01/01/2014

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A Coluna Preste no Rio Grande do Norte - IV
Tomislav R. Femenick  Membro da diretoria do Instituto Histórico e Geográfico do RN

Ao ser narrado, um fato histórico só tem sentido se forem expostos alguns elementos a ele pertinente, tais como: as causas, circunstâncias e repercussão, por exemplo. Portanto não há como se taxar de embromação quando se fala dos antecedentes, dos personagens e das consequências da revolução francesa, da abolição da escravidão no Brasil ou do nascimento de Cristo. A simples narração dos fatos não é historiografia, pode até assumir as feições de novela barata, quando impregnada de tendências e bravatas melosas.
Assim se dá quando se aborda a passagem da Coluna Prestes pelo Rio Grande do Norte. Há que se dizer das causas e o que foi a própria coluna, a inquietação causada nas localidades envolvidas direta ou indiretamente no evento, o contexto dessas localidades na época do evento, a comoção provocada entre as pessoas e, por ultimo, os ataques, a defesa das cidades e seus reflexos. Isso porque sem repercussão na sociedade um fato não é histórico. É, quando muito, apenas um fato perdido entre tantos outros. Dito isso, vamos à cidade de Natal nos dias que antecederam a entrada da Coluna Prestes em terras potiguar.
Em 1926 o Rio Grande do Norte tinha uma população que se aproximava de 600 mil habitantes e Natal um pouco mais de 30 mil. Era uma cidade bucólica e relativamente tranquila, mas que vivia um momento de transformação. Segundo Gabriela Fernandes de Siqueira, “na década de 1920 a aviação teve maior desenvolvimento em Natal. O número de automóveis aumentou e ocorreram melhorias na área de educação”. O Estado era governado por José Augusto Bezerra de Medeiros, que estava no terceiro ano do seu mandato.
Embora não se sentisse ameaçada de ataque direto pelos revoltosos, a capital do Estado vivia um clima de expectativa pelo que poderia acontecer. O histórico divulgado sobre as investidas dos integrantes da Coluna em outros Estados nordestinos davam conta de um rastro de perdas humanas e danos materiais nas cidades em seu itinerário. O historiador Raimundo Nonato assim sintetizou a situação, às vésperas da chegada dos rebelados: “Na Capital irradiava-se essa onda de agitação pelos pontos de concentração popular – O café Cova da Onça, na Ribeira, o Grande Ponto, na Cidade Alta e Alecrim”. Daí saiam os boateiros levando as novidades reais ou inventadas.
De verídico mesmo somente as informações transmitidas pelo governo federal ao governo do Estado, dando conta que elementos da Coluna Prestes já tinham saído da cidade de Iguatu, no Ceará, e estavam se deslocando para o Rio Grande do Norte; tudo indicando que o ataque seria na cidade de São Miguel. Esse contingente de ataque era integrado por cerca de 70 homens bem armados e a maioria deles com treinamento militar.
Os preparativos para a defesa legalista começaram a serem arquitetados, inclusive com a formação de batalhões compostos por elementos da Polícia Militar do Estado, preponderantemente lotados em Natal (sob o comando do tenente João Machado), e possivelmente do Exército nacional, esses vindos de Fortaleza. O grande problema era o deslocamento dessa tropa para o local presumível do teatro da batalha.  Optou-se, então, por se usar o porto de Areia Branca, a Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte e vias rodoviárias; estas últimas poucas, de trânsito difícil e de acesso complicado.
O governo do Estado delegou o comando da defesa de São Miguel ao líder político local João Pessoa de Albuquerque (também conhecido por João Leite e Coronel do Baixio de Nazaré), coronel da Guarda Nacional, deputado estadual e que presidiu a Intendência Municipal de São Miguel por um período de 18 anos, de 1910 a 1928
TN – 26 de janeiro de 1926, o primeiro contingente da polícia militar, sob o comando do tenente João Machado, seguiu para a zona oeste.
Algumas cidades do Seridó, temendo uma invasão pelo sul do Estado, colocaram em alerta suas forças policiais.
ITAMAR DE SOUZA – A coluna Prestes penetrou no território potiguar pela zona Oeste, fronteira com o Estado do Ceará. Governava o Rio Grande do Norte o Dr. José Augusto Bezerra de Medeiros.
Ao tomar conhecimento do avanço dos revolucionários em direção ao nosso Estado, através de um telegrama do Governo Federal, comentou com seus auxiliares: “A coluna dos rebeldes já saiu do Iguatu. A esta hora caminha para o Rio Grande do Norte. O grupo é reduzido, pois, segundo o telegrama, composto de 70 homens. A que tudo indica, o ponto de invasão será o Município de São Miguel. O deputado João Pessoa deve ser avisado com urgência para organizar a repulsa, enquanto Luís Júlio se desloca para o centro de operações”.
PARAÍBA – WWW.portalpianco.com – A coluna Prestes chegou à vila Piancó na tarde de Segunda Feira – 08 de fevereiro, em sequência, na noite deste mesmo dia,as famílias se retiraram e pelo vexame com que saíram, abandonaram completamente as suas residências deixando haveres, roupas, móveis, etc.
A Vila teria ficado vazia e nela permaneceu exclusivamente, as famílias dos Srs. Manoel Candido (administração da mesa de rendas), do tenente Antonio Benício (Comandante da Força), do alfaiate Isidro, do Pe. Aristides e seus amigos, o destacamento policial composto por quinze praças e civis armados, do Sr. João Galdino (Coletor Federal).
A passagem da Coluna Prestes na cidade de Piancó, foi marcada por sangue em registro na nossa história, dando origem a vários questionamentos posteriores em um episódio não totalmente esclarecido.
A cidade tradicional sertaneja teve sua elite política e social fuzilada e depois degolada, num barreiro ao redor da cidade, foram mortos em torno de 28 pessoas conhecidas pela história da Paraíba como Mártires de Piancó – PB, com destaque para o chefe político Dep. Pe. Aristides Ferreira da Cruz, o Prefeito local o Sr. João Lacerda Moreira, e seu filho Osvaldo Lacerda.

A Coluna Prestes entrou no Estado, vindo de Luiz Gomes (RN) até chegar no lugarejo de Várzea Cumprida, em Pombal (PB). Piancó não constava no percurso da Coluna, tendo sido incluída de última hora uma vez que a polícia paraibana havia fechado quase todas as fronteiras do Estado à passagem da Coluna.

O Jornal de Hoje. Natal, 31 dez. 2013.

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