11/07/2020



MACAÍBA: CIDADE DOS MIGRANTES

Valério Mesquita*
Mesquita.valerio@gmail.com


Marcadamente, desde o século XIX, Macaíba, antes Coité, recebeu caudalosas correntes migratórias de dois polos emissores do Nordeste: Paraíba e Pernambuco. Tempos atrás, a TV Globo esteve em Macaíba e em Parnamirim a fim de pesquisar e registrar esse fenômeno que ocorre na área metropolitana de Natal. O fato de chegar a preocupar uma emissora desse porte ao ponto de incluir no programa “JN no Ar” os dois municípios no nível de uma investigação social reveste-se se singular importância: saber a razão e o porquê do que está atraindo brasileiros de outras regiões para cá. A reportagem apurou que hoje, nas “vizinhanças de Natal condomínios brotam mais rápido do que o mandacaru no sertão”.

Vê-se que a expansão imobiliária é um dos motivos para isso, somado a estatística de que, nos arredores de Natal, quatro cidades recebem em média vinte e oito novos moradores por dia. Investimentos públicos e privados têm abastecido a locomotiva de aumento da população. Até a indústria petrolífera, segundo a reportagem global, que gera trinta e sete mil empregos no estado, muitos escolhem as proximidades da capital para residir, apesar do engarrafamento do transito e a superpopulação da região metropolitana. Macaíba – vocacionada há dois séculos para o comércio e a indústria – as ruas centrais mais parecem um “mercado persa” ou uma Babilônia de transeuntes, automóveis e motos. As residências que conheci em um passado recente, foram transformadas em pontos de comércio, até nas calçadas, impondo-se aí a descaracterização física de sessenta, cinquenta anos atrás.

Quando visito a minha terra eu não me revejo mais. O “capitalismo” emergente transformou-a numa legião estrangeira. Ninguém conhece ninguém. São raras as fisionomias e olhos que refletem a cidade que vivi. Daí me preocupar com a preservação de sua memória histórica para que não venha perder a sua identidade. Todavia, entendo que é o preço alto da proximidade das cidades com a capital. Progresso desgovernado. Tudo começou, assinaladamente, com Fabrício Gomes Pedroza, fundador da cidade de Macaíba, em 27 de outubro de 1877. Antes, se chamava Coité (outra palmeira). Era o reduto da aristocracia rural fincada pelo coronel Estevão Moura no Engenho do Ferreiro Torto. Ocorreu aí o choque inevitável da atividade comercial chantada pelo pernambucano Fabrício no monte dos Guarapes e o latifúndio rural dos Moura que abrangia São Gonçalo e Macaíba. Comércio levou a melhor. Estava decretada a sua vocação econômica. 

Daí para frente, todas famílias que escreveram a sua história na vida municipal, os pioneiros vieram da Paraíba e de Pernambuco. Os Albuquerque Maranhão, os Castriciano de Souza, os Freire, os Mesquita, os Tavares de Lyra, os Chaves, os Garcia, os Maciel, os Alecrim, os Leiros, os Curcio, os Meira Lima, os Andrade e por aí, centenas delas que ingressaram na lide comercial, industrial, cultural, política e jurídica. Todos os macaibenses que se tornaram ilustres depois provieram dessas origens migratórias patriarcais. No século XX, da segunda metade em diante, dezenas de macaibenses originários dos citados troncos hereditários, igualmente geraram filhos ilustres, principalmente, no ramo do comércio. Até na política, Macaíba é um eldorado de correntes migratórias. Quem souber, pode, de per si, declinar quantos prefeitos e vereadores oriundos de outras plagas já comandaram o poder público local, o que reflete o caráter volúvel e também migratório do seu eleitorado.

(*) Escritor.




09/07/2020



Colhendo lírios nos campos do Senhor
Tomislav R. Femenick - Jornalista

Apesar de alguns acontecimentos tristes (a guerra fria, a guerra mais do que quente do Vietnã, os assassinatos de Kennedy e Martin Luther King, por exemplo), a década de sessenta do século passado talvez tenham sido os melhores anos da história recente. Os estudantes e os movimentos negros e feministas lutavam por direitos justos, que lhes eram negados, as ciências deram um tremendo avanço qualitativo e quantitativo. Iuri Gagarin, um astronauta russo, descobriu que “a terra é azul”. E um outro, norte-americano, Neil Armstrong, pisou na lua dando “um pequeno passo para um homem, um gigante salto para a humanidade”. O homem desceu ao piso dos oceanos, desenvolveu as bases da mecatrônica e do raio laser, descobriu a pílula anticoncepcional e sintetizou o DNA, entre outras grandes facetas.
Elvis, os Beatles, os Rolling Stones e o festival de Woodstock – e lá estavam Jimmy Hendrix e Janis Joplin – puseram a música popular de ponta cabeça. No Brasil, Chacrinha se comunicava com as massas, Roberto Carlos liderava a Jovem Guarda, a Bossa Nova se consolidava, a Tropicália (de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Rogério Duprat e Torquato Neto) e os velhos e os Novos Baianos renovavam o cenário musical brasileiro. A música que antes era só para se ouvir e dançar, agora mexia com o corpo e com a mente.
Enquanto isso, aqui a província continuava quase que totalmente provinciana. Câmara Cascudo, Verissimo de Melo e uns poucos mais eram a exceção que confirmava a regra. Ponta Negra era uma praia longínqua (não havia a avenida Roberto Freire e a Via Costeira), habitada principalmente por pescadores. As praias do Meio, dos Artistas e Areia Preta eram os lugares de encontro da juventude adoradora do sol e das ondas.
O Grande Ponto – onde tudo acontecia ou onde tudo era comentado – funcionava a todo vapor, Aluízio Alves trazia inovações em seu governo, mas a política de compadrio ainda imperava, a televisão era um sonho, os cines Rio Grande e o Rex eram os centros de diversões e na Confeitaria Cirne, ali na rua João Pessoa, tomavam-se umas “estupidamente geladas”, enquanto se jogava conversa fora. No “high society” tupiniquim imperavam o América e Aero Club.
Foi nesse ambiente que apareceram dois nomes no jornalismo natalense. Paulo Macedo, no Diário de Natal, e Jota Epifânio, na Tribuna do Norte. Eles dominavam a sociedade local, noticiando o que era importante e ditando o comportamento da alta cúpula da cidade. O meu amigo Jota Epifânio faleceu em 1999 e o meu amigo Paulo Macedo, na semana passada.
Conheci Isaac Faheina de Paulo Macedo no final dos anos 1950, porém somente firmei amizade com ele na década seguinte, quando ambos trabalhávamos no Diário de Natal; ele como cronista social e eu como repórter correspondente. Nessa época ele tinha duas atuações marcantes: a Festa das Personalidades e os concursos de Miss Rio Grande do Norte, ambas realizadas anualmente. Com a evolução dos tempos, sua coluna foi se afastando dos assuntos sociais e, mais e mais, tratando de política, do mundo empresarial e, principalmente, de cultura. Tinha uma perspicácia notável para descobrir fatos novos ou para dar nova luz a assuntos latentes. Assim, foi se distanciando do pouco relevo da crônica tão somente social e adentrando por campos mais sólidos do jornalismo. Paralelamente, começou a estudar e a publicar matérias sobre automobilismo.
Como não poderia deixar de ser, ocupou cargos na administração pública. Foi chefe de gabinete do prefeito Djalma Maranhão, secretário de turismo da Prefeitura de Natal e presidente da Fundação José Augusto. Integrava o Conselho de Cultura do Estado e era membro da Academia Norte-Riograndense de Letras, onde ocupava o cargo de vice-presidente, e compunha o Conselho Estadual de Cultura. Apresentava um programa de televisão, Sala Vip, e publicou vários livros.
Fui seu companheiro no Rotary Club de Natal Sul, para onde fui por ele levado há mais de quinze anos. Tanto no clube a que pertencíamos, como na governadoria do Distrito (que engloba o Rio grande do Norte, a Paraíba e Pernambuco), seu nome era referenciado como um dos grandes possuidores de um cabedal de conhecimento sobre a filosofia rotária; sua lógica, suas regras, seus regimentos.
Paulo Macedo era, o que se poderia dizer, um homem de fino trato. Voz mansa, nunca se alterava. Falava de coisas relevantes e fugia de assuntos constrangedores. Nunca o vi detratar ou mesmo falar com reticências sobre alguém.
Desde o fechamento do Diário de Natal e de O Jornal de Hoje, em Natal, e da Gazeta do Oeste e O Mossoroense, em Mossoró, Paulo Macedo mostrava preocupação com as perdas que isso significava para o nosso Estado. Um povo que não lê não tem intelecto, não tem saber, não tem alma. E o jornal (notadamente o impresso) é a porta de entrada para isso, pois noticia e explica – principalmente explica – os fatos, os atos e as ocorrências.
Era assim o meu querido amigo Paulo Macedo. Teria muito mais a dizer sobre ele, mas, abalado pelo seu falecimento, somente soube dizer pouco desse pequeno grande homem, que agora está colhendo lírios nos campos do Senhor.




CENTENÁRIO DE NOILDE RAMALHO Daladier Pessoa Cunha Lima Reitor do UNI-RN Em um dos seus famosos Sermões, Padre Antonio Vieira (1608-1697) escreveu: “Morrer de muitos anos, e viver de muitos anos, não é a mesma coisa. Ordinariamente, os homens morrem de muitos anos, e vivem poucos. Por quê? Porque nem todos os anos que se passam se vivem: uma coisa é contar os anos, outra vivê-los; uma coisa é viver, outra durar. (...) Enquanto agimos racionalmente, vivemos; o demais tempo, duramos.” Quanta sabedoria existe nessas palavras do Padre Vieira, escritas cerca de quase quatro séculos atrás, mas que são atemporais. A vida de Noilde Pessoa Ramalho foi não somente longeva – 90 anos – mas foi, sobretudo, vivida intensamente, incansavelmente, tendo como guias a fé em Deus e o amor à Educação. Nasceu em Nova Cruz-RN, a 19 de julho de 1920, e faleceu em São Francisco do Sul-SC, em 25 de dezembro de 2010. Com a idade de 15 anos, veio da cidade onde nasceu para ser aluna interna da Escola Doméstica de Natal. Após concluir o curso, em 1940, passou logo às funções de professora, até 1945, quando recebeu convite do Presidente da Liga de Ensino do RN, Dr. Varela Santiago, para assumir a Direção da ED, função que exerceu por 65 anos. Foi uma missão grandiosa em tempo e nas incontáveis realizações, a maior parte no campo educacional. Projetou a ED no âmbito nacional e criou uma escola mista, o Complexo Educacional Henrique Castriciano, em 1987, ambas mantidas pela Liga de Ensino do RN. Da sua inspiração de educadora integral, nasceu a ideia de criação, também pela Liga de Ensino, da Faculdade Natalense para o Desenvolvimento do RN – FARN, instalada em 1999, transformada no Centro Universitário do RN – UNI-RN, unidades de ensino sob o manto da qualidade acadêmica. Em 2004, lancei o livro Noilde Ramalho – Uma História de Amor à Educação, com 565 páginas, biografia dessa figura humana singular e inesquecível. Nesse livro, constam depoimentos de algumas pessoas ilustres da terra, as quais conheciam a história da vida da querida educadora. No transcurso do centenário de Noilde Ramalho, trago aqui trechos colhidos de quatro desses depoimentos, cujos autores também já partiram para a eternidade. Na “orelha” do livro, o registro do escritor, poeta e pintor Dorian Gray Caldas: “A Professora Noilde Ramalho é referência nacional. Méritos todos. Reconhecida por mais de uma geração; elegância e cultura, discernimento, doação. Assim é este livro, harpa sensível, harmoniosa, solidária, som e luz, encantamento.” O Cardeal Dom Eugênio de Araújo Sales escreveu: “Há pessoas, como Noilde Ramalho, que avançam em idade e em virtudes.” A escritora Ana Maria Cascudo Barreto assim se expressou: “Noilde é personagem permanente na minha galeria emocional. Seu porte de rainha é suavizado pelas flores perfumadas da ternura, recolhidas daqueles a quem dedicou atenção profunda e diária.” De Vingt-Rosado e América Rosado, escritores: “Singular personalidade, Noilde Pessoa Ramalho, na ótica dos autores, é a maior mulher do Rio Grande do Norte, depois de Nízia Floresta.” Em face das limitações decorrentes da Covid 19, a Liga de Ensino do RN, sob a digna presidência do Dr. Manoel de Medeiros Brito, adiou as celebrações alusivas ao Centenário da professora Noilde Pessoa Ramalho, mas espera realizá-las ainda em 2020. Texto publicado na Tribuna do Norte em 09/07/2020.
A nossa insignificância
Carl Sagan (1934-1996) – astrônomo, físico, biólogo, escritor, ativista e outras coisas mais – foi um dos maiores divulgadores científicos do século XX. Autor de muitos livros, para lá de vinte, ganhou um prêmio Pulitzer com “Os Dragões do Éden” (“The Dragons of Eden”, 1977). Seu romance “Contato” (“Contact”, 1985) foi adaptado para o cinema, em 1997, com título homônimo, tendo a bela Jodie Foster (1962-) no papel da protagonista. Cuidando de um tema caro ao autor, o nosso contato com extraterrestres, o filme fez sucesso. Mas acredito que Sagan é hoje especialmente conhecido, para além das suas contribuições para a ciência, pela série “Cosmos” (“Cosmos: a Personal Voyage”), de 1980, da qual ele é um dos roteiristas e o apresentador. A série deu ensejo a um livro que, confesso, ainda não li.
“Cosmos” segue o modelo das suas primas “Civilização” (“Civilisation”, 1969) e “A escalada do homem” (“The Ascent of Man”, 1973). Treze episódios de pouco menos de uma hora cada. E, como consta da apresentação que possuo, em DVDs, comprada em alguma livraria de Londres, ela “conta a fascinante história de como cerca de quinze bilhões de anos de evolução cósmica transformaram matéria e vida em consciência, de como ciência e civilização cresceram juntos e, ainda, das forças e indivíduos que ajudaram a formatar a ciência moderna”.
Estou agora revendo, encantado, a dita cuja, como havia feito, nos anos 1980, adolescente, com o meu pai. Até sugeri a ele (meu pai) fazer o mesmo. Mas recebi como resposta: “Não, ela está datada”. Não sei de onde ele tirou todo esse conhecimento de astrofísica e da estrutura do DNA para dizer que “Cosmos” está “datada”. Vá lá. Existem mais mistérios entre ele e eu do que ousa perguntar a minha vã valentia. De toda sorte, a minha versão de “Cosmos” é de 2009, restaurada e remasterizada digitalmente, com “science updates” de bônus.
Já consegui assistir a dois episódios. Foi o suficiente para tirar um par de conclusões: a nossa insignificância cósmica e a nossa fragilidade como espécie e como indivíduos. Nesses dois episódios, Sagan, na sua “Espaçonave da Imaginação”, nos mostra um Universo com trilhões de galáxias e viaja dos confins deste (se é que o infinito tem “confins”), explicando as origens das estrelas, dos planetas e de maravilhas mais, passando pelo Grupo Local de galáxias, onde estão a vizinha Andrômeda e a nossa Via Láctea, entrando no Sistema Solar e chegando à querida Terra. Somos um grão de areia na imensidão cósmica. Ele também discute a criação da vida. Das moléculas da vida, especulando se “nasceram” aqui entre nós, na Terra, ou se vieram de mundos distantes. E a origem bioquímica comum de todos os organismos terrestres nos leva à história da seleção natural e da seleção artificial. Genética, replicação e mutação. Caminhamos, alguns ficando no meio do caminho (como os gigantes dinossauros), e chegamos, por sorte e por diferenças, com a nossa inteligência, aonde estamos. Ainda assim, no calendário cósmico, nós humanos ocupamos apenas uns poucos segundos. Somos também insignificantes no tempo. Origem dos mundos e origem da vida, sabemos tão pouco.
Doutra banda, mesmo as nossas mais valiosas conquistas são perecíveis, a longo prazo ou num piscar de olhos. A série fala da escola e da Biblioteca de Alexandria, a mais badalada da Antiguidade, onde estudaram, nos seus papiros, gênios como Eratóstenes (276-194a.C.), Euclides (circa 300a.C.), Arquimedes (287-212a.C.), Ptolomeu (90-168) e, mais adiante, Hipátia (351/370-415), a primeira filósofa e matemática da história. Mesmo guardiã de tanto saber, a biblioteca foi destruída, talvez incendiada. Tudo perece, fato. Embora eu também tenha visto que a história da famosa biblioteca volta no último capítulo da série. Ansioso por lá chegar, na esperança de um renascimento.
Por fim, a própria vida/morte de Carl Sagan nos dá um alerta. Ele morreu jovem. 62 anos. Uma neoplasia na medula. Uma pneumonia oportunista. Nem toda ciência, dele e da medicina, foi capaz de contornar os desígnios de Deus ou do Cosmos.
Marcelo Alves Dias de Souza
Procurador Regional da República
Doutor em Direito (PhD in Law) pelo King’s College London – KCL

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03/07/2020




JOSÉ FÉLIX BARBOSA


Valério Mesquita
mesquita.valerio@gmail.com

Vinte anos são decorridos do falecimento de um dos maiores desportistas de Macaíba. Convivi com ele em várias fases da vida, na lide esportiva. Foi um dedicado, abnegado e incentivador de torneios, campeonatos, desfiles, trazendo à cidade, ao longo de muitos anos, equipes importantes, atletas renomados, autoridades civis e militares. Era a corrida de pedestrianismo Augusto Severo que ele tornou famosa no nordeste, o futebol, o voleibol, o salonismo e tantas outras atividades, as quais nunca mais se viu em Macaíba. 

As manhãs das provas de pedestrianismo hospedavam bandas de música do Exército, da Marinha, da Aeronáutica e da Polícia Militar, numa verdadeira maratona de esporte, cultura musical, congraçamento social e de lazer de raças, luzes, cores e cidadania. Quem realizava tudo isso: um homem pobre, simples e deficiente auditivo chamado José Félix Barbosa. Admirado e aplaudido por uns mas invejado e sabotado por outros, viveu e enfrentou esses ambientes de temperaturas e temperamentos. Exerceu a presidência da Liga de Desportos Amadores de Macaíba por vários anos. A esposa Francisca Amélia foi testemunha eloquente e sofredora da sua luta, auxiliando-o a suprir a dificuldade auditiva para se comunicar com todo aquele mundo turbulento de atletas, times, público, imprensa, espalhados em Macaíba, Natal e dezenas de cidades.

Devemos relembrar dele a beleza de todos aqueles espetáculos que produziu nas ruas de Macaíba, nos estádios lotados e na alegria espontânea que gerou por toda parte. Resgatemos de José Félix Barbosa o estímulo que plantou na juventude do amor à prática do esporte, à crença na “mente sã num corpo são”, afastando muitos do vício e da droga. Ele fez isso em Macaíba ininterruptamente durante décadas. Morreu pobre, esquecido e até injuriado. Quem se atreveu a realizar o que ele fez? Que homenagem de reconhecimento recebeu dos desportistas, das autoridades e do povo pelo muito que ofereceu ao esporte? Vinte anos do seu encantamento nos separa. É hora de Macaíba tributar-lhe a justa e merecida homenagem. Para Félix,
dedico-lhe essa reflexão da escritora Cora Coralina: “O que vale na vida não é o ponto de partida e, sim, a caminhada. Caminhando e semeando sempre”. Macaíba, José, colheu os frutos que você plantou, só não soube ainda agradecer.


30/06/2020

A nossa escalada
Fui à casa dos meus pais para apropriar-me da edição que ele possui de “A escalada do homem” (“The Ascent of Man”), de Jacob Bronowski (1908-1974). Publicação da Martins Fontes/Editora da Universidade de Brasília em 1993. Tudo muito difícil hoje. Fui à porta do quarto da minha mãe, não entrei, mas conversei um pouco com ela. Na sala, bem à distância, conversei mais com meu pai e pedi para ele pegar na biblioteca o livro, alegadamente como empréstimo. Saí furtivamente e, chegando em casa, descobri o meu nome (e não o dele) posto na primeira página do livro, com duas leituras minhas realizadas em 1995 e 2009. E isso me deu um certo conforto: apropriando-me do dito cujo, talvez eu esteja praticando um crime impossível.
Cometi esse pecado para poder aqui escrever sobre a série da BBC “A escalada do homem”, de 1973, da qual o livro se origina e que acabei de rever estes dias. Simplesmente fantástica. Em todos os aspectos. Na temática, a escalada do homem através da ciência – desde tempos imemoriais, de antes do sapiens, passando pela revolução cognitiva, pela revolução agrícola, pelo fogo e pelos alquimistas, por Pitágoras, Euclides e Ptolomeu, por Copérnico e Galileu, por Newton, Liebnitz, Einstein e Bohr, por Pasteur, Darwin, Wallace, Mendel e a moderna genética, pela indústria, pela mente ou pelo computador, chegando à tragédia dos cientistas ou a uma civilização científica (é você quem escolhe) – é um deleite. Na produção, é padrão BBC em altíssimo nível (com os recursos da época, claro). Na apresentação, um Bronowski, matemático de formação, mas polímata, mestre em muitas artes, inclusive na de contar histórias. Dele, certa feita disse o grupo Monty Python: “o homem sabe de tudo”. Segundo o British Film Institute – BFI, “A escalada do homem” está entre os 100 melhores programas de TV britânicos de todos os tempos, inclusive melhor posicionada que a sua coirmã “Civilização” (“Civilisation”, 1969). E, como dá a entender David Attenborough (1926-), à época diretor da BBC2, ela, misturando história e análise, popularizando a ciência, é, em si, um importante passo na escalada da humanidade.
Vou dar um gostinho dos insights da série/livro falando de uma mistura entre astronomia e direito. Está no capítulo 6 – “The Starry Messenger” e trata da ciência de Galileu Galilei (1564-1642). Galileu, com o seu telescópio no topo do campanário, é considerado “o criador do método científico moderno”. Como explica Bronowski, “pela primeira vez, se consumou de forma completa aquilo que chamamos de ciência aplicada: construção do equipamento, realização da experiência e publicação dos resultados. Isso tudo realizado entre setembro de 1609 e março de 1610, data da publicação, em Veneza, de seu esplêndido livro Sidereus Nuncius (O Mensageiro Sideral), que apresentava um relato ilustrado de suas, então recentes, observações astronômicas”.
E tudo ia bem até a ciência heliocêntrica de Copérnico (1473-1543), Kepler (1571-1630) e Galileu virar perigosa. Mesmo com o prestígio do último com a Cúria romana, a Inquisição bateu. Todo julgamento político tem uma longa história secreta. O famoso “Diálogo sobre os dois principais sistemas do mundo” (“Dialogo sopra i due massimi sistemi del mondo”) é de 1632. O julgamento em si é de 1633. Não adiantarei os detalhes. Está nos arquivos do Vaticano. Codex 1181 – “Processos contra Galileu Galilei”. O fato é que Galileu foi silenciado, preso em sua própria casa e, a partir daí, teve fim “a tradição científica do Mediterrâneo. Daqui para frente, a Revolução científica se transfere para o Norte da Europa”. Grave erro.
Curiosamente, já para o final de “A escalada do homem”, revelando as dificuldades da ciência do seu próprio tempo, também atacada pelo obscurantismo, Jacob Bronowski faz uma advertência: “Ciência é apenas uma palavra latina para designar conhecimento. Se não galgarmos o próximo degrau, isso será feito por outros povos, da África, da China”.
Eita, será que, levando em conta as agruras de hoje, eu deveria ter escrito, no lugar de “curiosamente”, “profeticamente”?
Marcelo Alves Dias de Souza
Procurador Regional da República
Doutor em Direito (PhD in Law) pelo King’s College London – KCL
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29/06/2020


Pedro (apóstolo)

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Disambig grey.svg Nota: Para outros significados de São Pedro, veja São Pedro (desambiguação).
São Pedro
Santo da Igreja Católica
1° Papa da Igreja Católica
Atividade Eclesiástica
DioceseDiocese de Roma
Eleição30
Fim do pontificado67 (37 anos)
SucessorLino
Ordenação e nomeação
Santificação
Veneração porToda a Cristandade
Principal temploBasílica de São PedroVaticano
Festa litúrgica29 de junho ou domingo seguinte - quando é celebrada a Solenidade dos Apóstolos Pedro e Paulo
Atribuiçõesduas chavescruz invertida, rede de pescador
Padroeirodos papas e dos pescadores
Dados pessoais
Nascimento1 a.C.
BetsaidaGalileiaImpério Romano
Morte67 (67 anos)
RomaItália
Nome nascimentoShimon Kepha
(aportuguesado como Simão Pedro)
SepulturaNecrópole Vaticana
dados em catholic-hierarchy.org
Categoria:Igreja Católica
Categoria:Hierarquia católica
Projeto Catolicismo
Lista de Papas
São Pedro ou São Pedro Apóstolo, em hebraico:כיפא, em grego koinéΠέτροςPetros, "Rocha", segundo a interpretação católica e ortodoxafragmento (de pedra) para alguns protestantes, [nota 1], em coptaⲠⲉⲧⲣⲟⲥPetros, em latimPetrus (BetsaidaGalileia,[2] século I a.C., — Roma, ca. 67 d.C.)[nota 2][3] foi um dos doze apóstolos de Jesus Cristo, segundo o Novo Testamento e, mais especificamente, os quatro Evangelhos.
Historiadores e As Igrejas Católica e Ortodoxa consideram Pedro como o primeiro bispo de Roma[4][5][6] e, por isso, o primeiro papa. Ele seria, até hoje segundo o catolicismo, o detentor do mais longo pontificado da história: cerca de trinta e sete anos.

Nome e importância[editar | editar código-fonte]

Segundo a Bíblia, seu nome original não era Pedro, mas Simão. Aparece ainda uma variante do seu nome original, Simão Pedro, no livro dos Atos dos Apóstolos (Atos 10:18) e na II Epístola de Pedro (II Pedro 1:1).
No Evangelho de João (João 1:42), Cristo muda seu nome para כיפאKepha (Cefas em português), que em aramaico significa "pedra", "rocha", nome este que foi traduzido para o grego como ΠέτροςPetros, "Rocha" segundo a interpretação católicafragmento (de pedra), "pedrinha" segundo a interpretação de alguns protestantes, a qual sustenta que a palavra grega que significa "rocha", "pedra" é πέτραpetra e que, posteriormente, passou para o latim como Petrus.[7]
Ocorre que o aramaico de "fragmento de pedra" ou "pedrinha" é a palavra evna e não kepha, sendo esta última a mencionada nas escrituras e traduzida para o grego Petros, que realmente significa "Rocha".[8]
Na interpretação da Igreja Católica a razão para Jesus ter mudado o nome do apóstolo, bem como seu significado na citação bíblica «Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja; e as portas do Hades não prevalecerão contra ela.» (Mateus 16:18), a chamada Confissão de Pedro, Jesus estava comparando Simão a uma rocha. Desta forma, Cristo seria o fundador da Igreja Católica, do grego "katholikos" que significa para todos ou universal, sendo-lhe concedido, por este motivo, o título de "Príncipe dos Apóstolos" pela Igreja Católica. Esse título é um tanto tardio, visto que tal designação só começaria a ser usada após a sua morte cerca de um século mais tarde, suplementando o de Patriarca.
Na interpretação protestante majoritária, protestantismo histórico ou ainda pentencostais e neopentecostais a "pedra" referida por Jesus é a confissão de fé de Pedro. Segundo tal corrente, o assunto que estava sendo abordado e tratado por Jesus não era sobre a pessoa do discípulo Pedro; mas sim "quem era Jesus", na opinião dos discípulos. Na pergunta de Jesus aos discípulos: «Quem diz o povo ser o filho do homem?» (Mateus 16:13), estes Lhe responderam: "Uns dizem: João Batista; outros: Elias; e outros: Jeremias, ou algum dos profetas." e Jesus novamente pergunta: "Mas vós, quem dizeis que sou eu?" e Pedro responde: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo", isto é, que Cristo seria o Messias.[9] De acordo com estes textos da pergunta feita por Jesus aos seus discípulos, entende-se que a pedra seria o próprio Jesus. No grego, a palavra para pedra é petra, que significa uma "rocha grande e maciça", a palavra usada como nome para Simão, por sua vez, é petros, que significa uma "pedra pequena" ou "pedrinha". Nesse sentido, o próprio Pedro, em Atos dos Apóstolos 4:10-12, afirma que a declaração de Jesus se refere a si próprio, e não ao apóstolo:
«Seja notório a todos vós e a todo o povo de Israel que em o nome de Jesus Cristo o Nazareno, a quem vós crucificastes, e a quem Deus ressuscitou dentre os mortos, neste nome está este enfermo aqui são diante de vós. Ele é a pedra, desprezada por vós, edificadores, a qual foi posta como a pedra angular. Não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não há outro nome dado entre os homens, em que devamos ser salvos.» (Atos 4:10-12)
Entretanto, alguns estudiosos protestantes, como Nicolaas Ridderbos (en) entendem que a frase "sobre esta pedra" se refira realmente a Pedro pois, partindo da análise contextual e gramatical, "somente Pedro é mencionado neste verso e o trocadilho realmente se refere a ele".[10] Segundo ele, as palavras "sobre esta pedra [petra]" se referem a Pedro. Por causa da revelação que recebeu e da confissão de fé que ele fez, Pedro foi nomeado por Jesus para estabelecer as bases da futura Igreja. Somente Pedro é mencionado neste verso, e o trocadilho com seu nome se aplicou somente a ele. Outra interpretação baseada nas escrituras e ensinos de Jesus Cristo pelos registros dos evangelhos Jesus estava profetizando espiritualmente pois o próprio Jesus afirmou que seu reino não é terreno mas sim espiritual, sendo assim Jesus afirmava que através de suas palavras que repousaria o Espírito Santo sobre Pedro fazendo dele morada de Deus assim como todos os seguidores de Cristo como está escrito: "O Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós. Não vos deixarei órfãos; voltarei para vós. Ainda um pouco, e o mundo não me verá mais, mas vós me vereis; porque eu vivo, e vós vivereis." João 14:17-19. E ainda em João 18:36 "Respondeu Jesus: O meu reino não é deste mundo; se o meu reino fosse deste mundo, pelejariam os meus servos, para que eu não fosse entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui." e também o Apóstolo Paulo no meio do Areópago, disse: "O Deus que fez o mundo e tudo que nele há, sendo Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens; Nem tampouco é servido por mãos de homens, como que necessitando de alguma coisa; pois ele mesmo é quem dá a todos a vida, e a respiração, e todas as coisas;" Atos 17:24,25. Tal interpretação é refutada por outros teólogos protestantes, como Donald Arthur Carson (en), para quem Cristo teria sido enfático em sublinhar a profissão de fé de Pedro e seu papel singular na Igreja, e não dos fiéis como um todo.[11]
De fato, todos os escritos dos Pais da Igreja Primitiva sobre o tema, bem como aqueles dos eruditos católicos, entre os quais se destacam o sacerdote jesuíta Leonel Franca e o teólogo Scott Hahn, asseguram que, em grego koiné do século I, as palavras petros e petra seriam sinônimos, referindo-se assim, ao vocábulo rocha. Em suma, a Confissão de Pedro e sua mudança de nome por Jesus Cristo lhe concediam um papel proeminente na Igreja, principalmente em sua missão de "fortalecer os irmãos" (Lucas 22:32). Estes autores sustentam ainda que, embora a língua difundida no Império Romano nos tempos de Jesus e dos apóstolos fosse o grego koiné, devido à influência helênica na região desde mais de dois séculos antes de Cristo, os judeus do século I falavam principalmente o aramaico, mesma língua em que teria sido escrito originalmente o próprio Evangelho de Mateus. Em aramaico a palavra para fragmento (de pedra) "ou pedrinha" seria a palavra evna e não kepha. Logo. o mais provável é que o a palavra Kephas ou "Cefas", que é transcrita cerca de oito vezes no Novo Testamento ou se encontra traduzida para o grego Petros nos EvangelhosAtos dos Apóstolos e escritos paulinos, realmente signifique rocha e diga respeito à pessoa de Pedro.[12]

Dados biográficos[editar | editar código-fonte]

Mais informações: Primeiros discípulos de Jesus
Estátua na Basílica de Nossa Senhora da Assunção do Mosteiro de São Bento na cidade de São Paulo.
Antes de se tornar um dos doze discípulos de Cristo, Simão era pescador. Teria nascido em Betsaida e morava em Cafarnaum. Era filho de um homem chamado João ou Jonas e tinha por irmão o também apóstolo André. Simão e André eram "empresários" da pesca e tinham sua própria frota de barcos, em sociedade com TiagoJoão e o pai destes, Zebedeu.[13]
Possivelmente Pedro era casado e tinha pelo menos um filho.[14] Sua esposa era de uma família rica e moravam numa casa própria, cuja descrição é muito semelhante a uma vila romana.[15] na cidade "romana" de Cafarnaum.[16]
Segundo o relato em Lucas 5:1-11, no episódio conhecido como "Pesca milagrosa", Pedro teria conhecido Jesus quando este lhe pediu que utilizasse uma das suas barcas, de forma a poder pregar a uma multidão que o queria ouvir. Pedro, que estava a lavar redes com Tiago e João, seus sócios e filhos de Zebedeu, concedeu-lhe o lugar na barca, que foi afastada um pouco da margem.
No final da pregação, Jesus disse a Simão que fosse pescar de novo com as redes em águas mais profundas. Pedro disse-lhe que tentara em vão pescar durante toda a noite e nada conseguira mas, em atenção ao seu pedido, fá-lo-ia. O resultado foi uma pescaria de tal monta que as redes iam rebentando, sendo necessária a ajuda da barca dos seus dois sócios, que também quase se afundava puxando os peixes. Numa atitude de humildade e espanto Pedro prostrou-se perante Jesus e disse para que se afastasse dele, já que era um pecador. Jesus encorajou-o, então, a segui-lo, dizendo que o tornaria "pescador de homens".
Nos evangelhos sinóticos, o nome de Pedro sempre encabeça a lista dos discípulos de Jesus, o que na interpretação da Igreja Católica Romana deixa transparecer um lugar de primazia sobre o Colégio Apostólico. Não se descarta que Pedro, assim como seu irmão André, antes de seguir Jesus, tenha sido discípulo de João Batista.
Outro dado interessante era a estreita amizade entre Pedro e João Evangelista, fato atestado em todos os evangelhos, como por exemplo, na Última Ceia, quando pergunta ao Mestre, através do Discípulo amado (João), quem o haveria de trair ou quando ambos encontram o sepulcro de Cristo vazio no Domingo de Páscoa. Fato é que tal amizade perdurou até mesmo após a Ascensão de Jesus, como podemos constatar em Atos dos apóstolos, na cena da cura de um paralítico posto nas portas do Templo de Jerusalém.[17]
Segundo a tradição defendida pela Igreja Católica Romana e pela Igreja Ortodoxa, o apóstolo Pedro, depois de ter exercido o episcopado em Antioquia, teria se tornado o primeiro Bispo de Roma. Segundo esta tradição, depois de ser milagrosamente solto da prisão em Jerusalém, o apóstolo teria viajado até Roma e ali permanecido até ser expulso com os judeus e cristãos pelo imperador Cláudio, época em que haveria voltado a Jerusalém para participar da reunião de apóstolos sobre os rituais judeus no chamado Concílio de Jerusalém.[18] Após esta reunião, Pedro ficou em Jerusalém. Paulo, Barnabé, Judas (Barsabás) e Silas foram para Antioquia.[19]
Depois de três anos, Paulo volta a Jerusalem para visitar Pedro e com ele fica quinze dias.[20] Quatorze anos depois, Paulo retorna a Jerusalém e lá se encontra com Tiago, Pedro e João.[21]
Tempos depois, por volta da metade do século I, Pedro vai a Antioquia, onde ocorre uma discussão entre ele e Paulo, conhecida como o Incidente em Antioquia.[22]
A tradição da Igreja Católica Romana afirma que depois de passar por várias cidades, Pedro haveria sido martirizado em Roma entre 64 e 67 d.C. Desde a Reformateólogos e historiadores protestantes afirmaram que Pedro não teria ido a Roma; esta tese foi defendida mais proeminentemente por Ferdinand Christian Baur, da Escola de Tübingen. Outros, como Heinrich Dressel, em 1872, declararam que Pedro teria sido enterrado em Alexandria, no Egito ou em Antioquia.[5] Hoje, porém, os historiadores concordam que Pedro realmente viveu e morreu em Roma. O historiador luterano Adolf Harnack afirmou que as teses anteriores foram tendenciosas e prejudicaram o estudo sobre a vida de Pedro em Roma.[5] Sua vida continua sendo objeto de análise, mas o seu túmulo está localizado na Basílica de São Pedro, no Vaticano, o qual foi descoberto em 1950 após anos de meticulosa investigação.[6]
Alguns pesquisadores acreditam que, assim como Judas Iscariotes, Pedro tenha sido um zelota, grupo que teria surgido dos fariseus e constituía-se de pequenos camponeses e membros das camadas mais pobres da sociedade. Este supostamente estaria comprovado em Marcos 3:18, assim como em Atos 1:13, no entanto, o certo "Simão, o Zelote" é na realidade uma pessoa distinta dentre as nomeações descritas nas referidas citações.

O primado de Pedro segundo a Igreja Católica[editar | editar código-fonte]

Cristo entrega as chaves do céu a Pedro
PeruginoCapela Sistina
Ver artigo principal: Confissão de Pedro
Toda a primeira parte do Evangelho gira em torno da identidade de Jesus. Quando perguntado, Simão foi o primeiro dos discípulos a responder essa pergunta: Jesus é o filho de Deus. É esse acontecimento que leva Jesus a chamá-lo de Pedro e é conhecido como Confissão de Pedro.
Encontramos o relato do evento em Mateus 16:13-19: Jesus pergunta aos seus discípulos (depois de se informar do que sobre ele corria entre o povo): "E vós, quem pensais que sou eu?".
Simão Pedro, respondendo, disse: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo". Jesus respondeu-lhe: "Bem-aventurado és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi carne ou sangue que te revelaram isso, e sim Meu Pai que está nos céus. Também Eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei Minha Igreja[23] e as portas do Hades[24] nunca prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus e o que ligares na terra será ligado nos céus. E o que desligares na terra será desligado[25] nos céus".João 21:15-17 e Lucas 22:31 também falam a respeito do primado de Pedro dever ser exercido particularmente na ordem da Fé, e que Cristo o torna chefe:
Jesus disse a Simão (Pedro): "Simão, filho de João, tu Me amas mais do que estes?" Ele lhe respondeu: "Sim, Senhor, tu sabes que te amo". Jesus lhe disse: "Apascenta Meus cordeiros". Segunda vez disse-lhe: "Simão filho de João, tu Me amas?" - "Sim, Senhor", disse ele, "tu sabes que te amo". Disse-lhe Jesus: "Apascenta Minhas ovelhas". Pela terceira vez lhe disse: "Simão filho de João, tu Me amas?" Entristeceu-se Pedro porque pela terceira vez lhe perguntara 'Tu Me amas?' e lhe disse: "Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que te amo". Jesus lhe disse: "Apascenta Minhas ovelhas." (João 21:15-17).«Simão, Simão, eis que Satanás pediu insistentemente para vos peneirar como trigo; Eu, porém, orei por ti, a fim de que tua fé não desfaleça. Quando, porém, te converteres, confirma teus irmãos.» (Lucas 22:31-32)

O apóstolo Pedro, o primeiro Bispo de Roma[editar | editar código-fonte]

A comunidade de Roma foi fundada pelos apóstolos Pedro e Paulo e é considerada a única comunidade cristã do mundo fundada por mais de um apóstolo e a única do Ocidente instituída por um deles. Por esta razão desde a antiguidade a comunidade de Roma (chamada atualmente de Santa Sé pelos católicos) teve o primado sobre todas as outras comunidades locais (dioceses); nessa visão o ministério de Pedro continua sendo exercido até hoje pelo Bispo de Roma (segundo o catolicismo romano), assim como o ministério dos outros apóstolos é cumprido pelos outros Bispos unidos a ele, que é a cabeça do colégio apostólico, do colégio episcopal. A sucessão papal (de Pedro) começou com São Lino (67 d.C.) e, atualmente é exercida pelo Papa Francisco, eleito em 13 de março de 2013. Segundo essa visão, o próprio apóstolo Pedro atestou que exerceu o seu ministério em Roma ao concluir a sua primeira epístola: "A [Igreja] que está em Babilônia, eleita como vós, vos saúda, como também Marcos, meu filho.".[26] Trata-se da Igreja de Roma.[27] Assim também o interpretaram todos os autores desde a Antiguidade, como abaixo, como sendo a Roma Imperial (decadente). O termo não pode referir-se a Babilônia sobre o Eufrates, que jazia em ruínas ou à Nova Babilônia (Selêucia) sobre o rio Tigre, ou à Babilônia Egípcia cerca de Mênfis, tampouco a Jerusalém; deve, portanto referir-se a Roma, a única cidade que é chamada Babilônia pela antiga literatura cristã.[28]

Testemunhos históricos de Pedro em Roma[editar | editar código-fonte]

Os historiadores atualmente acreditam que a tradição católica esteja correta; igualmente, muitas tradições antigas corroboram a versão de que Pedro esteve em Roma e que ali teria sido martirizado.
  • Clemente, terceiro bispo de Roma e discípulo de Pedro, por volta de (96 d.C.), em sua Epístola aos Coríntios, faz clara alusão ao martírio deste e de Paulo em Roma:
Todavia, deixando os exemplos antigos, examinemos os atletas que viveram mais próximos de nós. Tomemos os nobres exemplos de nossa geração. Foi por causa do ciúme e da inveja que as colunas mais altas e justas foram perseguidas e lutaram até a morte. Consideremos os bons apóstolos. Pedro, pela inveja injusta, suportou não uma ou duas, mas muitas tribulações e, depois de ter prestado testemunho, foi para o lugar glorioso que lhe era devido. Por causa da inveja e da discórdia, Paulo mostrou o preço reservado à perseverança. Sete vezes carregando cadeias, exilado, apedrejado, tornando-se arauto no Oriente e no Ocidente, ele deu testemunho diante das autoridades, deixou o mundo e se foi para o lugar santo, tornando-se o maior modelo de perseverança. .[29]
  • Inácio de Antioquiabispomártir e também discípulo de Pedro, em cerca de (107 d.C.), em sua Epístola aos Romanos, a qual fora dirigida à comunidade cristã lá situada, refere-se nos seguintes termos ao martírio de Pedro e Paulo em Roma:
"Não vos dou ordens como Pedro e Paulo; eles eram apóstolos, eu sou um condenado. Eles eram livres, e eu até agora sou um escravo".[30]
Papias, bispo de Hierápolis, atesta a atribuição do segundo evangelho a Marcos, “intérprete” de Pedro em Roma. O livro teria sido composto em Roma, depois da morte de Pedro (prólogo antimarcionita de século IIIreneu) ou ainda durante sua vida (segundo Clemente de Alexandria). Quanto a Marcos, foi identificado como João Marcos, originário de Jerusalém (At 12,12), companheiro de Paulo e Barnabé (At 12,25; 13,5.13; 15,37-39; Cl 4,10) e, a seguir, de Pedro em “Babilônia” (isto é, provavelmente, em Roma) segundo 1Pd 5,13.[31]
Tendo vindo ambos a Corinto, os dois apóstolos Pedro e Paulo nos formaram na doutrina do Evangelho. A seguir, indo para a Itália, eles vos transmitiram os mesmos ensinamentos e, por fim, sofreram o martírio simultaneamente.[32]
  • Gaio, presbítero romano, em 199 d.C.:
Nós aqui em Roma temos algo melhor do que o túmulo de Filipe. Possuímos os troféus dos apóstolos fundadores desta Igreja local. Ide à Via Ostiense e lá encontrareis o troféu de Paulo; ide ao Vaticano e lá vereis o troféu de Pedro.
Gaio dirigiu-se nos seguintes termos a um grupo de hereges: Posso mostrar-vos os troféus (túmulos) dos Apóstolos. Caso queirais ir ao Vaticano ou à Via Ostiense, lá encontrareis os troféus daqueles que fundaram esta Igreja.[33]
Pedro, ao ser martirizado em Roma, pediu e obteve que fosse crucificado de cabeça para baixo[34]
Pedro, finalmente tendo ido para Roma, lá foi crucificado de cabeça para baixo.[35]
Para a maior e mais antiga a mais famosa Igreja, fundada pelos dois mais gloriosos Apóstolos, Pedro e Paulo." e ainda "Os bem-aventurados Apóstolos portanto, fundando e instituindo a Igreja, entregaram a Lino o cargo de administrá-la como bispo; a este sucedeu Anacleto; depois dele, em terceiro lugar a partir dos Apóstolos, Clemente recebeu o episcopado.
Mateus, achando-se entre os hebreus, escreveu o Evangelho na língua deles, enquanto Pedro e Paulo evangelizavam em Roma e aí fundavam a Igreja.[36]
  • Formado como jurista Tertuliano (155–222) falou da morte de Pedro em Roma:
A Igreja também dos romanos pública - isto é, demonstra por instrumentos públicos e provas - que Clemente foi ordenado por Pedro.
Feliz Igreja, na qual os Apóstolos verteram seu sangue por sua doutrina integral!" - e falando da Igreja Romana, "onde a paixão de Pedro se fez como a paixão do Senhor.
Nero foi o primeiro a banhar no sangue o berço da fé. Pedro então, segundo a promessa de Cristo, foi por outrem cingido quando o suspenderam na Cruz.[37]
  • Eusébio (263-340 d.C.) Bispo de Cesareia, escreveu muitas obras de teologiaexegeseapologética, mas a sua obra mais importante foi a História Eclesiástica, onde ele narra a história da Igreja das origens até 303. Refere-se ao ministério exercido por Pedro:
Pedro, de nacionalidade galileia, o primeiro pontífice dos cristãos, tendo inicialmente fundado a Igreja de Antioquia, se dirige a Roma, onde, pregando o Evangelho, continua vinte e cinco anos Bispo da mesma cidade.
A sucessão de Bispos em Roma é nesta ordem: Pedro e Paulo, Lino, CletoClemente etc...[38]
Lino foi Bispo de Roma após o seu primeiro guia, Pedro.[39]
Você não pode negar que sabe que na cidade de Roma a cadeira episcopal foi primeiro investida por Pedro, e que Pedro, cabeça dos Apóstolos, a ocupou.[40]
A cátedra de Roma é a cátedra de Pedro, a Igreja principal, de onde se origina a unidade sacerdotal.[41]
A Pedro sucedeu Lino.[42]
Logo, apesar das opiniões divergentes que surgiram a partir da Reforma Protestante, era constante, unânime e ininterrupta a tradição segundo a qual Pedro pregou o evangelho em Roma e lá encontrou o martírio, o que é robustecido pelos escritos dos Pais da Igreja e pela arqueologia.

Os textos escritos pelo apóstolo[editar | editar código-fonte]

Novo Testamento inclui duas epístolas cuja autoria é atribuída a Pedro: A Primeira epístola de São Pedro e a Segunda epístola de São Pedro.

Indícios arqueológicos[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Túmulo de São Pedro
Baldaquino da Basílica de São Pedro: O túmulo de São Pedro encontra-se diretamente abaixo desta estrutura. Bernini, 1633
A partir da década de 1950, intensificaram-se as escavações no subsolo da Basílica de São Pedro, lugar tradicionalmente reconhecido como provável túmulo do apóstolo e próximo de seu martírio no muro central do Circo de Nero. Após extenuantes e cuidadosos trabalhos, inclusive com remoção de toneladas de terra que datava do corte da Colina Vaticana para a terraplanagem da construção da primeira basílica na época de Constantino, a equipe chefiada pela arqueóloga italiana Margherita Guarducci encontrou o que seria uma necrópole atribuída a Pedro, inclusive uma parede repleta de grafitos com a expressão Petrós Ení, que, em grego, significa "Pedro está aqui".
Também foram encontrados, em um nicho, fragmentos de ossos de um homem robusto e idoso, entre 60-70 anos, envoltos em restos de tecido púrpura com fios de ouro que se acredita, com muita probabilidade, serem de Pedro. A data real do martírio, de acordo com um cruzamento de datas feito pela arqueóloga, seria 13 de outubro de 64 d.C. e não 29 de junho, data em que se comemorava o traslado dos restos mortais de Pedro e São Paulo para a estada deles nas Catacumbas de São Sebastião durante a perseguição do imperador romano Valeriano em 257 d.C.

Iconografia[editar | editar código-fonte]

A mais antiga imagem conhecida do apóstolo Pedro foi descoberta em 2010 em catacumbas sob a cidade de Roma, e data do século IV. No mesmo lugar, foram também descobertas imagens dos apóstolos PauloAndré e João. As obras fazem parte de um grupo de pinturas em torno de uma imagem de Jesus Cristo como o Bom Pastor no teto do que os estudiosos acreditam ter sido o túmulo de um nobre romano.[43]

Devoção nas Religiões Afro-brasileiras[editar | editar código-fonte]

É sincretizado nas religiões afro-brasileiras com o orixá Xangô[44] sendo que na cidade de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, o sincretismo se dá com o orixá Exu.[45]

Notas

  1.  A palavra grega que significa "rocha" ou "pedra" é πετραpetra;[1]
  2.  segundo a tradição bíblica

Referências

  1.  «Bible Lexicon». Bible Lexicon. Consultado em 12 de setembro de 2010
  2.  Rami Arav, Richard A. Freund (novembro de 2014). Bethsaida: A City by the North Shore of the Sea of Galilee Betsaida: Uma cidade na Margem Norte do Mar da Galileia (em inglês). [S.l.]: Truman State University Press. 310 páginas. ISBN 1931112398
  3.  «Catholic Encyclopedia (1913)/St. Peter» (em inglês). A data da morte de Pedro é incerta, considerando-se o período compreendido entre julho de 64 (início da perseguição de Nero) e o início de 68 (em 9 de julho Nero fugiu de Roma e suicidou-se). A data de sua morte deve ser deixada em aberto. O dia do seu martírio também é desconhecido; 29 de junho, dia aceito de sua festa desde o século IV, não pode ser provado como sendo o dia da sua morte. (texto traduzido da fonte). Wikisource. Consultado em 20 de janeiro de 2016
  4.  Wilken, p. 281, quote: "Some (Christian communities) had been founded by Peter, the disciple Jesus designated as the founder of his church. ... Once the position was institutionalized, historians looked back and recognized Peter as the first pope of the Christian church in Rome"
  5. ↑ Ir para:a b c Josef Burg Kontrover-Lexikon Fredebeul&Coenen, Essen, 1903.
  6. ↑ Ir para:a b Oxford Dictionary of the Christian Church (Universidade de Oxford - 2005) ISBN 978-0-19-280290-3), artigo "Pope"
  7.  «Vida de São Pedro»IJF. 29 de junho de 2018. Consultado em 1 de outubro de 2019
  8.  FRANCA, Leonel. A Igreja, a Reforma e a Civilização. 3ª Edição. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1934.
  9.  Religion: Peter & the Rock (Dec. 07, 1953_em inglês)
  10.  H. N. Ridderbos. Matthew. trans. by Ray Togtman (Grand Rapids: Regency Reference Library, 1987), 303
  11.  Donald Arthur Carson. "Matthew," in Expositor’s Bible Commentary. Ed. Frank E. Gaebelein, J. D. Douglas, and Walter Kaiser, vol. 8 [Grand Rapids: Zondervan, 1984], 368
  12.  FRANCA, Leonel. A Igreja, a Reforma e a Civilização. 3ª Edição. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1934.
  13.  Lucas 5:1-11
  14.  Stromata III, VI
  15.  Lucas 5:17-26
  16.  A cidade de Cafarnaum possuía status de cidade romana
  17.  Atos 3:1-8
  18.  Atos 15:2-7
  19.  Atos 15:22-30
  20.  Gálatas 1:18
  21.  Gálatas 2:1-10
  22.  Gálatas 2:11-14
  23.  O termo semítico que traduz o termo grego εκκλησία, "ekklesia" é assembléia, freqüentemente encontra-se no Antigo Testamento para designar a comunidade do povo eleito (Deuteronômio 4:40, por ex.).
  24.  Hades (hebraico Sheol), cujas "portas" personificadas evocam as potências do Mal que Cristo garante que jamais prevalecerão contra Sua Igreja. Cristo para designar todo o poder do Mal usou o termo "portas", da mesma forma o Reino de Deus tem portas, na sequência Pedro recebe suas chaves. É por esta razão que Pedro é, geralmente representado com chaves na mão e como porteiro do Paraíso
  25.  . Cabe a Pedro abrir ou fechar o acesso ao Reino dos Céus, por meio da Igreja. "Ligar" e "desligar" são dois termos técnicos da linguagem rabínica que referem-se primeiramente ao domínio disciplinar da excomunhão, também referem-se as decisões doutrinais ou jurídicas. Responsável por administrar a comunidade em matéria de Fé e de moral.
  26.  I Epístola de Pedro 5,13
  27.  Cf. Ap. 14,8 ; 16,19 ; 17,5.
  28.  Apoc., xvii, 5; xviii, 10; "Oracula Sibyl.", V, versos 143 e 159, ed. Geffcken, Leipzig, 1902, 111.
  29.  http://www.earlychristianwritings.com/text/1clement-lightfoot.html
  30.  Coleção, Patrística, Vol. 1, Padres Apóstólicos, 1ª Edição, Ed. Paulus, 1995, pág. 105
  31.  em Introdução ao Evangelho Segundo Marcos, contido na TEB - versão que segue a edição francesa tanto nas Introduções como nas Notas, Edições Loyola, pag. 1234
  32.  Fragmento conservado na História Eclesiástica de Eusébio, II,25,8.
  33.  Eusébio, História Eclesiástica, 1125, 7.
  34.  Com. in Genes., t. 3
  35.  Fragmento conservado na "História Eclesiástica" de Eusébio, III,1.
  36.  L. 3, c. 1, n. 1, v. 4
  37.  Scorp. c. 15
  38.  ii. 27 - Sales, St. Francis de, The Catholic Controverse, Tan Books and Publishers Inc., USA, 1989, pp. 280-282.
  39.  In: Syn.
  40.  De Sch. Don.
  41.  Epístola 55,14.
  42.  Ep. 53, ad. Gen.
  43.  «Oldest known images of apostles found» (em inglês). CNN. 23 de junho de 2010. Consultado em 2 de setembro de 2014A imagem do apóstolo Pedro é a de nº 6
  44.  «Dia de São Pedro - Raizes Espirituais»Raizes Espirituais. 29 de junho de 2016
  45.  «Saiba a diferença entre Iemanjá e Nossa Sra dos Navegantes»Terra