04/08/2017



  
INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RIO GRANDE DO NORTE

– A MAIS ANTIGA INSTITUIÇÃO CULTURAL DO ESTADO –
Rua da Conceição, 622 / 623, Centro – CEP: 59025-270 – Natal/RN - Brasil
CNPJ.: 08.274.078.0001-06  -  Fone: (84) 3232-9728
E-mail: ihgrn1902@gmail.com

Natal (RN), 31 de julho de 2017.

Caro confrade,

Levamos para o seu conhecimento, o relatório das atividades realizadas no decorrer do primeiro semestre do corrente ano de 2017.
1-                Conclusão da mudança dos livros do acervo para as estantes deslizantes;
2-                Ordenação e arrumação das salas da sede com a distribuição do acervo museológico e galeria;
3-                Criação de um guia de visitação a ser ofertado aos visitantes: história do IHGRN, informações sobre o acervo e objetos em exposição;
4-                Reformulação e criação de canais de comunicação como email “imprensa” e instituição de uma linguagem de comunicação, informação e divulgação nas mídias sociais facebook e instagram;
5-                Organização de equipe para limpeza, catalogação e arrumação do acervo fotográfico com possível digitalização do mesmo;
6-                Elaboração de política para o acervo e formação de equipe de bibliotecários para o trabalho de limpeza, arrumação e catalogação do acervo documental e bibliográfico;
7-                Criação de uma galeria para exposições temporárias com estrutura para exposição de telas e fotografias;
E, por fim, informar que reforçamos a nossa atuação nas redes sociais, inclusive criamos uma conta do aplicativo “Instagram” e reformulamos a nossa linha editorial no Facebook.
Se possível acessem as nossas páginas, participem e divulguem.
Aguardamos a sua visita


A DIRETORIA

VILMA



VILMA MARIA DE FARIA

Valério Mesquita*

Nela votei na eleição para o senado e votaria de novo. Foi o meu primeiro voto. Sempre fomos amigos. Ela nunca confundiu amizade com ocasionais divergências políticas. Foi civilizada, republicana e democrática. Quebrou tabus, rasgou preconceitos e exprimiu com limpidez o sentimento de coragem da mulher potiguar, de raízes populares, sem arrogância.
Vim conhecê-la, quando era estudante do Colégio Marista,  através de sua avó paterna Paulina Mariz de Faria, lá na rua Apodi. Era a Natal dos idos cinquenta. D. Paulina foi amiga de minha avó materna Sofia Curcio de Andrade. E, por extensão, de Morton (seu pai), Gastão (tio) e demais parentes. Vilma foi herdeira política da saga dos Mariz e Faria. Procurou, lutou e achou sua predestinação política com identidade própria, única e indivisível. Nada obteve com facilidade, sendo mulher. Exerceu três mandatos de prefeita de Natal, duas vezes governadora do Rio Grande do Norte e de permeio se elegeu deputada federal constituinte.
As razões persuasórias de suas mensagens ao povo amanheciam nas praças, com conteúdo e credibilidade, pois eram vestidas da feminina claridade da surpresa da mulher potiguar, pela primeira vez em Natal e no Rio Grande do Norte, no comando da gestão pública. Não era reflexo de nenhum outro ser político. Ela tinha cores que vinham de dentro de si mesma. Vilma me pareceu que ainda jovem, sonhou o destino que ia ver. Conseguiu atravessar o horto de seus padecimentos no enfrentamento dos caciques da época com determinação e sempre submissa a vontade popular. Exemplos do que afirmo me conduzem a memórias dos reveses eleitorais que sofreu, sem se sentir exausta de ser ou mesma vencida. Sempre exibia o riso permanente no rosto, até a última vez que a vi não esqueceu o “V” dos dois dedos da mão quando elegeu vereadora em Natal. Não conheço na vida pública ninguém com esse perfil, tão instigante, perseverante, sem esmorecer nem tergiversar.
Relembrá-la, como mulher espartana, no mundo áspero e desumano da política, acosto-me, sem restrição, ao sábio preceito de que “não são os cargos que dignificam as pessoas, mas as pessoas que dignificam os cargos”. Num evento da Câmara Municipal de Natal, já doente, cumprimentou-me com a cordialidade de sempre como se representasse, no dizer de Câmara Cascudo, “uma saudade em vida agarrada ao sonho de continuar a viver”. Não há cena mais dramática na passagem do ser humano pela vida do que a do senso trágico da sua própria brevidade. Tive a convicção, naquela hora, que carregava consigo a certeza que havia construído a sua história, revivendo e reinventando as recordações e as ilusões que viajaram com ela.
Em favor do Rio Grande do Norte, realizou o que foi possível. É cedo emitir um julgamento completo do que conseguiu construir. Nem sempre a capacidade de gerir define o sucesso administrativo de qualquer governo. As suas reeleições tanto para o prefeito de Natal como para o governo do estado, revelam a sua afinidade eletiva com o trato da coisa pública, pela vontade do povo. Permanentemente conduziu consigo entre erros e virtudes, como qualquer ser humano, a sua boa fé, calcada na herança política recebida desde as lutas inaugurais de sua vida, com “duas mãos e o sentimento do mundo”, como dizia o poeta. Teve em mente, como uma liturgia, que o tempo é a dimensão da mudança. Vilma aprendeu a ouvir os gemidos do povo num longo e tenaz exercício, sem rascunho, conforme era exigida pela voz das urnas. Foi a luta com garra, abraçou a vida com paixão e na política venceu com ousadia e até atrevimento. Daí o cognome de “guerreira”.
Onde estiver, que ela não fique triste se ninguém quiser notar o que fez de bom.

(*) Escritor

03/08/2017

POSSE




 INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RIO GRANDE DO NORTE
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EXPOSIÇÃO DE MOTIVOS

Natal,  02 de  agosto de 2017


Caro Confrade,

Tem este a finalidade de informar que este Instituto contou com o patrocínio da COSERN – Grupo Neoenergia, com o apoio da Lei Câmara Cascudo – Fundação José Augusto, possibilitando a publicação regular de 04 (quatro) edições anuais da Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte. No mês de janeiro deste exercício solicitamos a continuidade do patrocínio, fazendo encaminhar o respectivo  projeto ao Edital COSERN/2017, devidamente aprovado pela Lei Câmara Cascudo.
Entretanto, somente agora a COSERN divulgou o resultado do Edital       com a  informação relativa aos projetos aprovados do qual não fizemos parte, o que infelizmente nos impede de realizar a regular publicação da consagrada Revista da Casa da Memória do Rio Grande do Norte.
Desnecessário acrescentar que a nossa revista é uma fonte inesgotável de divulgação deste Instituto, não devendo, por isso, sofrer solução de continuidade. Em razão disso, a Diretoria decidiu editar a Revista contando com a colaboração e contribuição dos ilustres sócios sempre presentes nos momentos mais difíceis de sua existência.
Sendo assim, rogamos ao estimado confrade uma contribuição financeira no valor mínimo de R$ 200,00 (duzentos reais), ou a maior a critério do contribuinte, para que possamos publicar o primeiro número relativo a este ano. Para esse objetivo solicitamos confirmar a sua colaboração através do Email: ihgrn.diretoria@uol.com.br ou pelos telefones (84) 3232-9728  /  9.8818-2102, para  falar com Ormuz, Joventina ou Gustavo.


Atenciosamente,
a Diretoria


28/07/2017

TÚNEL DO TEMPO

Valério Mesquita*

Negativo. Não é o Big Brother Brasil, horrível e superficial. Nem coisas do Banco do Brasil ou do Banco do Nordeste. Quero me referir ao mais notável trio da política do Rio Grande do Norte, das décadas de cinqüenta a setenta. Do tempo em que não existia marqueteiro, mas feiticeiro. O voto milagroso era do milagreiro. Conquistado mas, também, fabricado, produzido, trabalhado no mapismo, nos porões e no estrabismo do presidente da secção eleitoral. O trio B-B-B era soturno, noturno, taciturno, no segundo turno da apuração dos votos. Nasceram no mesmo ventre: O Partido Social Democrático, o velho PSD de Theodorico e Jessé. O partido majoritário, marca registrada de uma fase de eleições duvidosas mas de políticos verdadeiros.
Antes de revela-los, direi mais: o exercício do voto daquele tempo era superior ao processo da atual eleição norte-americana e, quiçá, ao virtual da urna eletrônica dos nossos dias. O triunvirato era Bessa, Bosco e Besouro. Prenomes simples: José, João e Assis. Três reis magos das boas novas, da brejeira anunciada em prol do sujeito oculto do sufrágio eleitoral. José Bessa, alto e simplório, escondia-se por trás de aparente timidez. Olhos miúdos mas penetrantes como se adivinhasse o dia de amanhã. O Grande Hotel do “majó” Theodorico era o quartel general. Ali, cedeu o cetro e a coroa ao jornalista João Bosco Fernandes, de fisionomia tensa e intensa, como se estivesse saindo permanentemente de noites indormidas. Era gordinho e, em pé, abria os braços costumeiramente para ouvir e envolver o problema do partido. E Assis Besouro, único sobrevivente dessa tríade, olheiro e vidente da política, foi estafeta de Jessé Freire e exorcista de capitulações impossíveis.
O curioso de tudo isso, é que escreveram em jornais. Expuseram suas idéias. Jornal do Comércio (da Ribeira, do PSD), Jornal de Natal, entre outros, foram veículos de seus pensamentos. Eram letrados, instruídos e não meros cabos eleitorais. Profetas das urnas e simuladores de resultados. Um trabalho, uma devoção e uma ação gratulatória. Hoje, bostalizaram a atividade política, da capital ao interior. A qualidade nostradâmica dos três expoentes da prédica eleitoral, da capacidade de orientar o líder maior, vaticinar, prognosticar, predizer sobre a eleição, o eleitor, o município e o chefe político – ela sumiu do mapa do Rio Grande do Norte.  Porque eles agiam mais por convicção do que por conveniência.
Viviam para desarmar presságios e administrar as circunstâncias da política. Para eles a atividade era encarada como um fascínio. Tinham o senso da sobrevivência.  Os três somados possuíam a força da mídia deles propriamente. Quando os antigos costumes políticos sucumbiram e a legislação eleitoral mudou, ficaram, todavia, nas paragens onde atuaram, em etapas diversas, passagens esparsas de vidas, que hoje relembro para aqueles que respiram o mesmo ar, pisam o mesmo chão e participam da mesma natureza. Registro a trajetória, rapidamente, da existência de José Bessa, João Bosco e Assis Besouro, como quem fotografa um instante de um universo perdido de sonhos, travessuras e ilusões. Uma canção ligeira em louvor de figuras simples mas sábias (e sabidas) – atualmente - sombras, nada mais. A todos: saudações pessedistas!!
 (*) Escritor.


21/07/2017

NO DIA 21.07.2017


PÁGINA  PARA  MEDITAÇÃO  


As almas quando se amam
Nem a morte as intimida,
Regressam a berço novo
E encontram-se noutra vida.

(Antonio de Castro/Chico Xavier)

Obsessão de quem ama
Ninguém consegue entendê-la,
Parece vaso de lama
Encarcerando uma estrela.

(Auta de Souza/Chico Xavier)

Conservar dedicações?
Todos estamos no mundo...
O poço cede água limpa
A quem não lhe agite o fundo.

(Chiquito de Moraes/Chico Xavier)

***

PAZ!

INÁCIO MAGALHÃES DE SENA




NOTÍCIA QUE SURPREENDEU SEUS AMIGOS - INÁCIO, O NOSSO QUERIDO "BISCO DE TAIPU" FOI HOSPITALIZADO NO HOSPITAL DO CORAÇÃO COM COMPLICAÇÕES CARDÍACAS.
ESTIVEMOS COM INÁCIO NA SEGUNDA FEIRA PASSADA E FIZEMOS ALGUMAS CENAS DE FILMAGEM, COM ASSUNTOS COMPLETAMENTE ALEATÓRIOS. DOIS DIAS DEPOIS ELE SOFREU UM AVC QUANDO ESTAVA NO BANCO SANTANDER. LEVADO ÀS PRESSAS GRAÇAS À ATENÇÃO DOS AMIGOS, PARTICULARMENTE, DE VICENTE SEREJO  E ABIMAEL SILVA, FOI IMEDIATAMENTE INTERNADO E ESTÁ SENDO MEDICADO.
AS ÚLTIMAS NOTÍCIAS NÃO SÃO BOAS - ELE TEM COMPROMETIMENTO RENAL E ESTÁ COM INFECÇÃO URINÁRIA.
TODOS TORCEMOS PELA SUA RECUPERAÇÃO, POIS INÁCIO É UMA FIGURA RARA NA VIDA INTELECTUAL POTIGUAR.
HOMEM SIMPLES, SOLIDÁRIO E DE GRANDE CULTURA.
REZEMOS TODOS PELA SUA RECUPERAÇÃO.
RECENTEMENTE VEM SENDO PROJETADO PELA MÍDIA CINEMATOGRÁFICA E SUAS ENTREVISTAS ESTÃO SENDO DIVULGADAS PELO YOU TUBE.
INÁCIO É SÓCIO HONORÁRIO DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RIO GRANDE DO NORTE, CIDADÃO NATALENSE E FIGURA OBRIGATÓRIA EM TODOS OS ENCONTROS LITERÁRIOS.
FORÇA!!!!!




GRANDE PERDA







21/07/17  PAULO BEZERRA (1933-2017)
É com imenso pesar que o IHGRN comunica o falecimento do sócio, o médico e escritor Paulo Bezerra, uma perda para a cultura do Rio Grande do Norte. Autor das “Cartas do sertão do Seridó”, o doutor Paulo, médico radiologista, fundador do Instituto de Radiologia de Natal, era parte integrante de uma geração de médicos e humanistas. Fazendeiro, proprietário da secular Fazenda Pinturas, da qual muito se orgulhava, guardava um vasto acervo museológico das coisas do seu sertão. Também conhecido por Paulo Balá e Paulo de Balá, como muitas vezes assinava, era um bravo cultuador e promotor das tradições sertanejas do Seridó. Natural de Acari, deixa-nos o exemplo honrado do valor que o homem deve conceder à sua terra e à sua gente. Seu exemplo é perene como as cercas de pedra do seu sertão.
Diretoria do IHGRN



Ass.Gustavo Sobral

20/07/2017



RELEMBRANDO BOB MOTTA

Valério Mesquita*

Morreu Bob Mota, o poeta do povo. Foi autor consagrado que dispensa ladainhas. Publicou mais de quinze cordéis e manteve coluna semanal “Cantinho do Zé Povo” em jornais de Natal e de outros municípios. O irrequieto Roberto Coutinho da Motta foi acolhido no Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte como notável pesquisador das raízes da nossa cultura popular e por tanto brasileira, pela demonstração da exuberância da fala do povo, da sua capacidade de fabular que nasce da mitologia do cotidiano.
Seu livro “Preservando o Matutês” teve uma segunda edição devido ao sucesso alcançado pelo primeiro volume que o tornou mais conhecido e respeitado nos meios culturais e de comunicação. Inclusive, participou das duas últimas edições do FESERP – Festival Sertanejo da Poesia – Prêmio Augusto dos Anjos, em Aparecida, Paraíba, classificando-se com os poemas matutos: “A Queima de Espinho” e “Meu Chapéu de Couro”, em oitavo e sexto lugar, entre 195 e 208 participantes respectivamente. Ganhou o título de cidadão da Câmara Municipal de Boa Vista/PB.
Mais ainda, com honra para o Rio Grande do Norte, ele integrou a equipe do humorista Tom Cavalcante, como redator free lancer, de 1999 a 2000, colaborando com piadas, causos, poemas matutos e paródias de sua autoria.
O segundo volume é enriquecido com mais oito cordéis sobre fatos ocorridos no dia a dia do Brasil e do mundo, como fiel observador do panorama visto de cima da ponte Newton Navarro. Vale dizer, que o autor resgatou com lucidez e seriedade um patrimônio espantosamente rico de nossas raízes prestes a ser esquecido. Os verbetes acrescidos e anotados com riqueza de detalhes, fixam para sempre o autor como um estudiosos inigualável da linguagem popular pura e genuína, como as águas inaugurais dos velhos tempos do nordeste brasileiro. Os olhos do autor, ao longo de sua vida estiveram sempre fixos na direção do relâmpago do sertão do Cariri resistindo, pesquisando e defendendo a poética maneira de ser da gente, confirmando a perene identidade de suas raízes.
Ninguém, mais que o nosso Bob, merece o título de HERÓI DO SERTÃO, não por andar na caatinga feito justiceiro armado, mas por haver recolhido, junto ao povo, um linguajar – o “matutês – resultante de contingências históricas, sociais, econômicas e, principalmente, culturais”.
Bob Motta conduziu a sua obra como fruto de uma pesquisa enriquecida pela verve e bom humor tanto potiguar quanto do Cariri paraibano, tal e qual um ato de amor e de coragem.
Amor às raízes de sua região, o Nordeste, à fala arguta da gente simples do sertão, à riqueza vocabular de homens humildes que muitas vezes, sem saber, utilizam expressões verbais extraídas do português camoniano do século XVI.
Teve a coragem de registrar – quando a atenção do grande público é conduzida para a problemática urbana ou cosmopolita – a presença atuante e preponderante de uma realidade rural que se impunha pela riqueza do imaginoso e poético.
Em todas as suas obras, é constante a imagem do sertão e dos sertanejos, das figuras tradicionais, folclóricas, e acima de tudo, pela exuberância fala do povo, da sua capacidade de fabular.
O poeta viveu de 1958 a 1981, ao lado de seu pai, o saudoso empresário João Francisco da Motta, “Seu Motta”, no sertão do Cariri paraibano. Em 1981, com o seu falecimento, Bob ainda ficou por lá até 1991. Sua sensibilidade, sua capacidade de glosar e “gozar” são alimentadas pela seiva inesgotável de humor nordestino que parece fundamentar-se na aspereza e na ternura da geografia, das plantas, das macambiras, dos xiques-xiques e das amorosas. E pontualmente do verde escuro das serras que se tornam azuis na neblina do amanhecer e se avermelham no incêndio do crepúsculo.
Nesse cenário o autor edificou sua existência e sua literatura. Sempre, em seu ouvido secreto cantará a voz do matuto narrando  “causos” no alpendre, diante da noite imensa, ritmado pela sanfona do forró de pé de serra. Não faltarão as imprecações jocosas durante o jogo de sueca, as sonoras flatulências sertanejas sublinhando as sentenças seculares.
Bob Motta, herói de letras, sílabas, palavras, com talento, deixou um legado, um acervo robusto de linguagem popular, como sua perene identidade com a gente nordestina.

(*) Escritor.

17/07/2017

AMANHÃ - DIA 18



15/07/2017


PERDEMOS O CANTO E O ENCANTO

Valério Mesquita*

Claro que me refiro à campanha política eleitoral nas ruas, nas praças, nos dias e noites, nas estações de rádio e televisão. Se comparada às dos anos sessenta, setenta, e colocadas na vitrine a performance, a beleza plástica, humana, visual e emocional – a de hoje não vai valer sequer 1,99. A oratória fluente, candente e sedutora de ontem que enfeitiçava o povo, dividido nas cores e gestos dos seus líderes, apontava caminhos e ideais que não retornam mais. Enquanto a de agora forma uma grossa cascata de interesses, os líderes daquele tempo sabiam atravessar as noites escuras como se soubessem mais do que o próprio peso, o peso das sombras, a cor do vento e o segredo das estações da política. Aluízio, Dinarte, Georgino, Lamartine, José Augusto, catalisavam e irradiavam energias criadoras, como Djalma Marinho, Dix-Huit Rosado e Cortez Pereira ofertavam cultura e saber humanístico.
Se alguém redarguir que o melhor político é o político morto, respondo que não. Vale, atualmente, aquele que sabe humanizar o horror do mundo. Silenciar a memória de um líder ou o seu tempo é a maior revelação de nossa omissão e covardia. Aluízio Alves, por exemplo, com suas músicas, passeatas, carreatas, sabia decifrar os signos da política. Traçava as marcas do seu talento vasto no mesmo tom de sua ira, modelando aí a sua imagem pessoal, naquele mundo de temperaturas e temperamentos em que viveu – de pressões e tensões, tal e qual um meteoro lírico da natureza humana, impossível de ser reinventado. Já Dinarte Mariz foi fiel à palavra dada e à humanidade tida. Em sua vida viveu as descobertas sucessivas dos homens e das coisas do Rio Grande do Norte. Os dois líderes acharam a palavra que, dita nas ruas, nas estradas e nos campos, envolvia a unidade do gênero humano.
Hoje não. Reina a dispersão. A alma não é vasta e a obra é imperfeita, parafraseando Fernando Pessoa. Teríamos perdido os caminhos e os sonhos? São raríssimos os sobreviventes do carisma, do glamour, do charme, das passadas tradições da arte política potiguar, emocional e lírica. Mas, concordo com a assertiva de que a legislação eleitoral pôs freios e desligou a alta voltagem da vibração popular e os curtos-circuitos da classe política, caídos na vala comum da improvisação, da futilidade e da lei de Gérson. Participei, desde 1960, de muitas lutas políticas sem nunca haver perdido na memória e nos olhos o brilho das multidões em delírio, sem medo de atravessar as ruas. Acabou-se, - pode o leitor averiguar - pois é difícil se achar hoje a íntima e apaixonada identificação entre o eleitor e o candidato. Morreu aquela parceria de relação íntima e confiável que preside a sensibilidade de cada um.
Eu digo isso porque é o que fica e se transfunde na condição humana de optar, escolher e votar no candidato. O político parece haver largado o sotaque do povo e dos seus costumes, que o “feiticeiro” Aluízio sabia fazer com humor e ironia. Embora entenda que o político às vezes é como o fogo (“se renova das cinzas”). Vemos hoje na propaganda novos vultos e ambientes difusos, mas também a sociedade viúva ainda de líderes verdadeiros. As lideranças viraram sublegendas. Parece haverem desaprendido o caminho das pedras e das veredas dos votos. A minha esperança é a de que os agentes partidários da atualidade possam reinventar o fluxo virtual da sua atividade sem a politiquice militante, inspirando-se na autenticidade de espírito dos velhos líderes, com grandeza interior. Porque eles foram dotados de poderes mágicos, a ponto de terem no semblante e nos gestos o sentido e o rumor do humano, da paisagem e do tempo. Sem nostalgia, ouço ainda as canções eternas e chego à conclusão, apesar de tudo, que todos eram felizes e não sabiam. E viva Lulu Santos: “Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia...”.


(*) Escritor

11/07/2017

GUSTAVO SOBRAL

Diário de notícias

06/07/2017

DE VALÉRIO PARA TICIANO




RELEMBRANDO TICIANO DUARTE



Valério Mesquita*




Certos homens adquirem uma visibilidade tão marcante em seu campo de atuação que se tornam imprescindíveis aos seus contemporâneos, na medida em que suas opiniões e convicções passam a determinar modos de ver e de interpretar os acontecimentos da vida social, política e cultural. É que aos olhos deles nada daquilo que importa passa ao largo.

Assim vejo e identifico o meu primo-irmão Ticiano Duarte. Desde a antiga Rua 13 de Maio, depois Princesa Isabel, quando o conheci efetivamente e melhor, lá pelos idos de 1950. De 1954 em diante fui revê-lo na rua Voluntários da Pátria, nº 722, Cidade Alta, telefone 2901. Ele era já expressão do “batepapo” no Grande Ponto, seu fiel ancoradouro, onde se tornara notário público e destemido navegante das ruas e avenidas da política potiguar. Bacharel em Direito da Faculdade de Maceió, tornou-se decano do jornalismo da imprensa potiguar, atividade da qual desfrutou de ilibada notoriedade por sua isenção e imparcialidade nos juízos dos acontecimentos da política. Seu memorialismo ganhava ritmo de crônica e embasamento de historiador. Em seus escritos é possível intuir aquele saber de experiências, traço que distingue o verdadeiro homem de visão de um mero prestidigitador de quimeras.

Foi presença fecunda na imprensa norte-rio-grandense. A colaboração de Ticiano Duarte para a Tribuna do Norte rendeu, numa primeira seleção, o livro “Anotações do meu caderno” (Z Comunicação/Sebo Vermelho, 2000), reunindo os principais fatos políticos dos últimos 70 anos do século passado no Rio Grande do Norte. A precisão das análises, a escolha dos protagonistas,

a evolução dos acontecimentos e o retrospecto dos episódios que marcaram profundamente as vicissitudes da política potiguar encontraram ali o seu cronista mais atento e informado, criterioso e verdadeiro. Nesse livro, objetivamente intitulado “No chão dos perrés e pelabuchos”, avultam as mesmas qualidades que consagraram “Anotações do meu caderno”, com a única diferença de que agora ele se deteve com mais vagar na descrição de perfis e na análise comparativa dos fatos, mesmo separados por décadas. Vultos inesquecíveis da vida pública estadual, como Djalma Maranhão, Georgino Avelino, Café Filho, Aluízio Alves, Odilon Ribeiro Coutinho (“mistura de tabajara e potiguar”), Tales Ramalho (“paraibano por acidente, norte-rio-grandense pelas grandes ligações familiares, e pernambucano por adoção”) são algumas das estrelas de primeira grandeza dessa constelação de escol. Cronista, para quem a política não pode se dissociar da ética, sob pena de naufragar nos desmandos de governantes e correligionários, Ticiano fez o elogio dos políticos exemplares perfilando a figura de Café Filho em toda a sua trajetória. Ao fazer o elogio da lealdade e da coerência, ele retirou do limbo o nome de Walfredo Gurgel, ressaltando que “o seu governo foi um exemplo de seriedade no trato e na gestão da coisa pública. Todo o Rio Grande do Norte sabe desta irrefutável verdade e nem mesmo seus adversários podem omiti-la, por mais que o tenham combatido no campo das diferenças partidárias”.

Em “No chão dos perrés e pelabuchos” Ticiano encontrou silhuetas de políticos esquecidos pela história, mas preservados, por exemplo, numa Acta Diurna de Luís da Câmara Cascudo, como Hermógenes José Barbosa Tinoco, deputado do Partido Liberal que a voragem do tempo soterrou; os entreveros entre pelabuchos e perrés que incendiaram o paiol das agremiações políticas dos anos trinta, que não escaparam à argúcia focada pelo memorialista.

Ele propõe e reforça as teses daqueles que defendem a necessidade de uma urgente reforma política a fim de repor o país nos trilhos da ética e inaugurar uma nova era política de honestidade e honradez. O seu viver espelha na obra que escreveu a lucidez dos seus testemunhos de luta.

(*) Escritor

29/06/2017

VIAGEM FINAL DE UM HOMEM DE BEM



ARQUIVOS

Valério Mesquita*
Mesquita.valerio@gmail.com

Rebuscando papéis, certo dia, fui achar uma carta que remeti ao jornalista e poeta maior Sanderson Negreiros, datada de 21 de novembro de 1971. Eterno capataz dos mistérios circundantes, o poeta utilizava os seus “Quadrantes” para captar o humanismo asmático. Para tanto, tinha profunda e oxigenada “respiração filosófica”. Sou seu leitor e eleitor de suas emoções. Vez por outra, me empolgava com a cosmologia dos seus sentimentos e lhe escrevia. Ai vai uma cartinha de 46 anos que o poeta de “Lances Exatos” recebeu sobre um assunto ainda bem atual:
“Lendo a sua última crônica sobre os fariseus da maledicência, deduzi, com pesar, que a grandeza de alma, nesses dias decadentes, não é contagiosa. Aqui, parafraseando Shakespeare, é o exílio e longe a liberdade.
A hidrofobia deixou de ser um caso veterinário para se tornar um problema psiquiátrico de muita gente. E ninguém mais do que você se acha saciado da expressão claramente perceptível dos homens e das coisas. Por isso, entre agir e ser imbecil nessa terra, é preferível, permanecer na regra três. O bom é ser místico. Místico na arte, na vida e na natureza. Buscar nas profundezas da vida ou nas solenidades da dor, a verdade blindada: crêr no invisível para não se suicidar no palpável. O visível encerra vícios redibitórios. Viver encarcerado na vontade hesitante de ao invés de ser herói da própria vida, ser o espectador do próprio drama.
Resta assumir aquele compromisso com o imponderável de que você sempre falou. Para que as maledicências ou o ódio dos homens não puxem o tapete de alguém, o remédio é não tomar as feições das circunstâncias. Nesses tempos agitados a intenção deve equilibrar-se a coragem. O importante é repetir e repetir sempre que “o amor pode ler o que se acha escrito nas mais remotas estrelas”, no dizer de Wilde.
E por último a dolorosa constatação: Edmar Letreiro aplaudido pelo povo e Baracho cultuado como santo. Daí se conclui que nos desencontros do mundo toda celebridade quando não é célere é celerada”.”.
Qualquer semelhança com alguma autoridade política hoje no Rio Grande do Norte é mera coincidência.

(*) Escritor.

22/06/2017

A ESTRELA DA TARDE, PARA OUVIR E SENTIR



DA SUPERPOPULAÇÃO NASCE O CAOS

Valério Mesquita

O agravamento dos problemas de saúde, segurança e desemprego no mundo e, particularmente, no Brasil, tem a sua raiz na explosão populacional. Não precisa ser cientista social, sociólogo, socialista ou qualquer profissional especializado para chegar às conclusões. Há cinquenta anos as entidades de planejamento familiar no Brasil não foram bem recebidas pela igreja, partidos políticos, governos estaduais e sociedade civil. Velhos tabus se interpuseram e malograram os propósitos da diminuição da natalidade que poderia ter atenuado hoje o crescimento geométrico da população e da demanda de saúde, de alimento, de emprego, de violência e tantas outras mazelas. O homem continua predador do globo terrestre e da sua própria vida quando, a cada dia, gera competitividade a si mesmo.
Observem o continente africano, com uma gama imensa de pobreza e de carências de todo o tipo. Ali a raça humana se acha em processo de extermínio mesmo, pela fome e pela doença. E os países ainda promovem guerras brutais numa verdadeira e escandalosa carnificina. E qual o divertimento dessa superpopulação oprimida e atrasada: o sexo, a procriação, que substituem ilusoriamente a falta de sustento, de assistência, de remédio, todos subjugados ao talante político de golpistas e demagogos corruptos. Mas, as nações do Novo Mundo, de idiomas espanhol e português, enfrentam as mesmas sobrecargas, migrando para a Europa que já fechou, por sua vez, as porteiras alfandegárias e diplomáticas. Para africanos e asiáticos, idem. As razões defensórias são as mesmas: os estrangeiros solapam e rivalizam o acesso à saúde, ao emprego e ao alimento com os nacionais, além de promoverem tumultos pela conquista de direitos sociais iguais.
O Brasil já supera os duzentos milhões de habitantes. É uma população que já ultrapassa a grandeza da sua dimensão territorial. Isso, por conta dos bolsões de pobreza, de desemprego, criminalidade e saúde pública (federal e estadual) sucateadas. Outro ponto concorrente reside na migração do homem do campo para as áreas metropolitanas. Aí se instala a desordem social, onde tudo que é excesso se transforma em coisa demasiadamente ruim. Quer um exemplo: a quantidade de veículos motorizados, o número crescente de assaltos, rios poluídos, água potável contaminada, escassez de moradias, e por aí vai. Tudo por quê? Porque existe gente demais. O país ignorante e analfabeto não elegeu uma política educacional de controle da natalidade para um desenvolvimento sustentável.
E daí? Tome improvisação e choque de gestão! Medidas oficiais somente paliativas e projetos megalomaníacos. O brasileiro espera sempre pelo milagre da terra, sem prepará-la, contudo, adequadamente, para produzir alimentos. No Rio Grande do Norte, quem está no campo produzindo? Quem deseja mais manter propriedade rural para ser tomada por bandos organizados e oficializados? A economia mundial sofre a pior crise da sua história, face à concentração de riquezas dos que aplicam dinheiro no arriscado mercado de capitais, em detrimento de bilhões de indivíduos marginalizados. Com efeito, levam os governos ao “salvamento” de bancos e empresas gigantescas, tirando das populações empobrecidas o direito ao pão, à saúde e ao teto. O “crescei e multiplicai-vos” foi levado muito ao pé da letra. Como diria um padre amigo meu, “isso aí é uma alegoria...”. Sou a favor da vida, mas é preciso ensinar o povo que botar gente no mundo sem condições de criar, hoje, é burrice e dor.


(*) Escritor.