09/05/2015



Discurso de posse na Academia Cearamirinense de Letras e Artes Pedro Simões neto, proferido no dia 05 de maio de 2015, na Estação Cultural “Prefeito Roberto pereira Varella”, em Ceará-Mirim/RN, por GERINALDO MOURA DA SILVA, ocupante da cadeira 21, que tem como patrona a poetisa Ana Augusta da Fonseca Cabral (Anete Varela).


Senhora Presidenta Joventina Simões, na pessoa de quem saúdo toda a mesa e os demais acadêmicos;

Senhor Renato Martins, amigo e presidente da Câmara Municipal, na pessoa de quem saúdo as demais autoridades presentes;

Minha esposa Ana Vilma e minha filha Anne Myldred; Minhas senhoras e meus senhores.

Agradeço primeiramente a Deus, e também aos agora meus confrades da Academia Cearamirinense de letras e Artes Pedro Simões Neto, pela escolha de meu nome para ocupar uma de suas cadeiras e com esse ato eu possa ajudar a essa Instituição no trabalho de perpetuar a cultura local inserindo-a e fortalecendo-a cada vez nos cenários estadual e nacional, como em épocas não muito distantes.

Quis o destino que ao ser eleito e agora empossado, eu ocupasse a cadeira de número 21, que tem como patrona a Poetisa Ana Augusta da Fonseca Cabral, conhecida de todos os cearamirinenses, pelo seu pseudônimo “Anete Varela”.

Dona Anete, era filha do senhor Manoel Varela Buriti e de dona Elvira da Fonseca e Silva Buriti. Passou toda a sua infância no Antigo Engenho Diamante, que pertencia ao Senador Dr. Augusto Meira. De suas lembranças no Diamante, Anete Varela nos brinda com um soneto, em que mistura a labuta diária no velho engenho com seus sentimentos de poeta, dizendo assim:


DIAMANTE

I

Carro de boi, açúcar, rapadura,

Fazem lembrar o Engenho Diamante;

Hoje a saudade dentro em mim perdura,

De minha infância que já vai distante!

II

Nunca existiu em mim, dor, amargura,

Quando eu era criança - e, bem galante,

Ia correndo cheio de ventura, 

Pelo capim, macio e verdejante.

III

Na casa- grande, em cada canto eu via

Um rosto amado cheio de ternura,

A me fitar com risos de alegria.

IV

Já vai longe aquele tempo amigo!

Só me resta, de tudo, a noite escura

Desta saudade que ficou comigo!


Anete Varela trabalhou na antiga maternidade de Ceará-Mirim, tendo por muitos anos como companheiro de trabalho, o médico Dr. Murilo Barros, por quem nutria grande admiração.


Como poeta, participou de várias publicações, dentre as quais, o 3ª Volume de Trovadores do Brasil, em 1970; IV Festival Brasileiro de Trovadores na cidade de Maringá-Paraná; Participou ainda de festivais de poesia em Maringá/PR em 1977 e Natal/RN 1978, pela fundação José Augusto. 

Conheci dona Anete Varela quando a mesma trabalhava na Biblioteca Pública Municipal Dr. José Pacheco Dantas. Figura amável, falava educadamente sem levantar a voz. Ficava na recepção, recebendo a todos os que procuravam aquela casa de cultura, sempre com um sorriso nos lábios e uma palavra de carinho.

Depois, dona Anete foi trabalhar na Escola Municipal Dr. Júlio Gomes de Senna, na COHAB, mais próximo à sua residência, enquanto aguardava a aposentadoria. Por várias vezes, visitei-a em sua residência na Rua Massaraça e nessas ocasiões, sempre falava sobre seus poemas que um dia ela queria vê-los publicados. E era nesses momentos que desabrochava nela sua sensibilidade poética tal qual descreveu em poema abaixo, 


CORAÇÃO DE POETA

I

Por que não cantas mais, meu coração?

Deixaste assim fugir toda a alegria

Dos lindos sonhos da minha ilusão

Que em meu peito eu abriguei um dia!

II

Também se canta sem ter mocidade

Também amar-se nos apetece.

Pois para o amor jamais existe idade,

Porque o coração não envelhece.

III

Fenece a carne, embacia o olhar,

Aos poucos vão fugindo as ilusões, 

Fica o passado para recordar...

IV

E quando recordamos, revivemos...

E surgem, dentro em nós, inspirações,

De tudo que gozamos ou sofremos.


Esse seu sonho tornou-se realidade quando em 1992, o então prefeito de Ceará-Mirim, Jorge Fernandes Câmara, através do Dr. Murilo Barros, realiza o lançamento do seu único livro “RETALHOS DE SONHOS”. E foi nessa noite de autógrafos, que vi brilhar em seus olhos a alegria de ver o sonho realizado. Sonho esse que era nada mais nada menos que pura felicidade, assim como ela mesma descreveu:

I

Felicidade, onde moras,

E onde estás escondida?

Desejo tanto encontrar-te

Pra ser feliz nesta vida!

II

Será que só no teu nome

Exista felicidade

Até hoje te procuro...

E só encontro saudade...

III

De momentos passageiros

Que eternos devem ser, 

Ondes estás felicidade, 

Que não consigo te ver?


Anete Varela também recebeu homenagem em vida, do poder público municipal de Ceará-Mirim. Foi durante a administração da Prefeita Therezinha Mello que dona Anete teve seu nome imortalizado na Biblioteca Infantil, instalada no prédio em anexo à Biblioteca Pública Municipal. Através do decreto número 709/93, a então prefeita Therezinha Mello criava a sala de Literatura Infantil “Poetisa Ana Augusta da Fonseca Cabral”, inaugurada em 24 de setembro de 1993, sob as bênçãos do padre Francisco de Assis Barbosa, em um ambiente alegre e acolhedor, que era o pátio interno da biblioteca pública municipal, totalmente tomada pelas crianças e adolescentes, professores e convidados. A tudo isso, somava-se a brilhante apresentação da Banda de Música Municipal “Tenente Djalma Ribeiro da Silva”, que executava seus dobrados homenageando a pessoa simples, humilde e amante dessa cidade e desse vale verde: Anete Varela.

Para demonstrar seu amor ao Ceará-Mirim, terra que a acolheu desde o seu nascimento até sua morte, Anete Varela eterniza o seu amor ao verde vale e à sua Padroeira Nossa Senhora da Conceição, em seu poema CEARÁ-MIRIM:

I

Ceará-Mirim tem um vale

Tão grande e verde sem fim,

As pracinhas são bonitas

E bem cuidadas, enfim.

II

A igreja majestosa

Contempla o vale infinito,

Os jardins cheios de rosas

Nem sei qual o mais bonito.

III

Terra de grandes usinas

E de engenhos banguês,

Ah se o passado voltasse

A ser presente outra vez.

IV

Amo tanto a minha terra

Mas, nela não tive sorte...

Minha terra é a mais bonita

Do Rio Grande do Norte,

V

Ceará-mirim minha terra,

Por que não gostas de mim?

Se sempre fui boa filha 

Não é justo que sofra assim.

VI

Senhora da Conceição

Nossa excelsa padroeira,

Lembrai também que sou filha 

Desta terra brasileira.


Muito Obrigado.
 

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