ao acervo


No Largo Vicente de Lemos: Armando, Joventina e Cícero Macedo
 Presença do jornalista Nelson Freire. Registre-se, mesmo fora da foto, a presença do consagrado artista plástico Ery Medeiros, que na mesma data estava promovendo a Exposição "Sonho da Nação", patrocinado pelo Grupo Neoenergia.
 Três pesquisadores de peso: João Feliz, Ormuz Simonetti e Gustavo Sobral
 Abrilhantando a festa: Nelson Freire, Cícero Macedo, Armando Holanda, Ormuz Simonetti, Geisa Simonetti e Joventina Simões
Carlos Gomes e o marco de Touros
Therezinha Rosso entre duas relíquias do IHGRN
 (a primeira pia batismal de Natal e o marco de Touros).

19/10/2017

H O J E



Casa Mariana



texto Gustavo Sobral e ilustração Arthur Seabra

Casa da poeta Elizabeth Bishop em Ouro Preto

Quando a chuva goteja descendo pelas águas da casa, o horizonte já é cinza. Aquela névoa forma uma cortina flutuante que encobre o tudo mais adiante. Quando a chuva goteja já se preparou o tempo que faz de Ouro Preto uma cidade suspensa nas nuvens. Tudo o que é sólido flutua no ar. Uma terra montanhosa, em poesia de aclives e declives, que a cada subida e descida revela uma paisagem no silêncio. Serras, montanhas, vales, tudo pontuado pelo casario.

A casa é uma casa de poeta, feita do singelo, do menor, com esmero, com cuidado e cercada pela simplicidade. Para a poesia, a residência é o encanto. Enquanto a bruma enevoa o tempo, o passado evoca a história dessa casa. Elizabeth Bishop, poeta norte-americana, vem viver no Brasil e compra uma casinha em Minas, Ouro Preto. 1965, ano da compra. E mais três anos de transformação de ruínas em casa. A amiga Marianne Moore, que insistia para a empreitada, foi homenageada, e ficou a Casa Mariana. Casa antiga, colonial do século XVIII, imprecisa data, quinhentos e treze metros quadrados.

 Construída sobre um rochedo, desce em terraços, jardins, pomar, e cai num muro de pedra. Sua cerca é um rio que corre lá embaixo desenhando o terreno. O telhado, a poeta anotou que tinha a forma de uma lagosta emborcada. Assoalho de madeira, poucos móveis e antigos, todos úteis, poltronas para ler e escrever, uma cama confortável para amanhecer no pequeno quarto. Café da manhã e vista para o tempo pela janela de vidro; vaso com flores sobre a mesa, lareira de ferro trazida dos EUA para aquecer a sala.

Um abajur aqui, outro acolá, para brilhar à noite. Armário para livros. Chaleira na cozinha para água do café e experimentos de receitas. Gatos pela sala. Ali, quando a vida passava no sossego, nasciam poemas. E assim se escreveu na casa a fase de Ouro Preto na vida de uma poeta americana que, se viveu uma vida atribulada nos seus descaminhos, resolveu na poesia os retratos da vida.

18/10/2017


Eventos Assessoria <eventusbr@yahoo.com.br>

O PATROCINADOR PRIVADO, PARCEIRO NO UNIVERSO CULTURAL
O investimento privado em cultura, feito via leis de incentivo fiscal, é um caminho de excelência adotado como iniciativa para o fomento às atividades culturais, contemplando o setor cultural e a sociedade civíl (gestores, produtores, organizações, coletivos). Neste sentido,  ainda se mostra ideal para ampliarmos as possibilidades de investimento privado em cultura e para repensarmos o principal modelo vigente, dado que há um leque de alternativas muitas vezes desconhecidas ou subaproveitadas, que cada vez mais aumentam com a inovação e experimentação de novas parcerias e modelos de mobilização/aplicação  de recursos e execução de projetos.

Nesse sentido, além de buscamos ampliar o conceito de cultura,  diversidades culturais e multiculturalidade, consolidando os novos modelos de investimento privado em cultura, objetivamos ampliar a atuação das empresas e dos profissionais envolvidos nesta área, fomentando o reordenamento de suas ações, buscando realizar o melhor projeto obtendo melhores ganhos, cumprindo propósito de criar novas oportunidades de fomento nas atividades artísticas e culturais, na perspectiva da consolidação dos ciclos artístico-culturais e do fortalecimento dos elos das cadeias criativas e produtivas da cultura, propiciando a circulação e fruição de benefícios decorrentes de ações afirmativas.
Assim, os que trabalham com responsabilidade social em empresas, áreas de marketing, agências de publicidade e comunicação social,  gestores/as e produtores/as culturais independentes ou de empresas, organizações e coletivos que atuam com projetos, programas ou políticas socioculturais ou vinculados à cultura,.e  se dispõem a repensar os modelos de investimento em cultura, inovando na forma de pensar responsabilidade social corporativa, patrocínio e comunicação, reconhecem a importância e as vantagens da aplicação e dedução de recursos através das leis de incentivo à cultura, carecendo, ainda, de aprimoramentos.
                                (Francisco Alves da Costa Sobrinho)                                                                      

DIA MOVIMENTADO




O INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RIO GRANDE DO NORTE vem mantendo suas atividades regulares bastante concorridas.
Ontem, dia 17, recebemos várias visitas ilustres, todas interessadas em colaborar com a Casa da Memória.

REGISTROS FOTOGRÁFICOS:



 Visitas ilustres do Prefeito de São Miguel Gaudêncio Torquato, do pesquisador Rostand Medeiros, da Professora Betânia Ramalho, nossa Vice-Presidente ao lado dos dirigentes Ormuz Simonetti (Presidente), Edgard Dantas (Conselho Fiscal) e Gustavo Sobral (Diretor da Biblioteca, Arquivo e Museu)

 Verificando as novas estantes deslizantes e o acervo

 Apreciando nosso acervo

 Carlos Gomes, Gustavo Sobral e o estagiário da UFRN Igor de Oliveira
 Gustavo Sobral e Lívio Oliveira, nosso novo Orador
 Foto de Lívio do prédio do IHGRN




REPONDO A VERDADE


Em 13 de outubro de 2017 11:39, Marjorie Madruga <mmumamc@gmail.com> escreveu:
Caro Dr. Valério Mesquita,

Inicio este com meu pedido de desculpas por não haver enviado a documentação na quarta passada,como prometido. Tivemos sérios problemas com a internet e passamos todo o dia sem sinal. 

Seguem em anexo dois ofícios:  (i) Ofício nº 432/2017, PPDA/PGE-RN,subscrito por mim, e endereçado a CEF; e (ii) a resposta da CEF, Ofício nº1079/2017/GIGOV/NA,  informando com toda clareza que " O empenho do valor de R$ 969.255,75 em recursos repasse OGU permanece ativo, não procedendo a informação sobre devolução de recursos mencionada no Ofício nº 432/2017 desta Procuradoria." ( grifos são meus)  

A Audiência que solicitei à Dra. Rachel, Promotora de Justiça de Macaíba, onde tramita Inquérito Civil sobre o Casarão Guarapes, será dia 18.10.2017, às 15 hs, na sede do Ministério Público no município referido. Caso o senhor deseje participar, será muito bem vindo. 

atenciosamente, 

Marjorie Madruga
Procuradora do Estado do RN
Procuradoria do Patrimônio e da Defesa Ambiental

17/10/2017


Instituto Histórico e Geográfico do RN <ihgrn.diretoria@uol.com.br>

Caro Confrade, 

Convidamos todos para a Vernissage da exposição de telas de Newton Navarro, pertencentes ao acervo de "Holanda Advogados", com curadoria de Maria Simões, que ocorrerá na próxima quinta-feira, dia 19/11, às 18 horas, na sala de exposição Dorian Gray Caldas, deste Instituto. Na oportunidade, haverá o lançamento da Revista do IHGRN, número 95, Edição comemorativa aos 150 anos de Manoel Dantas, que será vendida à importância de R$ 30,00
(trinta reais).

Aguardamos o seu comparecimento,

A DIRETORIA


16/10/2017

NO JARDIM DA COLUNA CAPITOLINA – Berilo de Castro


Noite de primavera nublada, 28 de setembro; noite que foi iniciada com uma leve caída de um chuvisco. Talvez, quem sabe, para anunciar o que seria daquele momento de reencontros e de confraternizações.
No Largo Vicente Lemos – Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte (IHGRN), ambiente florido, de beleza singela e aconchegante. Local escolhido para o lançamento do livro – “A Poesia na Canção”— um resgate memorável da música-poesia, deste  articulista.
Reunião festiva e poética. Aos poucos, foram chegando os amigos, os colegas, os leitores e os familiares, criando um ambiente revestido  de alegria e de convivência fraterna. Um encontro para rever grandes e velhos amigos, para abraçá-los e referenciá-los.
A noite foi abrilhantada com música, como não poderia deixar de ser, como uma forma de homenagem toda especial ao livro, que versa sobre belas poesias musicais de uma  terra iluminada e abençoada por grandes poetas, compositores e extraordinários músicos.
A participação musical foi brilhantemente representada pelo maestro Paulo Pedro, tendo como o seu astro maior o instrumentista, um dos maiores flautistas do país: Carlos Zen. O roteiro do repertório foi todo fixado nas belas canções que compõem o texto do livro: Praieira ( Serenata do pescador), Ontem ao luar, Luar do sertão, Gente humilde, Ranchinho de paia, Mulata Rosinha, Modinha, Romaria, Natal querida e muitas outras pérolas musicais.
O encontro foi vibrantemente  contemplado com a presença da homenageada especial — a musa maior do cancioneiro potiguar — , Glorinha Oliveira, com seus 92 anos, que em oportuno momento soltou a sua inigualável e inesquecível voz, criando e lacrimejando  instantes de emoções e mais emoções a todos os presentes. Uma apoteose, um momento ímpar que muito abrilhantou e enalteceu a bela e emocionante noite festiva.
Bela noite de primavera no jardim da Colina Capitolina.
Berilo de Castro – Médico, escritor, membro do IHGRN – berilodecastro@hotmail.com.br

14/10/2017




O FESTIVAL DE CINEMA DE NATAL
CARLOS DE MIRANDA GOMES, escritor do IHGRN







            A feliz iniciativa do confrade e respeitável jornalista VALÉRIO ANDRADE, frutificou e ganhou, ao longo dos anos, uma marca em nosso Estado.
            Sua iniciativa proporcionou a vinda de grandes expressões do cinema brasileiro e tornou o Festival um ponto importante no calendário de eventos da cidade, com repercussão em todas as unidades da Federação brasileira.
            Hoje é considerado o mais antigo Festival de Cinema do Nordeste e o quarto do Brasil, organizado pelo Círculo de arte do Nordeste, pertencente ao Fórum Nacional dos Festivais.
            Mercê da responsabilidade e competência do seu idealizador, o Festival de Cinema de Natal ganhou apoio institucional de inúmeros organismos do País e a adesão de influentes personalidades do mundo cultural, político e empresarial brasileiro.
            Cada ano vem ampliando os seus objetivos, ganhando nova força, tendo criado prêmios e títulos, hoje ansiosamente cobiçado no universo do cinema, em especial o seu maior troféu “Estrela do Mar”, criação artística do imortal Dorian Gray Caldas, de saudosa memória.

            O Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte decidiu apoiar o empreendimento de Cinema e, particularmente, reconheceu o brilhantismo do seu confrade VALÉRIO ANDRADE, detentor da Comenda Cultural Rio Branco, do Governo do Brasil, que orgulha o nosso Rio Grande do Norte.

13/10/2017

JOSÉ LINS DO REGO EM FOCO

Como divulgado, no dia 11 próximo passado, o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte teve a satisfação de recepcionar o Professor ANTENOR LAURENTINO RAMOS, que desenvolveu excelente palestra, com o temário em seguida reproduzido:



Ao evento estiveram presentes os seus familiares, alunos e ex-alunos e amigos, numa confraternização muito agradável, cujos flagrantes foram colhidos na ocasião e vão agora reproduzidos:

O conferencista

 Vista parcial da platéia
 Outro flagrante, vendo-se ao fundo o seu irmão Afonso Laurentino
 Ainda mais um flagrante da palestra.

Nosso aplauso 



O CREDO JURÍDICO POLÍTICO DO JURISTA Clóvis Beviláqua 

“Creio no direito, porque é a organização da vida social, a garantia das atividades individuais. Necessidade da coexistência, fora das suas normas não se compreende a vida em sociedade. In eo vívimus et sumus. 

Creio na liberdade, porque a marcha da civilização, do ponto de vista jurídico-político, se exprime por sucessivas emancipações do indivíduo, das classes, dos povos, da inteligência, o que demonstra ser ela altíssimo ideal a que somos impelidos por uma força imanente nos agrupamentos humanos: a aspiração do melhor que a coletividade obtém estimulando as energias psíquicas do indivíduo. Mas a liberdade há de ser disciplinada pelo Direito para não perturbar a paz social, que por sua vez assegura a expansão da liberdade. 

Creio na moral, porque é a utilidade de cada um e de todos transformada em Justiça e Caridade, expunge a alma das inclinações inferiores, promove a perfeição dos espíritos, a resistência do caráter, a bondade dos corações. 

Creio na justiça, porque é o direito iluminado pela moral protegendo os bons e úteis contra os maus e nocivos, para facilitar o multifário desenvolvimento da vida social. 

Creio na democracia, porque é a criação mais perfeita do Direito Político, em matéria de forma de governo. Permite à Liberdade a dilatação máxima dentro do justo e do honesto, e corresponde ao ideal da sociedade politicamente organizada, como extrair das aspirações mais generalizadas de um povo determinado o sistema de normas que o dirija.

Creio mais nos milagres do patriotismo, porque o patriotismo é forma social do amor e, como tal, é força irresistível e incomensurável: aos fracos dá alento, aos dúbios decisão, aos descrentes fé, aos fortes ilumina, a todos une num feixe indestrutível, quando é preciso agir ou resistir; não pede inspiração ao ódio e não mede sacrifícios para alcançar o bem comum.”

11/10/2017

RENOVAMOS O CONVITE PARA HOJE


ENTREVISTA IMAGINÁRIA

José Saramago, não te resignes




texto Gustavo Sobral e ilustração Arthur Seabra

Um escritor que dizia que, a certa altura, dizer era repetir-se. Dizer sempre o mesmo. Dizia como um gracejo, porque julgava que não tinha mais nada a declarar para além do que estava dito em toda uma obra de tantos livros em que foi dito toda a coisa. Seus romances são ensaios. Ensaios são idéias. Suas histórias são parábolas. E de parábola em parábola se tece a vida.

Português que via Pessoa como um Super-Camões. E costurou a tradição portuguesa de dizer as coisas em literatura compondo a tríade que passou por Camões, ficou em Pessoa e permanece com ele, Saramago. Homem de muitas convicções e narrador de todas as histórias que deveriam ser contadas. Senhor de um amor que passou dos livros e que virou a razão e a dedicatória de todos eles: Pilar. Sua amante, sua companheira, a sua vida. Um homem de convicções de pensamento complexo diante da perplexidade da vida. Um cultuador da língua, porque só a palavra conta.

Décima quinta entrevista da série entrevistas imaginadas, quando se falará de e com poetas e escritores, pelo que já disseram em seus versos e prosa, por isso, imaginadas, mas nunca imaginárias, porque o fundo da verdade é o que já disse e está estampado no que já disseram. O entrevistado da vez, como se disse, é o escritor José Saramago. Entrevistamos através de um passeio pela sua obra, romances, crônicas, nos cadernos.

Entrevistador: O que dizemos?
José Saramago: Dizemos aos confusos, Conhece-te a ti mesmo, como se conhecer a si mesmo não fosse a quinta e mais difícil das aritméticas humanas.

E: E o que dizemos mais?
JS: Querer é poder, como se as realizações bestiais do mundo não se divertissem a inverter todos os dias a posição relativa dos verbos.

E: O que resta dizer aos indecisos?
JS: Começar pelo princípio, como se esse princípio fosse a ponta sempre visível de um fio mal enrolado que bastasse puxar e ir puxando até chegarmos à outra ponta.

E: As entrevistas valem a pena?
JS: O que para outros ainda lhes poderá parecer novidade, tornou-se para mim, com o decorrer do tempo, em caldo requentado. Ou pior, amarga-me a boca a certeza de que quantas coisas sensatas que tenha dito durante a vida não terão, no fim das contas, nenhuma importância. E porque haveria de tê-la? Que significado terá o zumbido das abelhas no interior da colméia?

E: De O Livro dos Itinierários, que lição tirou?
JS: Sempre chegamos ao sítio aonde nos esperam.

E: Uma verdade, Saramago?
JS: É bem verdade que nem a juventude sabe o que pode, nem a velhice pode o que sabe.

E: O silêncio, o que é o silêncio?
JS: A fascinação de quem escreve.

E: Saber ler, o que é?
JS: saber ler (descobri-o mais tarde) equivalia a abrir portas para o espírito, mas também em certos casos, a fechar algumas portas dele.

E: A lição do polícia amador de Edgar Poe?
JS: Boa razão tinha aquele polícia amador do Edgar Poe, que dizia não haver melhor modo de esconder uma coisa que tê-la sempre à vista.

E: Qual o tempo do que dura?
JS: O esquecimento de tudo no fundo da garrafa, como um diamante, a embriaguez vitoriosa enquanto dura.

E: Qual o maior dos mitos, ou qual o verdadeiro mito?
JS: O mito do paraíso perdido é o da infância – não há outro. O mais são realidades a conquistar, sonhadas no presente, guardadas no futuro inalcançável.

E: O que é escrever para Saramago?
JS: Escrever é traduzir. Sempre o será. Mesmo quando estivermos a utilizar a própria língua.

E: Algo mais do Livro dos Conselhos?

JS: Enquanto não alcançares a verdade, não poderás corrigi-la. Porém, se a não corrigires, não a alcançaras. Entretanto não te resignes.

10/10/2017


 
   
Marcelo Alves

 


O precursor


Interagir o direito com a literatura, interdisciplinarmente, faz parte de uma tendência cada vez mais popular no mundo acadêmico contemporâneo. Como já dito aqui, nos Estados Unidos da América, no Reino Unido e na França (e, com uma velocidade menor, no Brasil), desde pelo menos a década de 1980, os estudos de “law and literature” (direito e literatura) vêm ganhando, paulatinamente, cada vez mais destaque na teia dos “movimentos” interdisciplinares, com a publicação de livros e artigos voltados à temática e mesmo com sua inclusão nos currículos dos cursos de direito. 

Essa “onda”, entretanto, teve um precursor, sobretudo no que toca ao estudo do “direito na literatura” (“law in literature”, “le droit dans la littérature”, “el derecho en la literatura”), ao qual se deve fazer justiça: John Henry Wigmore (1863-1943). 

Wigmore foi um jurista americano nascido em São Francisco, na ensolarada Califórnia, mas que estudou direito na Harvard University, em Massachusetts. Graduado em 1887, de início exerceu a advocacia na cidade de Boston, nesse mesmo estado americano. Ligado profissionalmente ao Japão, como consultor estrangeiro, foi professor, durante alguns anos, mais precisamente de 1889 a 1892, na Universidade Keio, em Tóquio, chegando a publicar considerável material sobre o direito e a história do direito japoneses. Em 1893, Wigmore voltou aos Estados Unidos da América, desta feita vinculado à Northwestern University, no estado americano de Illinois. Ali quedou-se por muitos anos, sendo o deão/diretor da Northwestern University School of Law de 1901 a 1929. Faleceu já velhinho, aos 80 anos, em 1943, em Chicago, Illinois. 

É desse período na Northwestern University School of Law, especificamente de 1904 (muito embora revisado e reeditado pelo menos duas vezes durante a vida do autor, em 1915 e 1940), o seu trabalho jurídico mais famoso e relevante, o gigantesco “Treatise on the Anglo-American System of Evidence in Trials at Common Law”, popularmente conhecido como “Wigmore on Evidence”, cuja influência no direito americano sobre a temática das “provas” ainda hoje se faz sentir. Nessa questão, tão importante para o direito, mas hoje tão vilipendiada entre nós, no Brasil, Wigmore ainda é o “bambambã”. 

John Henry Wigmore, todavia, foi muito mais do que simplesmente o deão/diretor de uma das mais prestigiosas faculdades de direito dos Estados Unidos da América e o autor de um badalado tratado sobre provas. 

No livro “Imaginar la ley: El derecho en la literatura” (título original em francês: “Imaginer la loi: Le droit dans la Littérature”, organizado por Antoine Garapon y Denis Salas, e publicado pela Editorial Jusbaires na Argentina, com o apoio do Poder Judicial de la Ciudad de Buenos Aires/Consejo de la Magistratura, em 2015), Anne Simonin, historiadora e investigadora no Centre National de la Recherche Scientifique – CNRS francês, no artigo “Make the Unorthodox Orthodox: John Henry Wigmore y el nacimiento del interés del derecho por la literatura”, relata que Wigmore foi, entre outras muitas coisas: (i) “uma das personalidade mais influentes, junto com Roscoe Pound (Harvard University), no que concerne à reforma dos estudos de direito nos Estados Unidos, no começo do século XX”; (ii) um dos fundadores da Harvard Law Review, enquanto estudante de direito nessa universidade, em 1886; (iii) um dos fundadores da Illinois Law Review, em 1906-1907, enquanto professor e deão da Northwestern University School of Law; (iv); “o fundador – e o primeiro presidente – do Instituto Americano de Direito Penal e Criminologia, assim como do Jornal de Direito Criminal e Criminologia (1910), a primeira publicação exclusivamente consagrada às questões criminais no mundo anglo-saxão”; (v) autor de copiosa obra original, com para lá 40 volumes, e editor de outro tanto de obras de autores americanos e estrangeiros. 

E o mais importante para nós, amantes da mistura do direito com a literatura: John Henry Wigmore é o autor de uma lista de “romances jurídicos” na qual está, como anota a mesma Anne Simonin, “a origem de um dos grandes ramos institucionais do movimento 'Derecho y Literatura' (Law in Literature, el derecho en la literatura)”. Isso foi – e refiro-me aqui à primeira das listas de Wigmore, denominada “A List of Legal Novels” – em 1900, curiosamente numa época em que se iniciava o fenômeno aparentemente contraditório da especialização do direito nos Estados Unidos da América. Outras listas de “Legal Novels” se sucederam, revisadas ou atualizadas, publicadas até pelo menos 1922. 

Segundo explica Richard Weisberg, professor de direito constitucional na Cardozo School of Law, no artigo “Derecho y Literatura em los Estados Unidos y en Francia. Una primeira aproximación” (que também se acha no livro “Imaginar la ley: El derecho en la literatura”), ao elaborar a tal lista “Wigmore desejava que os juízes e os advogados incluíssem as obras de ficção em suas leituras cotidianas. Elaborando uma lista de romances a serem lidos, embora predominantemente vitoriana em suas escolhas, Wigmore insistiu na unidade das duas culturas, até então claramente separadas: o direito e a literatura”. 

Wigmore tinha razão!

E sobre isso, especialmente sobre a famosa “List of Legal Novels”, conversaremos qualquer dia desses. Não vai demorar.


Marcelo Alves Dias de Souza
Procurador Regional da República
Doutor em Direito (PhD in Law) pelo King’s College London – KCL
Mestre em Direito pela PUC/SP