22/01/2014

Júlio Verne – o homem das mil profecias

Elísio Augusto de Medeiros e Silva

Empresário, escritor e membro da AEILIJ
elisio@mercomix.com.br


Em 1863, Júlio Verne escrevia “Paris no século XX”, uma obra que permaneceu inédita por mais de cem anos, até que fosse descoberta e publicada por seu bisneto em 1989.
Nesse livro, Verne nos surpreende com uma capital francesa repleta de tecnologia muito familiar aos dias de hoje. Entre as suas propostas futuristas está o uso do fax, de uma rede mundial de comunicação, automóveis movidos a gás, trens de alta velocidade e arranha-céus gigantescos.
Como poderia Verne antecipar de forma tão acertada o futuro de uma civilização? Teria algum poder mágico?! Mas, longe de ser um bruxo, com poderes sobrenaturais, o escritor era um homem estudioso, que desenvolveu um sistema próprio de escrita e mantinha amizade com cientistas famosos em diversas áreas de sua época.
Esse seu método incluía largas pesquisas nas bibliotecas, lendo e relendo livros de referência, revistas e periódicos científicos. De posse das informações técnicas, buscou comparar a vanguarda tecnológica do momento e transportá-la a um futuro bem distante, no final do século XIX. Baseado nesses fundamentos da ciência procurou fazer projeções pessoais – e nisso era perito.
No começo de sua carreira, Verne foi bastante incentivado pelas obras de Alexandre Dumas, o famoso autor de “Os Três Mosqueteiros”.
Quando iniciou como escritor, Júlio Verne produzia artigos curtos sobre temas científicos e históricos, e, para executar esse trabalho, fazia-se necessário documentar-se amplamente sobre múltiplos aspectos científicos.
Não demorou muito para formar a ideia de escrever romances com os conhecimentos que havia adquirido.
Ao combinar narrações de ficção de escritores como Edgar Allan Poe com os recentes descobrimentos de sua época, Verne descobriu um inovador gênero literário, que não tardaria a ser denominado de romance científico.
Esse tipo de leitura teve um público muito receptivo na França, existindo na época um florescente movimento positivista que considerava o conhecimento da natureza como algo fundamental.
Em meio a um ambiente cultural regido pela Lei Falloux (15/3/1850), que teria uma influência predominante sobre a educação francesa durante trinta anos, Verne foi muito bem recebido.
Então, Verne escreveu a sua primeira obra de sucesso – “Cinco semanas em um balão” (1863), que serviria de base para suas obras seguintes.
Verne buscou a assessoria de amigos e parentes, em especial o primo Henri Garcet (professor de matemática), Jacques Arago (célebre explorador) e Gaspard-Félix Tournachon, um aventureiro conhecido em toda França pelo apelido de “Nadar”.
Esse último foi que logrou entusiasmar Verne pela aviação e o apresentou a um círculo de engenheiro e cientistas notáveis. Entre esses novos amigos estava Jacques Babinet e Guillaume Joseph Gabriel de La Landelle, um dos pioneiros da aeronáutica.
O desenho de Guillaume de um helicóptero com hélices verticais e horizontais inspirou Verne a criar “Albatros”, um engenho voador que aparece na sua obra “Robur, o conquistador” (1886).
Foi o editor Pierre-Jules Hetzel que colaborou com Verne no início de sua carreira, quando bastante desanimado pensava, inclusive, em desistir. O trabalho de Verne, até então desconhecido, seria publicado vários anos nas revistas “Magasin d’Éducation et de Récréation” e na “Bibliothèque d’Éducation et de Récréation”. Na primeira, suas obras foram publicadas em capítulos, na forma de folhetos; e, na segunda, como romances completos.
Essas duas linhas editoriais dariam lugar a obras de grande sucesso, como: “Viagem ao Centro da Terra” (1864), “Da Terra à Lua” (1865), “Vinte mil léguas submarinas” (1869/70), “A volta ao Mundo em 80 dias” (1873), as mais vendidas de todas.



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